Motivações e origens da inovação

De onde surge a inovação?

Introdução

Já vimos no capítulo introdutório do metalivro da flexM4i sobre o que é a inovação, que:

  • inovação é um substantivo que pode indicar tanto uma ação (o inovar por meio de vários processos e não somente um único processo) como o resultado dessa açãoconfira neste link.
  • inovar é mudar a situação atual, ou seja, é sair de uma situação atual (quando o objeto da inovação ainda não existe ou existe, mas possui limitações) para atingir uma nova situação futura (quando o objeto da inovação passa a existir ou foi melhorado, passando a não apresentar mais as limitações do passado) – confira neste link.

Esta seção:

  • resume quais são as motivações, que levam uma empresa a inovar;
  • discute que na flexM4i consideramos as oportunidades, desafios e ideias como uma síntese de possíveis entradas a inovação
  • lista possíveis origens da inovação, que são fontes de onde podemos obter as oportunidades, desafios e ideias.

Objetivo

Conhecer as possíveis alternativas de onde surge uma inovação pode se tornar um checklist para que você avalie se na sua empresa elas estejam sendo consideradas. Pode haver fontes de inovação que passam despercebidas e que poderiam alavancar a capabilidade inovadora da sua empresa.

Motivações para uma empresa inovar

Existem motivações para que regiões ou nações inovem, que direcionam incentivos e políticas. Mas este NÃO é o foco da nossa discussão. Essas ações, normalmente governamentais, tornam-se oportunidades para as empresas inovarem e, assim, viabilizarem suas iniciativas de inovação.

Aqui apresentamos somente as motivações do ponto de vista de uma empresa. Ou seja, as razões pelas quais uma empresa inova.

Em essência, a maior motivação para uma empresa inovar é a necessidade de se manter competitiva e relevante no mercado, impulsionando o crescimento sustentável e atendendo às demandas em constante mudança dos stakeholders.

A maior motivação para uma empresa inovar é a necessidade de se manter competitiva e relevante no mercado

No entanto, como sempre, existe uma hierarquia entre os objetivos e também entre as motivações. Em um outro nível, abaixo da maior motivação mencionada acima, as principais motivações para uma empresa inovar são: 

  • atender ao propósito de existência da empresa;
  • entregar valor para os stakeholders: cliente (FOCO !!) com suas diversas faces (usuários, compradores e tomador de decisão, entre outras), acionistas, funcionários e seus familiares, parceiros e ecossistema, região na qual a empresa está instalada, órgãos reguladores, meio ambiente e sociedade de uma forma mais ampla);
  • resolver dores ou problemas dos stakeholders;
  • atender às necessidades e desejos dos stakeholders;
  • eliminar fraquezas da nossa empresa;
  • enfrentar, eliminar ou mitigar ameaças e riscos (associados a incertezas) atuais ou futuros do mercado, da sociedade (concorrentes, mudança de hábitos, impactos ambientais e sociais etc.) ou da tecnologia (disruptivas, que tornam obsoletas nossas ofertas);
  • seguir as tendências futuras (que também podem ser consideradas ameaças ou oportunidades);
  • aproveitar as oportunidades do mercado ou da tecnologia, tais como: novos materiais (o nióbio revolucionando a baterias para carros elétricos), modelos de negócios (como a servitização), digitalização, economia circular, sustentabilidade etc.
As motivações mencionadas não são exaustivas, mas sim as mais comuns ou relevantes.

Tudo começa com uma oportunidade, desafio ou ideia

Vimos no tópico anterior, algumas motivações que levam as empresas a inovar. Encontramos publicações que falam desses motivos como o ponto de partida da inovação. É interessante notar que dependendo da área de conhecimento, alguns autores enfatizam mais os problemas (engenharia), as necessidades (qualidade), os desafios (design), as oportunidades (administração), ideias (várias áreas) etc.

Na flexM4i, utilizamos esses três termos do título deste tópico para sintetizar várias possíveis entradas dos processos de inovação, como explicamos no tópico mostrado adiante: “Oportunidades, desafios e ideias como síntese das entradas para inovação”.

Essa foi uma escolha que realizamos para criar uma terminologia que possa atender a algumas áreas de conhecimento.

Mas antes vamos definir e comparar esses três termos.

Definição: oportunidade

“Uma lacuna de negócio ou tecnologia que uma empresa ou um indivíduo percebe, que existe entre a situação atual e o futuro previsto a fim de capturar uma vantagem competitiva, responder a uma ameaça, resolver um problema ou lidar com uma dificuldade” (Koen et al., 2002).

Torres (2021) utiliza o termo oportunidade  para representar necessidades dos clientes, dores e desejos. Ela não emprega o termo “problema”, pois este termo mostra implicitamente que algo deve ser resolvido (problem fixing). “Existem muitos produtos ou serviços que não resolvem problemas, tais como, Disneyland, sorvete, mountain bikes. Esses produtos satisfazem desejos ao invés de resolver problemas”.

Definição: desafio

No glossário temos uma definição completa do desafio. Copiamos aqui somente o essencial para essa discussão. No início da síntese da definição temos:

O desafio refere-se ao problema inicial ou à oportunidade que motiva o início do processo de inovação e design. Não é apenas uma declaração de problema, mas um convite para explorar, entender e inovar de uma maneira que seja profundamente enraizada nas necessidades e experiências reais dos usuários.

Observe que desafio pode refletir um problema ou uma oportunidade.

Definição: ideia

Sintetizando algumas das definições do glossário, podemos dizer que uma ideia é um resultado dos processos de pensamento criativo ou racional, que contém uma visão de alto nível da solução prevista.

Mais adiante comparamos visão de produto de um projeto versus ideia.

Repetimos a seguir a definição de ideia na flexM4i, que se encontra no glossário.

Ideia pode ser considerada uma generalização de estágios de evolução do “embrião” de um resultado (a inovação), como ilustrado na próxima figura.

Figura 042: ilustração da ideia de uma inovação como uma generalização de estágios de evolução de uma oferta (produto ou serviço), processo ou outro objeto de inovação.

Na figura anterior:

  • explorar significa entender a situação atual para identificar oportunidades e desafios (que podem ser bem concretos). Um exemplo de uma ideia inicial de exploração poderia ser vamos explorar a situação atual ou o potencial de novas tecnologias para descobrir (discovery) uma oportunidade ou desafio de inovação!.
Leia mais na flexM4i sobre o processo de discovery.
  • pensamento ou insight é uma ideia com um elevado nível de abstração.
  • solução refere-se à combinação de princípios de soluções: elementos esquemáticos que representam:
    • funções de artefatos físicos;
    • processos que representam serviços ou 
    • qualificadores que representam pessoas etc. 
  • conceito do resultado refere-se a uma primeira versão do design do objeto da inovação (é o segundo significado do termo “conceito” no nosso glossário).
  • proposta da ação refere-se a uma minuta de um projeto, iniciativa ou ação para se concretizar a ideia.

Um exemplo de ideia que se desdobra em várias ideias mais concretas
A ideia é  contribuir para a diminuição do impacto ambiental dos automóveis com motores à combustão. Neste caso, a ideia representa uma intenção (uma das definições no glossário); um objetivo. Pode haver muitos caminhos e soluções para concretizar essa ideia, que seriam ideias com um grau de abstração menor, ou seja, mais concretas. Mesmo assim, elas ainda podem ser abrangentes, tais como: 

  • desenvolver um novo modelo de negócio de compartilhamento de automóveis para aumentar o seu uso e diminuir o impacto ambiental. Essa ideia já é mais concreta; é uma ideia inicial. Consiste em uma visão de alto nível da solução prevista (uma das definições do glossário);
  • desenvolver um carro elétrico de baixo custo. Outra ideia mais concreta ainda, que para ser executada necessitaria de um programa amplo, lembrando que programa é um conjunto de projetos; 
  • dificultar a compra de automóveis e seu uso no centro da cidade. Outra ideia mais concreta; inicial.

As ideias listadas acima também podem ser consideradas oportunidades e/ou desafios

Outro exemplo
Imagine que os clientes atuais da sua empresa não estão satisfeitos com o SAC (serviço de atendimento aos clientes) da empresa. Possíveis ideias para resolver esse problema, com diferentes níveis de abstração, seriam:

  • a ideia seria aplicar métodos de design para entender melhor as razões pela insatisfação, aumentar a empatia pelos clientes, descobrir quais as necessidades e depois procurar soluções;
  • a ideia seria utilizar o mesmo processo e ferramentas que o nosso concorrente utiliza para o SAC, pois sabemos que os clientes dele estão satisfeitos (benchmarking);
  • a ideia seria treinar melhor os atendentes e aperfeiçoar o script do atendimento;
  • a ideia seria implementar um chatbot com inteligência artificial para resolver dúvidas mais básicas e encaminhar para especialistas a partir de um certo ponto da conversa;
  • a ideia, tendo a visão futura das oportunidades tecnológicas, seria implementar soluções de realidade aumentada no produto, para o cliente possuir informações e instruções, que permitam que ela/ele resolva, de uma forma autônoma e simplificada, a maior parte dos problemas.

Essa lista de ideias poderia ser muito maior, mas nesses exemplos, mostramos que o termo ideia pode conotar “ideia do que fazer para resolver o problema” ou “ideia da solução”. Muitas vezes, as pessoas consideram a ideia somente a “ideia da solução”. 

Veja que quando a ideia já é de uma solução, já é uma visão da situação futura. Nos exemplos acima poderíamos ter usado em alguns casos o termo “desafio” no lugar de ideia e mesmo o termo “oportunidade”.

Oportunidade ou desafio

Essa é uma discussão semântica, pois a comunidade da área de administração prefere usar o termo “oportunidade” e a comunidade da área de design prefere usar o termo “desafio”.

  • O termo “oportunidade” tem uma conotação otimista: “circunstância útil, benéfica e vantajosa e propícia para a realização de alguma coisa” (Michaelis).
  • O termo “desafio” tem uma conotação de algo a ser resolvido ou superado: ”Situação ou problema cujo enfrentamento demanda esforço e disposição firme” ou “Ato de instigar alguém a realizar algo que supostamente está acima da sua capacidade” (Michaelis).

Adicionamos esses dois termos ao conceito de “ideia” e, assim, sempre falamos em oportunidades, desafios e ideias como ponto de partida de uma inovação, que incorporam as motivações listadas no início deste tópico.

Oportunidade / desafio versus ideia

Uma ideia pode ser “aproveitar uma oportunidade” ou “enfrentar um desafio”, com o significado de “explorar”.

A definição de ideia da flexM4i é uma generalização dos seguintes estágios de evolução do “embrião” de um resultado (a inovação): explorar, pensamento / insight, solução, conceito do resultado ou proposta de ação.

Por exemplo, como poderíamos aproveitar o potencial da inteligência artificial para contribuir com o ensino de línguas estrangeiras?
Uma ideia inicial de uma inovação (projeto, iniciativa ou ação) seria explorar essa oportunidade para quem sabe chegar em uma nova solução, novo conceito, nova proposta.
Uma ideia inicial de uma inovação (projeto, iniciativa ou ação) seria enfrentar esse desafio  para quem sabe chegar em uma nova solução, novo conceito, nova proposta.

De um lado, um desafio pode ser “tornar a ideia uma realidade”.
Por outro lado, uma oportunidade pode ser “implementar a ideia”.

Por exemplo, a ideia de mandar um ser humano para a lua tornou-se um grande desafio dos USA nos anos 60. Sim, você pode argumentar que não foi uma ideia e sim uma visão. Veja que é uma discussão sobre os significados desses termos.

O termo em inglês deste exemplo, moonshot, virou um sinônimo  de “uma tarefa difícil ou cara, cujo resultado se espera que tenha grande significado. Confira no nosso glossário as definições de:
Moonshot
Moonshot challenge
Moonshot thinking

Pode ser uma questão de como formulamos o desafio / oportunidade.

Por exemplo, um desafio de inovação poderia ser “aproveitar a oportunidade do potencial da indústria 4.0″ ou uma oportunidade de inovação poderia ser “enfrentar o desafio de tornar a indústria 4.0 uma realidade com retorno positivo nos resultados da nossa empresa”.

Problemas e dores

É comum ouvirmos as pessoas dizerem “qual o problema ou dor do cliente que queremos resolver com uma inovação?”. Essa é uma terminologia frequente usada por pessoas com formação em engenharia, informática ou mesmo design.

O termo “dor” ficou muito popular com a publicação e divulgação do livro sobre design da proposta de valor de Osterwalder et al. (2014). Os autores sintetizam “dores” como algo a “resolver” em contraponto “ganhos” como algo a se aproveitar e alavancar. Este termo “humaniza” seu significado, pois nós temos problemas e sentimos dores.

Segundo esses autores:

  • “Dores descrevem qualquer coisa que incomoda seus clientes antes, durante e depois de tentar realizar uma tarefa, ou simplesmente impede que eles concluam uma tarefa.”
  • “Dores também descrevem riscos, ou seja, possíveis resultados ruins, relacionados a realizar uma tarefa de maneira inadequada ou nem realizá-la.”
Veja no glossário outras definições de dores.

Resolver / eliminar / minimizar problemas ou dores pode ser tratado como uma oportunidade ou desafio.

Por exemplo, um cliente pode considerar que o processo de pagamento online com um determinado aplicativo é muito complexo e demorado. Isso pode ser um problema e representar uma dor. Uma inovação poderia ter como objetivo a  criação de soluções de pagamento mais simples, rápidas e seguras, eliminando a frustração dos usuários com processos longos e complicados, e aumentando a conveniência e a satisfação do cliente. Podemos dizer então que o problema / dor trouxe uma oportunidade ou desafio para se simplificar o processo.

Oportunidades, desafios e ideias como síntese das entradas para inovação

Podemos usar uma combinação das informações vindas das fontes iniciais listadas no próximo tópico para sintetizar em oportunidades, desafios e ideias.

As fontes listadas fornecem informações de entrada para inovação de diversas naturezas, que se transformam até se tornarem uma ideia “mais concreta”, que pode intrinsecamente representar oportunidades e desafios, conforme mostramos nos exemplos do tópico “Motivações e ponto de partida para inovação” anterior.

Vamos discutir essas transformações com base na próxima figura.

Figura 113: exemplos de transformações de entradas em oportunidades, desafios e ideias.

Entradas

  • O objetivo de eliminar, mitigar ou solucionar fraquezas, ameaças, dores e problemas pode ser considerado uma oportunidade / desafio.
  • O objetivo de potencializar as forças ou aproveitar as oportunidades pode ser expresso na forma de um desafio.
  • O objetivo de atender a necessidades ou requisitos pode ser expresso na forma de uma oportunidade / desafio.
  • As ideias iniciais, como os exemplos listados anteriormente, podem definir hipóteses. Um desafio seria provar essas hipóteses.
  • Pessoas, com repertório e apoio de padrões e métodos (como o design thinking), podem gerar ideias iniciais, a partir de qualquer uma das informações anteriormente citadas. 
  • As ideias iniciais podem também ser detalhadas em ideias mais concretas sem que seja definido explicitamente uma oportunidade / desafio.
  • Quando a inovação inicia com ideias mais concretas, elas já representam uma provável visão de um projeto de inovação, que podem ser detalhados por meio de conceitos das suas partes (principais sistemas e subsistemas) e complementados por requisitos de produto.
  • As ideias mais concretas podem expressar partes da solução final. Nesses casos, é difícil diferenciar uma ideia de um conceito.

A partir das oportunidade / desafio definidos (ver figura)

  • Uma oportunidade / desafio, pode ser detalhado em insights, quando se puder entender com maior profundidade as dores e os problemas, enfim a situação atual. Lembrar que aqui a oportunidade / desafio representa a síntese das entradas indicadas na figura.
  • Desses insights podem ser geradas ideias 
  • Podemos definir requisitos que as ideias / conceitos devam atender com base no conhecimento mais profundo das necessidades, normas e regulações.

Como já apresentamos anteriormente, uma ideia pode possuir diversos níveis de abstração: motivação para explorar, pensamento ou insight, “esboço” de uma solução, conceito do resultado, proposta de ação.  

Aproveitar uma oportunidade “mais concreta”, enfrentar um desafio “mais concreto” ou desenvolver uma ideia “mais concreta” representa um objetivo “palpável” de um  projeto de inovação

No capítulo sobre a lógica da inovação, definimos uma categoria de processos intitulada “Gerenciar oportunidades, desafios e ideias”, na qual utilizamos os conceitos discutidos nesta seção. Ou seja, as possíveis entradas para a inovação são  sintetizadas em uma ou mais oportunidades, desafios ou ideias.  

Veja que utilizar esses três termos pode significar:

  • uma oportunidade expressa o que queremos aproveitar de uma tecnologia emergente ou um insight para mudar a situação atual
  • um desafio expressa o que queremos mudar da situação atual ou uma meta para atingir uma situação futura (desde algo mais simples até um moonshot).

As características da situação futura podem ser expressas em  uma visão do produto de um projeto, quando um projeto (ou um programa) tiver sido “especificado / planejado”, como mostramos no próximo tópico.

Visão versus ideia

Não existe uma sequência amplamente aceita de qual termo precede o outro na evolução de uma inovação. A inovação pode ser vista como uma evolução de conceitos e artefatos, como ilustra a próxima figura, que mostra somente as fases iniciais dos processos de inovação, ou seja, o ponto de partida.

Figura 091: Exemplos de conceitos e artefatos das fases iniciais de um projeto de inovação mostrando a superposição entre eles com destaque do termo visão, que é um construto da gestão de projetos e pode ser ambíguo

Na síntese que apresentamos anteriormente, “ideia …. contém uma visão de alto nível da solução prevista”, a ideia se confunde com a visão.

Mas preferimos usar o termo “visão” como um construto da gestão de projetos ou ação, que representa como vislumbramos o futuro ou o resultado esperado do projeto / ação.

Na figura anterior marcamos dois conteúdos possíveis de uma visão de projeto. Dependendo da categoria do projeto, a visão pode conter:

  1. O resultado esperado de um projeto exploratório ou seja, ideias e insights iniciais sobre uma solução do “problema” que queremos “resolver” (oportunidade que queremos aproveitar, desafio que queremos enfrentar)..
  2. O resultado esperado de um projeto de desenvolvimento, ou seja, ideias e conceitos mais concretos sobre o produto (resultado) do projeto de inovação.
Veja a discussão sobre a visão do produto no glossário, na qual mostramos que a visão representa o resultado esperado de um projeto (produto do projeto), que pode ser mais ou menos concreto de acordo com o escopo do projeto.

Veja só como esses conceitos se inter-relacionam. Você pode escolher alguns deles para representar o ponto de partida de uma inovação e definir uma sequência mais apropriada alinhada com o seu repertório e cultura da sua empresa. Todos eles englobam as motivações listadas anteriormente.

Utilize os termos mais alinhados com a cultura da sua empresa. Não se preocupe em utilizar o termo “correto”, pois eles são ambíguos.

Ou seja, uma inovação pode partir de:

  • um problema
  • uma ideia
  • uma oportunidade
  • um desafio
  • uma dor
  • um ganho

etc…

E no momento do desenvolvimento, defina a visão do produto do projeto.

Origens da inovação

Até aqui exploramos que as inovações são desenvolvidas para aproveitar oportunidades, enfrentar desafios ou desenvolver ideias.

Veja que adotamos no tópico anterior esses três conceitos (oportunidades, desafios e ideias) como sínteses de diversos outros “gatilhos” para se inovar, tais como, fraquezas, ameaças, dores, problemas, forcas, necessidades, requisitos, assim como as próprias oportunidades, desafios e ideias.

Mas de onde surgem essas oportunidades, dores e ideias?

Apresentaremos a seguir uma lista de origens / fontes, que se sobrepõem e possuem níveis de abstração, abrangência e detalhamento diferentes.

Algumas dessas fontes vieram de três publicações, que indicaremos com os seguintes números entre parênteses:
(*1) Drucker (2014)
(*2) Tidd; Bessant (2021)
(*3) von Hippel (1988) atualizada pela publicação de Philipson (2020)

Consulte as referências para acessar os títulos dessas publicações.

Quando não houver essas indicações, a fonte de inovação foi baseada na experiência do autor desta seção.

A próxima figura ilustra possíveis origens / fontes de inovação.

Figura 84: fontes de oportunidades, desafios e ideias para inovação.

Lista de origens / fontes

Parte das informações indicadas na figura acima resultam dos processos de rastrear, monitorar e analisar o contexto (uma das categorias de processo da lógica da inovação).

Os links das descrições apresentadas a seguir indicam leituras adicionais publicadas na flexM4I. Recomendamos que você deixe esta página sempre aberta e abra o link em outra aba ou página, quando desejar obter informações adicionais.

Como a figura anterior é muito carregada de elementos, vamos dividir sua apresentação por partes.

Estratégias, previsões, tendências e processo de discovery

  • Estratégias (caminho top-down), que, quando tiverem sido definidas, podem ser derivadas na análise de forças, fraquezas, oportunidades, ameaças, problemas, dores etc., resultantes da análise da situação atual e futura do contexto. As estratégias devem ser alinhadas com a execução de estratégias e com as iniciativas bottom-up de intraempreendedorismo. Explorar as demais fontes de inovação listadas a seguir podem ter sido derivadas de estratégias de inovação;
  • Previsões (foresights) e tendências (que podem ser utilizadas no contexto do planejamento estratégico): Identificar direções em que o mercado ou a tecnologia estão se movendo pode ser uma fonte de inovação, à medida que as empresas procuram antecipar ou liderar mudanças.
  • Processo de descoberta (discovery): Algumas empresas estabelecem este processo para uma busca focada em novos negócios, inovações disruptivas, mais radicais ou estratégicas. As propostas resultantes deste processo podem entrar no planejamento da inovação quando as ideias estão embrionárias ou mesmo depois das primeiras validações das hipóteses de valor e/ou de mercado.

Patentes, novos conhecimentos, publicações, regulamentações, eventos, feiras e networking

  • Patentes, licenciamento de propriedade intelectual – IP : Proteção de invenções e criações originais que permite a comercialização segura de novas tecnologias e modelos de negócio, incentivando o investimento em inovação. Além disso, a busca por patentes e o conhecimento das submissões já realizadas trazem oportunidades e ideias para inovações (sem incorrer nos erros que outras pessoas já cometeram no passado);
  • Novos conhecimentos (*1, *2): invenções, descobertas científicas, novos materiais, tecnologia, modelos de negócio, conceitos, paradigmas, abordagens e práticas (metodologias, processos, métodos e ferramentas);
  • Publicações profissionais e científicas: Fontes de informação que divulgam pesquisas e descobertas recentes, oferecendo insights que podem ser aplicados para fomentar a inovação em várias áreas;
  • Regulamentações (*2): Leis e diretrizes governamentais que podem incentivar a inovação ao definir padrões e requisitos novos, ou restringir certas práticas, motivando o desenvolvimento de alternativas mais eficazes ou sustentáveis;
  • Eventos: congressos, reuniões, seminários, webinars: Fontes de aprendizado, inspiração e networking;
  • Feiras, congressos e exposições: Eventos onde empresas e profissionais se reúnem para apresentar novos produtos e tecnologias, oferecendo oportunidades para networking, aprendizado sobre tendências de mercado e inspiração para inovações;
  • Networking (institucional ou pessoal): É uma forma de compartilhamento de conhecimentos e aprendizado. Normalmente, melhora o repertório dos colaboradores, que por sua vez resulta em uma maior capabilidade inovadora da empresa. Além disso, permite a criação colaborativa de novos conhecimentos e artefatos. Além das feiras, congressos e exposições mencionadas no item anterior, o networking pode envolver: participação em associações, comitês, comunidades de prática e redes de inovação.

Business Intelligence and Analytics, inteligência artificial generativa, teoria e pedidos sob encomenda

  • Business Intelligence and Analytics (abrange diversos tipos de intelligence – vide seção correspondente no link): Uso de dados e análises avançadas para informar decisões estratégicas e inovadoras. Coleta dados por meio do monitoramento de redes sociais, patentes, operação e uso de soluções existentes (via IoT e nuvem), benchmarking, ecossistema, situação atual, tendências, futuro, monitoramento do mercado, clientes etc. A inteligência artificial generativa é uma das ferramentas com grande potencial neste contexto;
  • Inteligência artificial generativa: Tecnologia que utiliza modelos de aprendizado de máquina para criar conteúdo novo e original, desde textos e imagens até música e código. Capaz de gerar inovações ao adaptar e combinar ideias existentes de maneiras únicas, inspirando novas abordagens e soluções em diversos campos;

Inteligência artificial generativa é o grande tema para a inovação atualmente (agosto, 2024). Uma das discussões é se está na fase inicial do hype cycle ou se é uma realidade. Como ainda não temos uma seção específica tratando deste tema, recomendamos as seguintes referências:

Situação atual da empresa e suas ofertas

As estratégias (descritas anteriormente) podem ser baseadas nas informações da situação atual (mercado, processos etc.) e suas ofertas (produtos e serviços). Além daquele momento, a situação atual deve ser analisada para:

  • Conhecer o mercado (análise do mercado): estudo detalhado do ambiente de mercado que permite identificar oportunidades de inovação e lacunas no atendimento ao cliente (pode estar associado com o Business Intelligence and Analytics).
  • Realizar uma análise crítica dos produtos, serviços e experiências atuais para identificar melhorias, inovações necessárias ou obtenção de novos insights para incrementar ou revolucionar as ofertas. A partir desta análise podemos identificar problemas, oportunidades e ideias na fase de uso (MOL – middle of life) e na fase de fim-de-vida (EOL), que podem resultar em novas práticas na fase de design (BOL – begin of life). Conheça os Rs da sustentabilidade;
  • Levantar necessidades dos processos da própria empresa (*1, *2): Identificação de ineficiências ou desafios dentro dos processos internos da empresa que motivam a busca e a implementação de soluções inovadoras para otimizar a operação e aumentar a competitividade. Essas necessidades podem advir de limitações e problemas durante a fase de uso das ofertas devido aos processos operacionais de oferta de valor ou aos próprios processos de operação. Neste contexto, podem surgir oportunidades baseadas em falhas e ideias / desafios a partir da análise da causa raiz;
  • Realizar diagnósticos específicos e pontuais para identificar oportunidades, desafios e ideias a partir de disfunções, problemas e dores da situação atual da empresa. Podem ser utilizadas ferramentas analíticas e metodologias, como questionários específicos e modelos de maturidade, para identificar problemas, disfunções  e padrões que embasam e inspiram o desenvolvimento de soluções inovadoras;
  • Análise de causa raiz (RCA): Conjunto de abordagens, métodos, ferramentas e técnicas utilizados para descobrir as causas raízes de eventos. Auxilia na identificação não apenas do o quê mas também do como e porquê um evento ocorreu. Tratando as causas raízes, evitamos que o evento ocorra novamente.

Design e solução de problemas

  • Design: é a maior fonte de novas ideias a partir do enfrentamento de desafios para identificação de oportunidades. Normalmente passa inicialmente pelo entendimento da situação atual e ideação em um segmento de mercado. O entendimento é baseado na coleta de informações detalhadas sobre usuários e contextos por meio, por exemplo, de observações, pesquisa etnográfica, entrevistas, pesquisa de mercado etc. A ideação faz uso de técnicas de criatividade e contempla a construção e teste de MVPs, POCs e protótipos para validar as hipóteses de valor e de mercado.  Podem ser aplicados os métodos e ferramentas associadas à abordagem de design thinking. Além da análise profunda da situação atual durante o entendimento, as informações sobre as tendências e o futuro (foresight são utilizadas na ideação;
  • Solução de problemas: os métodos e ferramentas anteriormente apresentados de análise da situação atual, levantamento de necessidades dos processos, diagnósticos, análise de causa raiz e design podem ser utilizados para a solução de problemas (recorde o tópico anterior sobre “Problemas e dores”).

Pessoas com repertório e capacidade cognitiva

Pessoas com repertório e capacidade cognitiva: são elas que identificam oportunidades, desafios e ideias para inovar. Como ilustrado na figura, acima do ícone que representa uma pessoa, inserimos os termos que representam momentos comuns de cognição durante a inovação: análises, contradições, interações, recombinação, insights e o acaso.

  • Análises: juntamente com o analytics, as pessoas com repertório e capacidade cognitiva conseguem entender a situação atual, os clientes, mercado para identificar oportunidades, desafios e ideias. Essas pessoas devem conseguir trabalhar de forma colaborativa com sistemas de inteligência artificial generativa;
  • Contradições (*1): É uma das formas de se encontrar novas soluções. Podem ser contradições e incongruências entre: a economia e um setor econômico; um setor econômico e nossas premissas sobre o ele; os esforços e ofertas de um setor econômico e os valores e expectativas de seus clientes; ritmo, dados, resultados e a lógica de um processo; soluções de engenharia; etc;
  • Interações e colisões Interdisciplinares: A combinação de conhecimentos de diferentes disciplinas pode gerar novas ideias e conceitos, resultando em inovações que nenhuma única disciplina poderia produzir sozinha;
  • Recombinação de ideias e aplicações existentes (*2): A combinação criativa de conceitos ou tecnologias já existentes para criar novas soluções ou produtos, explorando possibilidades que não foram previamente consideradas;
  • Insights e inspirações (*2): São decorrentes das análises e contradições em momentos de clareza que surgem de observações ou aprendizados, muitas vezes resultantes de experiências interdisciplinares ou da interação com diferentes culturas e tecnologias, potencializando a geração de ideias inovadoras. Muitos insights podem ser obtidos a partir de dados (Business Intelligence and Analytics) depois de um “debate e discussões” com pares ou mesmo sistemas de integração artifical generativa (desde que alimentado com dados extensos e relevantes). Essas pessoas podem auxiliar a montar cenários futuristas da sociedade para se identificar oportunidades e desafios. Podem ser também insights de pessoas de hubs / centros de inovação que fazem parte do ecossistema da empresa;
  • O acaso e ocorrências inesperadas: Momentos de descoberta não planejada que podem abrir caminhos para inovações revolucionárias, tais como, sucesso inesperado, falha inesperada, evento externo inesperado, acidentes, incidentes etc.

Intraempreendedorismo, gestão de ideias e P&D

  • Intraempreendedorismo: é uma condição para que surjam oportunidades, desafios e ideias em todos os níveis nas empresas estabelecidas (existentes). Ou seja, é a criação de um ambiente, no qual as pessoas se sintam à vontade para propor soluções. Essas soluções podem ser propostas por meio de um processo de gestão de ideias (próximo item);
  • Processo de  gestão de ideias (sugestões). Qualquer pessoa na empresa pode ter uma ideia. Hoje existem sistemas (Apps) que permitem que qualquer pessoa da empresa e do ecossistema faça sugestões, como se fosse a antiga “caixa de sugestões” (caminho bottom-up). Essas ideias são analisadas por um comitê (por exemplo) e passam por um escrutínio. Este processo também consolida ideias dos clientes. As ideias selecionadas são enviadas ao planejamento da inovação. O sucesso da prática de gestão de ideias depende  de incentivos para a melhoria contínua e de um ambiente intraempreendedor. Apesar de indicarmos acima que ideias de intraempreendedorismo vêm da análise e insights de pessoas, nada impede que o caminho inicial dessa ideia seja por meio de um processo de gestão de ideias;
  • Pesquisa & desenvolvimento (P&D): É a forma tradicional de se obter soluções inovadoras. Ainda é atual em algumas empresas, como discutimos na seção ““Área” de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)”. É quando se descobre novos conhecimentos e desenvolve tecnologias avançadas, essencial para a criação de soluções inovadoras e competitivas no mercado. Deve estar associado com a gestão da tecnologia. Hoje em dia, o P&D deve estar articulado com a gestão da inovação, considerando as fontes que listamos aqui.

Modelos de referência, BOKs, padrões, normas e ecossistemas

Leia mais na flexM4I:
– alguns exemplos de modelos de referência no capítulo da lógica da inovação
exemplos de BOKs e normas 
  • Ecossistema: A interação e colaboração entre diferentes atores e entidades, como empresas, startups, instituições acadêmicas e investidores, criam um ambiente propício para inovação e detecção de oportunidades, desafios e ideias por meio do compartilhamento de recursos, conhecimentos e tecnologias, assim como durante o desenvolvimento da inovação  (veja o quadro a seguir).

Atores e atividades associadas ao ecossistema podem ser (entre outras):

  • Alianças estratégicas (*3): Parcerias entre empresas que buscam explorar sinergias para novas oportunidades de mercado e inovação.
  • Conexão com startups: Engajamento com startups para incorporar novas tecnologias e ideias inovadoras nos processos ou produtos existentes.
  • Comunidades e networking: Interação com redes profissionais e comunidades para troca de ideias e colaboração com eventual obtenção de novas oportunidades, desafios ou ideias (insights).
  • Desafios e prêmios: Competições ou prêmios designados para estimular a inovação e soluções criativas em resposta a problemas específicos. 
  • Corporate venturing:  Investimento em novas empresas ou projetos que possuem o potencial de trazer inovações significativas para a empresa. Na flexM4i dividimos o corporate venturing em interno e externo. Ele abrange diversas práticas.
  • Fusões e aquisições (M&A – mergers & acquisitions): São operações de compra e venda para consolidação ou transferência da propriedade entre empresas. Essas operações podem permitir que as empresas cresçam ou mudem seus negócios ou posição competitiva. Os conhecimentos e ativos das novas empresas podem trazer novas oportunidades, desafios e ideias de inovação.
  • Hackathons:  Eventos onde programadores, designers e outros profissionais colaboram intensamente em projetos de software, muitas vezes gerando soluções inovadoras rapidamente.
  • Hubs de inovação: é uma instituição que agrega pessoas e organizações que interagem e colaboram para transformar desafios, oportunidades e ideias em soluções e negócios inovadores que entregam valor para stakeholders.
  • Joint venture:  Colaborações entre empresas para explorar novas tecnologias ou mercados, compartilhando riscos e recompensas.

Consulte o mapa das seções da flexM4i relacionadas com inovação corporativa & empreendedorismo para obter uma visão ampla de quais são as abordagens e práticas, que podem estar associadas com o ecossistema.

A empresa segundo von Hippel

Von Hippel (*3) enfatiza que a própria empresa é uma fonte de inovações, citando os seguintes elementos, que estão distribuídos na lista anterior:

  • estratégias e objetivos
  • processo de gestão de ideias
  • processo de descoberta (discovery)
  • pessoal de vendas
  • colaboradores e intraempreendedores
  • caixa de sugestões – geralmente associado ao processo de gestão de ideias 
  • problemas identificados na gestão de indicadores
  • problemas analisados com os métodos de análise de causa raiz
Muitas das fontes listadas também podem ser consideradas mecanismos para se inovar, como mostra a seção “Articulação entre abordagens de inovação corporativa e empreendedorismo”. 

Referências

Drucker, P. (2014). Innovation and entrepreneurship: Practice and Principles. Butterworth-Heinemann

Koen, P., Ajamian, G. M., Boyce, S., Clamen, A., Fisher E., Fountoulakis S., Johnson, A., Puri P. & Seibert, R. (2002). Fuzzy Front End: Effective Methods, Tools, and Techniques. In: Belliveau, P.; Griffin, A.; Somermeyer, S. (Eds.). The PDMA Tookbook for New Product Development. New York: John Wiley & Sons, p. 5–35.

Osterwalder, A., Pigneur, Y., Bernarda, G., & Smith, A. (2014). Value proposition design: How to create products and services customers want. John Wiley & Sons.

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Tidd, J.; Bessant, J. R. (2021) Managing innovation: integrating technological, market and organizational change. John Wiley & Sons

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