Disciplinas relacionadas com a inovação

flexM4I > a teoria > Disciplinas relacionadas com a inovação (versão 1.2)
Autoria: Henrique Rozenfeld (roz@usp.br)

Você está em: flexM4I > a teoria > Disciplinas relacionadas com a inovação
O conteúdo da flexM4I está dividido por níveis de detalhamento e você pode navegar por trilhas. Entenda.

Disciplinas relacionadas com a inovação

São várias disciplinas relacionadas, uma vez que a inovação é multidisciplinar

Este capítulo é um ensaio, uma obra de reflexão subjetiva e, portanto, enviesado e baseado no nosso repertório. Como já dissemos, a inovação é multidisciplinar, ou seja, ela se relaciona com muitas disciplinas.

Disciplina, abordagens, práticas, princípios e processos

Segundo a ABPMP (2013),

Disciplina é um conjunto de conhecimentos que trata de princípios e práticas comumente aceitas em uma área específica de assunto”.

Mas estamos utilizando um significado mais amplo de disciplina como sendo “um ramo do conhecimento” (Princeton, 2010), que abrange abordagens, práticas e princípios.

Leia mais sobre a relação do termo “disciplina” com os demais termos adotados na flexM4I no link abaixo

Termos que indicam tipos de conteúdos da flexM4I

O objetivo deste capítulo é ilustrar a multidisciplinaridade da inovação sem uma intenção de precisão nas representações.

A inovação integra o uso de princípios e práticas de muitas disciplinas.

Montamos a figura a seguir, que procura representar as abrangências das disciplinas relacionadas com a inovação para destacar as superposições e complementaridades. Inserimos nela a inovação micro e macro. A inovação micro envolve o ponto de vista da empresa e seu ecossistema (foco da flexM4I). A inovação macro trata do ponto de vista de uma região ou país; das políticas públicas etc.

Essa representação da abrangência não tem nenhuma base científica. É um exercício puramente ilustrativo. Às vezes colocamos disciplinas inseridas dentro da inovação, que podem  ter escopos mais amplos. Essa figura também pode estar incompleta, pois não fizemos uma busca exaustiva de disciplinas. Consideramos o empreendedorismo como uma abordagem dentro da disciplina de inovação, por isso é que não está destacado na figura.

Não se consegue enxergar cada uma das abrangências nessa figura.  A ideia é destacar em figuras separadas algumas dessas disciplinas para apresentar as relações entre elas.

Inovação, design e engenharias

Na figura a seguir, a abrangência das disciplinas de design e engenharias estão relacionadas com a inovação de uma forma qualitativa.

Atenção: essa figura é ilustrativa e os posicionamentos relativos, que representam as abrangências das disciplinas, não são precisos. O objetivo é discutir a multidisciplinaridade da inovação.

O design tem o foco na criação de artefatos e soluções para a humanidade e, de certa forma, pode ser considerado um “sinônimo” da inovação micro. Em um senso comum, o design está voltado para os momentos iniciais da Inovação, que é aquele momento do entendimento da situação atual, da inspiração, criatividade e uso da intuição, com base nos repertórios individuais dos inovadores. É quando ideias e hipóteses de soluções são geradas para aproveitar as oportunidades ou para resolver problemas existentes.

As engenharias representam áreas tecnológicas e também criam artefatos e soluções. Dentro do nosso entendimento, as áreas de engenharias atuam de forma integrada com o design, nos momentos iniciais de desenvolvimento. Mas na fase de detalhamento e testes de soluções mais complexas, as áreas de engenharia possuem práticas, métodos e técnicas que vão além do escopo do design.

A inovação, portanto, abrange o design e as engenharias.

Exemplos de engenharias

As engenharias, que são voltadas para aplicação dos conhecimentos básicos na criação de artefatos e soluções, foram se diversificando dos temas iniciais e hoje cobrem uma gama bem grande de áreas de atuação.

Exemplos de engenharias:

  • engenharia acústica;
  • engenharia aeronáutica;
  • engenharia aeroespacial;
  • engenharia agrícola;
  • engenharia agronômica;
  • engenharia ambiental;
  • engenharia biomédica;
  • engenharia bioquímica;
  • engenharia cartográfica;
  • engenharia civil;
  • engenharia da computação;
  • engenharia de agrimensura;
  • engenharia de alimentos;
  • engenharia de aquicultura;
  • engenharia de bioprocessos;
  • engenharia de biosistemas;
  • engenharia de controle e automação;
  • engenharia de energia;
  • engenharia de fabricação;
  • engenharia de horticultura;
  • engenharia de instalações de superfície;
  • engenharia de manufatura;
  • engenharia de materiais;
  • engenharia de minas;
  • engenharia de mobilidade;
  • engenharia de pesca;
  • engenharia de petróleo e gás;
  • engenharia de produção;
  • engenharia de redes de comunicação;
  • engenharia de segurança do trabalho;
  • engenharia de sistemas;
  • engenharia de software;
  • engenharia de telecomunicações;
  • engenharia de transportes;
  • engenharia elétrica;
  • engenharia eletrônica;
  • engenharia física;
  • engenharia florestal;
  • engenharia hidráulica;
  • engenharia hídrica;
  • engenharia Industrial;
  • engenharia mecânica;
  • engenharia mecatrônica;
  • engenharia metalúrgica;
  • engenharia naval;
  • engenharia nuclear;
  • engenharia química;
  • engenharia sanitária;
  • engenharia têxtil.

Em todas essas engenharias podem ser criados artefatos e soluções, com base nas práticas de inovação e design e partindo dos conhecimentos das ciências básicas. Essas disciplinas tratam de várias tecnologias, como as listadas neste link.

Inovação e ciências básicas naturais e exatas

Na próxima figura ilustramos a intersecção entre inovação e as ciências básicas naturais e exatas.

Nas engenharias, vários métodos e ferramentas que são utilizadas vêm das ciências básicas.  Das ciências básicas resultam novas tecnologias que revolucionaram as engenharias, pois oferecem mais oportunidades e potencial para novas criações de produtos e serviços. Da mesma forma, o design aproveita o potencial de novas tecnologias para poder criar artefatos e soluções que proveem valor para usuários e clientes. Como a inovação abrange as disciplinas de design e engenharias, as ciências básicas influenciam diretamente as inovações. Na verdade, grande parte das inovações disruptivas aconteceram a partir da criação de novos materiais e novas tecnologias.

Atenção: essa figura é ilustrativa e os posicionamentos relativos, que representam as abrangências das disciplinas, não são precisos. O objetivo é discutir a multidisciplinaridade da inovação.

Exemplos de ciências básicas naturais e exatas

Podemos considerar como ciências básicas naturais a astronomia, biologia, física, química, ciências da terra, como geologia e oceanografia.  Essas áreas estão cada vez mais interdisciplinares. Assim, surgem novas áreas, que combinam as anteriores, tais como: astrofísica, biofísica, físico-química, astroquímica, geoquímica e outras.

As ciências ambientais abrangem também várias áreas e tem o objetivo de estudar as interações dos componentes físicos, químicos, e biológicos com o ambiente. Nesse caso, o foco é sobre os efeitos das atividades humanas e seu impacto na biodiversidade do planeta (sustentabilidade ambiental). A sustentabilidade também está integrada com as áreas de economia, direito e ciências sociais.

Na classificação de ciências exatas estão basicamente a matemática e a estatística. Mas como as áreas de física e química utilizam modelos quantitativos baseados em matemática e estatística, essas áreas também são consideradas exatas. Na verdade, não faz muito sentido usar a classificação de exatas para uma área além da matemática, que é um instrumento utilizado por todas as outras áreas de conhecimento básico. Por isso, enfatizamos o uso do termo “ciência básica”.  

Inovação, marketing, administração e ciências contábeis

Acrescentamos as disciplinas de administração e marketing à figura da inovação, design e engenharia.

Atenção: essa figura é ilustrativa e os posicionamentos relativos, que representam as abrangências das disciplinas, não são precisos. O objetivo é discutir a multidisciplinaridade da inovação.

Mostramos assim, a superposição das práticas que existem entre essas disciplinas com o design e as engenharias. Várias técnicas de marketing são utilizadas, por exemplo, para se conhecer melhor o mercado (clientes, concorrentes); para se definir as estratégias de marketing, que terão de ser aplicadas pós-desenvolvimento, como comercializar as soluções, realizar propaganda etc. Só que o marketing é muito mais abrangente que isso.

Já área de administração envolve: gestão financeira com contabilidade de custos, gestão de marketing (gestão com uma superposição óbvia com marketing), logística, planejamento estratégico, gestão dos recursos humanos, comercialização, planejamento e controle da produção, governança da informação, pesquisa e inteligência de mercado, vendas, gestão de fornecedores e parceiros, gestão da tecnologia, compras e suprimentos e até gestão ambiental.

Ciências contábeis é considerada uma outra disciplina, que muitos enquadram dentro da administração. Ela inclui a gestão financeira com contabilidade de custos, legislação tributária (com superposição com direito), orçamento empresarial, auditoria, gestão de riscos. 

Veja que a representação não é exata.

Algumas comunidades consideram que a criação de produtos e serviços (uma das principais funções da inovação) faz parte do escopo da disciplina de marketing. Sempre existe o viés de uma disciplina.

Muitas práticas de marketing estão dentro da disciplina de administração. Porém, o marketing está consolidado como uma disciplina bem abrangente com superposições com a administração.

Inovação, marketing, microeconomia, direito, psicologia e sociologia (ciências sociais)

Na próxima figura tiramos a representação da abrangência do design e das engenharias da figura anterior. Acrescentamos as quatro disciplinas do título deste tópico, que estão intimamente ligadas com marketing e administração no contexto da Inovação.

Atenção: essa figura é ilustrativa e os posicionamentos relativos, que representam as abrangências das disciplinas, não são precisos. O objetivo é discutir a multidisciplinaridade da inovação.

A microeconomia trata da alocação de recursos que são escassos para se atingir um objetivo. Ela considera o comportamento econômico individual dos consumidores e das empresas, assim como a distribuição da produção e do rendimento entre eles. A microeconomia analisa o mercado e outros mecanismos para estabelecer preços relativos entre produtos e serviços e, com isso, definir quais são os recursos que existem do ponto de vista individual ou na sociedade para a obtenção desses produtos e serviços. Ela também explica como é gerado o preço final desses produtos e serviços. As abordagens de precificação fazem também parte do escopo de marketing, segundo vários autores.

A microeconomia também analisa os  fatores de produção, que devem estar em equilíbrio, considerando uma competição perfeita. No tema das externalidades, a  microeconomia estuda como os mercados consideram os benefícios e custos sociais, tais como impactos ambientais.

Existe uma grande superposição entre alguns aspectos de microeconomia, administração e ciências contábeis, tais como economia financeira , economia industrial, economia da informação, economia do trabalho e economia gerencial.

A disciplina de direito também possui uma superposição com as áreas de inovação, administração, marketing e microeconomia, como mostra a figura. Isso ocorre principalmente nos temas relacionados com leis, que regulam as relações de mercado. O direito trata também da propriedade Industrial, do ponto de vista jurídico. Este  é uma dos fatores de competitividade e, portanto, essenciais para a inovação. O estabelecimento de contratos também dependem da área jurídica.

Psicologia e sociologia são áreas que explicam o comportamento das pessoas que inovam visando criar ambientes e pessoas criativas e colaborativas. Questionam o racionalismo e a sistematização, principalmente nas fases iniciais da inovação. Práticas da sociologia são aplicadas com marketing e design para entendimento dos clientes, por meio, por exemplo, da observação empática ou etnografia..

Práticas da psicologia também são usadas em marketing para gerar valor para os stakeholders, desenvolver marca e avaliar a jornada do consumidor desde o momento da assimilação (quando ele toma conhecimento da marca), atração (a atitude perante a oferta), arguição (prática da era digital em que outros atores são consultados), até a ação de compra e apologia (divulgação da satisfação com o produto ou serviço adquirido).  marketing e design para melhorar o entendimento dos clientes e usuários.

Inovação e exemplos de áreas de aplicação: ciências básicas, medicina, agricultura, serviços e educação

Mostramos anteriormente o impacto que as ciências básicas têm na inovação em diversas disciplinas. Agora discutimos a inovação dentro das ciências básicas, ou seja, como inovar nas ciências básicas. Normalmente, essas áreas desenvolvem investigações  e criam soluções e tecnologias que não são voltadas diretamente à aplicação prática. Mas elas mudam paradigmas que muitas vezes permitem que inovações disruptivas possam ser realizadas a médio prazo . O tempo de entrada dessas tecnologias no mercado (time to market) é cada vez maior. As ciências básicas podem fazer uso de práticas de gestão da inovação e design.

A medicina, agricultura, serviços e educação são áreas de aplicação da inovação. Hoje em dia, essas disciplinas estão passando por revoluções causadas por inovações disruptivas, muitas das quais por meio da digitalização.

A disciplina de serviços é muito ampla e envolve, por exemplo, seguros, bancos e alimentação. A disciplina educação é destacada porque influencia todas as outras áreas, já que a formação de pessoas passa pela educação. Por outro lado, o ensino e aprendizagem mudam de paradigma baseados na aplicação de tecnologias de educação.

Uma comprovação da importância da inovação para essas disciplinas é a quantidade de startups que surgem ultimamente. São as fintechs, healthtechs, agritechs, edutechs e outras.

Atenção: essa figura é ilustrativa e os posicionamentos relativos, que representam as abrangências das disciplinas, não são precisos. O objetivo é discutir a multidisciplinaridade da inovação.

Inovação macro, macroeconomia, políticas públicas, sustentabilidade e ecologia

Veja a figura inicial deste capítulo, que repetimos a seguir.

Atenção: essa figura é ilustrativa e os posicionamentos relativos, que representam as abrangências das disciplinas, não são precisos. O objetivo é discutir a multidisciplinaridade da inovação.

A inovação macro está relacionada com a macroeconomia, com políticas públicas para incentivo e fomento da inovação.  A discussão sobre essas disciplinas não é o foco da flexM4I. Contornando e abrangendo todas as áreas na figura, você pode observar a  sustentabilidade e a ecologia, que na são disciplinas transversais que influenciam todas as demais disciplinas, como destacado no módulo 3 do capítulo “o que é inovação?”.

Informática e comunicação: transformação digital

Na próxima figura, ilustramos como a transformação digital é transversal e abrange todas as disciplinas.  A digitalização está revolucionando as disciplinas e criando oportunidades para a criação de novas soluções que aumentam a eficiência e a eficácia da maior parte das práticas de todas as disciplinas. Devido a sua importância, apresentamos uma abordagem específica sobre digitalização (em construção) e sempre citamos a influência da digitalização na descrição das práticas de gestão da inovação em todos as seções da flexM4I.

Articulação e Integração entre as os princípios e práticas das disciplinas

A flexm4i trata de inovação. Portanto, listamos disciplinas relacionadas com a inovação. Se este livro fosse sobre marketing, por exemplo, poderíamos ter invertido a apresentação ao listar as disciplinas relacionadas com o marketing. A inovação seria uma delas.

Disciplina é um ramo do conhecimento. Portanto, consideramos inovação com uma disciplina com suas práticas, processos e princípios baseados em várias abordagens, metodologias, métodos e ferramentas, que se sobrepõem a essas outras disciplinas.

Assim, como no capítulo de gestão da inovação propusemos que, na articulação da gestão da inovação com outras abordagens, ela seja “desconstruída” e integrada às outras abordagens, recomendamos algo semelhante com as disciplinas. O importante é você conhecer os princípios e as práticas para poder articular sua integração, não importa de qual disciplina (uma vez que uma mesma prática pode pertencer a mais de uma disciplina)

A articulação e integração dos princípios e práticas de inovação iniciam com uma visão holística de quais disciplinas estão relacionadas com a inovação (objetivo deste capítulo) para depois seguir as recomendações que estão na seção “como configurar a gestão da inovação?”.

Tenha a visão sistêmica das perspectivas da empresa e seu ecossistema e siga na sua jornada de inovação para melhorar cada vez mais suas capabilidades dinâmicas e ordinárias relacionadas com essas disciplinas.

Referências

ABPMP (2013). CBOK v3.0 – Guide to the Business Process Management Common Body of Knowledge. 3. ed. Indiana: Association of Business Process Management Professionals. Disponível em: www.abpmp.org.

Princeton University. WordNet. 2010. Disponível em: https://wordnet.princeton.edu/ Acesso em: 25 set. 2021

#printfriendly a { color: blue !important; text-decoration: underline !important; } #printfriendly i, #printfriendly em { color: purple !important; } @media print { .break-page-before { page-break-before: always !important; } h1 { page-break-before: always !important; font-size: 32px !important; } div.no-page-break-before h1, div.no-break-page-before h1 { page-break-before: avoid !important; } }