TOGAF®: um framework para o desenvolvimento de uma arquitetura empresarial
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Autoria: Henrique Rozenfeld ([email protected])
Consideramos esta seção apropriada somente para as pessoas interessadas no nível de detalhamento avançado.
Introdução
A seção da flexM4i “Arquitetura empresarial e articulação entre seus componentes” traz uma visão ampla do que é uma arquitetura empresarial e descreve sucintamente seus componentes, ilustrados na próxima figura.
Figura 1208: visão das principais arquiteturas que compõem uma arquitetura empresarial
Esses componentes são descritos na seção principal “Arquitetura empresarial e articulação entre seus componentes”. |
TOGAF®
O The Open Group é um consórcio global que auxilia as empresas a alcançarem seus objetivos de negócios por meio de padrões tecnológicos e iniciativas de código aberto. Esses padrões promovem uma cultura de colaboração, inclusão e respeito mútuo entre um grupo diversificado de mais de 900 membros, tais como, clientes, fornecedores de sistemas e soluções, fornecedores de ferramentas, integradores, acadêmicos e consultores de diversos setores industriais (https://www.opengroup.org/).
Um desses padrões é o The Open Group Architecture Framework (TOGAF®), um framework utilizado para desenvolver uma arquitetura empresarial. Ele pode ser usado livremente por qualquer organização que deseje desenvolver uma arquitetura empresarial para uso interno dentro da organização (TOGAF ®, 2024b).
O TOGAF® é constituído por um método detalhado e um conjunto de ferramentas de apoio. Com o TOGAF, as empresas podem definir processos para desenvolver sua Arquitetura Empresarial (EA). Ele é bem documentado e flexível em seu uso, possibilitando que as empresas o personalizem (tailoring) de acordo com suas necessidades (Banger, 2022).
O objetivo desta seção é exemplificar um framework utilizado para o desenvolvimento de uma arquitetura empresarial. Selecionamos o TOGAF® por ser de conteúdo aberto para uso não comercial.
O conteúdo desta seção foi retirado do site do TOGAF®, complementado com outras referências.
Definições
Framework de arquitetura (architecture framework): é uma ferramenta que pode ser utilizada para desenvolver uma ampla gama de diferentes arquiteturas. Ele deve (TOGAF ®, 2024c):
- descrever um método para projetar um sistema de informação em termos de um conjunto de blocos de construção, além de mostrar como esses blocos se encaixam;
- conter um conjunto de ferramentas e fornecer um vocabulário comum;
- incluir uma lista de padrões recomendados e produtos compatíveis que podem ser usados para implementar os blocos de construção.
Arquitetura empresarial: é a lógica organizacional que orienta os processos de negócios e a infraestrutura de TI, refletindo as necessidades de integração e padronização do modelo operacional da empresa” (Ross et al., 2006).
Observe que dentre as definições de arquitetura empresarial (EA) apresentadas na seção principal, o TOGAF ® considera a definição da comunidade de TIC (tecnologia de informação e comunicação). |
Por que usar um framework para desenvolvimento da arquitetura empresarial
As razões para se utilizar um framework (como o TOGAF) para desenvolvimento de uma arquitetura empresarial são (TOGAF ®, 2024a).:
- Agilizar e simplificar o desenvolvimento da arquitetura empresarial: Usar um framework acelera o processo e garante uma cobertura mais completa da solução projetada, ou seja, garante que não vamos esquecer nenhum aspecto da arquitetura empresarial.
- Garantir flexibilidade para crescimento futuro: A arquitetura criada com um framework é capaz de se ajustar às mudanças e às necessidades futuras do negócio.
- Enfrentar a complexidade técnica: O processo de design de uma arquitetura empresarial é tecnicamente complexo, principalmente em ambientes heterogêneos e com múltiplos fornecedores. O framework ajuda a “desmistificar” esse processo.
- Desenvolver soluções verdadeiramente abertas: Ao seguir um framework como o TOGAF, é possível desenvolver sistemas abertos que não dependem de um único fornecedor, maximizando os benefícios de uma arquitetura multi-vendor.
- Prevenir a dependência de um único fornecedor: Sem um framework de arquitetura, há uma tendência de o cliente acabar preso a soluções de um único fornecedor, limitando as vantagens de um sistema aberto e heterogêneo.
- Considerar as preocupações dos stakeholders: O arquiteto utiliza o framework para identificar e resolver as preocupações dos stakeholders, desenvolvendo uma visão que aborda seus requisitos e mostrando os compromissos (trade-off) necessários para balancear diferentes interesses. Sem uma arquitetura formal, é improvável que todas as preocupações e requisitos dos stakeholders sejam considerados e atendidos.
Não confunda! Apresentamos aqui as razões para se utilizar um framework (como o TOGAF®) para desenvolvimento de uma arquitetura empresarial. As razões para se utilizar uma arquitetura empresarial, está no tópico “Por que devemos utilizar uma arquitetura empresarial?” dentro da seção “Arquitetura empresarial e articulação entre seus componentes”. No entanto, há uma superposição entre as razões, pois o framework é o meio e a arquitetura empresarial é o resultado. |
Componentes do TOGAF®
Fonte: TOGAF ®(2024a).
Método de Desenvolvimento de Arquitetura (ADM – Architecture Development Method) que explica como desenvolver uma arquitetura empresarial específica de uma organização que atenda aos requisitos de negócios.
Enterprise Continuum: Um repositório virtual de todos os ativos de arquitetura disponíveis (conteúdos), que inclui modelos, padrões e descrições de arquitetura. O Enterprise Continuum ajuda na reutilização de ativos existentes e na integração de novos componentes. Ele também inclui os seguintes modelos de referência:
- TOGAF® Foundation Architecture: Uma arquitetura de serviços e funções genéricas, que serve como base para a construção de arquiteturas específicas.
- Integrated Information Infrastructure Reference Model (III-RM): Um modelo voltado para o design de arquiteturas.
Resource Base: Um conjunto de recursos como diretrizes, templates e informações de apoio que auxiliam o arquiteto no uso do ADM. Esses recursos fornecem suporte prático e metodológico para a execução e implementação da arquitetura empresarial.
Metamodelo do TOGAF®
O metamodelo dentro do TOGAF faz parte do Architecture Content Framework. Ele descreve como diferentes tipos de conteúdo arquitetural, como Building Blocks, Deliverables, e Artifacts, são relacionados e utilizados para desenvolver e gerenciar a arquitetura da empresa.
No site do TOGAF, na seção de conteúdo arquitetônico (Architecture Content), é possível encontrar a estrutura detalhada do metamodelo, que mostra como os componentes de arquitetura se relacionam e como são utilizados ao longo do desenvolvimento da arquitetura empresarial. A finalidade do metamodelo é fornecer uma descrição clara e estruturada dos elementos que fazem parte da arquitetura, permitindo que diferentes partes interessadas compreendam e utilizem os ativos arquiteturais de maneira eficaz.
Os componentes do metamodelo são (TOGAF ®, 2024c).:
- Entidades: como sistemas, processos de negócios, dados e atores (humanos ou sistemas automáticos).
- Relações: como essas entidades interagem ou se conectam, por exemplo, quais processos utilizam quais dados, quais sistemas suportam quais processos.
- Propriedades: descrevem as características dos componentes, como os requisitos técnicos, as regras de negócio ou os atributos de dados.
Estrutura do Metamodelo
Este metamodelo está ilustrado na figura abaixo.
Figura 1286: metamodelo da arquitetura empresarial (EA – enterprise architecture) do TOGAF® (The Open Group Architecture Framework) – clique na figura para visualizar em outra aba ou veja a figura na fonte original.
Fonte: https://pubs.opengroup.org/togaf-standard/architecture-content/chap02.html
A parte superior do metamodelo resulta do início do desenvolvimento da arquitetura empresarial por meio da aplicação do Método de Desenvolvimento de Arquitetura (ADM), que contém os princípios, requisitos e visão da arquitetura. Esses elementos ajudam a garantir que a arquitetura esteja alinhada com as estratégias organizacionais e tecnológicas, enquanto atende às necessidades e restrições específicas da organização. métricas Seus componentes são:
Arquitetura Preliminar:
- Princípios de arquitetura: São as diretrizes fundamentais que orientam o design e a evolução da arquitetura. Eles estabelecem os parâmetros que devem ser seguidos na implementação da arquitetura organizacional.
Requisitos de Arquitetura:
- Requisitos: Definem o que a arquitetura precisa alcançar, ou seja, os critérios e demandas que ela deve atender.
- Restrições: São os limites ou condições que restringem o design e a implementação da arquitetura.
- Suposições: Premissas aceitas como verdadeiras durante o desenvolvimento da arquitetura, mesmo sem provas definitivas.
- Lacunas: Representam as diferenças entre o estado atual da arquitetura e o estado desejado, indicando onde melhorias ou mudanças são necessárias.
- Localizações: Especificam as localizações físicas ou lógicas dos recursos dentro da arquitetura, o que pode influenciar o design e as decisões de implementação.
Visão da Arquitetura:
- Estratégia de Negócios: Define o caminho estratégico que a organização seguirá, impactando as decisões arquitetônicas.
- Estratégia de Tecnologia: Determina como a tecnologia será utilizada para apoiar a estratégia de negócios.
- Princípios, Objetivos e Motivadores de Negócios: Estabelecem os princípios centrais e os objetivos da organização que guiarão a arquitetura.
- Visão da Arquitetura: Um esboço claro da arquitetura planejada, incluindo como ela se integrará com os negócios e o que pretende alcançar.
- Partes Interessadas: Identificação das pessoas ou grupos que têm interesse direto nos resultados da arquitetura.
Logo abaixo estão as definições que norteiam o projeto de desenvolvimento da arquitetura empresarial, são considerados os motivos para se criar uma arquitetura empresarial. Esses elementos são usados para orientar a criação e gestão das arquiteturas nas outras camadas, garantindo que estejam alinhadas com as necessidades e metas estratégicas da organização:
- Direcionadores (Drivers): Fatores externos ou internos que estão impulsionando a necessidade de mudança ou de desenvolvimento na arquitetura. Eles podem ser oportunidades de mercado, mudanças regulatórias, novas tecnologias, ou desafios internos que precisam ser resolvidos.
- Metas (Goals): Metas amplas ou de longo prazo que a organização busca alcançar com a arquitetura empresarial. Elas representam as intenções estratégicas da empresa e são diretrizes para o desenvolvimento da arquitetura.
- Objetivos (Objectives): São metas mais específicas e quantificáveis, que detalham o que precisa ser feito para alcançar as metas estabelecidas. Os objetivos são passos concretos e mensuráveis para atingir os resultados desejados.
- Métricas (Measures): As métricas e critérios usados para avaliar se os objetivos e metas estão sendo alcançados com sucesso. Elas são essenciais para monitorar o progresso e garantir que a arquitetura esteja alinhada com os resultados esperados.
O núcleo do metamodelo são as arquiteturas que o compõem:
- Arquitetura de Negócios: Define os fluxos de valor, as capabilidades da empresa, o conjunto de direções estratégicas (course of action), informações de negócio, qualidade de serviço, contratos, serviços, processos de negócios, produtos, eventos, controle com regras e diretrizes, funções organizacionais, unidades organizacionais, atores (humanos ou virtuais), papéis e responsabilidades.
- Arquitetura dos sistemas de informação dividida em duas camadas:
- Camada de Aplicações: Esta camada descreve os serviços de aplicação e componentes lógicos e físicos, que são necessários para suportar as operações dos negócios e permitir a interação entre os sistemas e processos..
- Camada de Dados: Foca nas entidades de dados, seus componentes lógicos e físicos, que estruturam a forma como os dados fluem pela organização e suportam as funções de negócios.
As camadas de aplicações e dados podem ser chamadas de arquitetura de aplicações e arquitetura de dados. Veja na seção principal e “genérica” sobre arquitetura empresarial, as definições de arquitetura de aplicações e arquitetura de dados e informações. |
- Arquitetura tecnológica: Relacionada à infraestrutura de tecnologia necessária para dar suporte às camadas de dados e aplicações, incluindo componentes lógicos e físicos de tecnologia, como servidores, redes, e dispositivos de armazenamento.
A parte inferior do metamodelo contém as informações de gestão do projeto de desenvolvimento e a implementação da arquitetura empresarial:
- Oportunidades, soluções e planejamento de migração: Relacionam-se ao planejamento de como as mudanças serão implementadas, incluindo capabilidades, pacotes de trabalho e contratos.
- Governança de Implementação: Esta seção cobre padrões, diretrizes e especificações que devem ser seguidos para garantir que a implementação da arquitetura siga as práticas corretas e atenda aos objetivos estabelecidos.
Por trás dos componentes apresentados encontra-se a gestão de mudanças da arquitetura (Architecture Change Management), pois todo o desenvolvimento envolve uma mudança. Este componente tem o objetivo de garantir que as mudanças foram planejadas, estruturadas e resultaram no valor esperado para o negócio.
Durante a implementação de uma arquitetura, à medida que mais fatos são descobertos, pode-se perceber que a definição original da arquitetura e os requisitos não são adequados ou suficientes para concluir a implementação de uma solução. Nesses casos, é necessário que os projetos de implementação ou se desviem da abordagem original sugerida ou solicitem extensões de escopo. Além disso, fatores externos — como mudanças no mercado, alterações na estratégia de negócios e novas oportunidades tecnológicas — podem abrir oportunidades para estender e refinar a arquitetura.
Durante a implementação de uma arquitetura, podemos desviar da abordagem original e/ou estender e refinar a arquitetura
Função do Metamodelo
Esse metamodelo permite que os arquitetos definam e visualizem toda a organização e suas interdependências de maneira unificada. Ele garante que todos os elementos, desde os processos de negócios até a infraestrutura de TI, sejam modelados de forma coerente e padronizada.
Ao aplicar esse metamodelo, a organização pode criar uma visão clara e coesa de sua arquitetura empresarial, facilitando a comunicação entre as partes interessadas e alinhando as decisões estratégicas com a execução operacional. Além disso, o metamodelo é flexível o suficiente para ser adaptado a diferentes setores, ajudando a padronizar práticas em indústrias específicas.
Detalhamento das relações entre dos componentes
A figura 1286 anterior mostrou os componentes do metamodelo, mas não apresentou as relações, que estão ilustradas na próxima figura.
Essa figura ilustra somente os componentes e suas relações, mas não se consegue visualizar os detalhes. Por isso, se você tiver interesse, recomendamos que você acesse a descrição original em: https://pubs.opengroup.org/togaf-standard/architecture-content/chap02.html Acesso em: 4/12/2024. |
Figura 1287: detalhe das relações do metamodelo da arquitetura empresarial (EA – enterprise architecture) do TOGAF® (The Open Group Architecture Framework) – clique na figura para visualizar em outra aba ou veja a figura na fonte original.
Fonte: https://pubs.opengroup.org/togaf-standard/architecture-content/chap02.html
Referências
Banger, D. R. (2022). Enterprise Systems Architecture: Aligning Business Operating Models to Technology Landscapes. Berkeley, CA: Apress.
Ross, J. W., Weill, P., & Robertson, D. C. (2006). Enterprise Architecture as Strategy: Creating a Foundation for Business Execution. Harvard Business Review Press.
TOGAF ®(2024a). Home page do TOGAF® no The Open Group. Disponível em: https://pubs.opengroup.org/architecture/togaf8-doc/arch/ Recuperado em: setembro 2024
TOGAF ®(2024b). The Open Group – About Us – What We Do. Disponível em: https://www.opengroup.org/about-us/what-we-do Recuperado em: setembro 2024
TOGAF ®(2024c). The TOGAF® Standard – Architecture Content. Disponível em: https://pubs.opengroup.org/togaf-standard/architecture-content/index.html Recuperado em: setembro 2024