Gates (revisões de fases) de projetos

Introdução e definição

Gate, cuja tradução literal é “portão” é uma revisão de fase de um projeto. É uma prática que começou a ser divulgada na gestão de projetos de desenvolvimento de produtos. Usamos ainda o termo “gate” em inglês, pois ele se tornou um jargão conhecido na área de gestão do desenvolvimento de produtos e, consequentemente, da gestão da inovação.

Segundo Cooper (2017), gates são pontos de revisão e decisão em projetos — momentos críticos no modelo Stage-Gate© de desenvolvimento, onde são tomadas as decisões de continuar ou cancelar (Go/Kill). Nos gates, a gerência avalia os projetos, aprova e define suas prioridades, aloca os recursos necessários e interrompe projetos que não apresentam viabilidade, evitando o desperdício de recursos adicionais.

Em uma publicação mais recente da empresa Stage-Gate Inc., as decisões são (Jones, 2024):
– Go – aprovar (a empresa continua a investir no projeto)
– Kill – cancelar (a empresa pára de investir no projeto)
– Recycle – redirecionar (a empresa obtém mais informação para poder continuar a investir)
– Hold – segurar (a empresa aguarda a disponibilidade de fundos que estão pendentes para continuar a investir no projeto)Leia mais a frente  o tópico sobre “Possíveis decisões no gate”.

Em outras palavras, a empresa decide se continua a investir, ou não, no desenvolvimento daquele projeto (quando não for sob encomenda). No gate é avaliado se as entregas desejadas ou os critérios de aprovação da fase foram atingidos. Esses critérios podem ser critérios de aceitação das entregas, obrigações contratuais, metas de desempenho específicas ou outro resultado tangível mensurável.

O conceito de gate foi difundido juntamente com processo stage-gate ©, publicado no livro “Winning at New Products” em 1986 de Robert G. Cooper (Cooper, 1986). A definição que citamos acima é da versão do mesmo livro de 2017. Este conceito vem evoluindo, juntamente com processo stage-gate ©, como mostram as diversas publicações de Cooper.

Há críticas sobre a prática de gates de projetos, principalmente após a popularização da gestão ágil de projetos. Listamos as principais críticas e mostramos que existem premissas, cuidados e dicas para a aplicação de gates, que podem ser úteis para a diminuição de riscos no desenvolvimento de projetos, que respondem às críticas levantadas.

Exemplos de publicações de Robert Cooper

Para os usuários interessados no nível de detalhamento avançado.

Listamos aqui algumas publicações, que mostram a evolução do conceito de gates, após a publicação da primeira versão do livro de Robert Cooper (Cooper, 1986).

Cooper, R. G. (1988). The new product process: A decision guide for management, Journal of Marketing Management, 3:3, 238-255, DOI: 10.1080/0267257X.1988.9964044 

Cooper, R. G. (2009). How companies are reinventing their idea-to-launch methodologies. In Research Technology Management (Vol. 52, Issue 2, pp. 47–57). https://doi.org/10.1080/08956308.2009.11657558

Cooper, R. G., & Edgett, S. J. (2012). Best Practices in the Idea-to-Launch Process and Its Governance. Research-Technology Management, 55(2), 43–54. https://doi.org/10.5437/08956308X5502022

Cooper, R. G. (2016). Agile – Stage-Gate Hybrids: The Next Stage for Product Development. Research-Technology Management, 6308(January), 21–28. https://doi.org/10.1080/08956308.2016.1117317

Cooper, R. G., & Sommer, A. F. (2016). Agile-Stage-Gate: New idea-to-launch method for manufactured new products is faster, more responsive. Industrial Marketing Management, 59, 167–180. https://doi.org/10.1016/j.indmarman.2016.10.006 

Cooper, R. G. (2022). The 5th Generation Stage-Gate Idea-to-Launch Process. IEEE Engineering Management Review.

Terminologia

O processo stage-gate© tem uma marca registrada, e por essa razão, não podemos utilizar esse termo para conotar outros modelos de processo. A tradução “estágio” (tradução literal de “stage”) não é frequentemente usada no Brasil no contexto de modelos de processo. Aqui é comum ter modelos de processo divididos em fases. Porém, o termo “fase” é um conceito utilizado na gestão de projetos, ou seja, quando o processo de referência for instanciado em um projeto. Mesmo assim, continuamos a intitular a divisão de processos de referência em fases.

Um termo em português que poderia ser usado para gates é “revisão de fase” (de projetos).

Gates em projetos ou em processos?

Os processos de desenvolvimento de produtos (documentados em um modelo de referência, por exemplo) definem os gates.

Um projeto de desenvolvimento de produtos é uma instância do processo. Os projetos, portanto, executam os gates previstos no processo.

Definir antes a fase ou o gate?

Para os usuários interessados no nível de detalhamento avançado.

Quando for desenvolver um modelo de processo para a sua empresa, você pode se perguntar se definimos primeiramente o gate ou a fase.

Resposta: É o gate!

Em outras palavras, definimos inicialmente quais as entregas que desejamos avaliar.

Uma vez definidas quais são as entregas, que consideramos importante agrupar para avaliar, o gate é determinado. 

Já mostramos do glossário que o conceito de fase é associado com a gestão de projetos. Segundo o PMI (2017), “fase é um conjunto de atividades de projeto logicamente relacionadas que culmina na conclusão de uma ou mais entregas” (PMI, 2017).

 A fase agrega as atividades que produzem essas entregas.

Na revisão de fase (gate) acontece a revisão e a aprovação (ou não) dessas entregas da fase.

Cuidado!!

Existem modelos de referência de processos de desenvolvimento de produtos ou inovação, que definem fases e gates. Quando você for criar o processo da sua empresa, você não deve adotar essa divisão em fases desses modelos. Você deve entender o modelo, adotar como inspiração, adaptar (tailoring) para a sua realidade e definir quais conjuntos de entregas sua empresa deve avaliar para decidir se continua ou não a investir naquele projeto.

Por exemplo, em projetos de desenvolvimento de produtos complexos (sistemas), cada vez mais é possível prototipar o produto de forma virtual. Assim, uma empresa, que esteja desenvolvendo produtos com essas características, pode dividir uma “fase de projeto detalhado” (que está especificada em um modelo de referência) em duas:
fase de detalhamento e teste virtual: normalmente devemos integrar os testes (design reviews) dentro das fases de detalhamento. A prototipação e testes de modelos virtuais pode ser mais barata em produtos complexos, se comparada com a construção de um protótipo funcional. Então, as entregas dessas atividades (especificações, modelos virtuais do produto e análises de simulações desses modelos), devem ser avaliadas para se aprovar (ou não) a continuidade do desenvolvimento. Assim, essas entregas determinam uma fase específica para a sua criação.
fase de teste de protótipo funcional: após a aprovação da fase anterior, a empresa investe valores significativos para a construção e teste de protótipos funcionais. Ou seja, somente após a aprovação dos protótipos virtuais (design review) e da fase anterior (gate), a empresa tem segurança em investir na construção de protótipos caros.

Um exemplo são os produtos aeronáuticos. Hoje em dia, o desenvolvimento de uma aeronave envolve a criação de modelos virtuais dos sistemas e da aeronave. São então realizadas simulações e testes com esses modelos, assim como ajustes,  até a sua aprovação. Somente após essa fase é que é construído um protótipo físico da aeronave.

Do desenvolvimento de produtos à inovação

Como vimos, o modelo Stage-Gate© foi introduzido com o objetivo de organizar o processo de desenvolvimento de novos produtos, dividindo-o em etapas bem definidas (stages) e pontos de decisão, as revisões de fases  (gates).

O foco inicial era melhorar a eficiência, controle e qualidade no desenvolvimento de produtos físicos, particularmente em setores de manufatura. Cada fase era composta por atividades específicas e cada gate servia como um ponto para avaliação de go/kill, garantindo que os projetos seguissem adiante apenas se cumprissem certos critérios.

À medida que as empresas começaram a enfrentar desafios mais complexos e dinâmicos, o modelo Stage-Gate passou a ser aplicado em projetos de inovação, não apenas limitados a produtos físicos, mas também em serviços, processos e modelos de negócio.

No contexto de inovação, o Stage-Gate© oferece uma estrutura para organizar a incerteza, equilibrando a necessidade de explorar novas ideias com a disciplina de avaliar e investir progressivamente, o que é essencial para reduzir riscos em projetos inovadores.

Para lidar com o ambiente de inovação, que exige mais flexibilidade, o modelo foi ajustado e hibridizado com metodologias iterativas como Agile, Design Thinking e Lean Startup. Isso permitiu que o Stage-Gate se tornasse menos rígido e mais adaptável a projetos onde a experimentação e a validação contínua são críticas.

No tópico “Por que devemos utilizar os gates”, mostramos características da prática de gates que devem ser consideradas para a sua aplicação em projetos de inovação.

No final desta seção, no tópico “Aplicação de gates em modelos híbridos de inovação”, apresentamos os resultados de um estudo recente sobre a utilização de gates. 

Quando você deveria utilizar gates de projetos

  • Projetos complexos e de longo prazo: Gates são especialmente úteis em projetos com ciclos de desenvolvimento extensos e alta complexidade, como aqueles em indústrias de tecnologia, automotiva, farmacêutica ou de engenharia pesada. Eles ajudam a garantir que o progresso esteja de acordo com as expectativas e que as metas estratégicas sejam alcançadas em cada fase do projeto.
  • Não aplicar nas fases iniciais de projetos inovadores: Durante o desenvolvimento de produtos inovadores, especialmente nas fases de discovery e prototipagem, a utilização de uma sistemática rígida de gates pode comprometer a flexibilidade e agilidade necessárias. Nessas etapas, é importante focar em testar hipóteses rapidamente e iterar com base nos aprendizados, sem o peso de decisões “Go/Kill” formais. Isso permite que o projeto avance com maior liberdade, explorando o potencial de inovação sem as limitações impostas pelos gates.
No caso de desenvolvimento de múltiplas inovações, os resultados das fases iniciais são comparados com os resultados de outros projetos para confirmar ou não as prioridades definidas no planejamento do portfólio.
  • Inovações em setores regulamentados: Em setores regulamentados, como saúde, aeroespacial, automotivo, farmacêutico, alimentos ou financeiro, após as fases iniciais de conceituação e prototipagem, é essencial implementar gates nas fases de detalhamento e testes. Nesses casos, os gates garantem que os requisitos de agências reguladoras sejam cumpridos e que o projeto avance de forma segura e controlada, atendendo às exigências legais e de conformidade necessárias para o lançamento do produto.
  • Portfólio de múltiplos projetos: Em organizações com um portfólio de vários projetos simultâneos, os gates ajudam a priorizar quais devem continuar recebendo recursos, garantindo que os projetos mais promissores tenham as maiores chances de sucesso, evitando o desperdício de recursos em projetos inviáveis. Mas não são todos os projetos que devem aplicar os gates, mas somente aqueles que exigem muitos recursos.

Em algumas empresas que aplicam com excelência a gestão de portfólio, são definidos períodos específicos para avaliação simultânea desses projetos mais significativos. Por exemplo, a cada trimestre. Não se aplica então gates para cada projeto.

O portfólio de projetos deve ser “ótimo” e não os projetos individuais.

Nesses “gates” os projetos do portfólio são novamente comparados entre si.

Por que você deveria utilizar gates em projetos

  • Avaliar a viabilidade em cada fase: Gates oferecem uma forma estruturada de verificar, em momentos-chave, se o projeto continua viável em termos financeiros, técnicos e de mercado. Isso reduz o risco de investir em projetos que possam falhar no futuro.
  • Alocar e redirecionar recursos de forma estratégica: Como os recursos são limitados, os gates permitem uma alocação mais eficiente, concentrando pessoas, tempo e orçamento nos projetos com maior chance de gerar valor e sucesso. Ao eliminar projetos inviáveis, os gates também liberam recursos para iniciativas mais promissoras e estratégicas.
  • Facilitar a tomada de decisões rigorosa: O processo de gates força uma análise mais profunda e disciplinada, facilitando decisões “Go/Kill” baseadas em dados concretos e critérios claros, em vez de decisões subjetivas ou impulsivas. 
No entanto, como veremos mais adiante, as decisões devem ser rigorosas; caso contrário, os gates serão desacreditados e será um desperdício aplicar essa prática.
  • Promover transparência e alinhamento: O uso de gates proporciona um ponto de verificação para todas as partes interessadas, promovendo alinhamento entre as equipes e garantindo que todos compreendem o estado do projeto e os próximos passos.
  • Evitar retrabalho e surpresas: Ao revisar o andamento do projeto em várias fases, os gates ajudam a identificar problemas e riscos antecipadamente, garantindo que os projetos não avancem com falhas significativas. Isso evita retrabalho, atrasos imprevistos e potenciais perdas financeiras mais adiante.
  • Aumentar o foco nos projetos com maior potencial: Por meio da aplicação da prática de gates, as empresas podem garantir que equipes e recursos estejam concentrados em alguns projetos, que estejam alinhados com os critérios de avaliação do portfólio de projetos. Isso foca o investimento em projetos de alto impacto, em vez de diluir o foco entre muitas iniciativas de menor valor.

O foco nos projetos com maior potencial precisa ser equilibrado, pois nem sempre os investimentos devem ser focados somente em projetos com elevada probabilidade de retorno e lucratividade (no curto prazo).

Devemos aplicar o conceito de gestão de portfólio, a ambidestria organizacional e a considerar os três horizontes de inovação e crescimento (H1, H2 e H3).

Projetos exploratórios (exploration) do horizonte H3 podem não trazer um retorno a curto prazo, mas podem ser essenciais para garantir a sobrevivência futura dos negócios.

  • Diminuição dos riscos: Toda inovação está associada a incertezas que muitas vezes pode ser mensurada como riscos. Em última análise, todas as razões listadas anteriormente levam a uma potencial diminuição de riscos do projeto. A utilização de critérios de aprovação de fases, assim como a participação de avaliadores com diversos pontos de vista, pode prevenir riscos de diversos tipos, tais como, de tecnologia, de mercado, de investimento etc. A avaliação contínua da viabilidade das iniciativas ajuda a interromper projetos que não têm perspectivas claras de sucesso.

Evolução da revisão de fases

Nos primórdios da gestão de projetos, a passagem de uma fase de projeto para outra era aprovada se as atividades planejadas tinham sido realizadas. Posteriormente, a qualidade dos resultados dessas atividades (as entregas) eram avaliadas / verificadas. Ou seja, as entregas deveriam estar de acordo com os requisitos do produto final do projeto. Porém, como algumas entregas intermediárias em um projeto de desenvolvimento de produtos não estão diretamente ligadas com os requisitos finais do produto do projeto, novos critérios eram determinados (Rozenfeld et al., 2006)..

“A geração mais recente da sistemática de gates considera ainda o valor do projeto perante os demais projetos da empresa, ou seja, responde à seguintes questões básicas e cruciais para a continuidade do projeto: As atividades foram cumpridas, os resultados estão dentro dos previstos, mas será que ocorreram mudanças no mercado (necessidade dos clientes, concorrência e condições econômicas) que inviabilizaram o sucesso do produto e, portanto, a continuidade desse projeto? Se sim, deveríamos, então, investir os nossos recursos e esforços em outros projetos? Em outras palavras, coloca-se a perspectiva de negócio na avaliação do projeto para garantir que ele esteja sempre alinhado às estratégias da empresa, pois, afinal de contas, foram com base nelas que se definiu o portfólio de produtos/projetos” (Rozenfeld et al., 2006).

A prática de gate está associada com a avaliação / acompanhamento do portfólio de projetos em um contexto mais amplo da gestão de portfólio.

Revisão de fase versus revisão técnicas (design review)

Não confundir as revisões de fase (gates) com revisões técnicas (design reviews). Estamos tratando nesta seção de gates, que é uma prática gerencial.

Os design reviews avaliam aspectos técnicos do que está sendo desenvolvido. Elas podem abranger (entre diversos tipos revisões):

  • a simulação do comportamento de um produto perante variáveis de uso (por exemplo por meio de técnicas de design of experiments; simulações numéricas; etc.)
  • a avaliação da aceitação do produto por usuários por meio da técnica de focus group
  • a aplicação do FMEA (failure mode and effect analysis) para analisar possíveis falhas potenciais

Os resultados dessas avaliações podem exigir um retrabalho para se corrigir os desvios técnicos. Ações de correção podem ser acionadas.

O resumo dos resultados dessas revisões pode ser usado como um dos critérios para um gate. Por exemplo, a aceitação do produto deve ser elevada e ele é relevante para o grupo de usuários alvo da inovação.

Critérios dos gates

Um dos fatores de sucesso da aplicação da prática de gates é a definição de critérios claros e multidimensionais. Esses critérios não devem se limitar apenas aos aspectos técnicos do produto, mas também incluir questões estratégicas, de marketing, manufatura, finanças e qualidade. A abrangência desses critérios é essencial para garantir que todos os aspectos importantes sejam considerados na avaliação do projeto.

Além disso, é fundamental incluir critérios que avaliem a relevância contínua do projeto dentro do portfólio de projetos da empresa. Isso significa analisar se o projeto continua alinhado com as prioridades estratégicas e os recursos disponíveis, e se ele ainda é competitivo em relação a outros projetos em desenvolvimento. Essa avaliação garante que os recursos da empresa sejam direcionados aos projetos mais promissores e relevantes, evitando desperdício de esforço em iniciativas que possam ter perdido valor frente a novas oportunidades ou mudanças de mercado.

Esses critérios devem ser adaptados no início de cada projeto e revisados a cada gate da fase anterior, assegurando que o desenvolvimento permaneça alinhado com os objetivos do negócio, as condições de mercado e a gestão eficaz do portfólio de inovação.

Veja o processo de gate para entender quando devemos revisar os critérios de cada um dos gates.

Os critérios quantitativos estão associados a indicadores de medição de progresso do projeto e indicadores que mensuram condições ou hipóteses de um projeto de desenvolvimento de produtos ou inovação.

Exemplos:

A evolução do technology readiness level (TRL) de uma nova tecnologia do produto. Para finalizar a fase de design detalhado de um produto, que utiliza uma nova tecnologia, a tecnologia deve estar nos níveis TRL 6 ou 7. Ou seja:

  • TRL 6 (Demonstração em ambiente relevante): A tecnologia já deve ter passado por testes de protótipo em um ambiente semelhante ao de operação real, com um protótipo totalmente funcional.
  • TRL 7 (Demonstração em ambiente operacional real): Para produtos de alta sensibilidade, como equipamentos médicos e aeronáuticos, espera-se que a tecnologia esteja nesse nível antes que se inicie a produção piloto e o lançamento do produto.

Isso evita que um produto seja lançado no mercado com uma tecnologia não madura, que pode resultar em falhas.

Leia mais na flexM4i sobre technology readiness level (TRL).

Outro critério seria o resultado da análise do product-market fit. Se ele não evoluiu para um nível mínimo, no gate devemos cancelar ou congelar o projeto de desenvolvimento até que o alinhamento e aceitação no mercado aumentem. O mesmo podemos afirmar para a comprovação da hipótese de mercado. Se ela não for comprovada, o produto não irá escalar, o que inviabiliza diversos projetos de inovação..

Alguns critérios podem tratar:

  • Verificação de prontidão: Avaliam se o projeto está pronto para passar pelo gate, verificando se as entregas e a integridade dos dados estão em ordem.
  • Viabilidade econômica: Analisam o valor do projeto, como o Valor Presente Líquido (NPV), para decidir sobre a continuidade ou priorização do projeto.
  • Plano de ação futura: Avaliam o plano de ação para a próxima etapa, os recursos necessários, a disponibilidade de recursos e a decisão de comprometê-los.

Diretrizes para a determinação dos critérios

A proposta de Rozenfeld et al. (2006), estabelece as seguintes diretrizes para a determinação dos critérios.

Definição conjunta dos critérios:

  • O time de desenvolvimento, em conjunto com o time de avaliação, define antecipadamente os critérios a serem utilizados em cada fase do projeto.
  • Critérios quantitativos devem ser ajustados e selecionados de um catálogo existente, focando nos mais relevantes para o projeto específico.

Antecipação na definição dos critérios:

  • A definição dos critérios deve ocorrer antes do gate, evitando que o time de desenvolvimento selecione apenas critérios que favoreçam a aprovação do projeto.
  • Geralmente, essa definição ocorre durante as atividades de planejamento do projeto e no gate anterior.

Critérios obrigatórios e opcionais:

  • A gestão do processo de desenvolvimento de produtos (PDP) deve identificar, dentro do catálogo de critérios, quais são obrigatórios e quais podem ser definidos pelo time de projeto, de acordo com a natureza do projeto e do critério.

Participação do time de desenvolvimento na definição:

  • A participação do time de desenvolvimento na escolha dos critérios permite maior transparência e clareza no processo de avaliação.
  • Isso garante que o time conheça os critérios de avaliação desde o início e foque em aspectos relevantes para a aprovação das fases do projeto, aumentando as chances de sucesso no gate.

Possíveis decisões no gate

Segundo a definição de gates que apresentamos no início desta seção, as decisões seriam continuar o projeto (go) ou não (kill).

Mas podemos também congelar um projeto em um gate para ser retomado no futuro ou aguardar a finalização de algumas atividades que estão atrasadas e remarcar um novo gate para aquela fase

A continuidade pode ser:

  • com aprovação total
  • com um redirecionamento (mudar de rumo) para corrigir algumas entregas ou
  • com a adição de novas atividades / entregas

Ou seja, as decisões de um gate podem ser (Rozenfeld et al., 2006):

  • aprovar a fase e continuar o projeto sem mudanças: a próxima fase é iniciada  e os resultados do gate são documentados (veja o próximo tópico “Registrando lições aprendidas”.
  • aguardar a finalização de algumas atividades atrasadas e remarcar o gate
  • congelar o projeto e aguardar um novo momento para continuar: pode ocorrer em razão de novas prioridades no portfólio. A continuação pode estar condicionada a um plano de ação da empresa ou mudança nas condições que levaram a essa condição (por exemplo, uma melhora na situação econômica do país).
  • redirecionar / mudar o projeto corrigindo (refazendo) algumas atividades / entregas ou adicionando novas atividades / entregas: alguns dos resultados não foram satisfatórios, mas uma recuperação é possível, e um plano de ação é preparado para ser realizado em paralelo com o desenvolvimento da próxima fase. Pode-se, então, realizar uma avaliação posterior dos resultados do plano de ação ou pode-se incorporar essa avaliação no próximo gate. 
  • cancelar o projeto: quando o projeto não cumpriu as atividades programadas, ou os resultados não são satisfatórios, ou, ainda, perante o portfólio, esse projeto não é mais atrativo, e não existe forma de recuperação. Não é fácil cancelar um projeto, principalmente por problemas culturais, mas deve ser feito quando necessário.

Basicamente, essas decisões são baseadas no cumprimento ou não dos critérios do gate e uma nova avaliação do portfólio de projetos

Registrar lições aprendidas

Em empresas que praticam a gestão do conhecimento, as decisões e lições aprendidas em um gate são documentadas para uma utilização posterior, a fim de evitar que os mesmos problemas ocorram no futuro.

Pode parecer uma atividade burocrática. Mas com a possibilidade de se recuperar informações não estruturadas, qualquer tipo de registro (textual, gráficos, figuras, áudio, vídeo etc.) e as próprias entregas da fase podem ser armazenados para consulta posterior. Um relato pode ser suficiente.

Porém, só registrar não é suficiente.

Exemplos:

Gestão ágil de projetos

Em organizações que adotam metodologias ágeis, durante a retrospectiva ao fim de cada sprint, os times discutem o que funcionou bem, o que poderia ser melhorado, e essas lições são registradas de forma simples, muitas vezes em um documento ou como anotações visuais (post-its ou quadros digitais). Essas informações são armazenadas e revisadas em sprints futuros.

Corpo de conhecimentos em gestão de projetos

Embora o PMBOK Guide – Project Management Body of Knowledge (PMI, 2017) trate de gerenciamento de projetos em geral, suas diretrizes são aplicáveis também à inovação, especialmente no que diz respeito à reutilização de conhecimento.

Essa 6a edição recomenda o uso do registro de lições aprendidas como parte do processo de encerramento do projeto, Porém, ele destaca a importância do registro constante de lições aprendidas e reflexões durante o desenvolvimento do projeto para o aprendizado contínuo da organização e não somente no encerramento.

Lean Startup

Eric Ries no seu livro Lean Startup (Ries, 2011) destaca o aprendizado como um dos pilares do desenvolvimento de startups (negócios de risco). Ele introduz o conceito de aprendizado validado.

“O aprendizado validado não é uma racionalização posterior ou uma história bem contada para encobrir o fracasso. É um método rigoroso para demonstrar progresso quando se está inserido no terreno de extrema incerteza em que as startups crescem. O aprendizado validado é o processo de demonstrar empiricamente que uma equipe descobriu verdades valiosas sobre as perspectivas atuais e futuras do negócio da startup” (Ries, 2011).

Este aprendizado não precisa ser registrado em documentos, mas pode fazer parte da socialização entre as pessoas para promover o aprendizado organizacional.

Aprendizado organizacional

Peter Senge, no seu livro “A Quinta Disciplina” (Senge, 2018), enfatiza que o aprendizado organizacional depende da prática contínua de disciplinas como pensamento sistêmico, domínio pessoal, modelos mentais, visão compartilhada e aprendizado em equipe. Sem o engajamento genuíno das pessoas com esses princípios, o aprendizado organizacional não se concretiza plenamente.

O propósito da empresa desempenha um papel central em engajar as pessoas, criando uma conexão entre o trabalho delas e algo maior, o que as motiva a participar ativamente do processo de aprendizado. Sem esse engajamento, mesmo que lições sejam registradas formalmente, elas correm o risco de serem esquecidas ou não aplicadas, tornando-se menos úteis. O valor das lições aprendidas não está apenas em registrá-las, mas em garantir que as pessoas absorvam, compartilhem e usem esse conhecimento para melhorar continuamente o desempenho da organização.

Portanto, o engajamento é fundamental para que o aprendizado organizacional não se limite a registros formais, mas se torne um processo ativo e contínuo que realmente transforma a organização. A própria socialização das pessoas pode contribuir para que as lições aprendidas sejam úteis para evitar a recorrência de problemas no futuro.

O engajamento das pessoas depende de vários fatores, tais como, propósito da empresa, estratégia, clima organizacional, cultura organizacional e outros.

Processo de gate

Descrevemos neste tópico um processo proposto por Rozenfeld et al. (2006), ilustrado na próxima figura. Este processo é um exemplo de uma sistemática de gate mais completa, que deve ser simplificada, conforme sugerimos no tópico “Premissas, cuidados e dicas”.

Figura 1222: Sistemática de gates do modelo de referência para desenvolvimento de produtos de Rozenfeld et al. (2006)

Neste exemplo o modelo de referência do processo de desenvolvimento de produtos possui um “catálogo” de critérios a serem aplicados nos gates.

Após a adaptação do modelo de referência para um projeto de desenvolvimento de um produto específico, os critérios de são inicialmente “adotados” com adaptações.

No final de cada fase, após a avaliação do gate, os critérios para o próximo gate são definidos.

Durante a avaliação ocorrem duas atividades:

  • uma autoavaliação do time de desenvolvimento do projeto, que passa pelos critérios e avalia se todos eles foram atendidos, para então se submeter à avaliação dos resultados da fase anterior pelo time de avaliação.
  • a avaliação do gate pelo time de avaliação com base em um relatório da autoavaliação (que pode ser uma apresentação e em algumas empresas já observamos como sendo um único slide) e, principalmente, pela evidências dos resultados. Neste momento, é tomada a decisão de aprovar, aguardar, congelar, redirecionar ou cancelar o projeto (veja o tópico “Possíveis decisões no gate”).

Observe que nesta proposta, existe um time de avaliação, que não é o time de desenvolvimento. Em empresas menores, este “time” pode ser composto pelos líderes não envolvidos diretamente com o desenvolvimento do projeto. Isso evita que o próprio time de desenvolvimento “esconda embaixo do tapete” as limitações dos resultados de acordo com os critérios, que poderiam causar um cancelamento do projeto. É difícil o próprio time de desenvolvimento cancelar o projeto que ele está desenvolvendo.

Somente os projetos mais relevantes (maior investimento, complexidade etc.) devem passar por gates mais completos.

No processo stage-gate©, este time de avaliação é denominado de “Gatekeepers”. 

Exemplo do resultado de um gate

Descrevemos aqui um caso real do gate de um projeto de desenvolvimento de uma impressora com capacidade de impressão simultânea dos dois lados da folha, que exigia um grande investimento em ferramental e para o lançamento mundial.

Neutralizamos a descrição deste caso para que a empresa não possa ser identificada.

Essa empresa enfrentou um dilema estratégico durante o gate de passagem da fase de projeto conceitual para a de design detalhado, na qual seriam desenvolvidos o ferramental e investimentos iniciais significativos seriam realizados.

A tecnologia inovadora e de alto custo prometia um grande volume de vendas, fundamentada em estudos de marketing que indicavam que ser o primeiro no mercado geraria um fluxo de caixa elevado, cobrindo os custos de desenvolvimento e garantindo um retorno expressivo, segundo análises do setor financeiro.

Apesar de o projeto estar adiantado em relação aos prazos estipulados, no momento da avaliação do gate, a equipe de inteligência de mercado revelou que o maior concorrente da empresa estava prestes a lançar um produto similar, utilizando a mesma tecnologia, com previsão de chegada ao mercado seis meses antes do lançamento planejado do primeiro lote piloto da nova impressora.

Além disso, este concorrente tinha a sua marca associada a impressoras, o que não era situação da empresa deste caso.

Essa notícia alterou drasticamente as perspectivas do projeto. Com a entrada do concorrente no mercado antes do esperado, o volume de vendas inicialmente projetado tornou-se inviável. Como o concorrente era mais conhecido no setor de impressoras, ele conseguiria com facilidade abocanhar uma grande parte do segmento do mercado-alvo. As consequências desta situação foram:

  • As premissas do estudo de viabilidade econômica mudaram, impactando negativamente as projeções financeiras.
  • Os indicadores de retorno sobre o investimento não seriam mais atingidos, o que resultaria em elevadas perdas financeiras.
  • A empresa deixaria de ser a primeira a lançar o produto, prejudicando sua imagem de inovadora no mercado.

Diante desse cenário, a empresa se viu forçada a considerar diversas alternativas estratégicas:

  • Cancelar o projeto imediatamente para evitar maiores prejuízos?
  • Transferir o desenvolvimento atual para outra empresa?
  • Redirecionar os esforços para uma linha de impressoras de baixo custo, cujo desenvolvimento havia sido interrompido por falta de recursos?

Essas decisões só puderam ser discutidas de forma adequada graças à revisão de fase proporcionada pelo processo de gate. Nesse contexto, aspectos técnicos, gerenciais e mercadológicos foram considerados em conjunto, além da posição do projeto em relação ao portfólio de produtos e projetos da empresa, garantindo que a melhor prática fosse seguida para tomar a decisão mais segura e estratégica.

Era melhor assumir os prejuízos das despesas já realizadas com o desenvolvimento até então, do que insistir e perder muito mais com a continuidade do desenvolvimento.

As decisões tomadas foram:

  • Cancelar o projeto
  • Sair do negócio de impressoras de baixo custo (SOHO Small Office/Home Office)

Críticas sobre os gates de projetos

Segundo Cooper (2017), os gates podem se tornar “fracos” quando

  • Faltam recursos: A gestão não aloca as pessoas e o orçamento necessários para os esforços de desenvolvimento de novos produtos, o que muitas vezes é consequência da falta de foco devido a avaliações inadequadas dos projetos.
  • Ausência de decisões difíceis: Os gates falham em tomar decisões “Go/Kill” rigorosas, resultando na ausência de priorização efetiva entre os projetos. Isso leva à continuidade de projetos que deveriam ser descartados.
  • Avaliações superficiais: Muitos pontos críticos de avaliação, desde a triagem inicial até a análise pré-lançamento, apresentam sérias falhas. Isso inclui a falta de critérios claros para a tomada de decisão e informações inadequadas para embasar as escolhas.
  • Inconsistência nas decisões: A tomada de decisão é inconsistente ou aleatória, resultando em um processo de avaliação que carece de estrutura e rigor. Isso torna o processo de gates pouco confiável e ineficaz para selecionar projetos de alto valor.
  • Impacto na prioridade dos projetos: A fraqueza dos gates resulta em uma incapacidade de definir prioridades claras, dispersando os recursos em projetos menos importantes e prejudicando o desempenho geral do portfólio de produtos.

Se em uma empresa, os gates nunca cancelam projetos, eles passam a ser desacreditados. Por que então investir esforços em realizar gates?

Cooper (2009) descreve casos de empresas que aplicavam a prática de “Gates without teeth” (literalmente traduzido como “gates sem dentes;). Essas empresas nunca cancelavam seus projetos nos gates. Uma vez aprovado o orçamento para o desenvolvimento do projeto, eles “iam até o fim”. Os gates aconteciam somente para “carimbar” os projetos, como se fossem reuniões para atualizar as pessoas sobre o andamento do projeto. O resultado dessa prática era uma grande quantidade de projetos em desenvolvimento paralelo, consumindo recursos finitos; desenvolvimento de projetos com baixa prioridade ou que não tiveram sucesso no mercado; poucos recursos para o desenvolvimento de projetos mais estratégicos.

Outras críticas à prática de gates são:

  • Excesso de burocracia: O processo de gates pode se tornar excessivamente burocrático, envolvendo demasiadas análises, documentação e reuniões. Isso pode atrasar a tomada de decisões e dificultar a agilidade necessária em ambientes de desenvolvimento rápido, especialmente em mercados altamente competitivos ou em setores onde a inovação é contínua.
  • Foco excessivo em métricas financeiras: Gates muitas vezes enfatizam indicadores financeiros, como retorno do investimento (ROI), valor presente líquido (NPV), payback ou taxa interna de retorno (TIR). Embora sejam importantes, esse foco pode levar à subestimação de outros aspectos críticos, como inovação disruptiva, valor estratégico ou benefícios a longo prazo que podem não ser imediatamente quantificáveis.Principalmente em desenvolvimentos mais inovadores, as incertezas são muitas e não se consegue montar um fluxo de caixa descontado minimamente confiável para se calcular essa métricas.
  • Rigidez do processo: O uso de gates pode resultar em uma abordagem excessivamente linear e rígida para o desenvolvimento de produtos. Projetos inovadores muitas vezes exigem flexibilidade, adaptações e iterações rápidas, o que pode ser comprometido se os gates forem tratados como barreiras fixas, em vez de pontos de ajuste e aprendizado.
  • Desincentivo à inovação radical: Projetos que representam inovações radicais ou disruptivas podem ser desconsiderados nos gates iniciais devido a riscos percebidos ou incertezas. A estrutura de avaliação pode favorecer projetos incrementais de menor risco, mas também de menor potencial de retorno, limitando a capacidade da empresa de inovar de forma significativa.
  • Foco em evitar falhas em vez de aprender: A cultura em torno dos gates pode incentivar uma mentalidade de “evitar falhas” em vez de “aprender com falhas.” Isso pode levar a uma abordagem defensiva na apresentação e avaliação de projetos, com equipes relutantes em relatar problemas ou assumir riscos necessários à inovação.
  • Subjetividade nas decisões: Apesar da tentativa de padronizar critérios de avaliação, as decisões nos gates podem ser influenciadas por vieses subjetivos, como opiniões pessoais dos avaliadores, política interna ou preferências de liderança. Isso pode resultar em inconsistência e decisões que não refletem objetivamente o potencial do projeto.
  • Falta de visão de longo prazo: O foco nos gates individuais pode fazer com que as equipes percam de vista a estratégia de longo prazo e a visão holística do portfólio de produtos. A avaliação fase a fase pode fragmentar o processo, dificultando a gestão integrada e o alinhamento estratégico dos projetos em desenvolvimento.
Este é um motivo para se aplicar gates somente para os projetos mais relevantes em uma avaliação conjunto de todo o portfólio desses projetos com uma certa frequência, como trimestralmente.
  • Desalinhamento entre áreas: Os gates muitas vezes requerem input de diversas áreas da empresa (marketing, finanças, P&D etc.), mas o processo pode não estar suficientemente alinhado para garantir uma avaliação coesa. Desentendimentos entre departamentos podem levar a avaliações confusas ou decisões conflitantes.

Premissas, cuidados e dicas

Essas premissas cuidados e dicas são divididas em três grupos:

  • dinâmica das reuniões de gate e a separação entre análise e tomada de decisão;
  • cuidados do time de avaliação (gatekeepers)
  • aplicação do gates, considerando as críticas listadas no tópico anterior.

Premissas, cuidados e dicas com a dinâmica das reuniões e decisões

Reuniões como atividade coletiva:

  • A realização de gates é um processo coletivo, conduzido por meio de reuniões.
  • O planejamento e a execução eficazes dessas reuniões são essenciais para o sucesso do modelo.

Importância da eficiência nas reuniões:

  • Reuniões improdutivas geram resistências.
  • O tempo dos técnicos e gerentes é um investimento significativo que deve resultar em decisões claras e objetivas.

Separação de análise e decisão:

  • As análises devem ser feitas por especialistas ou equipes especializadas.
  • Essas análises resultam em relatórios claros e planos de ação que serão apresentados nas reuniões decisórias.

Preparação para as reuniões decisórias:

  • Relatórios e resumos executivos devem ser distribuídos com antecedência para todos os participantes.
  • As reuniões decisórias, com a participação de gerentes e técnicos com poder de decisão, devem ser transparentes e objetivas.

Cuidados gerais com a produtividade:

  • As reuniões de gates seguem os mesmos cuidados aplicados a qualquer reunião de negócios.
  • É necessário redobrar a atenção ao risco de dispersão durante essas reuniões.

Evitar a dispersão:

  • Um problema comum nas reuniões de gates é a dispersão de foco.
  • Mistura de participantes: Gerentes e diretores focam no impacto geral do projeto, enquanto técnicos tendem a aprofundar discussões específicas de suas áreas.
  • Discussões técnicas detalhadas podem desviar o foco da decisão central.
  • Deve-se evitar que discussões técnicas ou conceituais desviem o propósito decisório da reunião, mantendo o foco nas ações necessárias.
Leia mais na flexM4i sobre como conduzir reuniões produtivas.

Cuidados do time de avaliação

De acordo com Cooper (2017), o time de avaliação `(gatekeepers)deve tomar os seguintes cuidados, ao participar de reuniões de gates (revisão de fases):

  • As reuniões de gate devem ser realizadas sem adiamentos ou cancelamentos. Se um avaliador não puder comparecer, seu voto deve ser considerado como “sim” ou deve enviar um substituto com autoridade plena para votar.
  • Estar preparado: todos os membros devem ter recebido, lido e analisado as informações antes da reunião. Caso identifiquem problemas críticos, devem ser comunicados ao facilitador do gate ou à equipe do projeto antes da reunião, evitando surpresas durante a apresentação.
  • Evitar solicitações de informações extras além do que foi especificado nas entregas definidas. As reuniões de gate não são o local para demonstrar poder político ou intelectual.
  • Respeitar o apresentador: a equipe deve ter o tempo necessário para apresentar sem interrupções, e as perguntas e respostas devem ser feitas de maneira justa e respeitosa.
  • Basear a decisão nos critérios estabelecidos: cada critério deve ser avaliado, e todos devem preencher suas fichas de pontuação na reunião.
  • Manter disciplina: agendas ocultas ou critérios invisíveis não devem influenciar as decisões.
  • Decisões baseadas em fatos e critérios, não em emoções ou intuições. Todos os projetos devem ser avaliados de forma justa, sem tratamento especial para projetos patrocinados por executivos ou favoritos.
  • Tomar uma decisão no mesmo dia da reunião, sem adiamentos desnecessários, caso todas as entregas estejam presentes.
  • Informar a equipe do projeto sobre a decisão de imediato e de forma presencial, não por e-mail.
  • Apoiar o plano de ação acordado, caso a decisão seja positiva, garantindo o comprometimento dos recursos necessários e o tempo de liberação dos membros da equipe.
  • Caso a decisão seja de congelar (“hold”), deve-se tentar encontrar os recursos necessários, mas o projeto não pode ficar suspenso por mais de três meses.

Premissas, cuidados e dicas para a aplicação de gates

Essas premissas procuram responder às críticas anteriormente apresentadas. Com essas premissas, cuidados e dicas, você pode mitigar as críticas comuns associadas ao uso de gates, como a burocratização excessiva, o foco em métricas financeiras em detrimento da inovação, e a rigidez do processo que pode desincentivar inovações mais radicais. Ao fazer ajustes para promover flexibilidade, aprendizado e um equilíbrio entre métricas financeiras e qualitativas, o processo de gates pode ser adaptado para agregar valor em ambientes de inovação​.

Este tópico foi desenvolvido com base na publicação de Cocchi, Dosi & Vignoli (2024), que também forneceu o resumo da aplicação de gates em modelos híbridos de inovação (no próximo tópico)

Estruturamos este tópico por assunto, destacando separadamente as premissas, cuidados e dicas.

Flexibilidade na aplicação dos gates:

  • Premissa: Em projetos de inovação, especialmente aqueles com alto grau de incerteza ou inovação radical, os gates não devem ser tratados como barreiras rígidas, mas sim como pontos de ajuste e aprendizado.
  • Cuidados: Estabelecer critérios que permitam uma avaliação flexível, adaptando-os conforme o estágio de desenvolvimento e o nível de incerteza do projeto. Não forçar decisões baseadas em critérios financeiros rígidos nas fases iniciais de um projeto inovador (radical ou disruptivo), pois há muitas incertezas e não se consegue estabelecer dados confiáveis para a construção de um fluxo de caixa.
  • Dica: Introduza gates intermediários ou provisórios em projetos com alta incerteza, permitindo iterações rápidas e ajustes antes de decisões go/kill definitivas. Isso estimula a experimentação e o aprendizado contínuo sem interromper o fluxo de inovação.

Equilíbrio entre métricas financeiras e estratégicas:

  • Premissa: Os gates devem equilibrar indicadores financeiros com critérios qualitativos que considerem inovação estratégica, potencial disruptivo e outros benefícios de longo prazo que nem sempre podem ser facilmente quantificados. Isso deve ser considerado principalmente nos projetos voltados para o horizonte de inovação H3.
Leia mais na flexM4i sobre os três horizontes de inovação e crescimento.
  • Cuidados: Como mencionado na flexibilidade na aplicação dos gates, evite uma ênfase excessiva em métricas de análise de investimentos como ROI (retorno do investimento), VPL (valor presente líquido) ou TIR (taxa interna de retorno) nas primeiras fases de inovação. Projetos inovadores muitas vezes não conseguem gerar previsões financeiras confiáveis no início, o que pode desviar o foco do valor potencial a longo prazo.
  • Dica: Incluir métricas não financeiras nos gates, como alinhamento estratégico, potencial de criação de novos mercados ou impacto no posicionamento competitivo da empresa. Criar uma visão de longo prazo que seja revisitada em cada gate, sem perder de vista o impacto estratégico do projeto.

Agilidade e redução da burocracia:

  • Premissa: O processo de gates deve ser ágil, com decisões rápidas e baseadas em informações claras e relevantes, evitando sobrecarregar as equipes com documentação excessiva ou reuniões desnecessárias.
  • Cuidados: Minimizar o número de relatórios e reuniões associadas aos gates, especialmente em projetos que demandam agilidade. Focar nos resultados de maior impacto, evitando criar barreiras burocráticas que possam atrasar decisões críticas.
  • Dica: Utilize ferramentas de colaboração digital para simplificar o compartilhamento de informações e o acompanhamento do progresso entre os gates, permitindo decisões mais rápidas e eficazes sem sacrificar a agilidade. Considere fazer gates “virtuais” para agilizar processos em projetos de desenvolvimento rápido.

O próximo item complementa com obter agilidade e reduzir a burocracia 

Diferenciação de procedimentos para diferentes tipos de projetos:

  • Premissa: Projetos de diferentes níveis de complexidade e risco devem ser classificados e avaliados por meio de processos diferentes e com base em critérios adequados ao seu tipo, evitando a aplicação de um processo uniforme para todos os projetos.
  • Cuidados: A simplificação dos gates deve ser proporcional à simplicidade do projeto. Projetos incrementais ou com baixo nível de inovação não devem passar por todas as etapas ou exigências de um projeto complexo ou radical. Avaliar todos os projetos da mesma maneira pode resultar em perda de eficiência e tempo para iniciativas simples, ou, inversamente, em avaliações superficiais para projetos mais inovadores.
  • Dica: Crie uma classificação de projetos baseada em critérios como complexidade, inovação, risco e impacto estratégico. Para cada categoria, defina processos de gates ajustados, como um único gate para projetos simples e um processo mais completo para inovações mais complexas. Além disso, é essencial avaliar o impacto de cada projeto no portfólio geral da empresa, garantindo que a decisão de continuar ou não com um projeto leve em consideração o equilíbrio e a estratégia de longo prazo do portfólio.

Apoiar a inovação radical com cultura de aprendizado:

  • Premissa: O sistema de gates deve incentivar uma cultura de aprendizado e experimentação, e não apenas focar em evitar falhas.
  • Cuidados: Não considere os gates como um simples mecanismo de controle. Em vez disso, os gates devem ser oportunidades de revisão crítica e aprendizado, onde falhas são vistas como parte do processo de inovação.
  • Dica: Estimule uma cultura de segurança psicológica nos gates, onde as equipes possam discutir abertamente os riscos e falhas sem medo de repercussões negativas. Isso permitirá que projetos inovadores avancem, mesmo com incertezas e desafios.

Avaliação contínua do portfólio:

  • Premissa: A aplicação de gates deve ser integrada à gestão do portfólio de inovação, permitindo uma visão holística dos projetos e suas inter-relações.
  • Cuidados: Revisar regularmente o portfólio completo de projetos, priorizando iniciativas que trazem maior valor estratégico e alocando recursos de forma equilibrada. Evitar que o processo de gates fragmente o portfólio ou modifique as prioridades estabelecidas.
  • Dica: Adotar uma avaliação periódica do portfólio (por exemplo, trimestralmente) para realinhar projetos de acordo com mudanças no ambiente de negócios ou nas prioridades estratégicas da empresa. Isso ajuda a garantir que os gates estejam alinhados com os objetivos de longo prazo. Porém, faça isso somente para os projetos mais relevantes (maior investimento, risco, potencial, complexidade).
A avaliação periódica (trimestral) do portfólio pode estar associada com a prática de Revisão Trimestral de Negócios (QBR – Quarter Business Review). Leia mais sobre esta prática na flexM4i, clicando no link.

Alinhamento entre as áreas da empresa:

  • Premissa: Os gates exigem input de diversas áreas da empresa (P&D, marketing, finanças, etc.), e a falta de alinhamento pode resultar em avaliações conflitantes ou decisões confusas.
  • Cuidados: Promover uma comunicação clara e colaborativa entre as diferentes áreas envolvidas no processo de inovação para garantir que todos os participantes compartilhem uma visão coesa.
  • Dica: Realizar pré-reuniões de alinhamento entre as áreas para discutir os principais pontos antes de cada gate formal. Isso pode evitar discussões prolongadas e garantir que as decisões sejam tomadas de maneira estruturada e focada.

Aplicação de gates em modelos híbridos de inovação

Este tópico foi baseado na publicação de Cocchi, Dosi & Vignoli (2024), que identificou três modelos híbridos de inovação Esses modelos combinam abordagens e metodologias iterativas com o processo Stage-Gate.

Agile/Stage-Gate©

Este é o modelo mais estudado e amplamente adotado, misturando o processo linear do Stage-Gate© com ciclos iterativos Agile. É usado para aumentar a flexibilidade e reduzir o tempo de desenvolvimento em projetos de maior complexidade e incerteza. As sprints do Agile são incorporadas dentro das etapas do Stage-Gate.

Os gates ainda são mantidos no processo, servindo como pontos de decisão onde a gerência revisa o progresso do projeto antes de avançar para a próxima fase. No entanto, dentro de cada fase, os ciclos iterativos do Agile (como sprints) ocorrem.

O processo Agile, que é mais flexível e adaptável, funciona dentro da estrutura do Stage-Gate, com entregas (protótipos ou MVP) sendo apresentadas nos gates para avaliação, permitindo ajustes rápidos com base no feedback dos clientes e outros stakeholders.

Design Thinking/Stage-Gate©

Neste modelo, o Design Thinking é utilizado nas fases iniciais de ideação e conceito do processo Stage-Gate. Ele permite uma abordagem centrada no usuário para gerar ideias e testar protótipos iniciais (protótipos de baixa fidelidade), antes de seguir para o desenvolvimento formal no Stage-Gate.

Os gates são aplicados somente após as fases de ideação e conceito, que são realizadas baseadas na abordagem de Design Thinking. As decisões de seguir adiante ou não (go/kill) continuam a ser feitas nos gates. Mas o foco nas fases iniciais é estar hipóteses de valor e as de mercado com usuários , com base em protótipos que incorporam as ideias iniciais.

A revisão nos gates pode incluir a avaliação de insights obtidos nas fases de teste com os usuários, ajustando o desenvolvimento com base nessas informações.

Leia mais na flexM4i sobre design thinking.

Design Thinking e Lean Startup/Stage-Gate©

É um modelo híbrido mais recente que combina Design Thinking nas fases de ideação e conceito e Lean Startup na fase de design conceitual. O Lean Startup é usado para testar hipóteses de valor (product-market fit) com um MVP (Produto Mínimo Viável) antes de escalar a produção. Este modelo oferece flexibilidade para experimentar e ajustar o produto e o modelo de negócios.

Os gates são usados após a fase de design conceitual, quando o MVP foi testado no mercado usando a metodologia Lean Startup. Durante as revisões nos gates, as equipes podem decidir se os resultados da avaliação do MVP justificam o avanço para o desenvolvimento em escala.

Aqui, os gates desempenham um papel importante para garantir que as hipóteses testadas com o MVP estejam validadas antes de investir mais recursos no lançamento do produto.

Quando aplicar modelos híbridos?

A aplicação de modelos híbridos depende das seguintes características:

  • Tipo de projeto: Projetos de maior complexidade, incerteza ou inovação radical tendem a se beneficiar mais dos modelos híbridos.
  • Mercado: Mercados com alta incerteza ou dinâmicas de crescimento rápido são mais propensos a usar esses modelos híbridos.
  • Tecnologia: A incerteza tecnológica é uma variável-chave para determinar a adequação de um modelo híbrido.
  • Gap de aprendizado: Projetos onde há falta de conhecimento sobre o usuário ou a categoria de produto são candidatos naturais para o uso de metodologias como Design Thinking ou Lean Startup.

Referências

Cocchi, N., Dosi, C., & Vignoli, M. (2024). Stage-Gate Hybridization Beyond Agile: Conceptual Review, Synthesis, and Research Agenda. IEEE Transactions on Engineering Management, 71, 6435–6453. https://doi.org/10.1109/TEM.2023.3282269

Cooper, R. G. (1986). Winning at New Products. Addison-Wesley 

Cooper, R. G. (2009). How companies are reinventing their idea-to-launch methodologies. In Research Technology Management (Vol. 52, Issue 2, pp. 47–57). https://doi.org/10.1080/08956308.2009.11657558

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Jones, M. (2024). Stage-gate: The quintessential decision factory. Stage-Gate© .

PMI (2017). PMBoK Guide – A guide to the project Management body of knowledge. 6th. ed. Project Management Institute, Inc. Newtown Square, PA.

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Rozenfeld, Henrique; Forcellini, Fernando Antônio;  Amaral, Daniel Capaldo; Toledo, José Carlos de; Silva, Sérgio Luis; Alliprandini, Dário Henrique; Scalice, Régis Kovacs  (2006). Gestão de desenvolvimento de produtos: uma referência para a melhoria do processo. São Paulo: Saraiva.

Senge, P. M. (2018). A quinta disciplina: a arte e prática da organização que aprende. Editora Best Seller.

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