Hub de inovação

flexM4I > abordagens e  práticas > Hub de inovação (versão 2.3)
Autoria: Henrique Rozenfeld (roz@usp.br)

Classificação desta prática

Definição

Como a definição de hub de inovação pode variar, vamos apresentar uma genérica e depois mostramos o significado de alguns dos termos utilizados na definição. Em seguida, vamos diferenciar alguns tipos de hubs, mas que compartilham as características apresentadas aqui.

Um hub de inovação é uma instituição que agrega pessoas e organizações que interagem e colaboram para transformar desafios, oportunidades e ideias em soluções e negócios inovadores que entregam valor para stakeholders.

hub

É uma parte central ou principal de “alguma coisa” onde ocorre  a maior parte das atividades (Cambridge Dictionary)

instituição

Instituição pode ter os seguintes significados:

  • uma organização fundada e unida em torno de um propósito (Wordnet)
  • um estabelecimento constituído por uma ou mais construções (fisicas), nas quais está situada uma organização que promove uma certa causa (Wordnet)
  • uma organização pública ou privada, regida por estatutos ou leis, cujo objetivo é satisfazer as necessidades de uma sociedade ou de uma comunidade (Michaelis)

Sinônimos: entidade, organização, associação, instituto, fundação, sociedade, corporação e agremiação

Essa instituição pode estar em um local, um espaço físico, e ser um ambiente que estimula a interação entre as pessoas.

agrega

Agregar significa: unir partes diferentes em um todo; congregar; reunir; juntar; unir um elemento a outro ou a um conjunto

Um hub de inovação deve ser um ponto de encontro entre pessoas envolvidas com a inovação e empreendedorismo 

Outros ambientes que correspondem a outros mecanismos e práticas de inovação também podem ter esse papel de ponto de encontro e podem estar inseridos dentro de um hub, como mostramos no tópico “Estrutura de um hub de inovação” mais adiante.

O ambiente bem estruturado arquitetonicamente, com laboratórios e equipamentos apropriados facilita a interação, a conexão, o trabalho colaborativo, a criatividade, a experimentação, o aprendizado e o surgimento de ideias e conceitos inovadores.

Apesar dessa instituição poder estar na web, ou seja, ser virtual, a principal característica de um hub de inovação é que as pessoas compartilham o ambiente fazendo com que elas estejam constantemente interagindo. Nesse ambiente, as pessoas podem criar e nutrir sua networking (uma outra prática de apoio à inovação).

Uma “instituição virtual” também agrega pessoas em torno de um tema de interesse dos membros e pode ser considerada uma comunidade, como aquelas que descrevemos dentro da seção “networking” (associações, comitês, comunidades de prática, redes). Portanto, não é comum se denominar essas comunidades de hubs.

pessoas

As pessoas que convivem em um hub, mesmo que esporadicamente podem ser: inovadores, empreendedores, mentores, alunos, aprendizes, pesquisadores, criadores, professores, investidores, empresários (de empresas estabelecidas), desenvolvedores, artistas, indivíduos especializados (freelancers) etc.

Essas pessoas podem ter formações diversas, tais como, informática, design, administração, marketing, engenharia, física, química, materiais, comunicação e muito mais.

Veja o ensaio sobre disciplinas relacionadas com a inovação e observe algumas outras formações listadas.

organizações

Normalmente, em um hub de inovação podem estar agregadas:

  • startups;
  • grandes empresas que procuram inovar no hub para que seus colaboradores possam conviver em uma ambiente inspirador e propício a interações e compartilhamentos entre as pessoas
  • grandes empresas que desejam se conectar com startups;
  • organizações de investimento (bancos, fundos, venture capital e outros;
Visite a seção “Modalidades de fomento da inovação & empreendedorismo” para conhecer alternativas de organizações.
  • laboratórios avançados de universidades com o objetivo de fomentar a inovação entre os alunos;
  • consultorias em inovação;
  • empresas de serviços de apoio à inovação.

Além das que possam estar localizadas no hub, qualquer outra organização interessada em inovação pode conviver nesse ambiente esporadicamente buscando oportunidades de inovação.

desafios, oportunidades e ideias

Já mostramos com detalhes nos itens “Motivações e ponto de partida para inovação” e “Identificar oportunidades, desafios e ideias”, que utilizamos esses três termos para sintetizar as diversas entradas para inovação, que resumem problemas, dores, ameaças, tendências, forças, fraquezas, desejos, necessidades, tendências etc.

soluções e negócios

Esses são os possíveis resultados de um desenvolvimento, que incluem: produtos, serviços, experiências, processos, modelos de negócios, canais, startups etc. São os possíveis objetos de inovação.

valor para stakeholders

Valor é a percepção do cliente do trade-off entre o que ele recebe (os benefícios da oferta:  produto, serviço e experiência) e o que ele dá em troca.

O foco sempre está nos clientes, que possuem várias faces, como explicamos em Inovação, valor, stakeholders e faces dos clientes. Mas temos de considerar o valor percebido por outros stakeholders, tais como, os acionistas, colaboradores e sociedade.

Tipos de hubs de inovação

Não existe uma classificação universalmente aceita sobre os tipos de hubs de inovação. A seguir listamos alguns tipos de hubs de inovação.

Hubs de regiões ou cidades

Hubs de regiões ou cidades possuem as características listadas na definição e têm o objetivo de fomentar o crescimento da região por meio da inovação e empreendedorismo. Um hub pode ser o embrião de um distrito de inovação. Esses hubs podem ser fomentados por governos, iniciativa privada ou uma combinação entre eles. A maioria dos distritos de inovação possui normalmente um hub de inovação. Porém, distritos de inovação maiores podem conter mais de um hub de inovação.

“Os hubs são, na prática, espaços relacionais, realizados em meio a interações entre estruturas de poder global, configurações regionais, contextos culturais locais, experiências cotidianas de comunidades e indivíduos, entre outras coisas. Em jogo está a política de reconhecimento, legitimidade e valor dos chamados hubs de inovação” (Jiménez & Zheng, 2021).

Segundo a definição que adotamos, um hub de inovação pode ser uma instituição dentro de um distrito de inovação, que é mais amplo. Em geral, um distrito de inovação é criado no entorno de uma organização “âncora”, tais como, uma empresa, um hospital que realiza pesquisas, uma universidade. Um hub pode estar localizado dentro dessas organizações.

No entanto, como o significado de hub, que colocamos no início é bem amplo, o próprio distrito pode ser considerado um hub.

Hubs de inovação digital

Hubs de inovação digital “são instituições que apoiam empresas de uma determinada região a ser tornarem mais competitivas ao aprimorar seus processos de negócios/produção e produtos (e serviços) por meio da tecnologia digital” (Rissola & Sörvik, 2018). “São considerados como atores ou iniciativas que apoiam a digitalização e o desenvolvimento do ecossistema de inovação de um território circundante (Goetheer & Butter, 2017).

No contexto da Comissão Europeia, a conceção de um hubs de inovação digital deve se basear nas necessidades regionais e nas capacidades existentes, o que o liga às estratégias regionais de especialização inteligente (S3 – strategies for smart specialisation), ou seja, às prioridades de especialização de uma região. “Por meio da rede de hubs de inovação digital, as competências não disponíveis em um hub regional podem ser encontradas em outro DIH “(European Commission, 2017).

Hubs corporativos de inovação

Hubs corporativos de inovação possuem as mesmas características de hubs listadas na definição, mas pertencem a uma empresa (podendo estar localizados dentro da empresa ou em outro local).

Só ter um espaço para inovação (como discutimos na seção “Espaço” de inovação) não é suficiente para caracterizar um hub. Se não houver os serviços listados à frente, o espaço é importante mas não é suficiente. Esses hubs possuem em alguns casos outras denominações, tais como, centro de inovação corporativa ou labs de inovação.

Leia sobre a Ambidestria Organizacional, que apresenta os  conceitos de exploitation e exploration.  O lado “exploration” desenvolve inovações radicais, disruptivas ou estratégicas, normalmente em  hubs corporativos.

A seção da  Ambidestria Organizacional apresenta alguns exemplos de hubs de inovação corporativos, com uma descrição resumida. Uma lista mais completa você encontra na lista de hubs / labs de inovação de empresas, apenas com o link para esses hubs / centros.

Visite os websites dessas instituições e fique inspirado para montar um hub na sua empresa.

Hubs de inovação em universidades

Hubs de inovação em universidades possuem as mesmas características de hubs listadas na definição e a organização âncora é uma universidade. Também são conhecidos como hubs de conhecimento. Antigamente, as universidades eram vistas como uma instituição “acululadora” de conhecimento, o que a deixavam distantes da realidade da sociedade (Youtie & Shapira, 2008). Como pode ser visto na seção “gerações da gestão da inovação”, elas assumiram um papel cada vez mais central na produção de inovações. As universidades permanecem como uma instituição de “treinamento”  de estudantes e condução de pesquisa para a produção de novos conhecimentos.

Mas atualmente, algumas universidades assumiram o papel de hubs de conhecimentos que incentivam o desenvolvimento de novas competências e inovação dentro de sua região. Nesse papel elas tornam-se inseridas em ecossistemas de inovação e empreendedorismo criando interagindo com diversos atores para unir pesquisa a aplicação prática e comercialização de inovações (Youtie & Shapira, 2008).

Os processos de criação, aquisição e difusão de conhecimentos ainda é sua principal função e, por isso, são denominados de hubs de conhecimento; não somente os conhecimentos explícitos (codificados e documentados), mas promovem também a socialização e recombinação dos conhecimentos tácitos (inerentes das pessoas).

Hubs como espaços para organizações sociais

Hubs como espaços para organizações sociais é um hub normalmente voltado para ações sociais, onde as pessoas encontram um espaço comum (coworking) para desenvolvimento de projetos conjuntos. Este tipo de hub procura manter uma rede internacional de pessoas e contatos para formar uma comunidade de inovadores no mundo que compartilham as mesmas causas.

Veja que nesses casos, a característica de compartilhar um espaço físico acontece nos “hubs regionais” e a rede mais ampla (mundial ou entre hubs) é simplesmente uma rede de colaboração (veja a seção sobre networking).

Benefícios

para startups

  • no início, uma startup não possui capital e nem local ou infraestrutura para operar. Elas podem estar em um hub e usufruir dos recursos compartilhados e ter um espaço para se estabelecer. Neste caso, o hub tem o mesmo papel que uma incubadora de empresas;
  • conforme a startup evolui, o hub pode oferecer seus serviços com descontos segundo regras variadas;
  • como um hub agrega pessoas e organizações, uma startup pode realizar conexões importantes com os atores que estão estabelecidos ou que “circulam” pelo hub;
  • dessas conexões podem resultar: mentorias, investidores interessados, trabalho conjunto com outra startup (ou mesmo uma fusão); aquisição de clientes (grandes empresas);
  • em uma fase mais adiantada, uma startup pode participar de um programa de aceleração oferecido pelo hub. Neste caso, o hub assume o papel de uma aceleradora;
  • um hub pode oferecer: cursos sobre aspectos específicos do desenvolvimento de um negócio; palestras de especialistas ou inspiradoras; workshops diversos;
  • em um hub, uma startup pode contratar talentos ou mesmo freelancers para aumentar a sua capacidade de desenvolvimento;
  • um hub famoso pode aumentar a visibilidade de uma startup. 

para grandes empresas:

  • a presença de colaboradores das empresas em um hub pode contribuir para que essas pessoas mudem a sua mentalidade (mindset), tornando-se mais inovadoras;
  • assim como uma startup, uma grande empresa pode aprender abordagens e práticas de inovação e empreendedorismo em um hub, que podem fazer parte do repertório das pessoas envolvidas, que mais à frente pode mudar a gestão da inovação da empresa;
  • as conexões com as pessoas e organizações presentes em um hub podem resultar em: incrementar o networking da empresa; criar novas oportunidade de negócio; trazer novos insights; 
  • em especial, a conexão com startups questiona o modus operandi de uma empresa tradicional e traz inspiração para os envolvidos;
  • se uma pessoa de uma grande empresa se tornar um mentor de uma ou mais startups em uma área de conhecimento específica, que a pessoa domina (por exemplo, finanças ou alguma tecnologia específica), pode abrir a mente dessa pessoa a outras dimensões, que não eram consideradas anteriormente;
  • um hub corporativo pode realizar investimentos como um corporate venture capital (VC)

Estrutura / serviços de um hub de inovação

Um hub pode hospedar:

  • incubadora / aceleradora
  • startup studio, que denominamos de venture building
  • investidores (conheça as modalidades de investimento)
  • espaço maker ou um Fab Lab
  • startups
  • grandes empresas
  • centros de pesquisa
  • serviços de apoio à inovação: pesquisa de mercado, analytics, transferência de tecnologia, realização de alianças estratégias
  • serviços gerais: de administração, assessoria jurídica, marcas e patentes (licenciamento de propriedade industrial), apoio a vendas, propaganda e marketing, apoio para realização de fusões e aquisições (M&A), realização de eventos
  • áreas de apoio de diferentes tipos: salas de reunião, auditórios, espaços para eventos, espaços para alimentação (lanchonetes, restaurantes, bares etc), espaços de lazer, confraternização e esportes, salas de treinamento 
  • centros de desenvolvimento de empresas: neste caso, esse centros podem abrigar o que chamamos de “setor” de inovação ou uma “área” de P&D (colocamos os termos setor e área entre aspas porque cada empresa pode ter uma denominação específica – confira nos links indicados abaixo)

Leia sobre práticas relacionadas a essas estruturas e serviços:

Possíveis arquiteturas organizacionais

Este tópico é recomendado somente para os leitores dos níveis de detalhamento avançado.

Na flexM4i temos seções que discutem separadamente algumas práticas, que se confundem com elementos organizacionais, relacionadas com o assunto desta seção, mas que em cada empresa pode ter uma conotação diferente. Neste tópico mostramos como eles podem se relacionar para que a sua empresa adote a arquitetura organizacional mais apropriada para o nível de maturidade atual dela e seu ecossistema.

Alternativas

  • usamos o termo genérico “espaço” de inovação para denominar um espaço físico para apoiar a inovação. Este espaço pode conter um espaço maker ou um Fab Lab.
  • usamos o termo genérico “setor” de inovação para denominar um setor responsável pela orquestração da inovação, que em algumas empresas é a própria “área” de P&D. É relacionado com a inovação corporativa / gestão da inovação.
  • usamos o termo genérico “área” de P&D para denominar uma unidade organizacional onde se realizam as pesquisas e desenvolvimentos de tecnologias, produtos, serviços, processos etc. No entanto, o novo significado de P&D, descrito no tópico “reinventando o P&D”, torna este termo semelhante  com “setor de inovação”.
  • hub ou centro” de inovação em uma empresa (corporativo) está relacionado com o corporate venturing, com foco na construção de um ecossistema e com iniciativas de criação / conexão com startups. O hub promove a inovação aberta dentro do contexto da hélice tríplice.
  • em algumas empresas o “setor” e o “hub” de inovação podem estar integrados e podem incluir o P&D.
  • existem outros tipos de hubs de inovação, que não fazem parte de uma empresa (veja a seção correspondente)
  • a estrutura organizacional em geral é composta ainda por elementos organizacionais (departamentos, áreas etc.) e times multidisciplinares (como squads etc.), que realizam atividades de inovação, inseridos ou não nos elementos citados anteriormente 
  • e não devemos esquecer que todos podem inovar, como discutido no intraempreendedorismo, integrado com a inovação corporativa.
Conheça os tipos de arranjos organizacionais para apoiar a ambidestria organizacional, que mostra o hub de inovação como uma opção apropriada para desenvolvimento de inovações de exploração (exploitation).

Elementos organizacionais versus práticas de inovação

Não existe uma arquitetura organizacional universal para acomodar essas práticas organizacionais relacionadas com a inovação. A próxima figura ilustra as diferentes abrangências dessas práticas. As linhas pontilhadas mostram a possível expansão da abrangência de um elemento organizacional.

Figura 917: ilustração de possíveis abrangências dos termos que indicam elementos da estrutura organizacional e suas relações com práticas da inovação / empreendedorismo corporativo & gestão da inovação 

Crie (e experimente) uma estrutura para aprender (vai mudar constantemente); e utilize o termo mais alinhado com a cultura da sua empresa.

Referências

European Commission (2017). Digital Innovation Hubs: Mainstreaming Digital Innovation across All Sectors, Roundtable on Digitising European Industry, Working Group 1, 2017. Retrieved from https://ec.europa.eu/futurium/en/system/files/ged/dei_working_group1_report_june2017_0.pdf 

Goetheer, J. D., & Butter, M. (2017). Digital Innovation Hubs Catalogue.

Jiménez, A., & Zheng, Y. (2021). Unpacking the multiple spaces of innovation hubs. Information Society, 37(3), 163–176. https://doi.org/10.1080/01972243.2021.1897913

Rissola, G. and Sörvik, J. (2018) Digital Innovation Hubs in Smart Specialisation Strategies, EUR 29374 EN, Publications Office of the European Union, Luxembourg.  ISBN 978-92-79-94828-2, doi:10.2760/475335, JRC113111.

Youtie, J., & Shapira, P. (2008). Building an innovation hub: A case study of the transformation of university roles in regional technological and economic development. Research Policy, 37(8), 1188–1204. https://doi.org/10.1016/j.respol.2008.04.012

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