Prova de conceito, MVP e protótipo

flexM4I > abordagens e  práticas > Prova de conceito, MVP e protótipo (versão 2.1)
Autoria: Henrique Rozenfeld (roz@usp.br)

Artefatos utilizados nas atividades de experimentar, avaliar, selecionar, aprender e pivotar para para escolher alternativas; validar conceitos, market fit, hipóteses de mercado e funcionalidades; aprender.

A figura abaixo procura ilustrar a delimitação entre esses termos, que representam artefatos realizados durante a inovação.

Figura 430: contextualização de uma POC (prova de conceito), MVP (produto mínimo viável) e protótipo tradicional

Podemos considerar os três tipos de artefatos como tipos de protótipos.

POC - prova de conceito ou proof of concept

Uma prova de conceito (POC – proof of concept) serve para testar se é possível realizar / concretizar uma ideia.  As POCs são realizadas para avaliar a viabilidade técnica de um conceito (como o próprio nome diz) de uma solução e/ou tecnologia.

No entanto, é mais comum aplicar POC para:

  • comprovar a viabilidade de uma tecnologia (entre elas a viabilidade de aplicação de um software)
  • comprovar a viabilidade de uma inovação de uma startup na prestação de serviços (principalmente em inovações visando a melhoria de um processo existente em clientes corporativos –  B2B)
  • testar estágios iniciais de tecnologias, como uma primeira versão de um MPV, se for submetida posteriormente à avaliação de clientes (caso a POC tenha sido aprovada).

A transformação digital e as POCs

A transformação digital atinge todas as áreas das empresas, o que se reflete em todos os processos: desenvolvimento de produtos e serviços, vendas, propaganda, produção, pós-venda etc. Nos estágios iniciais ocorre a digitalização dos processos (informatização e conectividade).

Veja a seção sobre transformação digital, que destaca o modelo de Frank et al. (2019), o qual divide a transformação em 4 dimensões:

  • Smart Manufacturing;
  • Smart Product & Services;
  • Smart Working; 
  • Smart Supply Chain

Na transformação digital é comum que soluções digitalizadas sejam testadas por meio de POCs. 

Um exemplo  é o desenvolvimento de uma solução digital na busca por excelência operacional dos processos. Se a solução proposta rodar, significa que o conceito é realizável. 

Relação startups e corporações 

A maioria dos desenvolvimentos de POCs é realizado por startups. É comum que as funções de “áreas de inovação” de empresas estabelecidas (corporações) estejam limitadas à contratação de startups para melhorar a excelência operacional (aumento de produtividade e/ou diminuição de custos).

Por um lado, essas “áreas” recebem um orçamento (budget) para gastar com POCs. Por outro lado, startups com soluções tecnológicas específicas procuram essas empresas para vender POCs e, assim, aperfeiçoar suas ofertas.

Essa é a razão pela qual as POCs tornaram-se famosas no relacionamento B2B, ou seja, é a forma preferida de se desenvolver inovações e de se relacionar com startups.

Segundo o blog da Randon (visitado em 29/9/2022), a POC ajuda a evitar:

  • erros graves no funcionamento do serviço (ou na performance do produto) quando já está no mercado;
  • desperdício de recursos resolvendo problemas para os quais não há um público-alvo;
  • custos extras financeiros com remodelação da base operacional do negócio, especialmente quando a startup tem apenas um produto ou serviço;
  • desconhecimento do mercado ou de concorrentes;
  • resolução de um problema, mas geração de outros (quando o empreendedor não percebe que criou um gap entre a solução que ele oferece e o que o cliente realmente precisa), entre outros.

Informações adicionais

O blog da empresa Random apresenta os conceitos principais sobre POC.

O verbete da wikipedia em inglês mostra a prática de POC em alguns segmentos de mercado 

MVP - minimum viable product ou produto mínimo viável

Origem do termo MVP

O termo MVP (minimum viable product ou produto mínimo viável) foi criado em 2001 por Frank Robinson como um dos fundamentos da sua metodologia SyncDev (A systematic method to sell, design and build). Essa metodologia propõe desenvolver produto e cliente de forma síncrona. Nesta metodologia ele define que um MVP é …

… é o produto do tamanho certo para sua empresa e seu cliente. É grande o suficiente para causar adoção, satisfação e vendas, mas não tão grande a ponto de ter funcionalidades demais e trazer um risco para a sua empresa. Tecnicamente, é o produto com ROI máximo dividido pelo risco. O MVP deve possuir as características determinantes para gerar receitas a partir dos seus clientes mais relevantes, mas não atende a todas as necessidades relacionadas com todas as características para todos os clientes em potencial.

Frank Robinson afirma que “a definição técnica de MVP foi modificada por vários de seus proponentes”.

MVP é um produto único que maximiza o retorno sobre o risco para o fornecedor e para o cliente”.

MVP é mais do que a sua definição, esse conceito deve fazer parte da “mentalidade dos gestores e do time de desenvolvimento”. Pense grande no longo prazo, mas pequeno no curto prazo. Pense grande o suficiente para que o primeiro produto seja uma plataforma de lançamento sólida para ele e sua próxima geração, mas não tão pequeno que você deixe espaço para um concorrente saltar sobre você.”

Ele ainda diz que 

o time pode ser o seu próprio inimigo quando se trata de MVP. Sua imaginação, orgulho, profissionalismo, processo de brainstorming etc. criam uma ideia em cima da outra sem pensar nas consequências do investimento e do risco em persegui-las”.

Apesar do termo “produto” no MVP, deve ter atenção ao “minimamente viavel” . Qualquer coisa que seja criada pode utilizar este conceito, como: segmento de mercado, clientes, serviços, canais, promoções entre outros.

O site da metodologia  de Frank Robinson não está mais no ar e não existe uma publicação tradicional sobre ela. Porém, como ela foi precursora dos conceitos encontrados no processo de desenvolvimento de clientes, que por sua vez inspirou o Lean Startup, ela continua disponível no arquivo da internet da wayback machine. O acesso é por meio deste link. Neste link você pode baixar um pdf sobre esta metodologia de 2008, que recuperamos do arquivo da internet.

Frank Robinson criou o termo MVP em 2001,  mas ele se tornou popular a partir das seguintes publicações: 

  • Ries, E. (2011). The lean startup. New York: Crown Business.
  • Blank, S., & Dorf, B. (2012). The startup owner’s manual: The step-by-step guide for building a great company. John Wiley & Sons.

MVP do livro de Ries (2011)

  • MVP é a primeira versão do produto que permite testar suas hipóteses com um mínimo esforço de desenvolvimento
  • MVP auxilia os empreendedores a iniciar o processo de aprendizado o mais rapidamente possível. 
  • Ao contrário do desenvolvimento de produto tradicional, que leva muito tempo para desenvolver um protótipo “perfeito”, o objetivo do MVP é iniciar o processo de aprendizagem, não encerrá-lo.
  • MVP é criado para testar hipóteses do negócio e não somente para verificar o projeto ou questões técnicas do produto, como no conceito de teste de protótipo e conceito.

Em seu blog, Eric Reis postou a seguinte definição “síntese” do que é um MVP.

“MVP é uma versão de um produto que permite o time coletar uma quantidade máxima de aprendizados validados sobre  os clientes com o mínimo esforço”

O mesmo conteúdo deste post foi replicado no site da sua empresa Lean Startup Co.

Conheça esse exemplo de MVP que o próprio Ries escreveu, antes de publicar o seu livro, em 2009. Este post sobre MVP do próprio Ries, também em 2009, traz trechos de uma entrevista que ele deu para o Venture Hacks sobre o que é um MVP. Vale a pena conhecer o raciocínio e a discussão sobre esse conceito. 

Extraímos dois trechos dessa entrevista a seguir

“O produto mínimo viável (MVP) é aquele produto que tem apenas aquelas características (features) e nada mais, que permite que você o envie para que os primeiros adeptos (early adopter) vejam e que, pelo menos, alguns deles sintam-se atraídos pelo produto a ponto de comprá-lo e, assim, começar a lhe dar feedback…

…às vezes o MVP é útil para esses primeiros adeptos porque eles tem a mesma visão que os empreendedores e enxergam como será o produto final.”

MVP do livro de Blank & Dorf (2012) 

  • construir um MVP de forma ágil com as características da visão do produto para testar se você entendeu o problema do cliente e ver se ele compraria o produto com essas características
  • a maior parte dos clientes quer o produto final, mas os early user compram as primeiras versões (se não comprar você deve pivotar até a maioria dos early users comprar)
  • MVP é uma tática para cortar horas de desenvolvimento em desenvolver algo que os clientes não desejam
  • MVP é uma estratégia para entregar o produto para os early users o mais rápido possível
  • MVP é uma ferramenta para gerar o máximo de aprendizado do cliente em um espaço curto de tempo
  • o objetivo do MVP é aprender e não entregar o produto 

Visite essa discussão do Blank sobre o “conjunto mínimo de características de um produto.

Tipos de MVP

Ries (2011) indica alguns tipos de MVP em seu livro, mas neste site você pode conhecer 18 tipos de MVPs, que estendem os tipos da publicação original.

Procure no google por “examples of MVP” para conhecer vários exemplos.

O exemplo mais clássico é o MVP do dropbox, que todas publicações sobre o assunto citam. 

Críticas ao MVP

Na wikipedia, em inglês, você consegue obter uma visão ampla do conceito de MVP, mas não tão completa como a discussão que colocamos acima. É interessante conhecer as críticas e riscos de se trabalhar com MVPs.

Afinal qual a diferença entre MVP e protótipo?

Muitos sites na internet colocam essa questão (como nós colocamos no título deste tópico) para esclarecer, quais as diferenças, como o site do Sebrae.

O importante é o conceito de falhar rápido e aprender rapidamente, ao invés de falhar mais tarde, quando os custos e riscos envolvidos são maiores.

Alguns afirmam que o MVP é para avaliar um novo negócio por meio de um protótipo com características (features) técnicas mínimas de um produto. Como as publicações que tornaram o termo MVP popular são associadas à criação de startups, pode-se ter essa conotação, pois um novo negócio está associado ao produto. Muitas publicações na web simplesmente copiam outras quando afirmam que “MVP é um protótipo, mas nem todo protótipo é um MVP”. Sim, essa afirmação está correta.

Essa discussão é enviesada pela área da tecnologia de informação, na qual “é mais fácil criar MVP”, como pode ser visto na metodologia SyncDev do criador do termo MVP.. 

Consideramos que essa diferenciação não se sustenta e não traz nenhuma contribuição adicional para a gestão da inovação.

Faz alguma diferença saber se o que você está criando para testar hipóteses é um protótipo ou um MVP?

A atividade de experimentação é o foco

Consideramos que integrar esses conceitos e conhecer todas as possibilidades existentes é mais importante visando realizar experimentações. Além disso, essas experimentações devem ser realizadas o mais cedo possível. Por isso, na flexM4I iremos usar esses termos como sinônimos

Neste contexto, recomendamos a leitura do livro “Testing Business Ideas” (Bland & Osterwalder, 2020) que mostra 44 possibilidades de experimentação de ideias de negócio. Eles definem 8 possíveis sequências de experimentações para responder às questões:

  • qual o tipo de hipótese você está testando?
  • qual a evidência que você já possui (para uma hipótese específica)?
  • quanto tempo você tem até o próximo ponto de decisão ou até você não ter mais verba para desenvolver o negócio?

Nesse livro os autores usam de uma forma mais livre os termos protótipos e MVP.  Eles simplesmente tratam de experimentação alguns tipos de MVP conhecidos (como mágico de Oz e concierge), sem utilizar o termo MVP.

Informações adicionais

Leia mais sobre MVP nos seguinte links

https://www.productboard.com/glossary/minimum-viable-product-mvp/

https://www.productboard.com/blog/what-is-minimum-viable-product-mvp/

Na flexM4I consideramos MVP como um tipo de protótipo

Visão tradicional de protótipo

Protótipo é um termo já utilizado há muitos anos. Ulrich et al. (2020) definem um protótipo como “uma aproximação de um produto que apresenta uma ou mais características de interesse”. Eles classificam os protótipos em duas dimensões: físico / analitico e focado / abrangente:

  • protótipo físico é um artefato concreto (tangível): inclui modelos físicos para avaliar a forma e a algumas funcionalidades do produto; prova de conceito (POC) para testar uma ideia rapidamente
  • analitico: é uma representação do produto em uma forma não tangível tão como um modelo matemático ou visual. Pode ser um modelo para simulação; um sistema de equações para predizer comportamentos; modelos geométricos 3D;
  • focados: são protótipos que implementam uma ou poucas funcionalidades do produto para explorar algum atributo específico. Pode ser um mock-up; ou uma versão de um subsistema do produto. 
  • compreensivo: são protótipos que implementam a maioria e às vezes todos os atributos de um produto. Pode ser uma versão operacional do produto em escala real. Serve para certificar o produto ou identificar defeitos, antes de se entrar em produção.

Na figura abaixo, representamos  alguns exemplos de protótipos usando a caracterização de Ulrich et al. (2020).

Fonte: adaptado de Ulrich et al. (2020) 

Na figura original, os autores colocaram a região que inclui protótipos abrangentes e analíticos como normalmente não factíveis. Nós acrescentamos a indicação de gêmeos digitais, pois essa tecnologia permite que se construa modelos virtuais dos produtos com as mesmas características.

Observe que a maior parte desses protótipos é utilizada quando já se possui o conceito do produto. Esses protótipos são construídos normalmente na fase de detalhamento. No entanto, os autores já previram usar protótipos como prova de conceito (POC) para provar ideias, ou seja, após a existência de um conceito embrionário para se testar alternativas.

Referências

Blank, S., & Dorf, B. (2012). The startup owner’s manual: The step-by-step guide for building a great company. John Wiley & Sons.

Ries, E. (2011). The lean startup. New York: Crown Business.

Ulrich, Karl T.; Eppinger, Steven D.; Yang, Maria (2020) Product Design and Development. 7th. ed. New York: McGraw Hill.

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