Economia circular
flexM4I > abordagens e práticas > Economia circular (versão 4.1 – Julho 2024) – Como citar?
Autoria: Sânia Fernandes ([email protected]); revisada por Daniel Guzzo ([email protected]) e Daniela Pigosso ([email protected]); reeditada por Henrique Rozenfeld ([email protected])
Conteúdo desta página
- 1 Introdução
- 2 Definições
- 3 Seções da flexM4i relacionadas com a economia circular
- 4 História
- 5 Características da economia circular
- 6 Estrutura de apresentação da economia circular
- 7 Objetivos da economia circular
- 8 Princípios da economia circular
- 9 O problema e a solução estão no design
- 10 Repensando os ciclos técnico e biológico
- 11 Estratégias de economia circular
- 12 Alguns frameworks de estratégias de economia circular
- 12.1 Os Rs da sustentabilidade
- 12.2 Framework de Potting
- 12.3 Estratégias de implementação da economia circular
- 12.4 Estratégias de design e de modelo de negócio para economia circular
- 12.5 Estratégias circulares do relatório do governo dos Países Baixos
- 12.6 Circular Strategies Scanner
- 12.7 Estratégias circulares para inovação em sistemas produto-serviço (PSS)
- 13 Práticas de economia circular
- 14 Modelos de negócio circulares
- 15 Relação da gestão da inovação com a economia circular
- 16 Economia circular versus sustentabilidade
- 16.1 Os pilares da sustentabilidade
- 16.2 Economia circular é uma estratégia para atingir a sustentabilidade?
- 16.3 Evolução da economia circular
- 16.4 E a ESG? (governança ambiental, social e corporativa)
- 16.5 Pontos em comum entre economia circular e sustentabilidade
- 16.6 Diferenças entre economia circular e sustentabilidade
- 17 Efeitos rebote
- 18 Digitalização e a Economia Circular
- 19 Como implementar a economia circular
- 20 Ecossistemas circulares
- 21 Informações adicionais, cursos e exemplos
- 21.1 Economia circular: acesso ao invés de propriedade
- 21.2 Design para economia circular
- 21.3 Product as a service
- 21.4 Economia compartilhada
- 21.5 Logística reversa
- 21.6 3 Rs da sustentabilidade e 5 modelos de negócio
- 21.7 Dos conceitos à mudança
- 21.8 Classificação europeia de projetos de economia circular
- 21.9 Projeto CIRCit - Norden
- 21.10 Plataforma ready2LOOP
- 21.11 Ferramentas de modelagem de negócio para a economia circular
- 21.12 Relatórios da Agência de Avaliação do Meio ambiente dos Países Baixos
- 21.13 Casos
- 22 Referências
Introdução
O modelo econômico tradicional de produção e consumo, pautado na premissa de “extrair, produzir, descartar”, está atingindo seus limites físicos e tem desafiado o crescimento econômico das empresas e a sustentabilidade global.
A economia circular surge como uma nova abordagem para assegurar o atendimento às demandas industriais e ambientais por meio da maior eficiência no uso de recursos e um sistema de valor eficaz. Além de garantir benefícios para o meio ambiente, essa abordagem apresenta-se como uma oportunidade econômica de trilhões de dólares, e é cada vez mais discutida em fóruns e adotada por empresas.
Por exemplo, de acordo com um estudo da Fundação Ellen MacArthur, a adoção da economia circular na Europa tem o potencial de gerar benefícios de 2.1 trilhões de dólares (1.8 trilhões de euros) em 2030 (EMF; SUN; McKinsey, 2015). Na China, uma trajetória fundamentada na economia circular pode proporcionar benefícios na ordem de 11 trilhões de dólares em 2040 (EMF, 2018).
Recomendamos que você leia a seção “Inovação e sustentabilidade” do capítulo introdutório do meta-livro da flexM4i, “O que é inovação?” para obter uma noção da importância e abrangência das iniciativas para sustentabilidade. |
Definições
O conceito de economia circular tem sido divulgado pela Fundação Ellen MacArthur como
“um sistema industrial que é restaurativo e regenerativo por intenção e design” (EMF, 2013).
Uma definição mais completa da economia circular é:
“um sistema regenerativo em que a entrada de recursos, desperdícios, emissões e perda de energia são minimizados diminuindo-se a velocidade, fechando e estreitando os ciclos de materiais e energia. Isso pode ser atingido por meio de design robusto de produtos com vida longa, manutenção, reparo, reuso, remanufatura, recondicionamento e reciclagem” (Geissdoerfer et al., 2017).
Essas definições já estabelecem alguns princípios e estratégias, que iremos sistematizar mais adiante. |
A economia circular também é vista com um novo modelo de negócio que leva a um desenvolvimento mais sustentável e uma sociedade em harmonia (Ghisellini; Cialani; Ulgiati, 2016).
Kirchherr, Reike & Hekkert (2017) apresentam uma definição, após estudar e sistematizar 114 definições de economia circular:
A economia circular é um sistema econômico que substitui o conceito de “fim de vida” pela redução, reutilização, reciclagem e recuperação de materiais nos processos de produção/distribuição e consumo. Atua no nível micro (produtos, empresas, consumidores), nível meso (parques ecoindustriais) e nível macro (cidade, região, nação e além), com o objetivo de alcançar o desenvolvimento sustentável, o que implica em criar qualidade ambiental, prosperidade econômica e equidade social, em benefício das gerações atuais e futuras. A economia circular é implementada por meio de novos modelos de negócios e consumidores responsáveis.
Apesar do trabalho exaustivo dos autores dessa definição e de seu trabalho ser muito citado, consideramos que a definição poderia englobar também o aspecto de atingir os objetivos da economia por meio da intenção e design, que consta na definição da Fundação Ellen MacArthur. |
Seções da flexM4i relacionadas com a economia circular
Na figura abaixo indicamos as seções atuais da flexM4i que estão relacionadas com a economia circular.
Figura 971: Seções da flexM4i relacionadas com a economia circular
Clique na figura para abrir em outra aba e aumentá-la. Ela torna-se assim um mapa com os links das seções. Você pode baixar o mapa em pdf e, assim, navegar por essas seções separadamente.
História
O conceito da economia circular foi introduzido por Pearce & Turner (1989) quando eles chamaram a atenção para o desenvolvimento de fluxos industriais fechados. A implementação da economia circular iniciou-se na Alemanha, em 1996, com a promulgação da “Lei de Ciclo Fechado de Substâncias e Gestão de Resíduos” (Su et al., 2013), mas se tornou popular com a introdução pelo governo chinês (Prieto-sandoval; Jaca; Ormazabal, 2018) em 2009. Na União Europeia (UE), a discussão relacionada a esse conceito tem aumentado (Manninen et al., 2018) principalmente a partir do desenvolvimento da “Estratégia de Economia Circular da UE 2015” (European Commission, 2015).
Fundação Ellen MacArthur O conceito de economia circular tem sido amplamente e globalmente propagado por essa fundação, que promove a economia circular no mundo. Essa fundação foi estabelecida em 2010 com a missão de acelerar a transição para a economia circular. Essa iniciativa surgiu da sua fundadora, Ellen MacArthur, após suas longas e solitárias viagens de veleiro, nas quais tinha poucos recursos à disposição. Foi quando ela compreendeu que o planeta possui ciclos interligados e recursos finitos, e que as decisões de hoje afetam a realidade do futuro. Então, ela entendeu a importância de preservar, reutilizar e regenerar os recursos sempre que possível. Conheça o site da fundação Ellen MacArthur em português. |
Características da economia circular
Um dos pontos mais importantes da economia circular é a existência de uma visão sistêmica das atividades, desde a extração de matérias-prima até o destino dos produtos/componentes/materiais, que deixa de ser focada somente no processo produtivo, e passa a ser focada no sistema como um todo (visão holística). Essa visão integrada (Blomsma; Brennan, 2017):
- irá relacionar o ganho econômico com a sustentabilidade;
- trará soluções não pontuais, mas conectadas ao longo de todos os processos, pois estes não podem mais ser planejados de forma isolada;
- e devem agregar valor a todas as partes da cadeia, com novas formas de conexões e negócios.
No geral, a economia circular apresenta as seguintes características:
- visa manter, por mais tempo, o máximo de utilidade e valor dos produtos, componentes e materiais (EMF, 2015);
- busca redefinir a noção de crescimento, com foco em benefícios não apenas econômicos e de negócio, mas também para o meio ambiente e toda a sociedade (Geissdoerfer, 2017);
- é apoiada na construção de capital econômico, de capital humano das pessoas envolvidas nas ações circulares (com novas mentalidades e conhecimentos) e na preservação dos recursos naturais (capital natural) (Stahel, 2016);
- é considerada uma “abordagem ganha-ganha” (Homrich et al., 2018) que beneficia os diferentes stakeholders envolvidos na criação de valor circular;
- do ponto de vista político-econômico, pode ser utilizada para mudar a perspectiva de crescimento econômico baseada no maior uso de recursos e da geração de poluentes (Gregson et al., 2015);
- é referenciada como um modelo de desenvolvimento econômico ou um novo tipo de economia (Su et al., 2013) que emergiu a partir das atividades de “reduzir, reusar e reciclar” (3 Rs) (Ghisellini; Cialani; Ulgiati, 2016).
Dependendo do autor, alguns aspectos são destacados mais que outros na caracterização da economia circular. Não existe, uma sistematização amplamente aceita, o que é normal para uma área do conhecimento que está em desenvolvimento.
Antes de continuar, veja este vídeo introdutório sobre a economia circular produzido pela Fundação Ellen MacArthur. |
Estrutura de apresentação da economia circular
Para atingir os seus objetivos, a economia circular possui princípios que são tratados como verdades e servem de base para a definição de estratégias, que direcionam a realização de atividades, que são baseadas na aplicação de abordagens e práticas.
O parágrafo anterior descreve uma estrutura hierárquica, que usamos de base para descrever os conceitos da economia circular, como está ilustrado na próxima figura.
Figura 939: representação hierárquica de conceitos da economia circular
A figura anterior é a base do mapa desta seção, que também contém os links para os tópicos desta seção. Você pode deixar aberto em uma outra aba. Se você baixar em pdf, poderá acessar separadamente todos os tópicos desta seção. |
Vamos seguir a estrutura da figura nesta seção. A linha divisória entre estratégias e abordagens / práticas está tracejada. Isso indica que a classificação de algumas estratégias podem ser consideradas práticas, como discutiremos nos tópicos correspondentes.
Essa figura ainda coloca o modelo de negócio circular entre essas duas dimensões. Isso porque os itens documentados em um modelo de negócio podem estar relacionados com estratégias ou práticas.
Consulte as definições de estratégia, abordagem e prática do glossário da flexM4i. Destacamos que o termo “práticas” na flexM4i representa aplicação de processos, metodologias, métodos, aplicativos, ferramentas ou instrumentos. |
Objetivos da economia circular
Não há um consenso sobre quais são os objetivos da economia circular. Porém, procurando sintetizar as características apresentadas da economia circular, podemos dizer que os principais objetivos a serem alcançados com a aplicação da economia circular são:
- dissociar a atividade econômica do consumo de recursos, que são finitos, e
- eliminar a geração de resíduos e excedentes do sistema de produção.
O objetivo mais amplo da economia circular é promover o crescimento econômico e a criação de valor de forma dissociada da degradação ambiental e social.
Em outras palavras, a economia circular não aceita o trade-off entre criação de valor versus degradação. É buscar o crescimento e criação de valor sem impacto ambiental e social.
Para gerar ganhos econômicos, as empresas não precisam se apoiar na prática tradicional e usual de:
- extração de recursos,
- geração de resíduos a partir deles para obter os produtos, e
- descarte dos produtos quando não tiverem mais uma finalidade de uso.
Ao contrário, dentro da abordagem de economia circular, as empresas procuram minimizar desperdícios sistemáticos e eliminar externalidades negativas para fazer o melhor uso dos recursos sempre que possível.
O governo dos Países Baixos estabeleceram os seguintes objetivos com suas medidas de implementação da economia circular no país (Potting et al., 2017):
- redução do consumo de recursos naturais;
- extração sustentável de recursos naturais;
- segurança de suprimentos de recursos naturais;
- menos resíduos;
- menos emissões de poluentes;
- maior capital natural;
- maior poder de compra;
- mais empregos.
Observe a variabilidade dos objetivos da economia circular. Por isso, não se preocupe em definir objetivos “rígidos” da economia circular. Veja que a lista anterior de objetivos é algo governamental, que orienta incentivos e iniciativas dos Países Baixos. Provavelmente, em publicações sobre economia circular você irá encontrar outros objetivos que não foram listados anteriormente. Não é importante definir uma lista definitiva de objetivos, mas andar na direção de implementação da economia circular. |
Princípios da economia circular
A seguir, resumimos os três princípios da economia circular definidos pela Fundação Ellen MacArthur. Nos resumos indicamos uma descrição mais completa no site da fundação.
Desenvolver soluções sem resíduos e poluição
Resíduos e poluição são consequências das decisões de design de soluções, que determinam 80% do impacto ambiental dos processos e produtos. A partir da mudança de mentalidade, deve-se considerar resíduos como uma falha de design. É necessário, portanto, fazer uma seleção cuidadosa dos materiais e energia que serão utilizados. Os recursos disponíveis na Terra são finitos e não renováveis, com exceção da luz do sol, biomassa, chuvas e ventos. Devemos priorizar insumos abundantes, limpos e renováveis, substituindo as fontes não renováveis dos sistemas de consumo e produção. Esse princípio também é expresso por promover um fluxo fechado (circular).
Eliminar resíduos e poluição deve começar com design das soluções, desde o início da sua concepção.
Veja a descrição em português deste princípio no site da Fundação Ellen MacArthur. |
Circular produtos e materiais
Circular produtos e materiais significa mantê-los em uso por mais tempo. Para atingir sistemas de consumo e produção circulares é necessário adotar pensamento de ciclo de vida e identificar os impactos das decisões de design e produção desde as etapas iniciais de desenvolvimento das soluções (BOL – beginning of life – início de vida), bem como no estágio de uso da solução (MOL – middle of life – meio de vida) e no estágio em que a solução não tem mais utilidade ou não pode ser mais utilizada para o seu objetivo inicial (EOL – end of life – fim de vida). É necessário, então, repensar os produtos e serviços para manter os recursos em uso da forma mais efetiva possível.
Acesse os links de BOL, MOL e EOL para conhecer as definições desses termos no nosso glossário. |
Durante a fase de design, precisamos criar componentes e produtos que durem mais com a aplicação de design robusto, e também possam ser reusados, reparados e remanufaturados. Como as coisas não duram para sempre, precisamos pensar em estratégias de fim de vida que não criem resíduos. No caso de alimentos e embalagens, temos de pensar em como receber de volta esses resíduos para que eles não tenham que ir para os aterros sanitários.
Circular produtos e materiais é mantê-los em uso por mais tempo, seja como produto, ou quando ele não puder mais ser usado, como componentes ou matéria prima. Assim, não produzimos resíduos e o valor intrínseco dos produtos e material são mantidos.
Veja a descrição em português deste princípio no site da Fundação Ellen MacArthur. |
Regenerar os sistemas naturais
O sistema de consumo e produção deve ser eficaz para garantir que as necessidades básicas dos seres humanos como alimento, moradia, mobilidade sejam atendidas e ao mesmo tempo regenerar os sistemas terrestres adjacentes. Quebra-se o paradigma de que soluções de sustentabilidade devem reduzir os danos dos nossos sistemas de consumo e produção – uma visão que aceita os conceitos de lixo, resíduo e externalidade negativa.
Observar que o primeiro princípio de desenvolver soluções (design) desde o início sem resíduos e poluição facilita a consideração dos outros dois. |
Ao passar de um modelo econômico linear, baseado em extrair-produzir-desperdiçar, para uma economia circular, fortalecemos os processos naturais e permitimos que a natureza prospere.
Veja a descrição em português deste princípio no site da Fundação Ellen MacArthur. |
O problema e a solução estão no design
Como você pode ter percebido na descrição dos princípios da economia circular, desde a concepção de sistemas, produtos e serviços podemos estar introduzindo aspectos que resultam em impactos ambientais, sociais e econômicos.
Por isso, é que um mote constante na economia circular e presente na definição da Fundação Ellen MacArthur é …
“um sistema industrial que é restaurativo e regenerativo por intenção e design”
Antes, discutia-se o ecodesign, que considerava somente a perspectiva ambiental de ecoeficiência. Hoje, a visão é mais holística e as perspectivas sociais e econômicas (não somente as financeiras) devem ser tratadas desde a fase de concepção de novos modelos de negócio, sistemas, produtos e serviços.
Consideramos neste contexto o design de novos modelos de negócio, tecnologia, sistemas, produtos e serviços.
Por isso, que o Design for Sustainability (DfS) deve ser aplicado, com todos os seus DfXs, tais como:
- Design for adaptability
- Design for assembly
- Design for attachment
- Design for compatibility
- Design for disassembly
- Design for durability
- Design for environment
- Design for maintainability
- Design for manufacturing
- Design for manufacturing and assembly
- Design for reassembly
- Design for reliability
Os links anteriores remetem ao glossário da flexM4i, que algumas vezes indicam seções da própria flexM4i e outras fontes externas. Essa lista não esgota os DfXs existentes (estamos constantemente adicionando novos). |
O fator essencial para a adoção das estratégias e práticas da sustentabilidade, e , consequentemente, aplicação dos DfXs, é a mentalidade das pessoas, que molda o comportamento e, geralmente, é influenciada pela cultura organizacional e da sociedade, nas quais as pessoas estão inseridas .
Repensando os ciclos técnico e biológico
A espinha dorsal para ativar os três princípios de economia circular está em repensar o uso de recursos, mimetizando os ciclos da natureza em dois:
- ciclo técnico de materiais e
- ciclo biológico de nutrientes na biosfera
de modo a manter os recursos disponíveis em uso da forma mais efetiva possível. Para representar esses dois ciclos foi criado o diagrama “borboleta”
Diagrama “borboleta”
A figura a seguir, conhecida como diagrama “borboleta”, ilustra estes dois ciclos, demonstrando a separação conceitual entre os nutrientes técnicos e biológicos. É importante distinguir que nós, seres humanos, somos consumidores quando participantes dos ciclos biológicos e usuários quando participantes dos ciclos técnicos. Isto implica que os produtos biológicos devem atingir os menores níveis de toxicidade, ao passo que os produtos tecnológicos devem ser pensados para ter uma vida útil tão longa quanto possível.
Figura 348: diagrama “borboleta” simplificado que representa os ciclos técnico e biológico definidos pela fundação Ellen MacArthur, que separa os materiais (ciclo técnico) e os nutrientes (ciclo biológico) no conceito de economia circular
Adaptado de https://ellenmacarthurfoundation.org/pt/o-diagrama-de-borboleta visitado em 26 junho 2023
O ciclo biológico
Nos ciclos biológicos ficam os nutrientes que a natureza produz e que, sozinha, consegue metabolizar. Precisamos ajudá-la garantindo que os nutrientes que atingirem à esfera do consumo sejam de fato consumidos e não desperdiçados. Aqueles que não forem utilizados ou forem subprodutos destes metabolismos devem voltar para a biosfera como alimento.
Inicialmente, temos a extração de material bioquímico, que pode envolver o aproveitamento de resíduos coletados após o consumo pelo consumidor. Dos nutrientes biológicos, podem ser extraídas matérias-primas bioquímicas que podem ser utilizadas pelo fabricante, na manufatura de componentes e na produção de biogás e biofertilizantes. Os nutrientes biológicos remanescentes também podem ser reinseridos na biosfera de forma regenerativa. Eles podem ser absorvidos como nutrientes para aumentar a fertilidade do solo por meio de processos como compostagem e digestão anaeróbica, por exemplo. Dessa forma, temos a possibilidade de minimizar os danos ambientais.
Figura 349: ciclo biológico do diagrama “borboleta” simplificado, definido pela fundação Ellen MacArthur
Adaptado de https://ellenmacarthurfoundation.org/pt/o-diagrama-de-borboleta visitado em 26 junho 2023
Um exemplo de modelo de negócio circular ligado ao ciclo biológico é a CBPak (link), que utiliza fécula de mandioca para produção de embalagens biodegradáveis ao invés de utilizar o plástico. Os copos, por exemplo, são oferecidos para empresas aéreas por meio de um contrato de serviço. Depois, a CBPak coleta esses copos, os quais são destinados para compostagem.
O ciclo técnico
Devemos manter em uso os recursos, que são transformados pelos seres humanos e que a natureza não consegue metabolizar, por meio de:
- uma maior taxa de uso possível, evitando ociosidades;
- um maior tempo de vida possível, evitando a obsolescência desnecessária;
- uma transformação do material para o uso neste ou naquele setor.
Por exemplo, considere uma roupa de algodão. Primeiramente, após o primeiro ciclo de uso, ela pode ser reutilizada como uma roupa de segunda mão. Depois, as fibras de algodão podem ser utilizadas no setor de móveis para enchimento de estofados. A fibra, então, pode ser usada como lã-de-rocha para o isolamento da construção civil. Em cada uma dessas etapas, evita-se a utilização de materiais virgens (EMF, 2015).
Figura 350: ciclo técnico do diagrama “borboleta” simplificado, definido pela fundação Ellen MacArthur
Adaptado de https://ellenmacarthurfoundation.org/pt/o-diagrama-de-borboleta visitado em 26 junho 2023
Exemplo de ativação dos ciclos técnico e biológico Neste vídeo produzido pela empresa Klabin (3:26 min em português), produtora de papel e celulose, você poderá ver novamente esses dois ciclos. Eles apresentam a quantidade de resíduo produzido pelos brasileiros e formas que a empresa vem utilizando para ativar os ciclos biológicos e técnicos para utilizar estes resíduos como insumo, impedindo que sejam descartados no meio ambiente. |
Críticas à representação do diagrama “borboleta”
Pelo diagrama, o ciclo biológico é associado a uma perspectiva biológica e ambiental, enquanto o ciclo técnico é associado a uma perspectiva econômica e industrial. Tal separação pode levar a uma falta de consideração de oportunidades que levariam ao aumento da circularidade e ao melhor desempenho ambiental de recursos.
Uma das principais críticas está relacionada com a separação dos ciclos biológico e técnico, como representado no diagrama “borboleta”.
De acordo com um estudo conduzido por Metic et al. (2022), o elo dinâmico entre os ciclos biológico e técnico pode influenciar no desempenho sustentável dos sistemas circulares e possibilitar a extração de valor dos recursos tanto quanto possível. Por isso, os dois ciclos devem ser tratados de forma integrada já que as saídas de um ciclo podem ser utilizadas como entradas no outro ciclo.
Os autores ilustram, por exemplo, que a Comissão Europeia e o plano de ação para a Economia Circular instiga o desenvolvimento de plástico de base biológica, biodegradável e compostável – o que depende da integração dos ciclos biológico e técnico. O componente com plástico seria criado e circularia inicialmente pelo ciclo técnico até seu recolhimento. A sua degradação e utilização como compostável, ocorreria no ciclo biológico.
Metic et al. (2022) propõe, então, o conceito de “Dual Circularity” (Circularidade Dupla, em português) como um meio para reconhecer a associação entre os ciclos biológico e técnico, considerando que materiais e produtos podem ir de um ciclo para outro. A circularidade dupla é definida como …
… “uma abordagem integrada para apoiar a tomada de decisão ao desenvolver uma iniciativa de economia circular que considere totalmente o fluxo de materiais/produtos dentro e entre os ciclos biológico e técnico voltado para o desempenho sustentável do sistema” (Metic et al., 2022).
Com isso, tais autores trazem a definição de “dual material” (material duplo, em português). Esse tipo de material é aquele que possui a origem em um ciclo (por exemplo, no ciclo biológico) e possui o destino final em outro ciclo (por exemplo, no ciclo técnico).
Por exemplo, um material biológico não biodegradável possui origem no ciclo biológico, mas é utilizado no ciclo técnico para produção de plástico de base biológica.
Nesta perspectiva dual, um produto pode ser composto por materiais biológicos, técnicos ou dual. É preciso, então, considerar uma abordagem de análise sistêmica que seja capaz de considerar efeitos conjuntos dos ciclos biológico e técnico, e não de forma isolada como é representado no diagrama “borboleta”.
Estratégias de economia circular
As estratégias são meios ou procedimentos para atingir a economia circular (Kalmykova; Sadagopan; Rosado, 2017). Cada estratégia ativa de forma diferente os ciclos biológico ou técnico e tratam dos recursos em diferentes níveis: produtos, componentes, e materiais.
Objetivos ou estratégias?
Como já dissemos, não há um consenso sobre quais são os objetivos da economia circular. As publicações apresentam objetivos que se complementam. Há uma hierarquia entre os objetivos, e alguns podem ser considerados categorias de estratégias de economia circular.
Por exemplo, desacelerar a circulação de materiais (slowing de loop), pode ser considerada uma categoria de estratégias, que contém as estratégias de reutilizar, reparar ou remanufaturar produtos. Essas estratégias diminuem a necessidade de uso de matéria prima. E a desaceleração poderia ser considerada um objetivo da economia circular, mas que está hierarquicamente abaixo do objetivo mais amplo de “dissociar a atividade econômica do consumo de recursos”, como ilustra a figura abaixo.
Figura 970: exemplo da relação hierárquica entre objetivos da economia circular e sua relação com as estratégias
Estratégias, abordagens ou práticas?
Veja no início do tópico anterior que “as estratégias são meios ou procedimentos para atingir a economia circular”.
No tópico em que mostramos a “estrutura de apresentação da economia circular” desta seção dissemos que
Para atingir os seus objetivos, a economia circular possui princípios que são tratados como verdades e servem de base para a definição de estratégias, que direcionam a realização de atividades, que são baseadas na aplicação de abordagens e práticas.
Essa afirmação está de acordo com as definições de estratégia, abordagem e prática do glossário da flexM4i.
Grande parte da literatura sobre economia circular não diferencia explicitamente estratégia de práticas e não pretendemos entrar em uma discussão acadêmica ou semântica sobre essa diferenciação.
O importante é você desenvolver ações na sua empresa que visem a implementação da economia circular. Portanto, vamos mostrar neste tópico o entendimento comum sobre as estratégias de economia circular, que muitas vezes se confundem com práticas.
Por que categorizar as estratégias de economia circular em frameworks?
Blomsma et al. (2019) definiram alguns critérios para avaliar e comparar frameworks de categorização de estratégias de economia circular. Esses critérios mostram as razões para se criar essas categorias.
Segundo o nosso glossário, “Framework é uma estrutura conceitual que organiza elementos / práticas para resolver um problema; planejar uma ação; auxiliar um desenvolvimento; ou tomar uma decisão.” No caso da economia circular, os frameworks definem uma taxonomia ou classificação, que estabelece categorias (classes) de estratégias semelhantes (segundo diversos critérios de comparação). |
Um framework de categorização das estratégias de economia circular pode ser considerado uma ferramenta para (Blomsma et al., 2019):
- Inspirar, motivar e alinhar as pessoas a adotar estratégias de economia circular, e, para isso, o framework deve ser simples;
- Descrever a situação atual e identificar oportunidades, tanto incrementais quanto transformadoras. Um framework deve fornecer uma visão geral das estratégias existentes em uma escala da incremental a transformacional, assim como processos estratégicos como operacionais. É importante que um framework possa conter uma grande diversidade de estratégias de economia circular, ao invés de apresentar somente um nível agregado de estratégias, que não se podem utilizar;
- Facilitar o alinhamento entre as mudanças nos processos de negócio e as capabilidades da empresa;
- Incluir a redução do uso de recursos e a redução de impactos por meio da aplicação da um conjunto de estratégias, permitindo a configuração de um sistema circular amplo;
- Alinhar a criação e captura de valor, ou seja, o framework deve apoiar a identificação de contribuições relevantes tanto para criação como para captura de valor.
Consulte a publicação original para obter informações mais detalhadas sobre esses critérios. |
Alguns frameworks de estratégias de economia circular
Não é possível esgotar todos os frameworks existentes. Não existe um consenso de quais são as estratégias de economia circular. Além disso, como já afirmamos, a diferenciação entre estratégias e práticas não é consistente (o que não consideramos um problema, como já discutido).
Como não existe o “one-size-fits-all”, e apesar de se haver algumas estratégias “genéricas” discutidas neste tópico, cada vez mais as estratégias de economia circular e suas práticas devem ser especializadas para os fatores contextuais de cada aplicação.
Leia mais:
|
A seguir, mostramos alguns exemplos de frameworks, e três deles são detalhados em seções separadas.
Os Rs da sustentabilidade
Denominar as estratégias de sustentabilidade com termos iniciando com a letra “R”, durante muito tempo (e até hoje em muitas publicações), foi uma maneira de se agrupar estratégias e pode ser considerado um framework bem simples.
Esses “Rs” surgiram antes da discussão sobre a economia circular e foram adotados pela comunidade de economia circular, que muitas vezes reestruturou em outros frameworks citados a seguir.
Começou com os 3 “Rs” da sustentabilidade: “reduzir, reusar e reciclar”. Essa sequência já indicava uma preferência, ou seja, devemos enfatizar a estratégia de reduzir o uso de recursos e materiais; depois reusar e em último caso reciclar. Hoje existem diversas variações desses “Rs” chegando até a 16 “Rs”.
Devido à sua abrangência e popularidade, a flexM4i possui uma seção específica sobre os “Rs” da sustentabilidade. |
Framework de Potting
Potting et al. (2017) definiram três categorias de 10 “Rs” da economia circular e suas características, conforme ilustrado na próxima figura.
Figura 938: estratégias de economia circular dentro de uma cadeia produto em ordem de prioridade (a mais prioritária está no nível superior da figura).
Adaptado de Potting et al. (2017)
As flechas comparam essas estratégias segundo os critérios indicados nas caixas em azul na figura.
Uma explicação adicional deste framework com o significado dessas flechas está dentro de uma seção sobre os “Rs” da sustentabilidade. |
Estratégias de implementação da economia circular
Kalmykova; Sadagopan & Rosado (2017) criaram uma base de dados (em uma planilha Excel) de estratégias de implementação da economia circular. Essa planilha pode ser acessada neste link (original), mas se você tiver dificuldades, acesse a cópia da flexM4i. As estratégias foram classificadas conforme os seguintes critérios:
- partes (fases) da cadeia de valor: aquisição de material, design, manufatura, vendas e distribuição, consumo e uso, coleta e disposição, reciclagem e recuperação, remanufatura ou entrada circular (biomateriais, que podem ser facilmente regenerados);
- escopo da circularidade: substâncias, materiais, produtos ou setores industriais e sistemas, que podem ser cadeias de valor incompletas ou muitas cadeias de valor, que abrangem comunidades;
- nível de implementação da estratégia: política, pesquisa & desenvolvimento, compartilhamento de conhecimentos e experiências, aplicação piloto ou no mercado.
Apesar de o título “estratégias de implementação” parecer que são estratégias de “como implementar a economia circular”, essa base de dados traz uma lista de estratégias e exemplos de implementações da economia circular.
Veja o tópico “Como implementar a economia circular” mais à frente nesta seção. |
Estratégias de design e de modelo de negócio para economia circular
A estrutura das estratégias proposta por Bocken et al. (2016) complementa outras taxonomias / frameworks existentes. Hoje existem estruturas mais abrangentes, porém, consideramos ainda importante descrever os principais achados desta publicação, pois eles tratam de duas perspectivas inter-relacionadas (design e modelo de negócio).
A figura abaixo ilustra as estratégias sistematizadas neste trabalho.
Por esses motivos, apresentamos nesta seção os principais pontos deste artigo, e adicionamos conteúdos que detalham algumas estratégias / práticas relacionadas.
Figura 948: estratégias de economia circular circular divididas em estratégias de design e de modelo de negócio e classificadas segundo a desaceleração ou fechamento do ciclo de recursos
Fonte: adaptada de Bocken et al. (2016)
Como este trabalho é muito citado e se tornou um “clássico”, ele é detalhado em uma seção específica. |
Estratégias circulares do relatório do governo dos Países Baixos
A cada dois anos, o governo dos Países Baixos publica um relatório sobre o status da transição do país rumo à economia circular (Hanemaaijer et al., 2023). O relatório de 2023 traz a afirmação que “Economia circular é reduzir o uso de recursos materiais de uma forma radical e eficiente” e que para isso, devem ser aplicadas várias estratégias circulares, também chamadas de estratégias “R”.
O relatório mostra que essas estratégias podem ser atingidas de quatro formas:
- Estreitamento do ciclo: Utilizar menos recursos materiais, renunciando a produtos (recusar), compartilhando produtos (repensar) ou fabricando-os de forma mais eficiente (reduzir).
- Desaceleração do ciclo: Prolongar a utilização de produtos e componentes por meio da reutilização e reparação (reparar e remanufaturar); isso retarda a demanda por novos recursos materiais.
- Fechamento do ciclo: Fechar o ciclo por meio da remoção de perdas e materiais indesejáveis; reciclagem de materiais para que apenas os resíduos não reutilizáveis sejam incinerados ou depositados em aterro sanitário; e redução da necessidade de novas matérias-primas por meio da utilização de materiais secundários.
- Substituição. Substituir matérias-primas finitas por recursos renováveis produzidos de forma sustentável (como de base biológica) ou matérias-primas primárias alternativas com menor impacto ambiental.
Observações:
- Consideramos essas “formas” citadas no relatório como sendo categorias de estratégias de economia circular.
- Essas categorias são semelhantes às propostas por Bocken et al. (2016), que não apresentaram de forma explícita a categoria de “substituição”.
- A publicação de Bocken et al. (2016) não detalha a categoria de “estreitamento do ciclo”, argumentando que um aumento de eficiência não seria circular. No entanto, em uma análise mais abrangente, podemos concluir que o “estreitamento” é muito importante e leva a uma redução do impacto ambiental de produtos e materiais.
- Este relatório traz muitas outras informações sobre economia circular, além das categorias das estratégias, que podem ser úteis para leitores interessados em conhecer mais sobre o assunto. Seu acesso é gratuito (veja o link na referência). O relatório mostra a relevância atual das estratégias sistematizadas por Bocken et al. (2016).
Leia mais: |
As estratégias estruturadas pelo Circular Strategies Scanner, apresentado no próximo tópico, é uma evolução dessas categorias.
Circular Strategies Scanner
Blomsma et al. (2019) propuseram um framework, denominado por Circular Strategies Scanner, para apoiar o processo de inovação com orientação à Economia Circular. Os autores partiram da análise de frameworks existentes, comparando-os a partir dos critérios citados no tópico “Por que categorizar as estratégias de economia circular em frameworks?”, para desenvolvimento do Circular Strategies Scanner.
Segundo a descrição desta ferramenta, existente no site do projeto CIRCit Norden, este framework serve para:
- Criar uma compreensão abrangente das estratégias circulares
- Mapear as iniciativas atuais de Economia Circular
- Gerar ideias para aumentar a circularidade.
O framework propõe as categorias de estratégias ilustradas na próxima figura. Essa figura é uma simplificação do framework original.
Figura 928: visão simplificada do Circular Strategies Scanner
Adaptado de Blomsma et al. (2019)
Leia mais:
|
Estratégias circulares para inovação em sistemas produto-serviço (PSS)
Este tópico é somente um exemplo, entre vários existentes, de um framework de estratégias e práticas de economia circular que pode ser utilizado para selecionar alternativas em um projeto de um PSS, ou seja, para a inovação de modelo de negócio com orientação a produtos integrados a serviços.
Leia mais:
|
Este framework foi desenvolvido por Guzzo et al. (2019) e contém 21 estratégias e 77 práticas.
Os autores salientam que as estratégias / práticas estão relacionadas com diferentes níveis de agregação dos recursos, tais como:
- reparar ocorre no nível de produto;
- remanufaturar ocorre no nível de componentes;
- reciclar ocorre no nível de material.
A representação deste framework é composta por três círculos concêntricos, que representam 3 perspectivas (próxima figura):
- perspectiva conceitual;
- perspectiva estratégica; e
- perspectiva prática.
A lógica dessa representação mostra no centro quais os caminhos (ciclos) que um recurso poderia passar (perspectiva conceitual) e os outros dois círculos representam como conseguir atingir a circularidade nesses ciclos..
Figura 969: Ilustração do framework de estratégias e práticas de economia circular para apoiar a inovação de modelos de negócio para sistemas produto-serviço (PSS)
Fonte: Guzzo et al. (2019)
A perspectiva conceitual é dividida em 4 categorias de estratégias:
- Ciclos internos (inner circle): são as estratégias para aumentar o nível de utilização dos produtos, que muitas vezes ficam muito tempo ociosos, assim como diminuir o consumo dos produtos.
- Prolongar a circulação (circling longer): são as estratégias que prolongam o tempo de vida dos produtos e componentes.
- Cascata (cascade use): são as estratégias que recuperam os materiais descartados e a energia.
- Uso dos recursos (pure inputs): são as estratégias que otimizam a utilização de materiais e energia.
As respectivas estratégias são:
- a) Ciclos internos (inner circle):
- a1) encorajar a redução do consumo pelo usuário
- a2) compartilhar o uso e a propriedade de produtos entre os membros de uma comunidade
- a3) prover a funcionalidade ou o resultado do uso de produto, enquanto retém a propriedade
- a4) vender o acesso a um período de tempo específico ou ciclos de utilização, enquanto retém a propriedade
- a5) prover consultorias para aumentar o nível de utilização dos produtos
- b) Prolongar a circulação (circling longer)
- b1) prover consultorias para aumentar o tempo de vida dos produtos e componentes
- b2) prover peças de reposição e consumíveis enquanto mantém peças com ciclos de vida de longa duração
- b3) prover serviços de predição de falhas, manutenção e reparo
- b4) atualizar o sistema, mantendo a funcionalidade dos subsistemas e componentes do produto
- b5) facilitar a venda, retorno e coleta de produtos e componentes usados
- b6) prover serviços de recondicionamento e remanufatura
- b7) fabricar produtos ou componentes com uma vida útil otimizada
- c) Cascata (cascade use):
- c1) utilizar subprodutos (by-products) de um processo como entrada de um outro processo
- c2) facilitar a venda, retorno e coleta de material descartado
- c3) recuperar recursos de material descartado por meio de reciclagem, upcycling, downcycling ou biodegradação
- c4) recuperar a energia (residual) de material descartado como fonte de calor, eletricidade ou combustível
Leia mais sobre reciclagem, upcycling e downcycling no tópico “Cascatear (cascade)” do Checklist de estratégias de economia circular – CIRCit Scanner. |
- d) Uso dos recursos (pure inputs):
- d1) utilizar energia renovável para manufatura e operação de produtos e componentes
- d2) utilizar poucos recursos para manufatura e operação de produtos e componentes
- d3) utilizar biomateriais para a produção de produtos e componentes
- d4) utilizar materiais recicláveis para a produção de produtos e componentes
- d5) prover a funcionalidade dos produtos e serviços virtualmente ou de outra forma disruptiva
As práticas correspondentes a essas estratégias foram estruturadas de acordo com algumas das dimensões (componentes) do modelo de negócio CANVAS e divididas em 4 tabelas, de acordo com as categorias apresentadas.
Leia mais: As práticas deste artigo foram transcritas e estruturadas em uma planilha da flexM4i, que apresenta de forma integrada as 4 tabelas do artigo. Você pode filtrar as práticas por: grupo de estratégia; dimensão do modelo de negócio e/ou estratégia.
Este framework pode ser considerado um detalhamento das seguintes estratégias:
|
Práticas de economia circular
Repetimos aqui a frase já citada anteriormente.
Para atingir os seus objetivos, a economia circular possui princípios que são tratados como verdades e servem de base para a definição de estratégias, que direcionam a realização de atividades, que são baseadas na aplicação de abordagens e práticas.
As práticas operacionalizam as estratégias, ou seja, transformam as estratégias em ações.
Estratégias versus práticas
Já citamos no tópico “Estratégias, abordagens ou práticas?” que essa diferenciação muitas vezes não é bem definida na literatura.
Consideramos na flexM4i que “prática” é uma atividade profissional ou gerencial associada à aplicação de conhecimentos, habilidades, metodologias, métodos, ferramentas e técnicas para a execução de um processo.
Por este motivo, consideramos como práticas alguns tipos de DfX, como o design for maintainability, apesar que alguns autores tratam este DfX como estratégia. Grande parte dos DfX são práticas, pois descrevem um conjunto de atividades. Alguns DfXs são bem amplos e podem ser considerados estratégias, como o design for durability ou mesmo o design for sustainability, ao qual podemos associar muitas abordagens e práticas de economia circular.
Leia mais:
|
Como já discutimos anteriormente, do ponto de vista prático, não importa se estamos falando de estratégia ou prática de inovação. O importante é obter uma referência para se desenvolver ações na sua empresa, que contribuam para a economia circular.
Exemplo do design for attachment – estratégia ou prática?
O design for attachment procura criar produtos ou experiências, que incentivem uma conexão emocional, profunda e duradoura entre o usuário e o produto, fazendo com que o usuário não deseje trocar o produto e, assim, essa prática aumenta a longevidade do produto.
Leia mais na flexM4i sobre design for attachment. |
Esta prática pode estar associada à estratégia de “encorajar a redução do consumo pelo usuário” classificada dentro dos ciclos interno (inner circle) da sistematização proposta por Guzzo et al. (2019), descrita no tópico “Estratégias circulares para inovação em sistemas produto-serviço (PSS)”.
No caso das Estratégias de design e de modelo de negócio para economia circular – Bocken et al. 2016, o design for attachment é considerada uma das estratégias da categoria de “Estratégias de design para desaceleração do ciclo de recursos (slowing resource loops)”.
Ou seja, alguns autores consideram o design for attachment uma prática e outros uma estratégia.
Definir “rigorosamente” se o design for attachment é uma estratégia ou uma prática é uma questão acadêmica. Mas não importa para os profissionais de empresas. O importante é conhecer as alternativas existentes e realizar ações que levem à implementação da economia circular de acordo com os fatores contextuais da empresa.
Práticas de ecodesign são práticas de economia circular?
Muitas práticas de ecodesign, que foram sistematizadas antes da popularização da economia circular, podem ser aplicadas para implementar a economia circular.
Podemos afirmar que nem todas as práticas de ecodesign resultam em uma circularidade de produtos e materiais. Mas, assim como a estratégia de estreitamento do ciclo, que busca um aumento de eficiência, também pode resultar em uma não circularidade e é conceituada, por alguns autores, como uma estratégia de economia circular, as práticas de ecodesign também podem ser consideradas práticas de economia circular.
Lógico que a economia circular vai além das práticas de ecodesign, pois seu escopo é mais amplo e parte de uma visão sistêmica dos ciclos técnico e biológico.
Veja no próximo tópico alguns exemplos de práticas de ecodesign que podem ser consideradas práticas de economia circular. |
Exemplos de práticas
Vamos citar somente alguns exemplos de práticas de economia circular, lembrando que algumas práticas não são exclusivas da economia circular. Mais adiante, mostramos práticas de gestão da inovação que apoiam a implementação da economia circular.
Exemplos de práticas de ecodesign
Em sua tese de doutorado intitulada “Ecodesign maturity model: a framework to support companies in the selection and implementation of ecodesign practices”de 2012 (Pigosso, 2012), Daniela Pigosso, sistematizou 62 práticas gerenciais de ecodesign e 480 práticas operacionais, que são opções de ecodesign. Essas práticas operacionais foram classificadas em 35 diretrizes e 6 estratégias (Pigosso et al., 2013a). Este trabalho resultou no modelo de maturidade em ecodesign, denominado de ECOM2 (Pigosso et al., 2013b).
A seguir extraímos alguns práticas de ecodesign extraídas do trabalho citado:
- Projetar componentes de acordo com padrões para facilitar a substituição
- Usar peças idênticas para diferentes variantes de um produto
- Fornecer acesso mais fácil aos componentes a serem remanufaturados
- Organizar e facilitar a reciclagem de materiais em componentes com menores requisitos estéticos
- Projetar (design) considerando o uso secundário dos materiais uma vez reciclados
- Fornecer ao usuário informações sobre as modalidades de descarte do produto/ou de suas peças
- Estabelecer um sistema de coleta e tratamento ou participar de um sistema existente
- Utilizar parafusos de materiais compatíveis com os componentes da junta, para evitar a sua separação antes da reciclagem
Observe nesses exemplos que existem práticas com diferentes níveis de detalhamento. |
Práticas das estratégias circulares para inovação em sistemas produto-serviço (PSS)
Já apresentamos essas estratégias em um tópico anterior, e citamos que você poderia baixar uma planilha com as práticas sistematizadas por Guzzo et al. (2019). Extraímos e traduzimos algumas delas para você conhecer o que seriam práticas
Os códigos na frente das práticas são para identificar a prática na planilha citada:
- P3. Fornecer incentivos para que os clientes usem ou adquiram opções mais sustentáveis – relacionada com a estratégia de “encorajar a redução do consumo”.
- P9. Desenvolver plataforma online para facilitar a seleção, localização, coleta e recuperação de produtos compartilháveis – relacionada com a estratégia de “compartilhar o uso e a propriedade”.
- P11. Habilitar o monitoramento remoto da funcionalidade ou desempenho do produto para garantir a prestação de serviços – relacionada com a estratégia de “prover a funcionalidade ou o resultado”.
- P25. Conscientizar os consumidores sobre comportamentos que melhoram a vida útil do produto – relacionada com a estratégia de “prover consultorias para aumentar o tempo de vida dos produtos e componentes”, que é uma das estratégias do grupo “prolongar a circulação (circling longer)”.
- P40. Identificar e desenvolver parceiros para a coleta de produtos – relacionada com a estratégia de “facilitar a venda, retorno e coleta”, que é uma das estratégias do grupo “prolongar a circulação de produtos”.
- P48. Viabilizar a remanufatura projetando produtos fáceis de remanufaturar – relacionada com a estratégia de “recondicionamento e remanufatura”, que é uma das estratégias do grupo “prolongar a circulação de produtos”.
- P61. Identificar e compreender o quadro jurídico local, incentivos, parceiros e fluxos de resíduos para estabelecer operações de energia a partir de resíduos – relacionada com a estratégia de “recuperar a energia de material descartado”, que é uma das estratégias do grupo “cascata” (estratégias que recuperam os materiais descartados e a energia).
Diretrizes para o design e desenvolvimento de produtos circulares
O projeto Projeto CIRCit – Norden, descrito nas informações adicionais, publicou uma base de 32 ferramentas para apoiar a implementação da economia circular, e uma dessas ferramentas é a “Guidelines for circular design and development of circular products”.
Depois de definir a economia circular, indicar quem deveria usar as diretrizes, mostrar em quais fases do desenvolvimento de produtos ele deveria ser aplicado e apresentar uma visão geral das estratégias de economia circular, as diretrizes estão estruturadas abaixo das estratégias de economia circular.
A visão geral das estratégias corresponde à estrutura definida pelo Circular Strategies Scanner.
Leia mais: A flexM4i possui uma seção que descreve o Circular Strategies Scanner, e uma outra que utiliza a estrutura para apresentar as estratégias, intitulada “Checklist de estratégias de economia circular – CIRCit Scanner”. |
As diretrizes são apresentadas de acordo com a estrutura descrita a seguir.
Título da estratégia:
- Definição da estratégia
- Diretrizes de design da estratégia
- Exemplos
Acesse as Guidelines for circular product design and development no site do projeto CIRCit – Norden. |
Várias dessas diretrizes podem ser consideradas práticas de economia circular ou são associadas a práticas.
Exemplos:
- para a estratégia de repensar o modelo de negócio: pense nas atividades de apoio da fase operacional do sistema produto-serviço (PSS) para aumentar a eficiência, como, assegurar a segurança durante o tempo de uso do sistema.
- para as estratégias de restaurar, reduzir e evitar: no caso de seleção de fornecedores e matéria prima, projete (design) utilizando materiais renováveis, recicláveis ou reciclados.
- para as estratégias de restaurar, reduzir e evitar: no caso da fase de uso e operação, assegure que exista algum incentivo para que o produto e seus materiais sejam reutilizados, remanufaturados ou reciclados, quando ele não prover mais a sua funcionalidade original.
- para a estratégia de reparar: utilize componentes e materiais duráveis e robustos; facilite a inspeção dos produtos e componentes; facilite o acesso e troca de componentes defeituosos.
Essa última diretriz pode ser implementada por meio da aplicação de Design for maintainability, Design for reliability, Design for durability, Design for upgradability |
Modelos de negócio circulares
Já vimos nos tópicos anteriores que a implementação de estratégia e práticas de economia circular podem contribuir para promover o crescimento econômico e a criação de valor de forma dissociada, da degradação ambiental e social.
Um modelo de negócio circular (CBM) descreve a lógica de como uma organização cria, entrega e captura valor considerando as dimensões da sustentabilidade com base nas estratégias e práticas de economia circular. Portanto, os modelos de negócio circulares contribuem positivamente para os objetivos da economia circular.
Repensar ou criar um CBM é uma das estratégias da economia circular, que pode incorporar outras estratégias relacionadas com elementos dos componentes / dimensões de um modelo de negócio, tais como, atividades (processos), parceiros, tecnologia, pessoas etc.
A vantagem de se pensar / desenvolver um modelo de negócio é a possibilidade de articular diversas iniciativas relacionadas com os elementos de um modelo e, portanto, da empresa.
Devido à importância deste tema, criamos uma seção específica sobre modelos de negócio circulares.
Recomendamos que você conheça a seção específica sobre modelos de negócio circulares, pois ela complementa os conceitos de economia circular. |
Relação da gestão da inovação com a economia circular
A inovação tem papel-chave para uma transição à economia circular. Historicamente, o ato de inovar está relacionado com a sobrevivência das organizações: aquelas que falham em trazer novas soluções que atendam às necessidades da sociedade tendem a desaparecer. Com isso, gerenciar o portfólio de inovação de uma empresa está inerentemente ligado a gerenciar os riscos de priorizar certos esforços de inovação em detrimento de outros.
Reveja na seção sobre “o que é inovação?”, a discussão sobre inovação e sustentabilidade para localizar a economia circular no contexto da inovação.
Frente aos enormes riscos que a forma linear de produção e consumo nos traz, existe um novo aspecto a ser considerado:
é necessário balancear os riscos de investir em inovações que desafiam as práticas lineares de produção e consumo com o risco da não-ação, que pode levar a sociedade e o meio ambiente a sofrer os efeitos imprevisíveis de ultrapassar os limites planetários.
Ao mesmo tempo, a economia circular orienta a oportunidades de inovação, com potencial comprovado de criação de valor e para a construção de capital econômico, social e ambiental.
Práticas de gestão de inovação para apoiar a transição para a economia circular
As empresas têm, portanto, um papel fundamental nesta transição, alinhando esforços para a sobrevivência do negócio e também para manter a sociedade em condições seguras. Empresas proativas integram os princípios de economia circular ao seu portfólio de inovações disseminando conhecimento aos seus colaboradores e parceiros e acoplando metas e critérios de sustentabilidade ao sistema de inovação.
Um portfólio balanceado será composto por iniciativas de inovação incrementais e disruptivas, capazes de:
- tirar proveito das oportunidades do momento,
- sensibilizar os stakeholders sobre os enormes desafios relacionados às emissões e ao uso dos recursos e
- abrir espaço para para uma transformação total da empresa apoiada nos princípios da economia circular.
Algumas práticas e ferramentas podem ajudar as empresas a acoplar suas transformações à necessária transição de toda à sociedade a formas mais sustentáveis de produção e consumo:
- Mapear o macro-ecossistema de inovação (ambiente)para identificar pressões da economia linear (análise PESTEL dos motivos para transitar para uma economia circular);
- Mapear os desperdícios sistêmicos da cadeia de valor e identificar aqueles pontos em que a sua empresa pode agir / influenciar;
- Benchmarking e geração de inovações de EC em processos, produtos-serviço, e paradigma (argumentando que todos possivelmente levam a inovação em modelo de negócio);
- Identificação de inovações para impacto e priorização das iniciativas pelo impacto que geram e pela possibilidade de serem tangibilizadas;
- Articulação com o ecossistema de inovação e empreendedorismo para fomentar a economia circular;
- Criação de um roadmap circular que integre visões de diversas perspectiva e defina trajetórias para navegar da situação atual a um estágio futuro de acordo com as premissas e estratégias da economia circular
As inovações visando a economia circular podem resultar em propostas de novos modelos de negócio.
Economia circular versus sustentabilidade
A partir da notória difusão do conceito de economia circular, muito se tem discutido sobre sua relação, sobreposição ou diferenciação com a sustentabilidade.
Neste tópico iniciamos discutindo os pilares da sustentabilidade. Em seguida comparamos a abrangência entre essas duas abordagens. Finalizamos mostrando os pontos em comum e as diferenças entre sustentabilidade e economia circular.
Os pilares da sustentabilidade
A sustentabilidade foi instigada pelos movimentos ambientalistas e agentes supranacionais e apoia-se, originalmente, em três pilares conhecidos pela sigla TPL (triple bottom line), a qual se relaciona a três perspectivas da sustentabilidade: ambiental, social e econômica (Vezzoli et al., 2018).
Figura 355: diagrama de Venn para representar a relação dos três pilares de sustentabilidade (substituído pelo diagrama aninhado da próxima figura)
Em uma perspectiva atual, o modelo “nested” (aninhado) tem sido considerado preferível em relação ao diagrama de Venn para representar a sustentabilidade, visto que suas três perspectivas não devem ser representadas como pilares individuais, e sim como subsistemas de cada um (Purvis; Mao; Robinson, 2019). A próxima figura ilustra o modelo aninhado.
Figura 966:diagrama “nested”(aninhado) dos 3 pilares da sustentabilidade
O modelo “nested” indica uma hierarquia entre as perspectivas de sustentabilidade, no qual o meio ambiente inclui a sociedade, e a sociedade inclui as condições econômicas. Ou seja, tanto a sociedade quanto a economia estão sujeitas aos limites da biosfera (Sustainability, 2023).
Um outro formato para representar a relação entre esses três pilares é o “bolo de noiva” (Wedding cake), que expandiu em mais dimensões e deu origem aos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) adotados pela ONU.
Figura 967: diagrama bolo de noiva (wedding cake) para representar a expansão dos três pilares da sustentabilidade, que deu origem a estruturação dos objetivo de desenvolvimento sustentável da ONU
Fonte: https://stockholmuniversity.app.box.com/s/kptviuiltbejoryhclmluojj3x9iivok Acesso em: 24/12/2023
Conheça a página da Wikipédia que apresenta os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) em português. Alguns dos objetivos possuem páginas específicas (os links estão na página principal). A wikipedia em inglês é mais completa. Conheça a página dos ODS (SDG em inglês – sustainable development goals) da ONU bem detalhada e atualizada. |
Economia circular é uma estratégia para atingir a sustentabilidade?
O conceito de economia circular é mais recente que o de sustentabilidade, e tem origem no conceito cradle-to-cradle e ecologia industrial, considerando tanto os aspectos biológicos quanto técnicos, como já mostrado anteriormente nesta seção.
Podemos afirmar que a sustentabilidade é uma abordagem mais abrangente e consolidada do que a economia circular.
Muitos pesquisadores argumentam que a economia circular é um direcionador para atingir o desenvolvimento sustentável (Geissdoerfer et al., 2017; Manninen et al., 2018). Outros, afirmam que a economia circular é um resultado da sustentabilidade (Banaitė; Tamošiūnienė, 2016).
A economia circular pode ser tratada como um meio (alguns consideram como uma estratégia) para se atingir a sustentabilidade (com ressalvas e há controvérsias!!!).
Adotar a economia circular não é sinônimo imediato de contribuição para a sustentabilidade. Uma empresa pode adotar princípios da economia circular de fechamento de ciclo e não ser sustentável quando, por exemplo, seus funcionários trabalharem em condições de trabalho ruins (Geissdoerfer; Vladimirova; Evans, 2018) ou quando a adoção de estratégia de reciclagem de determinado material, por exemplo, consome mais energia e recursos do que a extração de novos materiais.
Uma afirmação recorrente para começar a apresentar a economia circular é que estamos em uma “economia linear” com todos os impactos associados e precisamos mudar o paradigma para uma economia circular.
Ao passar de um modelo econômico linear, baseado em extrair-produzir-desperdiçar, para uma economia circular, fortalecemos os processos naturais e permitimos que a natureza prospere.
As estratégias de fechamento de ciclo já faziam parte de forma explícita em várias abordagens de desenvolvimento sustentável, tais como, reutilizar e reciclar.
Outras categorias de estratégias de economia circular citadas anteriormente (diminuição de velocidade e estreitamento do ciclo, assim como minimizar o uso de recursos, desperdícios, emissões e perda de energia) já existiam de forma implícita no conceito de sustentabilidade em alguns Rs da sustentabilidade, tais como, recusar, repensar, reduzir, reparar e remanufaturar.
Leia mais: |
Evolução da economia circular
O estabelecimento do conceito e das estratégias da economia circular foi realizado de forma mais objetiva em relação às iniciativas de sustentabilidade, visando o fechamento do ciclo de produção ao eliminar/mitigar resíduos e emissões com base em uma visão sistêmica dos problemas.
Na verdade, a disseminação inicial da sustentabilidade veio de ambientalistas, e as empresas tinham naquela época um certo preconceito com relação aos “verdes”, pois parecia que a perspectiva econômico-financeira não era prioritária. A economia circular surgiu para conciliar essa percepção. As iniciativas de incentivo à disseminação do conceito da economia circular por entidades como a fundação Ellen Macarthur, a urgência da crise climática, o apoio da população a partidos políticos “verdes”, baseado em uma maior consciência, colocaram a economia circular na agenda empresarial. Uma grande contribuição para essa difusão foi a quantidade de fomentos para o desenvolvimento dos conceitos da economia circular na europa.
Um outro fator que contribuiu para a disseminação da economia circular foram os estudos sobre o desenvolvimento de modelos de negócio circulares que trazem uma visão sistêmica do problema ao adicionar aos modelos de negócio sustentáveis as características relacionadas aos ciclos tecnológico e biológico.
Para criar um paralelo complementar à sustentabilidade, o conceito de economia circular incorporou estratégias da perspectiva social, que de certa forma não estão explicitamente relacionadas com a “circularidade”, mas que são essenciais para o impacto positivo da adoção dessa abordagem.
O conceito de ESG, difundido inicialmente por instituições bancárias e fundos de investimento para balizar decisões de investimento, vem se tornando cada vez mais popular. Este conceito apresenta uma outra perspectiva e contribui para evitar o greenwashing.
A economia circular e a ESG possuem muitos princípios, estratégias e práticas comuns e a questão da transparência e decisões éticas da ESG complementa as iniciativas de economia circular.
Conheça a seção da flexM4i sobre ESG. |
Pontos em comum entre economia circular e sustentabilidade
Em um trabalho de comparação entre sustentabilidade e ecossistema, Geissdoerfer et al. (2017) definiram pontos comuns entre essas duas abordagens. Tanto a economia circular como a sustentabilidade:
- enfatizam o comprometimento das pessoas pelas questões ambientais, motivado pelos riscos causados pelos resíduos e poluição;
- destacam a importância da existência de agências reguladoras para indicarem vários caminhos de desenvolvimento sustentável;
- possuem uma perspectiva global com relação às questões ambientais, pois os problemas ambientais possuem uma escala global que exigem responsabilidades compartilhadas e coordenação entre todos os agentes;
- promovem o emprego de abordagens multi e interdisciplinares para integrar aspectos não econômicos ao desenvolvimento sustentável, ou seja, a consideração de aspectos ambientais e sociais junto dos econômicos;
- pregam a orientação que o desenvolvimento (design) de sistemas e as inovações são as principais atividades que podem criar soluções com menores impactos;
- dão importância à diversificação de abordagens e diversidade para aproveitar oportunidades distintas para a criação de valor;
- mostram não somente a necessidade de cooperação entre diferentes stakeholders, mas que isso é essencial para atender às expectativas de todos;
- apoiam o desenvolvimento de propostas de regulação e incentivos para guiar e alinhar o comportamento dos stakeholders como uma da principais iniciativas para implementação da economia circular e sustentabilidade;
- ressaltam o papel central das empresas privadas neste contexto, devido aos recursos e capacidades que elas possuem para implantação da economia circular e sustentabilidade;
- discutem que os avanços em materiais e tecnologia de produção são importantes mas resultam em soluções incrementais se comparadas com as inovações dos modelos de negócio, que provocam uma transição sociotécnica de maior impacto, ou seja, a inovação do modelo de negócios é um caminho essencial para a transformação de vários setores rumo à sustentabilidade (como a servitização).
Diferenças entre economia circular e sustentabilidade
Geissdoerfer et al., (2017) também identificaram diferenças entre sustentabilidade e economia circular, que estão estruturadas em cinco grupos:
- agentes;
- motivação;
- escopo;
- tempo para implementação;
- responsabilidades; e
- prioridades
Agentes:
- os agentes da sustentabilidade são difusos.
- os principais agentes econômicos parecem ser os principais beneficiários da economia circular, mas o meio ambiente também obtém ganhos resultantes de um menor esgotamento dos recursos naturais e poluição, que por sua vez traz ganhos sociais (ainda que de uma forma implícita no início).
Motivação:
- a principal motivação da economia circular é baseada no conceito que os recursos podem ser melhor utilizados e que os resíduos e emissões podem ser reduzidos com uma economia circular ao invés do paradigma linear de fabricar-usar-descartar.
- a sustentabilidade objetiva beneficiar o meio ambiente, a economia e a sociedade de uma forma balanceada e holística.
Escopo:
- o escopo da sustentabilidade é mais amplo e pode ser adaptado aos diversos contextos.
- o escopo da economia circular enfatiza benefícios econômicos e ambientais em comparação com a economia linear.
Tempo para implementação:
- o tempo necessário para implementação da sustentabilidade é aberto, pois seus objetivos são constantemente adaptados e reorganizados.
- o tempo de implementação da economia circular em uma unidade geográfica é limitado.
Responsabilidades:
- as responsabilidades da sustentabilidade são compartilhadas e não são claramente definidas.
- as responsabilidades da economia circular são primariamente das empresas privadas, órgãos reguladores e políticos.
Prioridades:
- a sustentabilidade prega o alinhamento entre os stakeholders.
- a economia circular prioriza as vantagens financeiras das empresas, o consumo menor de recursos e a diminuição da poluição para diminuir / eliminar os impactos ambientais.
Apesar desse estudo ser muito bem embasado, existem críticas entre as comunidades que lidam com esses dois conceitos. A economia circular cada vez mais se envolve com questões sociais. Algumas comunidades envolvidas com iniciativas de desenvolvimento sustentável não lidam com os princípios da economia circular, mas no fundo tratam de práticas semelhantes.
Consideramos que não importa o rótulo e sim as ações e resultados obtidos pela aplicação de ambos os conceitos por meio de suas estratégias e práticas.
Efeitos rebote
Apesar dos benefícios relacionados à economia circular e o potencial de contribuir com a sustentabilidade, resultados positivos nem sempre são alcançados devido à ocorrência de efeitos rebote (Castro et al., 2022).
Efeitos rebote são consequências negativas e não intencionais que surgem na transição para a economia circular. Isso indica que os efeitos rebote podem minimizar o alcance da eficiência dos recursos à medida que a adoção de estratégias e práticas de economia circular leva a um maior nível de produção e de consumo (Zink & Geyer, 2017). Efeitos rebote podem comprometer os objetivos sustentáveis, levar à ocorrência de greenwashing, e ocultar a dissociação da produção da extração de recursos naturais (Zerbino, 2023).
Uma abordagem sistêmica é essencial para minimizar os efeitos rebotes focando não apenas na dimensão ambiental, mas também em aspectos sociais (como prejuízos a trabalhadores, à saúde da população, etc.).
Leia mais na seção da flexM4i específica sobre Efeitos rebote de iniciativas da economia circular. |
Digitalização e a Economia Circular
Este tópico traz como a digitalização potencializa a economia circular, bem como os principais desafios neste contexto.
Como a digitalização potencializa a economia circular
Antikainen et al. (2018) realizaram um workshop com especialistas em economia circular (27 de indústrias; 22 da academia; 7 de governo; e 6 de ONGs) para avaliar como a digitalização potencializa as oportunidades da economia circular. Os resultados reportados são divididos em dois grupos:
- potenciais gerenciais e
- potenciais técnicos.
Potenciais gerenciais:
- a digitalização cria novas oportunidades fornecendo dados de localização, condição e disponibilidade de produtos.
- big data abertos e precisos apoiam as tomadas de decisões.
- a digitalização possibilita o desenvolvimento de novas plataformas digitais e, assim, a criação de novos tipos de mercados.
- esses novos mercados podem ser baseados na virtualização de produtos e processos.
- a digitalização facilita o networking, a colaboração e a cocriação de forma mais eficiente envolvendo os stakeholders, incluindo clientes.
- a digitalização incentiva o envolvimento do consumidor nos processos de inovação de produtos e serviços, fazendo com que as empresas alcancem e interajam com os consumidores de maneira mais eficaz do que antes.
- as mídias sociais desempenham um papel fundamental no envolvimento do consumidor e nas relações interativas.
- a digitalização está transformando o marketing em algo mais interativo e inteligente.
- a digitalização contribui para a redução de custos e o aumento da eficiência, incluindo a eficiência dos recursos.
Potenciais técnicos:
- facilidade em acessar e rastrear dados sobre os produtos, tais como, localização, condição e disponibilidade por toda cadeia de suprimentos por meio de IoT, nuvem e blockchain para manter a confidencialidade das informações, se for o caso.
- virtualização de produtos e processos por meio da digital twin, virtualização, realidade aumentada, chatbots etc. Isso segue a estratégia R2 de repensar a necessidade de se utilizar bens físicos e portanto, materiais
- colaboração à distância por meio de videoconferência e outros meios de contato digitais. Isso evita o transporte e a emissão de poluentes
- envolvimentos dos clientes por meio de contatos virtuais, como por exemplo redes sociais, para melhorar o entendimento, levantamento de requisitos, protótipos virtuais e, assim evitar desperdícios e retrabalhos resultantes de experimentações que demandam o uso de recursos
- maior inteligência de mercado obtida por meio de coleta dados de redes sociais e dos usuários atuais e análise via IA para se conhecer padrões de comportamento, desejos e tendências. Dessa forma, as novas ofertas vão de encontro às necessidades com maior probabilidade de sucesso, o que evita desperdícios na produção de produtos com baixo potencial de uso
- controle inteligente de estoque de alimentos com base em IA para supermercados definirem quantidade e prazo de estoque de itens perecíveis, assim como conhecer a situação do estoque
- implantação de um “passaporte” virtual de produtos para os clientes via Apps conhecerem sua origem e avaliar se toda a cadeia de suprimentos é sustentável
- quando for um equipamento, nesse “passaporte” (gravado em um RFID, por exemplo), poderiam estar registradas informações sobre como realizar a manutenção, indicando instruções que utilizem a realidade aumentada para facilitar a operação
- impressão 3D de peças de máquinas, para as quais não existe mais itens de reposição. Isso evita que a máquina seja descartada aumentando seu tempo de uso
- uso de aprendizado de máquinas para prever desgastes de peças, diminuindo desperdícios de troca desnecessária de componentes
- aplicação de sensores (IoT), nuvem e algoritmos de IA para predizer desgaste de peças e necessidade de troca, evitando assim desperdícios
Observe que a maior parte desses potenciais deve ser considerada desde o design das soluções. A própria definição de economia circular diz …
“um sistema industrial que é restaurativo e regenerativo por intenção e design”
Um exemplo de digitalização, que complementa os tópicos listados anteriormente, é a solução que fornecedores de sistemas integrados de gestão empresarial (ERPs) oferecem. Por exemplo, a proposta da SAP intitulada “responsible design and producion” contém soluções voltadas para a transformação rumo à economia circular.
Leia mais:
É interessante notar (veja o último link) o pragmatismo desse fornecedor de software em enfatizar o monitoramento das regulamentações globais e a criação de relatórios (reports), que cada vez mais estarão na agenda das empresas (leia mais sobre isso na seção sobre ESG – governança ambiental, social e corporativa). Conheça a diferença entre sistema integrado de gestão (ERP) de sistema de gestão integrado (SGI). |
Desafios
Antikainen et al. (2018) também levantaram os desafios listados a seguir.
Relacionados a modelos de negócio:
- encontrar financiamento para novas ideias de negócios.
- desenvolver ideias em modelos de negócios bem-sucedidos.
- reformular e redefinir modelos de negócios.
- mudar a mentalidade de negócios orientados a produtos para modelos de serviço.
Relacionados a dados:
- garantir o acesso a dados.
- compartilhar dados de várias maneiras.
- compartilhar dados entre concorrentes.
- garantir privacidade e direitos de propriedade.
- integração de big data detidos por múltiplos atores.
Relacionados com a colaboração entre parceiros do ecossistema:
- organizar a colaboração entre diferentes parceiros.
- falta de confiança entre parceiros
- definir processos compartilhados.
- encontrar colaboradores adequados.
- combinar diferentes áreas de expertise.
- comunicar perspectivas diversas das empresas para os consumidores.
- gestão de fluxos compartilhados de informação entre parceiros.
Relacionados à competência:
- combinação de competências em TIC e sustentabilidade.
- falta de compreensão da importância da digitalização.
- falta de conhecimento dos conceitos básicos de economia circular.
Leia mais: Conheça a seção “Barreiras que limitam a adoção de tecnologias digitais para uma economia circular” que apresenta uma lista de recomendações para mitigar essas barreiras. |
Como implementar a economia circular
De acordo com a teoria da contingência, não existe one-size-fits-all. Portanto, as estratégias e práticas de economia circular, que uma empresa vai aplicar, depende das estratégias de negócio e dos fatores contextuais (setor, processo, tecnologia, produto etc…).
Leia mais sobre teoria da contingência e fatores contextuais da inovação. |
A implementação depende do envolvimento de diferentes stakeholders
A implementação depende do envolvimento de diferentes stakeholders, tais como, empresas de mineração, fornecedores de matéria prima; empresas de manufatura de componentes ou insumos; empresas de manufatura de produtos; empresas de marketing e propaganda; empresas de distribuição e logística (incluindo a reversa); revendedores; empresas de prestação de serviços de reparo e manutenção; empresas de recuperação de valor (reciclagem, redistribuição, revenda, recuperação, remanufatura, recondicionamento etc.), catadores e cooperativas de catadores; aterros sanitários, órgãos governamentais de controle ambiental e de ações sociais; clientes; formadores de opinião; ONGs e a sociedade como um todo.
Baixe um checklist de possíveis stakeholders. Veja o tópico adiante sobre ecossistemas circulares. |
Sincronizar ações da sociedade e das empresas
A implementação da economia circular precisa mudar a mentalidade linear das empresas e sociedade. Os benefícios ambientais da economia circular são fáceis de entender. Mas os benefícios econômicos são mais complexos de enxergar. A mudança para economia circular exige o comprometimento da alta liderança (Lieder & Rashid, 2016).
Esses autores sugeriram uma abordagem que sincroniza ações top-down com ações bottom-up:
- as ações top-down são realizadas por órgãos governamentais e por políticas que devem aumentar o conhecimento coletivo sobre questões ambientais para mostrar os benefícios das atividades industriais para a sociedade. Procura maximizar os benefícios ambientais por meio do controle das empresas industriais.
- por outro lado (bottom-up), as empresas de manufatura devem se conscientizar dos impactos ambientais das suas operações industriais e, assim, desenvolver iniciativas para mitigar / eliminar os impactos. Essas iniciativas envolvem: modelos de negócio colaborativos, design for circular economy, implementação de um ecossistema circular e tecnologia de informação e comunicação (TIC) / digitalização voltada para economia circular.
A sincronização desses dois tipos de ações converge para um compromisso entre o interesse público (top-down) e as empresas (bottom-up) com o objetivo de evitar a priorização de benefícios ambientais em detrimento das vantagens econômicas e vice-versa.
Habilitadores da economia circular
Os habilitadores da economia circular são fatores ou mecanismos que levam as empresas à circularidade, melhorando a competitividade da empresa em um contexto de economia circular (Hopkinson et al., 2020 apud Gomes et al., 2024, Seles et al., 2022 ).
Habilitador é a tradução que iremos utilizar para o termo em inglês “enabler”, que também pode ser considerado um mecanismo capacitador, impulsionador, promotor ou facilitador. A conclusão que chegamos na discussão do glossário sobre “enabler é que
Os enablers podem ser implementados por governos, pelas empresas ou serem condições existentes em uma região, país ou sociedade. |
Como um habilitador tem a abrangência apresentada no quadro anterior, repetimos a seguir a figura de estrutura da apresentação da economia circular (figura 939 do tópico “Estrutura de apresentação da economia circular”) para ilustrar que um habilitador pode ser uma condição externa à empresa, assim como as próprias estratégias, abordagens e práticas de economia circular.
Figura 939b: representação hierárquica de conceitos da economia circular (figura 939) com a indicação da abrangência dos habilitadores / faciitadores (enablers) da economia circular.
Exemplos de enablers externos:
– Incentivos financeiros governamentais para fomentar a implementação da economia circular
– Incentivos públicos para investidores privados financiarem projetos que conduzam para a economia circular
– Medidas específicas para encorajar as pequenas e médias empresas em adotar a economia circular
Exemplos de enablers internos:
– Capabilidade de projetar (design) e reconfigurar modelos de negócio sustentáveis
– Entendimento da regulamentações existentes sobre economia circular para alinhar os negócios com elas e antecipar tendências futuras
– Entender as necessidades específicas dos clientes e sua propensão em pagar por produtos e serviços sustentáveis
– Apoio da alta gerência com relação a questões de sustentabilidade
– A digitalização e as transformações digitais na gestão de dados e informações desempenham um papel crucial na economia circular ao facilitar a rastreabilidade e a colaboração nas instalações de coleta e reciclagem de materiais. Isso permite uma gestão mais eficiente dos recursos, assegurando que os materiais sejam corretamente identificados, coletados e reciclados, promovendo assim a circularidade e a sustentabilidade.
– A manufatura redistribuída e a inteligência digital desempenham um papel fundamental na economia circular ao incentivar o desenvolvimento de técnicas para a coleta e processamento de resíduos gerais, sejam urbanos ou industriais. Isso é alcançado por meio do uso de sensores e sistemas avançados da Indústria 4.0, que permitem a integração de novas práticas, soluções e ferramentas nos processos de logística reversa. Dessa forma, é possível otimizar a gestão de resíduos e promover a sustentabilidade ao garantir que os materiais sejam eficientemente coletados, processados e reintegrados ao ciclo produtivo.
Esses exemplos foram extraídos do glossário sobre enabler (no contexto da economia circular), que por sua vez foram extraídos dos seguintes artigos: Bressanelli et al. (2021), Alonso-Almeida et al. (2021), Selles et al. (2022) e (Gomes et al. (2024). Esses artigos apresentam listas mais extensas de enablers, e alguns indicam ainda material suplementar com um detalhamento dos enablers. Esses artigos não esgotam todas os habilitadores da economia circular. |
|A pergunta que surge aqui para alguém da prática é “onde acho uma compilação exaustiva desses enabler e como posso escolher qual o habilitador mais adequado para o caso da minha empresa?”
Como os habilitadores:
– são abrangentes (políticas públicas, condições locais, estratégias, comportamentos, recursos, cultura, tecnologia, organização, práticas e ferramentas),
– não existe um consenso sobre uma sistematização desses habilitadores para se aplicar na prática e
– como ainda vários desses habitadores são abordagem e práticas da economia circular,
consideramos que sua empresa deve selecionar e implementar:
– as estratégias de economia circular (que já foram bem estruturadas como mostra os “Rs” da sustentabilidade, o checklist de estratégias da economia circular do CIRCit Scanner e as estratégias de design de de modelo de negócio para a economia circular) e
– as práticas correspondentes às estratégias.
Para isso, indicamos que sua empresa deveria aplicar a plataforma ready2loop. Essa plataforma configura um conjunto de ações para sua empresa implementar estratégias e práticas da economia circular.
A plataforma ready2loop está explicada no próximo tópico e é descrita com um nível maior de detalhes em uma outra seção específica da flexM4i. |
As condições externas são oportunidades que as empresas devem aproveitar (ou devem seguir quando forem regulamentações) para implementar a economia circular. Monitorar essas oportunidades é um dos processos de rastrear, monitorar e analisar o contexto.
Um dos principais habilitadores da economia circular é a constituição de um ecossistema circular, discutido após a apresentação da plataforma ready2loop.
Plataforma ready2loop para apoiar a transição rumo à economia circular
Um dos princípios de gestão de processos e da gestão de mudança é que a implementação de um processo ou de uma mudança parte do conhecimento da situação atual.
O ready2LOOP é uma plataforma na web para a realização de uma auto-avaliação e definição de ações para a sua empresa seguir em uma jornada de implementação de estratégias e práticas da economia circular.
O ready2LOOP auxilia empresas, que podem ter vários papéis em uma cadeia de valor, a: :
- acessar e analisar sua prontidão para implementar estratégias e práticas de economia circular (a prontidão “mede” se a sua empresa tem as condições – está pronta – para implementação da economia circular);
- realizar benchmarking do seu nível de prontidão com outras empresas também registradas na plataforma;
- planejar e executar o processo de transição para aumentar a circularidade da empresa;
- apoiar esse processo de transição por meio da seleção de ferramentas e métodos a serem utilizados.
Acesse na flexM4i a seção que descreve a plataforma ready2loop e que indica como acessar a plataforma. |
Ecossistemas circulares
A economia circular é uma abordagem que requer multiplicidade de atores. A literatura e a própria dinâmica industrial reconhecem que é praticamente improvável que uma única empresa detenha toda a infraestrutura, capacidade técnica e recursos necessários para implementação de uma economia circular. Dado esse contexto, é essencial que haja colaboração entre as organizações (Paavilainen et al., 2021).
Essas colaborações podem ocorrer por meio de ecossistemas circulares, que são sistemas que compreendem atores interdependentes e heterogêneos que vão além das fronteiras industriais e que coletivamente direcionam esforços para viabilizar uma proposta de valor circular (Trevisan et al., 2022, p. 292). Esse tipo de ecossistema cria oportunidades para a sustentabilidade ambiental e econômica e possui características únicas que o distinguem de outras configurações ecossistêmicas.
Leia mais: Quer conhecer um pouco mais sobre o que é um ecossistema circular, seus principais elementos, e os benefícios e gargalos em fazer parte de uma estrutura como essa?! Recomendamos consultar a seção dedicada a ecossistemas circulares. |
Informações adicionais, cursos e exemplos
Existe muito material disponível na internet sobre a economia circular. Selecionamos alguns para complementar os conceitos desta seção.
O site da fundação Ellen Macarthur (EMF) contém muitas publicações, de acesso gratuito.
Economia circular: acesso ao invés de propriedade
Este vídeo (3:11 min, em inglês) da Fundação Ellen MacArthur, que promove a economia circular na Europa, traz vários princípios que novamente falam dos novos modelos de negócio de ter acesso aos serviços ou funcionalidades dos produtos ao invés de comprá-los.
A universidade técnica de Delft (TU Delft) dos Países Baixos (Holanda) oferece um curso online gratuito (MOOC – massive open online course) muito bom sobre economia circular. Na página inicial deste curso você pode acessar também os cursos:
- circular product design assessment
- engineering design for a circular economy
- circular building products for a sustainable built environment
The Circularity Gap Reporting Initiative: a global score for circularity. “A Circularity Gap Reporting Initiative destaca a necessidade urgente de transição para uma economia circular. Nosso objetivo é capacitar os principais tomadores de decisão no governo e nas empresas para coordenar ações para acelerar essa transição. Fazemos isso medindo os atuais estados de circularidade e reunindo partes interessadas de empresas, governos, academia e ONGs para contribuir e avaliar nossas descobertas sobre o estado da transição com base nas evidências científicas mais recentes”.
MOVIMENTO CIRCULAR: “uma comunidade formada por pessoas, empresas, organizações sociais e poder público, empenhada em contribuir, por meio da educação e da cultura, com a transição da economia linear para a economia circular”. Eles oferecem uma escola aberta de cursos sobre economia circular.
O conteúdo da wikipedia em inglês é bem completo. Destacamos neste verbete: as iniciativas listadas no primeiro relatório da fundação Ellen Macarthur (Towards the Circular Economy: Economic and Business Rationale for an Accelerated Transition); a relação com normas ISO; as críticas à economia circular; os exemplos de economia circular em 7 setores da economia; a situação da europa com relação à economia circular; as diretrizes, políticas e programas europeus visando à implantação da economia circular; as iniciativas de alguns países; e os conceitos relacionados., Várias referências bibliográficas importantes são citadas nesse verbete da wikipedia (são 171 referências, consultado em 16/8/2021).
Design para economia circular
Este vídeo produzido pela FIEMG (3:28 min em português) destaca o design voltado à economia circular, compartilhamento de recursos e simbiose industrial, com uma descrição da iniciativa da FIEMG para que as empresas possam colaborar para a implantação da economia circular.
Product as a service
Este vídeo apresenta (1:37 min em inglês) os conceitos de product as a service, outra denominação para sistema produto serviço (ou PSS, product service system, em inglês) – veja seção correspondente na flexM4i sobre PSS
Economia compartilhada
Este vídeo apresenta (2:47 min em inglês) os conceitos da economia compartilhada, que, como eles citam no vídeo, possui várias denominações. Podemos fazer um paralelo com o sistema produto-serviço (PSS) – veja a seção correspondente. Mostra a tendência de se sair do paradigma de se possuir um bem para ter acesso ao bem.
Logística reversa
A logística reversa viabiliza a adoção das demais estratégias, como está destacado neste vídeo produzido pela TV Bandeirantes (4:01 min em português), que explica o que é a economia circular, com uma discussão sobre reciclagem, que é um tema ainda recorrente, porque o primeiro princípio da economia circular ainda não foi aplicado pela maior parte das empresas.
3 Rs da sustentabilidade e 5 modelos de negócio
Neste vídeo da Accenture (10:13 min em português), eles falam dos 3 Rs da origem da economia circular (reduzir, reutilizar e reciclar), citam a razão pela qual a economia circular entrou na agenda das empresas (mudança de hábitos e pressão das mídias sociais), citam estudos sobre o interesse da sociedade neste assunto, mostram exemplos de empresas que estão aplicando essa abordagem e listam cinco modelos de negócio circulares (alguns modelos são equivalentes às estratégias apresentadas):
- cadeia de valor circular
- plataforma compartilhada
- produto as a service (também conhecido como PSS, descrito em outra seção)
- extensão do ciclo de vida dos produtos
- reuso e reciclagem
Conheça os Rs da sustentabilidade que sistematizamos na flexM4i. |
Dos conceitos à mudança
No site do eCycle tem um post sobre economia circular com 4 tópicos, que apresentam: como seria possível mudar para o paradigma da economia circular; o que é a fundação Ellen MacArthur; como funciona a implantação da economia circular; e sobre a classificação europeia de projetos e produtos. No início tem um vídeo que explica de maneira didática o que é a economia circular.
Queremos destacar neste post o tópico intitulado “Economia circular ganha força com a classificação europeia”, no qual o eCycle mostra que o “parlamento europeu aprovou uma classificação de projetos e empresas segundo seis objetivos ambientais, que visa orientar investimentos públicos nos países do bloco que precisam atingir metas já estabelecidas nos acordos do clima, nas diretrizes contra a poluição de rios, mares e nos compromissos internacionais em relação aos resíduos.”
Essa classificação busca evitar o greenwashing, estabelecendo critérios para se avaliar se os projetos são realmente sustentáveis.
Neste post os seis objetivos ambientais são listados e o detalhamento sobre economia circular é apresentado.
Recomendamos a leitura deste tópico do post do eCycle |
Classificação europeia de projetos de economia circular
Em 2020, a União Europeia criou um documento para difundir um entendimento comum do que é a economia circular com o objetivo de apoiar o financiamento de projetos de implementação da economia circular.
Este documento é intitulado “categorisation system for the circular economy” (neste link é o local original deste documento, mas colocamos também na nossa base de dados, caso o acesso não exista mais no futuro. |
Este documento apresenta 14 estratégias de economia circular divididas em 4 modelos:
- modelos gerenciais de apoio à economia circular;
- modelo de design para economia circular com o objetivo de retenção do valor dos produtos por muito tempo;
- modelos de otimização da utilização de produtos; e
- modelos para recuperação de valor depois da fase de uso.
Essas estratégias estão relacionadas com Rs da sustentabilidade. Para cada estratégia, são definidos critérios de circularidade, para garantir que aquela estratégia está sendo atingida.
Conheça a seção sobre os Rs da sustentabilidade. |
As iniciativas de economia circular dos projetos e empresas serão mensuradas e avaliadas por meio dos critérios específicos de circularidade (veja as tabelas no final do documento) para, por exemplo, definir quem está realmente realizando a economia circular (e não o greenwashing) e, com isso, estar elegível para receber financiamentos (não está em vigor ainda e nem existem diretrizes definidas com relação a investimentos).
Recomendamos o estudo deste documento para os leitores que estão no nível de detalhamento avançado. |
Projeto CIRCit - Norden
O projeto de CIRCit – Norden decorreu durante cinco anos (2017-2021), abrangendo os cinco países nórdicos, Dinamarca, Noruega, Finlândia, Islândia e Suécia. Utilizando uma série de métodos de pesquisa-ação, o objetivo do CIRCit era apoiar a indústria nórdica na descoberta e implementação de oportunidades da Economia Circular.
Este projeto desenvolveu várias ferramentas e foi o embrião da plataforma ready2loop. No seu site você pode acessar:
- 32 ferramentas para apoiar a implementação da economia circular
- 6 workbooks (WB) de acesso gratuito, que explicam como aplicar as ferramentas:
- WB1: Circular Economy Sustainability Screening
- WB2: Circular Economy Business Modelling
- WB3: Circular Product Design and Development
- WB4: Smart Circular Economy
- WB5: Closing the Loop for a Circular Economy
- WB6: Collaborating and Networking for a Circular Economy
- 79 casos de economia circular.
Deste projeto extraímos e traduzimos com permissão dos autores:
As Guidelines for circular product design and development, citadas no tópico de práticas de economia circular, também foram extraídas deste projeto. |
Plataforma ready2LOOP
O ready2LOOP é uma plataforma na web para a realização de uma auto-avaliação e definição de ações para a sua empresa seguir em uma jornada de implementação de estratégias e práticas da economia circular. Devido a sua importância, temos na flexM4i uma seção que introduz essa plataforma e indica o link para acessá-la.
Ferramentas de modelagem de negócio para a economia circular
Jan Agri, em um post no LinkedIn intitulado “Business modelling tools for a more Circular Economy”, lista 13 ferramentas de modelagem de negócio para a economia circular. Essa lista continua a crescer, conforme novas contribuições são adicionadas.
Vale a pena conferir, algumas dessas ferramentas são mencionadas nesta seção da flexM4i sobre economia circular.
Relatórios da Agência de Avaliação do Meio ambiente dos Países Baixos
A Agência de Avaliação do Meio ambiente dos Países Baixos (PBL Netherlands Environmental Assessment Agency) publica diversos relatórios em inglês sobre sustentabilidade em geral e economia circular em particular que são muito bem embasados (alguns foram utilizados na confecção desta seção sobre economia circular), vale a pena conferir.
Casos
Visite no site da flexM4I, a seção que contém coletâneas de casos de inovação de outros sites. Lá você poderá encontrar as coletâneas de casos de economia circular da fundação Ellen Macarthur; da comunidade de inovação da EIT Raw Material (comunidade de matéria prima do Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia); da Circle Economy; além de outros casos de sustentabilidade.
Este vídeo (1:52 min em inglês) explora o problema da poluição dos oceanos por resíduos plásticos de embalagens. Mostra uma solução da cervejaria Saltwater.
Este vídeo (3:40 min em inglês) apresenta a solução de uma empresa para criar embalagens de material reciclado para substituir o plástico.
Neste supermercado na Tailândia são usadas folhas de bananeira como embalagens de frutas, legumes e folhas, no lugar de plástico (vídeo de 2:58 min, sem áudio)
Como já citado, o Projeto Projeto CIRCit – Norden traz 79 casos de economia circular.
Como citar: adotamos o padrão APA, você deve converter para outro se necessário.
Fernandes, Sânia; Guzzo, Daniel; Pigosso, Daniela & Rozenfeld, Henrique. (2024). Economia circular. In: flexible Methodology 4 innovation – flexM4i. Recuperado de: https://flexmethod4innovation.com/pratica/economia-circular/
Referências
Alonso-Almeida, M. del M., Rodriguez-Anton, J. M., Bagur-Femenías, L., & Perramon, J. (2021). Institutional entrepreneurship enablers to promote circular economy in the European Union: Impacts on transition towards a more circular economy. Journal of Cleaner Production, 281. https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2020.124841
Amshoff, B., Dülme, C., Echterfeld, J., & Gausemeier, J. (2015). Business model patterns for disruptive technologies. International Journal of Innovation Management, 19(3), 1–22. https://doi.org/10.1142/S1363919615400022
Antikainen, M., Uusitalo, T., & Kivikytö-Reponen, P. (2018). Digitalisation as an Enabler of Circular Economy. Procedia CIRP, 73, 45–49. https://doi.org/10.1016/j.procir.2018.04.027
Banaitė, D.; Tamošiūnienė, R. (2016). Sustainable Development: the Circular Economy Indicators’ Selection Model. Journal of Security and Sustainability Issues, 6(2), 315–323. doi: 10.9770/jssi.2016.6.2(10)
Blomsma, F., Pieroni, M., Kravchenko, M., Pigosso, D. C. A., Hildenbrand, J., Kristinsdottir, A. R., Kristoffersen, E., Shabazi, S., Nielsen, K. D., Jönbrink, A. K., Li, J., Wiik, C., & McAloone, T. C. (2019). Developing a circular strategies framework for manufacturing companies to support circular economy-oriented innovation. Journal of Cleaner Production, 241. https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2019.118271
Bocken, N. M. P., Short, S. W., Rana, P., & Evans, S. (2014). A literature and practice review to develop sustainable business model archetypes. Journal of Cleaner Production, 65, 42–56. https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2013.11.039
Bocken, N. M. P., de Pauw, I., Bakker, C., & van der Grinten, B. (2016). Product design and business model strategies for a circular economy. Journal of Industrial and Production Engineering, 33(5), 308–320. https://doi.org/10.1080/21681015.2016.1172124
Bressanelli, G., Pigosso, D. C. A., Saccani, N., & Perona, M. (2021). Enablers, levers and benefits of Circular Economy in the Electrical and Electronic Equipment supply chain: a literature review. Journal of Cleaner Production, 298, 126819. https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2021.126819
Brodnjak, U. V., & Jestratijević, I. (2022). Solutions of Sustainable Packaging in Footwear and Apparel Industry. International Symposium on Graphic Engineering and Design, 533–538. https://doi.org/10.24867/GRID-2022-p59
Campbell-Johnston, K., Vermeulen, W. J. V., Reike, D., & Brullot, S. (2020). The Circular Economy and Cascading: Towards a Framework. Resources, Conservation and Recycling: X, 7(March). https://doi.org/10.1016/j.rcrx.2020.100038
Castro, C. G., Trevisan, A. H., Pigosso, D. A., Mascarenhas, J. (2022). The rebound effect of circular economy: Definitions, mechanisms and a research agenda. Journal of Cleaner Production, 345. https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2022.131136
Chapman, J. (2009). Design for (emotional) durability. Design Issues, 25(4), 29–35. https://doi.org/10.1162/desi.2009.25.4.29
Coes, D. H. (2014). Critically assessing the strengths and limitations of the Business Model Canvas (Master’s thesis, University of Twente).
EMF (2013). Towards the Circular Economy: Economic and business rationale for an accelerated transition. Ellen MacArthur Foundation, 1, 1–96.
EMF (2015). Rumo à economia circular: o racional de negócio para acelerar a transição. Ellen MacArthur Foundation, 1, 1–21.
EMF; SUN; McKINSEY (2015). Growth within: a circular economy vision for a competitive Europe. Ellen MacArthur Foundation, Stiftungsfonds für Umweltökonomie und Nachhaltigkeit, McKinsey Center for Business and Environment, 1–98.
EMF (2018). The circular economy opportunity for Urban & Industrial Innovation in China. Ellen MacArthur Foundation, 1–166.
EMF (2021). Exemplos e princípios da economia circular do site da fundação Ellen Macarthur. https://www.ellenmacarthurfoundation.org/circular-economy/what-is-the-circular-economy , visitado em 16/08/2021
European Commission (2015). Closing the Loop – an EU Action Plan for the Circular Economy. In: Communication from the Commission to the European Parliament, the Council, the European Economic and Social Committee and the Committee of the Regions. Brussels.
European Commission (2020). ?????
Gassmann, O., Frankenberger, K. And M. Csik. (2014). The business model navigator: 55 models that will revolutionize your business. Harlow: Pearson Education Limited.
Geissdoerfer, M., Bocken, N. M. P., & Hultink, E. J. (2016). Design thinking to enhance the sustainable business modelling process – A workshop based on a value mapping process. Journal of Cleaner Production, 135, 1218–1232. https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2016.07.020
Geissdoerfer, M., Savaget, P., Bocken, N. M. P., & Hultink, E. J. (2017). The Circular Economy – A new sustainability paradigm? Journal of Cleaner Production, 143, 757–768. https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2016.12.048
Geissdoerfer, M.; Vladimirova, D. & Evans, S. (2018a). Sustainable Business Model Innovation: a review. Journal of Cleaner Production, 198. 401-416. doi: 10.1016/j.jclepro.2018.06.240
Geissdoerfer, M., Morioka, S. N., de Carvalho, M. M., & Evans, S. (2018b). Business models and supply chains for the circular economy. Journal of Cleaner Production, 190, 712–721. https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2018.04.159
Ghisellini, P.; Cialani, C.; Ulgiati, S. (2016). A review on circular economy: The expected transition to a balanced interplay of environmental and economic systems. Journal of Cleaner Production, 114, 11–32. doi: 10.1016/j.jclepro.2015.09.007
Gomes, L. A. de V., Homrich, A. S., Facin, A. L. F., Silva, L. E. N., Castillo-Ospina, D. A., Trevisan, A. H., Ometto, A. R., Mascarenhas, J., & Carvalho, M. M. (2024). Enablers for circular ecosystem transformation: A multi-case study of Brazilian circular ecosystems. Sustainable Production and Consumption, 49(February), 249–262. https://doi.org/10.1016/j.spc.2024.06.009
Gregson, N. Et Al. (2015). Interrogating the circular economy: the moral economy of resource recovery in the EU. Economy and Society, 44(2), 218–243. doi: 10.1080/03085147.2015.1013353
Guzzo, D.; Trevisan, A.H.; Echeveste, M.; Costa, J.M.H. (2019). Circular Innovation Framework: Verifying Conceptual to Practical Decisions in Sustainability-Oriented Product-Service System Cases. Sustainability, 11, 3248. https://doi.org/10.3390/su11123248
Hanemaaijer, A.; Kishna, M.; Koch, J.; Lucas, P; Gerdien Prins, A.; Rood, T.; Schotten, K. & van Sluisveld, M. (2023). Circular economy report 2023 – Assessment for Netherlands – Summary and Main Findings. Consulted on June, 10, 2022. PBL Netherlands Environmental Assessment Agency The Hague, 2023 PBL publication number: 5109 Disponível em: https://www.pbl.nl/en/publications/integral-circular-economy-report-2023-assessment-for-the-netherlands Acesso em: 3 Jun 2023.
Homrich, A. S. Et Al. (2018). The circular economy umbrella: Trends and gaps on integrating pathways. Journal of Cleaner Production, 175, 525–543. doi: 10.1016/j.jclepro.2017.11.064
Hopkinson, P., De Angelis, R., Zils, M., 2020. Systemic building blocks for creating and capturing value from circular economy. Resource Conserv. Recycl. 155, 104672.
Kalmykova, Y.; Sadagopan, M.; Rosado, L. (2017). Circular economy – From review of theories and practices to development of implementation tools. Resources, Conservation and Recycling, February, 135, 190-201. doi: 10.1016/j.resconrec.2017.10.034
Kirchherr, J., Reike, D., & Hekkert, M. (2017). Conceptualizing the circular economy: An analysis of 114 definitions. Resources, Conservation and Recycling, 127(April), 221–232. https://doi.org/10.1016/j.resconrec.2017.09.005
Korhonen, J., Honkasalo, A., & Seppälä, J. (2018). Circular Economy: The Concept and its Limitations. Ecological Economics, 143, 37–46. https://doi.org/10.1016/j.ecolecon.2017.06.041
Leslie, C. M., Strand, A. I., Ross, E. A., Ramos, G. T., Bridge, E. S., Chilson, P. B., & Anderson, C. E. (2021). Shifting the balance among the ‘three rs of sustainability:’ what motivates reducing and reusing? Sustainability (Switzerland), 13(18), 1–12. https://doi.org/10.3390/su131810093
Lieder, M., & Rashid, A. (2016). Towards circular economy implementation: A comprehensive review in context of manufacturing industry. Journal of Cleaner Production, 115, 36–51. https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2015.12.042
Lindgardt, Z., Reeves, M., Stalk, Jr, G., & Deimler, M. (2009). Business model innovation: When the game gets tough, change the game. Own the future: 50 ways to win from The Boston Consulting Group, 291-298.
Lüdeke-Freund, F., Carroux, S., Joyce, A., Massa, L., & Breuer, H. (2018). The sustainable business model pattern taxonomy—45 patterns to support sustainability-oriented business model innovation. Sustainable Production and Consumption, 15, 145–162. https://doi.org/10.1016/j.spc.2018.06.004
Manninen, K. et al. (2018). Do circular economy business models capture intended environmental value propositions? Journal of Cleaner Production, 171, 413–422. doi: 10.1016/j.jclepro.2017.10.003
Martins, Agatha (2022). Design for trust: Como podemos projetar para a confiança? Disponível em: https://www.sintetizo.com.br/design-for-trust-como-podemos-projetar-para-a-confianca. Acesso em: 20 setembro 2023.
Metic, J., Klose, S., McAloone, T. C., Fröhling, M., & Pigosso, D. C. A. (2022). Proposal of a Dual Circularity Concept for Sustainable Design. Proceedings of the Design Society, 2, 1051–1060. https://doi.org/10.1017/pds.2022.107
Munaro, M. R., & Tavares, S. F. (2021). Design for adaptability and disassembly – a review to achieve buildings ’ deconstruction. ÌV Euro Elecs.
Ometto, A. R. et al. (2018). Economia Circular: oportunidades e desafios para a indústria brasileira. Brasília: Confederação Nacional da Indústria.
Osterwalder, A.; Pigneur, Y. (2010) Business Model Generation: A Handbook for Visionaries, Game Changers, and Challengers; John Wiley and Sons: Hoboken, NJ, USA.
Paavilainen, A., Heikkinen, A. and Kujala, J. (2021), “Inter-organisational Collaboration in Circular Economy Ecosystems”, Sustainable Entrepreneurship: Innovation and Transformation, No. July, pp. 11–23.
Pieroni, M. P. P., McAloone, T. C., & Pigosso, D. C. A. (2019). Business model innovation for circular economy and sustainability: A review of approaches. Journal of Cleaner Production, 215, 198–216. https://doi.org/10.1016/J.JCLEPRO.2019.01.036
Pieroni, Marina; McAloone, Tim C.; Pigosso, Daniela Cristina Antelmi (2020). A03_Circular Economy Business Model Pattern Cards. Technical University of Denmark. Figure. https://doi.org/10.11583/DTU.12006444.v2
Pigosso, D. C. A. (2012). Ecodesign maturity model: a framework to support companies in the selection and implementation of ecodesign practices . Tese de Doutorado, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos. doi:10.11606/T.18.2012.tde-10082012-105525. Recuperado em 2023-10-10, de www.teses.usp.br
Pigosso, D. C. A., Rozenfeld, H., & McAloone, T. C. (2013a). Ecodesign maturity model: A management framework to support ecodesign implementation into manufacturing companies. Journal of Cleaner Production, 59. https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2013.06.040
Pigosso, D., McAloone, T. C., & Rozenfeld, H. (2013b). EcoM2 web portal: Collecting empirical data and supporting companies’ ecodesign implementation and management. In DS 75-5: Proceedings of the 19th International Conference on Engineering Design (ICED13) Design For Harmonies, Vol. 5: Design for X, Design to X, Seoul, Korea 19-22.08. 2013.
Porteous, A., & Rammohan, S. (2013). Integration , Incentives and Innovation Nike ’ s Strategy to Improve Social and Environmental Conditions in its Global Supply Chain. Stanford Graduate School of Business, October, 1–7. www.gsb.stanford.edu/scforum/sisscr
Potting, J., Hekkert, M., Worrell, E., & Hanemaaijer, A. (2017). Circular economy: Measuring innovation in the product chain. PBL Netherlands Environmental Assessment Agency, 2544, 42.
Prieto-sandoval, V.; Jaca, C. & Ormazabal, M. (2018). Towards a consensus on the circular economy. Journal of Cleaner Production,179, 605–615. doi: 10.1016/j.jclepro.2017.12.224
Purvis, B.; Mao, Y.; Robinson, D. (2019). Three pillars of sustainability: in search of conceptual origins. Sustainability Science, 14, 681-695.
Reike, D., Vermeulen, W. J. V., & Witjes, S. (2018). The circular economy: New or Refurbished as CE 3.0? — Exploring Controversies in the Conceptualization of the Circular Economy through a Focus on History and Resource Value Retention Options. Resources, Conservation and Recycling, 135(August 2017), 246–264. https://doi.org/10.1016/j.resconrec.2017.08.027
Richardson, J. E. (2008). The Business Model: An Integrative Framework for Strategy Execution. Ssrn, 17(5–6), 133–144. https://doi.org/10.1002/jsc.821
Rli (2015). Circular economy. From intention to implementation (in Dutch; Rli 2015/03, NUR-740, ISBN 978-90-77323-00-7). Council for the Environment and Infrastructure (Rli), The Hague.
Seles, B.M.R.P., Mascarenhas, J., de Sousa Jabbour, A.B.L., Trevisan, A.H., 2022. Smoothing the circular economy transition: the role of resources and capabilities enablers. Bus. Strategy Environ. 31 (4), 1814–1837.
Stahel, W. R. Circular economy. Nature. V. 531, p. 435-438, 2016.
Su, B. et al. (2013). A review of the circular economy in China: Moving from rhetoric to implementation. Journal of Cleaner Production, 42, 215–227. doi: 10.1016/j.jclepro.2012.11.020
Sustainability (2023). In: WIKIPEDIA. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Sustainability Acesso em 06 jun 2023.
Urbinati, A., Chiaroni, D., & Chiesa, V. (2017). Towards a new taxonomy of circular economy business models. Journal of Cleaner Production, 168, 487–498. https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2017.09.047
van Buren, N., Demmers, M., van der Heijden, R., & Witlox, F. (2016). Towards a circular economy: The role of Dutch logistics industries and governments. Sustainability (Switzerland), 8(7), 1–17. https://doi.org/10.3390/su8070647
Vert, M., Doi, Y., Hellwich, K., Hess, M., Hodge, P., Kubisa, P. & Schué, F. (2012). Terminology for biorelated polymers and applications. Pure and Applied Chemistry, 84(2), 377-410.
White, P. (2013). Designing Durability – emerging opportunities (Issue Marx 1861). Disponível em: https://www.idsa.org/wp-content/uploads/FINAL_Paper-Designing Durability.pdf Acesso em: 2 de outubro de 2023.
Zerbino, P. (2023). Circular Economy Rebound: The Third Wheel on the Date Between Circularity and Sustainability. Journal of Circular Economy. https://doi.org/10.55845/UREH6873
Zink, T., Geyer, R. Circular Economy Rebound (2017). Journal of Industrial Ecology. https://doi.org/10.1111/jiec.12545