Metodologia de inovação de Furr & Dyer
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Autoria: Henrique Rozenfeld ([email protected])
Introdução
Esta metodologia (*1) é apresentada no livro “Innovator’s method: bringing the Lean Startup into you organization. (Furr & Dyer, 2014)”.
(*1) Nota: Apesar dos autores tratarem a proposta deles de método, vamos adotar o termo “metodologia”, que é mais amplo do que o termo “método”
Observe que no título do livro que apresenta essa metodologia, eles destacam a abordagem / metodologia de lean startup. No entanto, outras abordagens e práticas são propostas na metodologia.
Consideramos que esta metodologia é um exemplo de desdobramento dos conceitos do processo de desenvolvimento de clientes para empresas estabelecidas. Só que a proposta deles vai além do desdobramento dos conceitos do processo de desenvolvimento de clientes; ela incorpora princípios e práticas de algumas abordagens, como apresentaremos mais adiante. Ela também pode ser tratada como sendo uma metodologia de inovação corporativa.
Essa proposta é baseada na experiência dos autores, que afirmam que “Embora o processo de inovação seja confuso e não linear, cada inovação que estudamos passou por etapas semelhantes.”
Mesmo assim, essa proposta não é rígida e deve ser adaptada em cada caso.
Princípios
Os autores afirmam que uma análise das grandes inovações possui alguns princípios comuns:
A busca por um problema, que vale a pena resolver, a tal ponto que os clientes estarão dispostos a pagar pela solução.
O desenvolvimento de uma série de protótipos: realize atividades interativas até que você obtenha uma solução viável, que resolva os problemas específicos
Proponha um modelo de negócio sólido que faça sentido para entregar e capturar valor, considerando todos os seus componentes.
As etapas da metodologia de Furr & Dyer (2014) estão ilustradas na figura a seguir.
Figura 480: etapas e tipos de práticas do método inovador de Furr & Dyer
Fonte: Furr & Dyer (2014b)
Os autores afirmam que cada um dos passos da proposta deles..
envolve ciclos iterativos de experimentação para testar premissas e hipóteses em um looping repetitivo de “hipótese, teste, aprendizado”.
Os ciclos iterativos (veja a figura acima) estão apresentados nos próximos tópicos.
Insight
Para descobrir o que deve ser criado.
Pesquise amplamente por insights sobre problemas que valem a pena resolver. Preste atenção especial ao que você aprende que o surpreende – esse tipo de informação pode levar a ideias inteiramente novas.
- gerar insights a partir de problemas potenciais dos clientes
- procurar ideias para surpreender os clientes, como por exemplo baseadas nos sintomas dos problemas a serem resolvidos
- usam o termo problema para conotar também necessidades dos clientes
- os clientes podem ser externos ou internos
- os insights podem vir de qualquer um da empresa (que poderia ter um tempo para os seus projetos “pessoais”)
- insights podem resultar na formulação de oportunidades
Problema
Para descobrir o job-to-be-done (*2)
(*2) Ainda estamos preparando a descrição do job-to-be-done, como um método de inovação. Então por enquanto indicamos este link para você visitar, se não conhecer esse método.
Em vez de começar com uma solução à procura de um problema para resolver, explore as necessidades reais. Certifique-se de que você está indo atrás de um problema que vale a pena resolver.
- iniciar com o entendimento “profundo” dos problemas dos clientes (dores ou desejos)
- descobrir os elementos sociais, funcionais e emocionais do job-to-be-done (o motivo para o cliente comprar o seu produto)
- realizar o “pain-storming” para obter uma visão nítida do que nós pensamos qual é o problema e assim testar as hipóteses (será que entendemos bem o problema?)
- envolver criar a jornada do cliente para identificar como eles realizam suas tarefas para identificar os principais pontos de dores (e emoções)
- realizar análises de causas raiz para entender quais são as causas dos maiores problemas
- ir a campo ter contato com os clientes para descobrir tudo e não ficar sentado dentro do escritório, ou seja, observar, conversar, entrevistar, vivenciar a jornada junto do cliente
- desenvolver uma visão para guiar os próximos passos com base no alinhamento entre os insights e as causas dos problemas
Solução
Para prototipar o produto mínimo incrível (*3)
(*3) Tradução de “minimum awesome product” (MAP). Os autores precisam criar algo para se diferenciar dos outros. Considere como sendo um protótipo MVP mais desenvolvido, após a validação da hipótese de mercado (market fit), utilizado para superar o abismo da inovação.
Leia a comparação entre protótipo, MVP e POC.
Em vez de desenvolver protótipos em escala real ou mesmo funcionais nas fases mais adiantadas do desenvolvimento, teste vários protótipos com diferentes propostas de solução. Continue iterando cada solução até que você tenha um MVP e, eventualmente, um produto mínimo incrível (MAP – minimum awesome product).
- tratar cada tipo de inovação de uma forma diferente
- em mercados e tecnologias conhecidas: construir um produto em detalhes com “todas as funcionalidades” e “sem erros”
- em mercados com incertezas: buscar uma série de soluções para resolver o job-to-be-done e criar quatro protótipos (teórico, virtual, MVP e o MAP)
- o produto mínimo incrível (MAP) deve encantar os clientes com características não esperadas, indo além das expectativas dos clientes
Modelo de negócio
Para validar a estratégia de mercado
Depois de validar o market fit da sua solução, você desenha e valida os outros componentes do seu modelo de negócios, como preços, marketing, estruturas de custos, etc.
- muitas empresas mataram novos produtos por forçar a entregar valor por meio do modelo de negócio atual
- momento de pensar como entregar e capturar valor para atingir as receitas pensadas na estratégia
- repensar os canais de distribuição, as estratégias de marketing, estratégias de precificação etc.
- descobrir e validar as estratégias diretamente com os clientes
Pivotar
Embora o pivotar não esteja explícito em uma etapa na figura da metodologia, ele normalmente ocorre depois do desenvolvimento do modelo de negócio. Porém, pode ocorrer após o desenvolvimento da solução, ou melhor, dos protótipos e testes.
As flechas em espiral representam as iterações e de certa forma possibilidades de pivotar.
Como inovações são associadas a incertezas, é provável que você tenha que pivotar desde o início. Incorpore este princípio, porque pode ser que você tenha de pivotar vários vezes durante o dese de uma inovação.
Escalar
Após a validação das hipóteses de valor (market fit), você deve escalar para validar as hipóteses de mercado (escalabilidade). Aqui, a aplicação de práticas de marketing é muito importante.
- reconhecer quando se deve escalar
- escalar o mercado
- atravessar o “abismo da inovação” (veja mais sobre isso no tópico “Categorias de usuários: abismo da inovação”), neste ponto eles posicionam o produto mínimo incrível (MAP) como uma proposta para auxiliar a fase de escalar, como ilustra a próxima figura.
Figura 492: curva de adoção de uma inovação com destaque para as duas categorias de protótipos da fase inicial (MVP – minimum viable product e MAP – minimum awesome product) e a indicação do abismo (chasm) a ser superado para sair da adoção da inovação pelos primeiros adeptos (early adopter) e conseguir que a maioria inicial (early majority) adote a inovação
Fonte: Furr & Dyer (2014), que adaptou de Moore (2014)
- escalar o processo (começar a padronizar os processos de entrega e captura de valor para diminuir custo unitário)
- comunicar a transição para a fase de escalar a produção ao sair da “fase” de empreendedorismo e começar a aplicar ferramentas tradicionais de gestão
- ajustar a cultura e as práticas
- mensurar o progresso (métricas de crescimento, mercado etc.). Veja o tópico “indicadores” no capítulo “Estratégias, objetivos e indicadores”.
- escalar o time, sair dos profissionais com o perfil T (necessários nas fases iniciais) e trazer especialistas com perfil I, ou seja, conhecimentos profundos em uma área
- aplicar sistemas CRM (customer relationship management), como o customer360 da Salesforce.com e uma metodologia como a V2MOM (vision and values, methods, obstacles and measures), desenvolvida pela própria Salesforce.com
V2MOM Vision (visão): onde queremos chegar Values (valores): quais são as coisas importantes para a empresa Methods (métodos): o que faremos para chegar lá Obstacles (obstáculos): o que pode limitar o nosso sucesso Measures (métricas / indicadores): como podemos saber se tivemos sucesso “A V2MOM é um plano estratégico para a empresa, um departamento, a carreira de uma pessoa ou um projeto. Simplesmente, é um framework que permite que implementemos os nossos pensamentos.” (Furr & Dyer, 2014) No blog da Salesforce.com, Marc Benioff (Chairman & Co-CEO), em 2020, afirma que a V2MOM é uma ferramenta para alinhamento das estratégias. Acesso em: 21/9/2022 |
Práticas
O Innovator’s method de Furr & Dyer (2014) incorpora práticas (métodos e ferramentas) de:
- criatividade e ideação
- open innovation
- design thinking (que por sua vez também incorpora prática de criatividade e ideação)
- agile software (*4)
- lean startup
- business model Canvas
(*4) na época em que eles escreveram o livro (2014), os métodos ágeis estavam se despontando na área de software. Hoje já é uma abordagem que não está mais limitada ao desenvolvimento de software.
Comentários sobre o innovator’s method
A apresentação da proposta de Furr & Dyer (2014) foi bem superficial. Recomendamos que você conheça o livro original.
Essa proposta de metodologia ilustra como as propostas das diversas disciplinas (ramos do conhecimento) estão convergindo.
Os autores fizeram algumas escolhas para montar a proposta da metodologia de inovação com base na experiência deles. Como mostramos no início desta seção, os processos que eles estudaram passaram por essas etapas propostas pela metodologia.
Os princípios e as etapas desta metodologia são relativamente genéricos, mesmo porque possuem um elevado nível de abstração.
Mas eles escolheram alguns métodos e ferramentas, como apresentamos.
Outros autores estão fazendo escolhas semelhantes, porque essas abordagens e metodologias estão consolidadas.
Ou seja, onde está o diferencial?
Na combinação de métodos e ferramentas em uma metodologia customizada para os fatores contextuais de sua empresa e para um determinado tipo de inovação.
Por exemplo, nesta metodologia, a combinação de princípios e práticas do lean startup, com o design thinking parte do princípio que a inovação não vai começar com uma ideia (veja as possíveis fontes de ideias e desafios de inovação). Mas este princípio do lean startup é bem importante para ser ágil, criar um MVP e pivotar ou persistir. Como compatibilizar? E será que serve para todos os tipos de inovação? Lógico que não.
O que fazer então?
Esta metodologia já apresenta um caminho de como inovar. Você já pode adotar e experimentar. Assim, você vai evoluir, seu nível de maturidade em inovação vai aumentar, até o momento em que você já consegue adaptar para as suas condições.
Mas veja,
Por isso você deve obter capabilidades dinâmicas para se diferenciar e configurar uma solução própria para a sua empresa de acordo com o seu nível de maturidade atual, repertório do seu pessoal e cultura organizacional.
Qual o apoio da flexM4I?
Você pode adotar esta metodologia e, de acordo com as suas condições, desafios e capabilidade dinâmica da sua empresa, você pode adapta-lá utilizando princípios e práticas de outras abordagens e práticas apresentadas na flexM4I.
Não se esqueça
Referências
Furr, N., & Dyer, J. (2014). The Innovator’s Method: Bringing the Lean Start-Up Into Your Organization. Harvard Business Review Press.
Furr, Nathan; Dyer, J. (2014b). Choose the Right Innovation Method at the Right Time. Harvard Business Review, December 31, 1–7. https://hbr.org/2014/12/choose-the-right-innovation-method-at-the-right-time