Checklist de estratégias de economia circular - CIRCit Scanner

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Esta seção foi editada por Henrique Rozenfeld (roz@usp.br)  

Introdução

Este checklist é uma compilação das descrição das categorias e estratégias do Circular Strategies Scanner, extraídas:

A publicação original da ferramentaCircular Strategies Scanner” indica que as pessoas facilitadoras para aplicação da ferramenta deveriam conhecer / estudar o artigo de Blomsma et al. (2019). Consideramos que esse artigo em inglês é difícil de ser compreendido por pessoas da prática no Brasil que não estão acostumadas a ler artigos científicos em ingles. Além disso, o artigo vai além da descrição das estratégias, pois também apresenta como a ferramenta foi desenvolvida, o que não seria o foco de quem deseja aplicar.

Foram adicionados exemplos e explicações sobre alguns conceitos citados nas publicações originais

Você pode imprimir este checklist em pdf para utilizar no workshop de aplicação do Circular Strategies Scanner, clicando no ícone à direita do menu superior desta página.

Veja a seção principal que descreve o Circular Strategies Scanner.

 

Os papéis do design e da mentalidade

Como apresentamos no tópico “O problema e a solução estão no design” da seção principal sobre economia circular, existem diversas práticas de DfX que contribuem para a implementação das estratégias de economia circular.

Consideramos neste contexto o design de novos modelos de negócio, tecnologia, sistemas, produtos e serviços.

Como comentamos naquele tópico, o fator essencial para a adoção das estratégias e práticas da sustentabilidade, e, consequentemente, aplicação dos DfXs, é a mentalidade das pessoas, que molda o comportamento e, geralmente, é influenciada pela cultura organizacional e pela sociedade, nas quais as pessoas estão inseridas.

Visão geral das categorias das estratégias

As estratégias de economia circular estão estruturadas de acordo com as categorias ilustradas na próxima figura, que representa os campos do Circular Strategies Scanner.

Figura 928: visão simplificada das categorias das estratégias de economia circular do Circular Strategies Scanner
Adaptado de: Blomsma et al. (2019)

 Descrevemos a seguir as categorias, que às vezes são subdivididas em subcategorias.  

Depois de apresentar algumas estratégias, ilustramos com alguns exemplos usando usando a fonte em itálico e na cor deste parágrafo. Alguns exemplos cobrem mais de uma estratégia.

Sequência para apresentação das categorias / estratégias

Pela representação da figura anterior da visão simplificada você pode observar que existe a seguinte hierarquia entre as estratégias estruturadas de acordo com o Circular Strategies Scanner:

  • as estratégias de “reinventar paradigmas” podem influenciar todas as outras estratégias
  • as estratégias “repensar o modelo de negócio” podem influenciar as de “restaurar, reduzir e evitar impactos” e as de “recircular produtos e componentes”
  • as estratégias de “restaurar, reduzir e evitar impactos” podem influenciar as de “recircular produtos e componentes” e as de “reciclar materiais” 
  • as estratégias  de “recircular produtos e componentes” podem influenciar  as de “reciclar materiais” 

Você pode estudar ou disseminar essas estratégias seguindo a sequência anterior, que vai das estratégias mais amplas até que recuperam um menor valor residual..

Exemplos: 

Ouvir músicas via streaming (mudança de paradigma) causa um menor impacto se comparado com ouvir um CD, que exige recursos e energia para fabricação, transporte e descarte. Os servidores de um serviço de streaming também podem consumir energia, mas bem menos em comparação com a produção de milhões de CD. Essa estratégia elimina a necessidade de possíveis outras estratégias de se “restaurar, reduzir ou evitar o impacto” na fabricação, porque não há mais fabricação.

“Repensar e reconfigurar um modelo de negócio”, com o sistema produto-serviço (PSS) orientado a resultado, pode influenciar a fase de uso e operação do produto visando utilização mais eficiente dos recursos, pois todo o sistema (PSS) e as pessoas envolvidas são treinadas para operar com maior eficiência. 

Conseguir prolongar a vida de um produto ou reutilizá-lo, dentro da categoria de “reciclar produtos”, faz com que menos produtos sejam necessários e atrasa o fim-de-vida, no qual pode haver a reciclagem dos materiais (uma das estratégias do “reciclar materiais”), que aproveita menos o valor residual do produto.

Veja mais à frente a relação entre as estratégias de recircular produtos, componentes e materiais (figura 931).

Apesar da estrutura hierárquica, os criadores do Scanner relatam uma experiência positiva em apresentar (disseminar) as estratégias a partir da categoria de “reciclar materiais”, pois são as estratégias atuais mais conhecidas. Depois, eles apresentam as estratégias na direção inversa da estrutura hierárquica, expandido a visão para outras estratégias, que podem ser implementadas.

Como temos dois atores principais que lidam com as estratégias deste checklist para definir ideias de economia circular (veja a ferramenta principal – o Scanner): o facilitador e os membros do time do workshop. Você pode então adotar duas sequências distintas para esses atores:

  • o facilitador deve explorar todas as categorias, estratégias e exemplos na sequência em que ele se sentir maior facilidade
  • depois, o facilitador pode disseminar as outras estratégias para os membros do time, a partir daquelas de menor preferência e de aproveitamento do menor valor residual.

Essa proposta de sequência foi relatada como a mais eficaz para entendimento geral. Porém, cada caso é único. Então, defina a sequência para conhecimento e disseminação que você considere mais apropriada.

Reinventar paradigmas

Esta categoria envolve o esforço para criação de novos conceitos de negócio que visam separar totalmente o crescimento econômico e a criação de valor do consumo de recursos e degradação ambiental e social.

Essa categoria visa tornar os produtos físicos redundantes, o que chamamos de “desmaterialização dos produtos”. Isso é obtido pela oferta de serviços para que o consumidor perceba o mesmo valor que ele percebia quando adquiria um produto. É o movimento de sair de uma economia baseada em produtos para uma economia baseada em serviços.

Essa categoria está associada com:

  • inovações radicais de produtos normalmente relacionados com tecnologias disruptivas (streaming, por exemplo) e, frequentemente, envolvem a aplicação de soluções digitais 
  • posturas radicais da perspectiva pessoal, como recusar (refuse) o consumo daquilo que não é necessário.

Reinventar paradigmas está associado com inovações radicais.

A aplicação de estratégias desta categoria depende de ações do ecossistema, tais como:

  • responsabilidade do produtores de realizar melhorias e inovações para se consumir menos material e energia, ou seja, tornar a produção mais eficiente e efetiva (melhorias em design dos produtos, processos e equipamentos);
  • aplicação de estratégias / práticas de fim-de-vida e recuperação de produtos.

Relação com outras categorias e os “Rs” da sustentabilidade

As estratégias envolvidas nessa categoria podem direcionar as estratégias das outras categorias, quando um novo paradigma for criado (resultante de uma inovação radical). Por isso sua posição na figura das categorias é lateral para ilustrar que pode influenciar as demais estratégias.

  • contém as estratégias de: rejeitar / recusar e refletir
  • relaciona-se com as estratégias de: repensar, reusar, reparar, recondicionar, remanufaturar, reciclar 

A mudança de paradigma de orientação por produtos para a orientação a serviços, sem o desenvolvimento de uma inovação radical, envolve a proposição de novos modelos de negócios, escopo da categoria “repensar e reconfigurar modelos de negócio”.

Exemplos:

  • a utilização de um smartphone substitui vários produtos com diversas funcionalidades (GPS, máquina fotográfica, telefone, chat, e-mail, videoconferência, mapas, relógio, cronômetro, calculadora, jogos, vídeo game etc.), pois ele é um produto multifuncional e depende de fornecedores de soluções complementares (do ecossistema )
  • música e vídeo em streaming eliminam a necessidade de se possuir CDs ou DVDs (este caso pode ser considerada uma nova forma de se entregar essas funções, sendo, portanto, a estratégia de repensar);
  • a leitura por meio de dispositivos eletrônicos (como o Kindle da Amazon) ou jornais na web elimina a necessidade de se utilizar papel e tinta para imprimir livros / jornais;
Repare nos três exemplos anteriores, que a mudança de paradigma está associada à aplicação de tecnologias disruptivas. Além disso, os novos paradigmas implicam em mudança no modelo de negócio. Como um modelo de negócio é formado por componentes de diversas perspectivas (mercado, recursos, modelo de receita, canais, processos etc.), sua mudança envolve a transformação de muitos componentes. Mudam os canais, os recursos, os processos, o modelo de receita etc.
  • a utilização de nossos próprios copos ou canecas em eventos, trabalho, academia etc., evitam o uso de material descartável;
  • comprar produtos, cujas embalagens sejam recicláveis, retornáveis ou mesmo sem embalagens, como no caso de compra de cereais a granel.

 

Repensar e reconfigurar modelos de negócio

Esta categoria envolve a inovação de modelos de negócio circulares.  Esses modelos podem ser baseados em produtos existentes e, normalmente, estão relacionados com a aplicação de novas tecnologias.

Essa categoria tem o ponto central de se pensar em função e proposição de valor com foco em como um consumidor / usuário pode usar, interagir com os produtos para obter uma melhor experiência.

As estratégias dessa categoria podem resultar na transformação de uma economia baseada em produtos para a orientação a serviços.

Esta categoria não envolve inovações radicais. Quando estiver associada a uma inovação radical, é considerada uma “reinvenção de paradigma” (categoria anterior). Esta categoria pode envolver uma mudança de paradigma sem a aplicação de uma inovação tecnológica disruptiva (como mostrado nos exemplos da categoria anterior). Ela pode resultar:

  • da transformação de uma empresa baseada na venda de produtos em uma empresa orientada a serviços (servitização) ou.
  • de mudanças de comportamento dos consumidores, que valorizam a sustentabilidade, o compartilhamento de produtos e são menos consumistas, ou seja, não trocam constantemente de produtos para “estarem na moda”.

Mesmo que outras estratégias de economia circular mais pontuais sejam aplicadas, como reusar, remanufaturar ou mesmo reciclar, sempre é bom avaliar se ocorre alguma mudança no modelo de negócio ou se uma inovação no modelo de negócio pode influenciar positivamente essas outras estratégias.

Esta categoria é subdividida nos seguintes grupos (próxima figura):

  • modelos de negócio baseados em resultados e desempenho: é quando o cliente paga de acordo com os resultados ou desempenho do produto / serviço.
  • modelos de negócio baseados em acesso ou disponibilidade do produto: é quando ocorre o compartilhamento de produtos ou a contratação de uso do produto por meio de um contrato temporário.
  • modelos de negócio baseados em produtos de longa duração: são produtos robustos associados a serviços que prolongam sua vida; mas ao atingir o final da primeira fase de uso, já existem acordos para a compra e reuso desses produtos.

Figura 929: subcategorias da categoria “repensar e reconfigurar modelos de negócio” de estratégias de economia circular Circular Strategy Scanner
Adaptado de Blomsma et al. (2019)

Para o sucesso desses novos modelos de negócio, é necessário a oferta de serviços:

  • que garantam a operação dos produtos com eficiência e menor custo, impacto ambiental e social. Esses serviços podem envolver manutenção, treinamento e consultoria de aplicação. Os custos desses serviços podem ser cobertos pelos acordos comerciais já embutidos nos modelos de negócio ou podem fazer parte de acordos separados;
  • de financiamento da operação e compra de consumíveis, se necessário;

Existem diversas combinações elementos de negócio (organização, ecossistema, recursos etc.) que resultam em uma grande variedade de modelos de negócio, que vão além dos apresentados. Assim, o sucesso desses modelos depende de outras condições, que precisam ser avaliadas caso a caso.

Leia mais:

Exemplos dessa variedade são os padrões (patterns) de modelo de negócio sistematizados pela Metodologia da invincible company ou os padrões do livro de Gassmann et al. (2014). Mas nem todos são circulares.

Dentro do projeto CIRCit-Norden, existe uma ferramenta, que são cartões que representam diversos padrões de modelos de negócio circulares, que você pode baixar gratuitamente. Essa ferramenta é apresentada nos exemplos de padrões (patterns) da seção de Modelos de negócio circulares”.

Para os leitores do nível de detalhamento avancado, recomendamos as seguintes leituras: Amshoff et al. (2015); Lüdeke-Freund et al. (2018); Pieroni et al. (2019); e Pieroni et al. (2020).

 Exemplos:

  • o compartilhamento de automóveis e bicicletas é uma nova forma de se pensar na posse e no consumo, não necessitamos mais ter a posse desses produtos, assim esses produtos não ficarão tanto tempo  ociosos (leia mais sobre economia compartilhada);
Neste vídeo você pode conhecer o outro lado do compartilhamento do compartilhamento de automóveis, que na China resultou em grandes impactos ambientais, pois a oferta foi muito maior do que a demanda e as empresas que ofertavam esses serviços quebraram.
  • estender a vida dos produtos por meio de uma assinatura dos serviços de manutenção, que pode estar associada ao monitoramento do uso e do desempenho do produto para o acionamento de manutenções preditivas, como no serviço de gestão do ciclo de vida que a Siemens oferece para o setor de bens de capital intensivo;
  • não adotar mais a obsolescência programada, e sim modelos de negócio, como os citados anteriormente. Na perspectiva pessoal, você deve procurar empresas que não praticam a obsolescência programada;
  • editoras de revistas podem oferecer publicações mais antigas, que ainda possuem conteúdos atuais, a menores preços, para evitar o descarte de material impresso não vendido;
  • a produção de co-produtos, a partir das matérias primas (veja o exemplo a seguir da British Sugar).

As fábricas da British Sugar operam um modelo de fabricação avançado que evita o desperdício, transformando as saídas do processo em insumos para uma ampla gama de co-produtos. Esses co-produtos incluem (entre outros):

  • agregados, que vem com a colheita da beterraba (de onde eles extraem o açúcar), como pedras, que eles tratam e comercializam para empresas de construção de estradas e obras;
  • 200 mil toneladas de solo,que vêm com a colheita de 8 milhões de toneladas de beterraba, são processados como topsoil e vendidos para empresas de paisagismo; 
  • ração animal.

Os processos da British Sugar resultam em menos de 200 gramas de resíduos para cada tonelada de açúcar produzida – praticamente zero desperdício.

Restaurar, reduzir e evitar impactos

Esta categoria envolve prevenir uso excessivo de material e energia com o objetivo de:

  • melhorar da eficiência dos processos para otimizar o uso de recursos (materiais, energia e água)
  • melhorar o potencial de circularidade antes da fase de uso.

Como pode ser observado na próxima figura, esta categoria é subdividida em três grupos de estratégias, que correspondem a três áreas de impacto:

  • matéria prima e suprimentos
  • manufatura
  • uso e operação

Figura 930: áreas de impacto e estratégias da categoria “restaurar, reduzir e evitar impactos” do Circular Strategy Scanner
Adaptado de Blomsma et al. (2019) 

As estratégias dentro desta categoria de restaurar, reduzir e evitar impactos do Circular Strategies Scanner são consideradas antes da fase de uso dos produtos e materiais. Depois da fase de uso, essas estratégias são categorizadas dentro do recircular (próxima categoria de estratégias).

Área 1 - Estratégias relacionadas com matérias-primas e suprimentos

Essas estratégias visam melhorar o potencial de circularidade e eficiência no processo de suprimentos.

  • aquisição de matérias-primas e suprimentos renováveis e recicláveis;
  • aquisição de fontes secundárias de suprimentos e matérias-primas, tais como, materiais que já foram reciclados, materiais resultantes de outros processos / empresas, que seriam descartados, no contexto da simbiose industrial ou outra forma cascateamento (cascading) entre saídas (resíduos) e entradas (insumos) de processos ou empresas;

Simbiose industrial representa a troca física de materiais, energia, água e subprodutos entre empresas (clicando no link você pode consultar uma definição mais completa no glossário).

Essa prática é bem ampla e está relacionada com as estratégias de:

  • aquisição de fontes secundárias da categoria restaurar, reduzir e evitar impactos (relacionadas com matéria prima e suprimentos) e
  • cascatear (cascade) e recuperar energia na área de manufatura (antes de uma fase de uso dos produtos )
  • suprimento restaurativo a partir de materiais já descartados e que se encontram em aterros sanitários ou mesmo plásticos no oceano;
  • uso de material não-tóxico ou biodegradável para facilitar sua reabsorção nos ciclos naturais;
  • usar material robusto e durável que não se degenera durante os múltiplos ciclos de vida;
  • minimizar misturar em um componente materiais diversos para facilitar sua separação no fim de vida;
  • usar material apropriado e reciclável, que exista em abundância; reserve materiais de elevada qualidade ou raros para aplicações mais críticas.

Exemplos:

Área 2 - Estratégias relacionadas com manufatura

Essas estratégias visam melhorar o potencial de circularidade e a eficiência do processo de manufatura por meio da aplicação de menor quantidade possível de recursos naturais e energia, com o objetivo de “gentani” (utilizar a quantidade mínima de recursos necessários para realizar uma atividade específica);

  • aplicar os princípios e técnicas da lean manufacturing e produção mais limpa (P+L) para eliminar desperdícios na manufatura; utilizar menos energia, água e material; eliminar, minimizar, reutilizar, reciclar resíduos e emissões;
  • recondicionar, remanufaturar, reciclar, cascatear e recuperar (energia) produtos e componentes antes de passarem por uma fase de uso (quando, por exemplo, apresentarem algum defeito ou durante a fabricação – simbiose industrial).

Recondicionar, remanufaturar, reciclar e cascatear produtos e componentes, após eles terem passado por uma fase de uso, estão classificados no Circular Economy Scanner como estratégias das categorias de recircular produtos, componentes e materiais.

A descrição dessas estratégias está no tópico “Recircular, produtos, componentes e materiais” mais à frente.

Exemplos:

  • a abordagem denominada “Rewire” da Nike para a sustentabilidade da cadeia de suprimentos envolveu várias mudanças na empresa: transição para uma estrutura organizacional mais integrada, treinamento em lean manufacturing para desenvolver as habilidades dos trabalhadores e melhorar a eficiência, desenvolvimento de um novo esquema de incentivo aos fornecedores e promoção da inovação para envolver todas as partes interessadas relevantes na criação do ambiente necessário para que a mudança sistêmica ocorresse (Porteous & Rammohan, 2013);

 

Área 3 - Estratégias relacionadas ao uso de produto e operação

Essas estratégias visam melhorar o potencial de circularidade e a eficiência no uso e operação de produtos por meio da aplicação de abordagens técnicas e subjetivas e também pela aplicação de tecnologias digitais, que apoiam o uso mínimo de recursos para realizar uma atividade (“gentani”). Este apoio ocorre durante o monitoramento do uso / operação e na atuação para aproveitar o potencial de circularidade e eficiência;

  • aumentar a vida dos produtos (longevidade) do ponto de vista técnico: por meio de elevada integridade e robustez do produtos;
  • aumentar a vida dos produtos (longevidade) do ponto de vista subjetivo: por meio de uma estética atemporal, confiança e senso de pertencimento com uma marca
  • diminuir o consumo de energia, água e materiais durante o uso e operação dos produtos;
  • utilizar a capacidade ociosa dos produtos e avaliar as possibilidades de uso compartilhado;
  • aplicar práticas de design for environment (DfE) para promover a circularidade dos produtos e materiais durante a fase de design / desenvolvimento dos produtos, serviços e soluções.

Enquanto o DfE está mais focado em mitigar o impacto ambiental de um produto, processo ou serviço, o design  for sustainability (DfS) tem uma visão mais holística e busca abordar os desafios mais amplos da sustentabilidade, considerando aspectos sociais, econômicos e ambientais.

É importante ressaltar que as abordagens DfS e DfE não são mutuamente exclusivas e podem se sobrepor em muitos aspectos. Ambas são orientadas para a sustentabilidade e têm como objetivo projetar produtos e sistemas que sejam mais compatíveis com os princípios da sustentabilidade.
Veja no glossário as definições de DfE e de DfS.

Exemplos:

  • estender a vida de produtos por meio da aplicação de técnicas para aumento da robustez dos produtos (como os testes de confiabilidade) reduzem a necessidade de se adquirir novos produtos;
  • a Finlayson é uma fabricante de roupas, toalhas, lençóis e outros produtos baseados em tecidos. Essa empresa pode ser um exemplo das três áreas relacionadas com restaurar, reduzir e evitar. Visite o blog da empresa para conhecer as iniciativas de sustentabilidade. A empresa trabalho com materiais reciclados, possui condições de trabalho apropriadas para os seus colaboradores, utiliza materiais virgens certificados e sustentáveis, os materiais são duráveis com tempo longo de uso, publica melhores práticas de como tratar e conservar os materiais para que eles tenham uma maior durabilidade, garantem a durabilidade do material por pelo menos cinco anos com as mesmas características que um original e pagam um salário adequado para seus colaboradores.

Recircular produtos, componentes e materiais

Essas estratégias visam fechar o ciclo dos produtos, componentes e materiais, ou seja, os ciclos técnico e biológico, como ilustrado no diagrama de borboleta proposto pela Fundação Ellen MacArthur.

Na figura do Scanner, essa categoria é dividida em duas: recircular produtos & componentes e recircular materiais. Apresentamos aqui de forma integrada, pois o importante é descrever as estratégias e suas características, que de certa forma possuem uma relação de preferência de aplicação como ilustra a próxima figura.

Figura 931: estratégias das categorias recircular do Circular Strategies Scanner
Adaptado de Blomsma et al. (2019)  

Colocamos a figura anterior separada da visão geral do Scanner para manter a visibilidade na web. Porém, para aplicação prática, todas as categorias estão presentes no template do Scanner, como na versão original (veja o material de apoio para aplicação do Scanner).

Antes de começar a descrever as estratégias, queremos destacar as flechas do lado esquerdo da figura. As estratégias que estão na parte superior da figura resultam em uma maior circularidade que as demais. Assim, é preferível que elas sejam aplicadas, ou seja, as estratégias, que estão na parte inferior, aproveitam um menor valor residual dos produtos, componentes e materiais.

O conjunto de estratégias de “recircular materiais” aproveitam um valor residual menor do que o conjunto de estratégias de “recircular produtos & componentes”. Isso porque, obviamente, a obtenção de componentes e depois produtos agrega mais valor aos materiais.

RECIRCULAR PRODUTOS E COMPONENTES

  • essas estratégias procuram manter o valor tanto do material como o da manufatura que foi agregado nos produtos no início da vida (BOL);
  • observe que essas estratégias estão na parte superior da figura que ilustra as estratégias desta categoria, o que significa que possuem um potencial maior para se reduzir a demanda por recursos;
  • para simplificar e mesmo viabilizar a implementação dessas estratégias, é importante aplicar o design for disassembly (DfD) na fase inicial de desenvolvimento.

Design for disassembly (DfD)

Os produtos a serem recirculados após algumas fases de uso precisam ser desmontados. Como a própria definição de economia circular diz que ela é ““um sistema industrial que é restaurativo e regenerativo por intenção e design, o design precisaria considerar e facilitar a desmontagem do produto. O DfD estabelece princípios de práticas para facilitar a desmontagem considerando os usuários e os diversos tipos de estratégias de reciclar mais apropriados para os produtos no início do design. Alguns autores associam o DfD com o design for recycling (DfR), mas ele é mais abrangente, e a desmontagem pode ser utilizada em associação com outras estratégias de recirculação de produtos e componentes. 

Veja mais:

  • Broughton  (2023), no seu capítulo sobre desmontagem, traz diversas aplicações DfD com foco em produtos industriais. Ele ainda discute diversos tópico como a ferramentas de DfD, indústria 4.0, rastreabilidade de componentes, tecnologias de desmontagem e smart adesivos;
  • Saraiva et al. (2012) apresentam diretrizes (guidelines) para um manual de DfD com foco na construção civil no Brasil;
  • Rios et al. (2015) discutem os desafios do DfD na construção civil e propõem estratégias para se implementar o DfD;
  • Neste vídeo do YouTube, o Prof. Tim McAloone da DTU Dinamarca é entrevistado e discute a contribuição do DfD para a economia circular.

As próximas duas estratégias (atualizar e reparar) procuram estender a fase atual de utilização dos produtos e componentes existentes. O objetivo é capturar o valor residual do produto ou reduzir as perdas devido à continuação da sua utilização, pois os produtos e componentes podem não estar mais provendo valor devido a defeitos ou falta da atualização.

Atualizar (upgrade)

  • envolve a atualização, modernização, renovação, retrofit, reconstrução, revisão ou colocar para funcionar novamente;
  • estende a fase atual de utilização do produto melhorando as suas funções em relação a uma versão anterior; :
  • pode envolver a melhoria da estética do produto: mudar o acabamento superficial ou algum detalhe, que atende às novas preferências dos clientes ou
  • pode envolver as funcionalidades do produto, como por exemplo na atualização de software ou hardware, mesmo os produtos com software embarcado, como produtos da linha branca e eletro-eletrônicos;
  • esta estratégia é aplicada a produtos com funcionalidades, que precisam evoluir no ponto de vista de qualidade e desempenho para atender aos requisitos do mercado;
  • é uma estratégia apropriada para para mercados com ciclos de inovação curtos e dinâmicos, devido a mudanças tecnológicas e de tendências, como o mercado da moda e de móveis;
  • caso o produto tenha sido de uma forma modular, ele pode ser atualizado ao se repor os componentes, que já estão desatualizados, ou seja, durante a fase de design já deve se prever a atualização de alguns componentes; 

Benefícios e cuidados

  • por meio da atualização os clientes obtêm um produto com características de um novo por um custo bem menor do que o custo de aquisição de um novo produto e ainda diminui o impacto ambiental do descarte do sofa antigo;
  • o produtor mantém o contato com o cliente e estabelecem uma relação de longo prazo com aumento da confiança;
  • o produtor pode acessar um novo segmento de mercado de clientes que preferem produtos usados, pois não conseguem comprar novos produtos;
  • considere uma outra estratégia de recircular para os componentes desatualizados que foram retirados do produto que sofreu uma atualização;
  • veja se o produto atualizado ainda atende aos requisitos atuais de qualidade, estética, segurança e desempenho; 
  • considere atualizar um produto, mesmo que ele não tenha sido projetado para este fim.

Exemplos:

Reparar e manutenção (repair & maintenance)

  • também conhecida como restaurar (restore); 
  • a manutenção pode ser acionada de forma corretiva, preditiva ou preventiva (programada);
  • tanto a manutenção corretiva quanto a preditiva pode ocorrer baseada em uma condição (por exemplo, desgaste de algum componente que leva ao mal funcionamento)
Essa condição pode ser mensurada por sensores, com base na tecnologia de IoT (internet of things), que estão embutidos nos produtos.
  • pode ocorrer a substituição de componentes gastos para retornar à funcionalidade original e, assim, evitar a substituição do produto;
  • estende a fase atual de utilização do produto corrigindo os componentes defeituosos;
  • pode envolver a desmontagem parcial do produto;
  • pode ser emitida uma garantia limitada depois da reparação (conserto) do produto;
  • devolve o produto a sua condição original (ou melhor);
  • a manutenção pode ser realizada pelo próprio cliente, fornecedor original ou terceiros;
  • a manutenção de produtos mais complexos (como aviões, turbinas ou usinas atômicas) é realizada por empresas especializadas e deve seguir normas bem restritas de segurança;
  • pode ser necessário utilizar ferramentas ou procedimentos especiais;
  • a manutenção pode resultar em receitas extras para o fabricante;

Exemplos:

  • o desgaste de um componente de uma máquina pode causar maiores forças e torques, que quando modelados (anteriormente por modelos matemáticos) e monitorados (durante a operação) podem indicar que é o momento para realização de uma manutenção preditiva
  • na área de aeronáutica, a manutenção é essencial para manter as aeronaves seguras e é realizada por empresas de MRO (maintenance, repair and overhaul), ou seja, de manutenção, reparo e revisão geral.

MRO pode significar maintenance, repair and overhaul (vamos chamar de MRO1) e maintenance, repair and operation (vamos chamar de MRO2). A diferença está no significado da letra “O” (revisão geral ou operação): 

  • O MRO1 normalmente é utilizado para descrever os processos de um local (empresa) que realiza a manutenção, reparo ou revisão geral em bens de capital intensivo, como aviões, navios, trens e outros.  
  • O MRO2 conota um processo empresarial para manutenção, reparo e operação de todas as instalações industriais (Incluindo os equipamentos) para manter uma empresa em funcionamento. Pode ser encontrado neste significado o uso do termo MRO associado à gestão de estoque de itens relacionados a esses três processos (manutenção, reparo e operação).

Leia mais na wikipedia em inglês. O título deste verbete traz somente o termo “maintenance” (manutenção), mas o seu conteúdo trata de MRO1 e 2.
A dissertação de Luis Gabriel Rossi Roque sistematiza um processo de gestão de portfólio de projetos de MRO1, aplicados em uma empresa real.

As próximas quatro estratégias (reusar, recondicionar, remanufaturar e redirecionar) procuram estender a vida de um produto existente para uma nova fase de utilização com as mesmas funcionalidades. O objetivo é capturar o valor residual do produto ou reduzir as perdas devido à continuação da sua utilização, pois os produtos e componentes podem não estar mais provendo valor devido a defeitos ou falta da atualização.

Reusar ou Reutilizar (reuse)

  • estende a vida de um produto existente para uma nova fase de utilização com as mesmas funcionalidades;
  • pode envolver a limpeza e uma nova embalagem, mas, em geral, não envolve a desmontagem ou a emissão de garantia (há exceções, como em equipamentos que precisam ser certificados);
  • as funcionalidades originais de um produto (descartado ou fora de uso), que ainda está em boas condições, podem atender a  novos clientes ou usuários em um contexto de uso diferente;
  • muitas vezes um produto usado é passado para um outro usuário sem o envolvimento do fabricante (veja os exemplos das plataformas online de venda de produtos usados);
  • essa estratégia permite a redistribuição de produtos usados, o que estende a vida do produto, e, assim, evita que alguns novos produtos sejam produzidos, com toda a consequência resultante de uma nova produção (extração de material, gasto de energia, resíduos da produção, tempo e recursos investidos para remanufaturar etc.)
Se não for para a mesma funcionalidade, a estratégia é a de “redirecionar (repurpose”), apresentada mais adiante.

Exemplos:

  • venda de produtos usados em plataformas como ebay ou OLX, para permitir que esses produtos possam ser utilizados por outros usuários. Atualmente essas plataformas também vendem novos produtos. Pesquise na web as diversas plataformas de vendas de produtos usados;
  • algumas plataformas são especializados em alguns tipos de equipamentos, que são certificados para garantir a sua funcionalidade, como a mills ou armac;
  • brechós de venda de roupas descartadas por outros usuários; hoje existem diversos brechós online, tais como, repassa, enjoei, etiqueta única etc.

Recondicionar (refurbish)

  • estende a vida do produto para uma nova fase de uso, com qualidade inferior à original, a partir de um produto ou componente descartado ou fora de uso pelo proprietário atual;
  • inicia com o retorno no produto (normalmente com a logística reversa);
  • o produto e seus componentes são restaurados para condições funcionais semelhantes (mas não iguais) às de um novo produto;
  • normalmente as condições do produto / componente após o recondicionamento é inferior às condições de um novo produto (as mesmas condições são obtidas por meio da remanufatura);
  • o cliente de um recondicionamento precisa estar ciente de que as condições de um produto recondicionado são limitadas, quando comparadas com um produto original; 
  • as atividades de recondicionamento podem envolver: desmontar, limpar, reparar, remodelar, pintar novamente, resleeving ou cladding, e montar novamente;
As traduções em português para sleeving e cladding poderiam ser “recobrir”. Na verdade, é um recobrimento seguido de tratamento da nova superfície. No caso de componentes mecânicos seria um processo de usinagem.
  • Sleeving para recobrimento das superfícies de furos (como a de um cilindro de um bloco de motor) e no caso de superfícies externas (como a de um pistão de motor) é denominada de encamisamento. Sleeve (cuja tradução literal é manga, não a fruta e sim a peça normalmente cilíndrica de uma roupa ou vasilhame) também indica um processo de rotulagem de garrafas plásticas, que se ajustam a superfícies não cilíndricas.
  • Cladding, denominado também de cladeamento,  consiste em depositar uma camada de material por fusão ou sinterização a laser do novo material. Depois, a nova camada pode sofrer igualmente um tratamento. Conforme o material da nova camada revestida, a qualidade do componente pode ser melhor do que o original (por exemplo, quando um cilindro hidráulico cromado sofrer o processo de cladding com um material sinterizado mais resistente – veja o exemplo da empresa HRC no tópico sobre remanufatura). 

  o recondicionamento pode ser realizado pelo próprio cliente, fornecedor original ou terceiros;

  • o período de garantia oferecido normalmente é reduzido e o produto é vendido a um preço menor, em comparação com produtos novos;
  • também são considerados produtos recondicionados, aqueles que foram devolvidos pelos compradores após um período de teste ou devido a algum problema, que foi resolvido pelo fabricante;
  • um produto recondicionado pode ser usado como um equipamento periférico de instalações ou para se estender a vida de produtos que não são mais produzidos;
  • equipamentos eletrônicos, como celulares, também podem ser recondicionados, quando eles forem colocados novamente em operação (diferente de reusar um produto existente sem sofrer recondicionamento);

Exemplos:

Remanufaturar (remanufacture)

  • estende a vida do produto para uma nova fase de uso, com a mesma qualidade do produto original, a partir de um produto ou componente descartado ou fora de uso pelo proprietário atual;
  • inicia com o retorno no produto (normalmente com a logística reversa);
  • os produtos são desmontados e limpos, e todas os componentes que não sofrem desgaste são reaproveitados;
  • os componentes que sofreram desgaste são substituídos ou processados para voltar à sua condição original;
  • os produtos remanufaturados voltam a apresentar as especificações, desempenho e qualidade de um produto original;
  • pode ocorrer que os componentes substituídos possam possuir uma melhor qualidade do que os originais, quando o fabricante original (OEM – original equipment manufacturer) aprendeu com as falhas e melhorou os componentes utilizados nas novas versões do produto e estiver remanufaturando produtos de versões anteriores;
  • as atividades de recondicionamento podem envolver: desmontar, limpar, reparar, remodelar, pintar novamente, resleeving ou cladding, e montar novamente;
  • a remanufatura de produtos especiais, customizados para a aplicação do cliente, permite que um produto com problemas possa reposto mais rapidamente do que na aquisição de um novo produto, pois o processo de remanufatura é mais rápido;
  • na próxima fase de uso, os produtos recebem a garantia de um novo produto.

Veja essa matéria sobre a diferença entre recondicionar e remanufaturar. Apesar dessa diferenciação, é comum  encontrar, na prática, empresas que remanufaturam os produtos denominando esse processo de recondicionar. Além disso, mesmo que o produto possua a mesma condição de um produto novo, em alguns mercados, o simples fato de um produto ser remanufaturado implica em praticar preços menores do que os produtos originais (o que não é um grande problema, pois dependendo do produto, grande parte do material é reutilizado, o que diminui os custos).

Na publicação de Potting et al. (2017), muito citada (924 citações em junho de 2023), há uma diferenciação entre recondicionar e remanufaturar, na qual não concordamos com a definição de remanufaturar. Segundo os autores:

  • recondicionar – restaurar um produto descartado em um novo produto com a mesma função.
  • remanufaturar – utilizar os componentes de um produto descartado em um novo produto com a mesma função.

Exemplos de produtos remanufaturados:

Conheça a plataforma da web que reúne informações sobre a remanufatura, que contém um guia para se definir um modelo de negócio para remanufatura.
Conheça a ANRAP – Associação Nacional dos Remanufaturadores de Autopeças.
Veja essa notícia sobre a unificação de definições das associações de remanufaturadores.

Redirecionar (repurpose)

  • encontrar uma nova aplicação (novo objetivo / nova funcionalidade) para um produto e/ou seus componentes descartados ou fora de uso, que ainda estão em boas condições (comparar com o reusar, que visa usar novamente o produto para a mesma aplicação);
  • pode ser que apenas uma parte dos produtos ou componentes sejam utilizados na nova aplicação;
  • os componentes que não forem utilizados podem ser submetidos a uma outra estratégia de recircular;
  • pode ocorrer que novas funcionalidades e, portanto, componentes sejam adicionados à nova fase de uso para a nova aplicação.
Você poderá encontrar o termo “repropor” como tradução “literal” de “repurpose’. Isso é um anglicismo, que aos poucos podemos aceitar. Repropor em português significa “fazer uma nova proposta” e em inglês significa “encontrar uma nova aplicação para uma ideia, produto ou construção”. 

Exemplos:

  • as baterias usadas do carro elétrico Nissan Leaf são reutilizadas para as unidades de armazenamento de energia em residências e empresas, conhecidas como xStorage, que são utilizadas para armazenar a energia elétrica produzida por placas solares durante o dia;
Alguns autores consideram o redirecionar como reusar / reutilizar, pois um produto descartado é “reutilizado” em uma nova aplicação.

RECIRCULAR MATERIAIS

  • essas estratégias são utilizadas quando o produto ou seus componentes estiverem em um estado que não é possível aplicar nenhuma das estratégias de recircular o produto & componentes apresentadas anteriormente;

Atente para a diferença entre as três estratégias desta categoria “recircular materiais” e as estratégias homônimas da área 2 de manufatura dentro da categoria de “restaurar, reduzir e evitar impacto”, apresentadas anteriormente.

Aquelas tratam de resíduos resultantes dos processos produtivos e outros casos, como identificação de produtos defeituosos na linha de produção. Ou seja, antes de uma fase de uso.

As estratégias de recirculação, apresentadas aqui, consideram o uso dos materiais depois de esgotar as possibilidades de se utilizar o produto e/ou seus componentes em diversas fases de uso.

No entanto, muitas das tecnologias utilizadas para reciclar, cascatear ou recuperar podem ser similares. 

  • essas estratégias podem / devem ser utilizadas quando os produtos existentes consumirem muita energia ou não possuírem as funcionalidades exigidas / requeridas atualmente pela legislação / pelos clientes, ou seja, as novas versões dos produtos são mais modernas e eficientes;
  • a recirculação de materiais pressupõe que a estrutura e funcionalidade dos produtos serão perdidas;
  • devem ser estabelecidos processos de apoio para possibilitar o retorno desses materiais, tais como: coleta de produtos e componentes descartados, logística reversa, desmontagem, separação de materiais diferentes, limpeza para eliminação de contaminação, extração de materiais de elevado valor agregado.

Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)

O Ministério do Meio Ambiente (MMA) brasileiro tem um página na web, intitulada SINIR + (Sistema Nacional de Informações sobre a gestão de Resíduos sólidos), no qual as empresas que geram resíduos precisam cadastrar o que elas geram e qual o tratamento dos resíduos. Você pode encontrar neste site o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS); o Inventário Nacional de Resíduos Sólidos; Mapas interativos do Brasil sobre resíduos sólidos (destinação, recuperação energética e outros); o Painel de Destinação de Resíduos por município; uma lista (e planilha) dos Tipos de Resíduos; e muito mais. Recomendamos que você conheça as informações disponíveis.

As próximas três estratégias (reciclar, cascatear e recuperar) procuram estender a utilização dos materiais. O objetivo é capturar o valor residual dos materiais ou reduzir as perdas resultantes da continuação do uso de materiais não apropriados.

Reciclar (recycle)

  • estender a vida do material do produto, após a fase de utilização, ao processá-lo com o objetivo de obter o material original com propriedades iguais ou semelhantes;
  • a reciclagem ocorre quando o material é reprocessado na forma de materiais ou substâncias que foram extraídas por processos químicos ou metalurgicos e são novamente utilizados na aplicação original ou em outras;
  • a infraestrutura para reciclar materiais semelhantes ou advindos de produtos semelhantes pode ser compartilhada por vários atores com o objetivo de diminuir os custos de reciclagem (como no exemplo apresentado a seguir das instalações no Japão que atende as todas as empresas que produzem equipamentos da linha branca);
  • as atividades de reciclagem podem ser: coletar e armazenar os produtos descartados; transportar para os locais de processamento; extrair e reutilizar os componentes que forem possíveis; separar os componentes a serem reciclados dos materiais perigosos; picotar todo o material a ser reciclado; classificar e separar os materiais semelhantes (dependendo da natureza dos materiais misturados, a separação pode ocorrer por meio da densidade, por atração magnética ou eletricidade ou alguma característica mecânica);
  • extrair e reutilizar materiais de maior valor agregado, cuja aplicação seja viável economicamente;
  • enviar os resíduos finais para a recuperação de energia / compostagem ou para descarte;
  • a variedade e ligação dos materiais utilizados em um produto exige a aplicação de tecnologias avançadas para a separação, ainda mais de os mesmos materiais estiverem dispersos no produto em pouca quantidade’;
  • materiais críticos e estratégicos podem estar disponíveis no produto em uma maior quantidade e concentração do que nos seus depósitos naturais justificando a sua reciclagem;
  • quando a quantidade e concentração dos materiais forem baixas, pode ser impraticável reciclar do ponto de vista econômico, por isso a eficiência da reciclagem precisa ser avaliada, o que é um desafio para muitos casos, nos quais não existe informação disponível.

Um relatório da União Europeia sobre indicadores de matérias primas de 2020 apresenta seções específicas sobre economia circular e reciclagem e extraímos as seguintes conclusões, que consideramos relevantes:

  • a circularidade da economia permanece baixa e ela teria benefícios de uma melhoria da eficiência dos recursos e aumento da aplicação das estratégias de reutilização, remanufatura e reciclagem
  • a reciclagem de lixo eletrônico é eficiente para obtenção de materiais secundários, mas não para materiais críticos

Recomendamos que as pessoas interessadas nesse assunto leiam as demais conclusões e monitorem a publicação de novos relatórios, que são atualizados constantemente.

Exemplos:

  • a Green Eletron recicla material de equipamentos eletroeletrônicos e pilhas, que possuem muito valor (neste link você pode ler sobre a importância do lixo eletrônico);
  • a MInas Jr. consultoria mineral apresenta neste post os tipos de minerais existentes nos dispositivos eletrônicos; 
  • este relatório da União Europeia sobre matérias primas críticas (critical raw material) de 2020 mostra a demanda e aplicação desses materiais em tecnologias estratégicas, assim como diversas recomendações de reciclagem de materiais críticos para cada tipo de aplicação (células de combustível, baterias, turbinas eólicas, motores elétricos, células fotovoltaicas, robôs, drones manufatura aditiva e tecnologias digitais);

A reciclagem de plástico pode ser enquadrada em mais de uma categoria:

  • quando o plástico for picotado em pequenos grânulos (reciclagem mecânica) com propriedades iguais ou semelhantes, os grânulos podem ser utilizados em vários produtos, tais como peças de automóveis, pisos, mangueiras, peças de produtos eletrônicos etc.
  • quando o plástico estiver contaminado com outros materiais, a qualidade dos grânulos é menor e eles podem ser usado na produção de produtos com qualidade inferior, como sacos de lixo;
  • quando o plástico for picotado e reprocessado para produzir produtos plásticos de menor qualidade, tais como, cadeiras, tapetes, mantas para pisos, embalagens não alimentícias etc. Podemos enquadrar esse processo na estratégia de cascatear (cascade). Mas não há um consenso sobre essa classificação, o que não é um fator relevante;
  • a reciclagem (recuperação) química do plástico, o transforma em materiais petroquímicos básicos, que podem ser utilizados na produção de matéria-prima, como a gasolina de plástico
  • a reciclagem (recuperação) energética do plástico pela incineração ou pirólise trata o plástico como combustível, pois ele possui uma capacidade calorífica. Assim, o plástico é transformado em energia térmica e elétrica. 

Os dois últimos processos se enquadram na estratégia de recuperar (recover).  

Cascatear (cascade)

  • o cascatear inicia normalmente após uma fase de uso de um produto, do qual se aproveita o material para uma nova aplicação em uma outra fase de uso, na qual os requisitos de qualidade do material são menores devido a possíveis impurezas que foram adquiridas na fase de uso;

Diferença entre reciclar, redirecionar (repurpose), reutilizar e cascatear

  • no reciclar, o material reaproveitado possui qualidade igual ou equivalente à qualidade do material original;
  • no redirecionar, o produto (não o material) é utilizado em uma outra aplicação sem sofrer mudanças;
  • no reutilizar, o produto (não o material) é novamente utilizado para a mesma aplicação para um novo grupos de usuários; 
  • no cascatear, o material reaproveitado possui uma menor qualidade em comparação com a qualidade do material original. 
  • cascatear é um tipo de reutilização (upcycling), associada com um tipo de reciclagem anterior (downcycling), no qual a nova aplicação possui uma exigência menor da qualidade dos materiais;
  • downcycling é equivalente a reciclagem de resíduos. No entanto, a qualidade e a funcionalidade dos materiais após a reciclagem são inferiores do que as do material original;
  • o upcycling associado com o downcycling é um tipo de reutilização do material que resultou do downcycling

Significados de upcycling

O upcycling pode ser associado às estratégias de reutilizar e cascatear e é diferente da estratégia de reciclar.

  • na estratégia de “reutilizar” o upcycling ocorre quando um produto ou componente é utilizado na sua “forma original” para se criar um outro. Por exemplo, quando peças de um motor ou máquinas são utilizadas para se criar luminárias e móveis;
  • na estratégia de “cascatear” o upcycling ocorre após um downsizing, quando se aproveita os resíduos de processo ou produto para se produzir um novo. Por exemplo, uma peça de vestuário, que já passou por vários ciclos de uso, resultantes de outras estratégias (reparar e/ou reutilizar), pode ser picotado e utilizado como enchimento de almofadas de móveis;  
  • a estratégia de “reciclar” é diferente, pois nela ocorre a quebra ou a degradação do material para resultar em um material novo, como no exemplo do plástico, mostrado anteriormente, que é picotado e depois serve de matéria prima para a injeção de um novo componente plástico.

Mas de uma forma “popular”, o upcycling pode ser considerado uma forma de reciclar, pois há um reaproveitamento do material.

  • as atividades do cascatear são as mesma que as da reciclagem, ou seja: coletar e armazenar os produtos descartados; transportar para os locais de processamento; extrair e reutilizar os componentes que forem possíveis; separar os componentes a serem reciclados dos materiais perigosos; picotar todo o material a ser reciclado; classificar e separar os materiais semelhantes (dependendo da natureza dos materiais misturados, a separação pode ocorrer por meio da densidade, por atração magnética ou eletricidade ou alguma característica mecânica);
  • o cascatear (cascade) é comum de ser aplicado em uma rede de empresas conectadas por meio da simbiose industrial;

Exemplos:

  • o exemplo da reciclagem de plásticos, quando não se consegue obter a mesma qualidade da matéria-prima (exemplo no quadro anterior sobre reciclagem do plástico);
  • a empresa Camiseta feita de PET produz vários produtos, tais como, camisetas promocionais, ecobags personalizadas, brindes, a partir de garrafas PETs recicladas;
  • a Insecta utiliza materiais como plástico reciclado, algodão reciclado, borracha reaproveitada, peças de roupas usadas, tecidos de reuso e resíduos de produção que seriam jogados fora e os transforma em novos sapatos, acessórios e roupas;
  • a Comas produz peças por meio da técnica de “upcycling”, processo pelo qual produtos descartados são recuperados, transformados e recolocados no mercado;
Além do upcycling, a indústria da moda possui alguns movimentos de sustentabilidade que se sobrepõem, tais como eco fashion e slow fashion.
  • a borra do café pode ser várias aplicações, tais como, fertilizar o solo, neutralizar odores e espantar insetos;
Leia neste link sobre 13 aplicações da borra de café. 
  • os papéis utilizados em jornais, revistas, encartes, cadernos e sulfite (entre outros) podem ser reciclados (downsizing) pode ser utilizado para se produzir papel, papel higiênico, embalagens ecológicas, bandeja de ovos etc.
Veja neste link que tipos de papel podem ser reciclados e quais não podem?

Recuperar (recover)

  • inclui recuperar energia ou nutrientes pelo processamento ou compostagem de materiais;
  • essa estratégia só deveria ser aplicada após vários ciclos de reciclagem dos materiais;
  • pode envolver os processos de incineração, pirólise e digestão anaeróbica

Diferença entre incineração e pirólise

  • “A incineração de resíduos é um processo que consiste na destruição térmica por oxidação (com presença do oxigênio), em temperaturas que vão de 900° e pode chegar a 1250°C. O tempo de residência em que o material será incinerado, é controlado. O controle é para permitir a quebra orgânica do resíduo, de modo a reduzir o volume e diminuir o risco de toxicidade do material” (RCR Ambiental). Leia mais na Wikipédia.
  • A pirólise dos resíduos é um  processo de decomposição ou alteração da composição de um composto (ruptura da estrutura molecular original), que ocorre pela ação de altas temperaturas (menores que as temperaturas da incineração) em um ambiente com pouco ou nenhum oxigênio. Leia mais no eCycle os tipos de pirólise: lenta, rápida, térmica e catalítica.
  • a recuperação de energia vale a pena, obviamente, quando os custos envolvidos na logística para transportar os resíduos, tratar os gases resultantes do processo, tratar o resíduos sólidos que sobram depois na queima e na geração de energia para a recuperação, sejam significativamente menores do que o calor recuperado;
  • o principal problema dessa estratégia são os gases tóxicos que podem surgir durante a recuperação de um material, por meio da queima (por exemplo).
  • “a digestão anaeróbia, ou também biogasificação ou biometanização, é um conjunto de processos em que os microorganismos degradam a matéria orgânica biodegradável na ausência de gás oxigênio… ela é amplamente usada como uma fonte de energia renovável. O processo produz biogás, uma mistura que consiste em metano, dióxido de carbono e traços de outros gases ‘contaminantes’. Essa mistura pode ser usada diretamente como combustível no aquecimento de água, preparo de comida, e até para tocar motores, mas que tem sua eficiência melhorada se reformado para atingir o nível de qualidade de biometano. O efluente sólido e líquido resultante do processo é rico em nutrientes e pode ser usado na agricultura, desde livre de patógenos, metais pesados e outros” (Wikipédia).
Conheça as matérias primas que podem ser utilizadas para a produção de biogás.
  • a prática de minerar aterros sanitários (landfill mining) extrai materiais com valor dos desses aterros e pode ser considerada uma estratégia de recuperar valor do que já foi descartado. Em países que aplicam diversas estratégias de economia circular, os aterros sanitários não possuem tanto material de valor, quando comparados a países, como o Brasil, onde ainda muito material de valor é descartado. Nos países que já recirculam muito material, o lixo dos aterros é utilizado prioritariamente para geração de energia (estratégia de recuperar energia apresentada mais adiante). Em países como o Brasil a estratégia de reminerar pode ainda extrair materiais de valor dos aterros sanitários.
  • “compostagem é o conjunto de técnicas aplicadas para estimular a decomposição de materiais orgânicos por organismos heterótrofos aeróbios, com a finalidade de obter no menor tempo possível, um material estável, rico em substâncias húmicas e nutrientes minerais formando assim um solo humífero” (Wikipédia) – leia mais).

Compostagem

Quando a recuperação deve ser utilizada?

  • os processos de reciclagem ou cascateamento não são estabelecidos para o tipo de material;
  • o material é perigoso e precisa ser eliminado (como resíduos hospitalares);
  • não há demanda por materiais secundários resultantes da reciclagem ou cascateamento,  

Exemplos:

  • a incineração do bagaço da cana de açúcar ou do lixo pode aquecer a água, que se transforma em vapor em uma termoelétrica para produção de energia elétrica;
  • compostagem resulta na decomposição de matéria orgânica para produzir nutrientes minerais a serem aplicados em solos;
  • um biodigestor pode decompor material orgânico, que se transforma em gás metano, que pode ser queimado em um motor de combustão acoplado em um gerador de energia elétrica;
  • a recuperação química do plástico, o transforma em materiais petroquímicos básicos, que podem ser utilizados na produção de matéria-prima, como a gasolina de plástico
  • a recuperação energética do plástico pela incineração ou pirólise trata o plástico como combustível, pois ele possui uma capacidade calorífica. Assim, o plástico é transformado em energia térmica e elétrica. 

Polêmicas 
A pirólise do plástico também pode gerar resíduos, que em um processo de upgrading (veja o cascatear) pode ser usado em novos plásticos. Leia essa notícia sobre esse procedimento e a polêmica entre as indústrias do setor petroquímico e ambientalistas.

A queima descontrolada de plásticos ao ar livre causa gases tóxicos e o banimento de sacos plásticos pode evitar esse problema.

Logística e energia

Como ilustrado na figura da visão geral das categorias de estratégias de economia circular do início desta seção, por trás das categorias apresentadas estão representadas as categorias de logística e energia. Isso indica que:

  • as estratégias e práticas correspondentes das categorias “restaurar, reduzir e evitar impactos” e “recircular” devem minimizar os impactos da logística e as embalagens necessárias, ou seja, melhorar a eficiência do processo de logística com o objetivo de utilizar o mínimo de recursos (Gentani) e
  • todas estratégias de economia circular devem melhorar a eficiência energética dos processos e recursos envolvidos nas sua aplicação, além de buscar utilizar fontes de energia limpa.  

Exemplos:

  • combinar a logística de entrega com a logística reversa ou com outro tipo de viagem de retorno para evitar o transporte sem carregamento (vazio);
  • incentivar e treinar os motoristas para dirigirem com o menor consumo de combustível e menor emissão de CO2 (eco-friendly);
  • reutilizar ou incentivar a reciclagem das embalagens de transporte;
  • as garrafas de vinho da Garçon Wines são planas ao invés de redondas e, assim, economizam embalagens. Uma garrafa de vinho pode ser empacotada em uma caixa de correio. Um pallet padrão de container pode conter 1040 garrafas. Se as garrafas fossem redondas, ele poderia conter 456;
  • monitorar a pressão dos pneus economiza combustível e prolonga a vida útil dos pneus. O sistema de monitoramento da pressão dos pneus (TPMS) detecta quando a pressão está muito baixa ele é obrigatório desde 2007 nos USA e 2014 na Europa.

Referências

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