ESG - governança ambiental, social e corporativa

Gerar valor para todos stakeholders de maneira sustentável

ESG - governança ambiental, social e corporativa é um framework para incorporar a sustentabilidade nas empresas por meio de diversas ações orientadas aos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, cujos resultados podem ser reportados em relatórios auditáveis para mostrar que a empresa realmente incorpora a sustentabilidade em suas práticas. Esses relatórios orientam os investidores, que cada vez mais procuram empresas sustentáveis.

Introdução

Muito se fala em ESG, mas poucas empresas vão além da superficialidade dos relatórios e do marketing. Adotar práticas ambientais, sociais e de governança não é apenas uma exigência de investidores — é uma questão de sobrevivência organizacional em um mercado cada vez mais orientado por valores sustentáveis. Esta seção mostra por que ESG não deve ser tratado como moda passageira, mas como um caminho para gerar valor real para todos os stakeholders.

Mais do que indicadores e boas intenções, o ESG exige coerência estratégica. E essa coerência começa pela governança, que precisa ser mais do que uma dimensão do acrônimo: deve ser o alicerce que direciona comportamentos, práticas e decisões nas outras duas frentes — ambiental e social.

Definição

ESG – governança ambiental, social e corporativa é um framework para incorporar a sustentabilidade de uma forma ampla nas empresas por meio de diversas ações orientadas aos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, cujos resultados podem ser reportados em relatórios auditáveis para mostrar que a empresa realmente incorpora a sustentabilidade em suas práticas.

Utilizamos a expressão “de uma forma ampla” porque tradicionalmente a governança corporativa não faz parte do arcabouço da sustentabilidade. Porém, os aspectos da governança corporativa podem causar efeitos negativos na área social, econômica e financeira.

Por exemplo, uma fraude contábil como a da Enron nos USA, que provocou a criação da lei SOX na bolsa de valores americana, e mais recentemente a da rede de lojas Americanas no Brasil causam um grande impacto social devido à quantidade de pequenos acionistas que perdem seus investimentos. Outro impacto significativo nessas fraudes são os funcionários que perdem seus empregos.

A governança corporativa, teoricamente, deveria coibir tais fraudes. No entanto, somente a auditoria de relatórios de desempenho ou demonstração de resultados, confeccionados pela própria empresa, não é suficiente para detectar tais problemas. Precisa haver mecanismos para se avaliar as evidências dos resultados apresentados nos relatórios.

Figura 867: ESG, que literalmente significa Ambiental, Social e Governança, representa a governança ambiental, social e corporativa.

Literalmente, ESG significa, ambiental, social e governança. Mas o termo governança tem um significado amplo e genérico (veja no nosso glossário) e pode ser aplicado nas três áreas: ambiental, social e corporativa, tornando-se governança ambiental, social e corporativa. No entanto, em muitas publicações utiliza-se a forma original de “questões ambientais, sociais e de governança corporativa” 

É um dos movimentos atuais populares para implementação da sustentabilidade para enfrentar os desafios da nossa sociedade global. Como o próprio nome indica, o ESG visa integrar as questões ambientais, sociais e de governança corporativa com os objetivos financeiros.

O termo ESG surgiu em 2004 em um relatório intitulado “Who cares win” (cuja tradução literal seria “quem se importa ganha”), que foi criado por instituições financeiras a convite da ONU. As instituições que apoiaram os resultados do relatório estavam convencidas que a forma de realizar a gestão ambiental, social e a governança corporativa contribuem para o sucesso das empresas.

 

ESG ganhou força, mas ...

O ESG ganhou força ao ser impulsionado por instituições financeiras e grandes fundos de investimento, que passaram a direcionar recursos apenas para empresas que demonstrassem compromissos concretos com práticas ambientais, sociais e de governança corporativa. Essa pressão dos investidores gerou um ciclo virtuoso: as empresas passaram a adotar padrões de ESG para atrair capital e manter sua competitividade no mercado.

Nos últimos anos, embora o entusiasmo inicial de alguns fundos tenha arrefecido, a exigência da sociedade por compromissos reais com a sustentabilidade só aumentou. A pressão agora vem de todos os lados — consumidores, reguladores, parceiros comerciais e a opinião pública — exigindo respostas efetivas para os impactos sociais e ambientais das atividades empresariais.

A redução das emissões, a transição para modelos circulares e regenerativos, a responsabilidade sobre toda a cadeia de valor e o enfrentamento dos impactos ao longo do ciclo de vida dos produtos não são mais diferenciais — são expectativas. Esses impactos decorrem de processos sob controle direto das empresas (como design, produção, distribuição, manutenção, assistência técnica etc.), mas também refletem os comportamentos dos consumidores.

Essas práticas e decisões estão fortemente influenciadas pela governança corporativa, que define os critérios de atuação, estabelece os compromissos da empresa com a sustentabilidade e orienta sua coerência estratégica — independentemente do porte da organização.

Veja no final desta seção o tópico “Governança corporativa e ESG”. 

Como reforçado no relatório da ONU (2004), “empresas que têm melhor desempenho em relação ao ESG podem aumentar o valor do acionista, por exemplo, ao gerenciar adequadamente os riscos, antecipar a ação regulatória ou ao entrar em novos mercados, ao mesmo tempo que contribuem para o desenvolvimento sustentável das sociedades em que operam. Além disso, essas questões podem ter um forte impacto na reputação e nas marcas da empresa, uma parte cada vez mais importante do seu valor.”

Greenwashing

Com a valorização do ESG, surgiu também um risco crescente: o greenwashing. Trata-se da tentativa de aparentar responsabilidade ambiental e social por meio de marketing, publicidade ou relatórios simbólicos, sem mudanças estruturais reais. É a construção de uma imagem positiva e artificial, que desvia a atenção dos impactos negativos gerados pelas atividades da organização. O greenwashing mina a credibilidade da empresa e, quando exposto, pode comprometer seriamente sua reputação e valor de mercado (Greenwashing, 2020).

Leia mais sobre greenwashing na Wikipédia.

Relatórios ESG

Os relatórios de demonstração de resultados ou de desempenho são necessários para empresas que estão em alguma bolsa de valores. É uma compilação de relatórios financeiros, relatório da administração, relatórios contábeis etc. O relatório anual deve mostrar com transparência a situação da empresa para direcionar investidores sobre suas decisões com relação a compra e venda de ações.

O ESG estabelece um conjunto de práticas e padrões de sustentabilidade no sentido mais amplo, ou de sustentabilidade ambiental, social, aliadas à governança corporativa para evitar fraudes, que podem resultar em impactos. Esses padrões são a base para a confecção de relatórios que vão além dos indicadores financeiros tradicionais. 

Os relatórios ESG devem demonstrar os resultados de diversas ações de abordagens e práticas de sustentabilidade. Em outras palavras, por produzir relatórios que demonstram a governança ambiental, social e corporativa, esta abordagem é integradora e leva as empresas a procurar caminhos para serem sustentáveis.

Leia o tópico “indicadores de sustentabilidade” do capítulo “Estratégias, objetivos e indicadores”, no qual apresentamos outros conjuntos de indicadores (padrões). Destacamos o relatório de métricas proposto pelo fórum econômico mundial (WEF) em 2020, que procura determinar métricas comuns e relatórios consistentes com a criação sustentável de valor.

ESG na bolsa de valores brasileira

A bolsa de valores brasileira, a B3, tem uma área dedicada a produtos e serviços ESG.

Eles se apresentam da seguinte forma:

“Como uma infraestrutura de mercado, temos o papel de induzir as melhores práticas de sustentabilidade entre nossos stakeholders e oferecer produtos e serviços ESG (Ambiental, Social e de Governança, na sigla em inglês) que apoiem nossos clientes nesta evolução.

Neste contexto, possuímos índices de sustentabilidade (ISE B3, ICO2 B3), produtos balcão (Títulos Temáticos ESG, CBIO) e promovemos, em parceria com diversos players do mercado, oportunidades de capacitação e troca de experiências. Nossa estratégia visa fortalecer o portfólio atual, identificar novas oportunidades de atuação e desenvolver produtos e serviços para impulsionar a agenda ESG junto aos nossos clientes.”

A B3 traz publica alguns guias, documentos e outros relatórios relacionados com o ESG.

A B3 faz um ranking das empresas de capital aberto (na bolsa B3, é claro) com relação ao ESG. É a área na web denominada de B3 ESG workspace. O link de acesso é https://esgworkspace.b3.com.br/. Para ter acesso, o usuário precisa se cadastrar. Eles utilizam o ISE (índice de sustentabilidade empresarial) para pontuar e sequenciar as empresas, que é calculado com base em um relatório que as empresas respondem.

No último relatório acessado (janeiro de 2023), existiam 83 empresas listadas. Os dados desses relatórios podem ser baixados para a realização de estudos sem interesses comerciais.

Aspectos considerados pelo ESG

As questões de sustentabilidade são amplas e vamos listar alguns dos aspectos (e impactos) considerados nos relatórios de ESG. No verbete da wikipedia em inglês são listados os seguintes aspectos:

  • ambientais: mudanças climáticas, emissões de gases de efeito estufa, perda de biodiversidade, desmatamento, poluição, eficiência energética e gestão da água.
  • socias: segurança e saúde dos funcionários, condições de trabalho, diversidade, equidade e inclusão, conflitos e crises humanitárias
  • governança corporativa: prevenção de suborno, corrupção, diversidade do conselho de administração, remuneração executiva, segurança cibernética e práticas de privacidade e estrutura de gerenciamento.

Observe que esses aspectos ainda são limitados e  estão em constante evolução.

ESG e outras iniciativas de sustentabilidade

Veja as iniciativas e temas em sustentabilidade que levantamos. ESG é mais uma delas, que procura compilar estabelecer padrões para as empresas irem na direção da sustentabilidade no sentido mais amplo. Como apresentado anteriormente, sua força está na orientação aos investidores, que é uma questão sensível para todas empresas. Se os investidores estão orientando seus investimentos em empresas que seguem as práticas de ESG, então muitas empresas devem cada vez mais seguir os padrões de ESG.

Esses padrões são compatíveis com a maior parte das outras iniciativas que as companhias estão adotando visando a sustentabilidade. Uma empresa que aplica as estratégias e práticas de economia circular, por exemplo, estará atendendo a um conjunto de requisitos de ESG.

Noguti & Yogui (2021) mostram em um whitepaper que o ESG entrou na agenda dos executivos e investidores no Brasil. Eles citam uma pesquisa da Bain & Company sobre a prioridade do ESG nas  20 maiores empresas de bens de consumo, que mostra que somente 5% delas implementaram práticas ESG. O artigo de Noguti & Yogui (2021) somente cita reportagem de uma revista semanal que relata que o Brasil está adotando o padrão ISO de economia circular.

Melis Sönmez (2022) concluiu em sua dissertação de mestrado que ECG e economia circular promovem o desenvolvimento sustentável ambiental. Porém, o ESG é mais amplo e cobre mais dimensões da sustentabilidade. Adicionalmente, como o ESG é praticado há mais tempo, existem leis e regulamentações baseadas nos padrões de ESG.

Para além da aplicação prática de indicadores e padrões, é essencial compreender como a governança corporativa estrutura e sustenta as dimensões ambiental e social do ESG.

Governança corporativa e ESG

Já vimos que a governança corporativa estabelece o sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, alinhando interesses de sócios, conselheiros, executivos e demais partes interessadas para preservar e otimizar o valor da organização​. A governança define estratégias e as regras que orientam a gestão.

As atividades empresariais e os comportamentos organizacionais e individuais impactam diretamente as dimensões ambiental e social, ou seja, as letras “E” (environment) e “S" (social) do ESG.  Essas atividades e comportamentos das pessoas  são direcionados pela gestão, que em última análise deveriam ser consequências da governança, a letra “G” (governance) do ESG.

Uma governança orientada por valores de sustentabilidade torna-se o alicerce estruturante para que práticas ambientais e sociais sejam efetivas e integradas ao modelo de negócio. A sustentabilidade, intrinsecamente, já considera ações para a diminuição de impactos ambientais e sociais concomitantemente com a sustentabilidade econômico-financeira.

Lembre que o conceito de sustentabilidade é bem amplo. De acordo com o glossário da flexM4i, um desenvolvimento sustentável é aquele “que atende às necessidades do presente sem comprometer a habilidade de futuras gerações em atender às suas próprias necessidades” (Brundtland, 1987). 

A próxima figura ilustra essas relações.

Figura 1338: governança corporativa como mecanismo de articulação sistêmica para as dimensões ambiental e social passando pelas atividades da empresa e os comportamentos das pessoas no contexto da ESG

Obviamente, a discussão acima é uma simplificação para descrever a relação entre as dimensões da ESG. Os comportamentos dos indivíduos, que em última análise são os que executam as atividades e definem as orientações e regras de governança, são determinados por diversos fatores como cultura organizacional e o PESTEL.

A adoção de boas práticas de governança é reconhecida como essencial para assegurar a longevidade empresarial, fortalecer a transparência, garantir a equidade no tratamento de stakeholders e promover a responsabilidade corporativa em dimensões econômicas, sociais e ambientais.

O conceito de ESG (Environmental, Social and Governance) amplia o escopo da governança ao integrar considerações ambientais, sociais e de integridade corporativa às práticas de gestão (Shibao et al., 2024).​

A literatura recente evidencia que a governança alinhada a critérios ESG melhora os indicadores de sustentabilidade e fortalece a competitividade organizacional. Elementos como diversidade de gênero nos conselhos, criação de comitês de sustentabilidade e vinculação de remuneração executiva a metas ESG têm se mostrado práticas eficazes para potencializar resultados positivos​  (Shibao et al., 2024).

A governança corporativa não apenas compõe a tríade ESG, mas também atua como o vetor de coerência estratégica entre as ações ambientais, sociais e os interesses dos stakeholders, viabilizando uma sustentabilidade empresarial genuína e duradoura.

Leia mais na flexM4i sobre governança corporativa e observe que o ESG é citado na descrição dos princípios e nas atribuições de alguns agentes de governança.

Informações adicionais

A Wikipédia em português traz um resumo introdutório sobre ESG

A wikipedia em inglês é mais completa com 98 citações. A seção sobre a história do ESG é bem abrangente.

Recomendamos a leitura do artigo “ESG: o que é, como funciona, vantagens e características”, publicado pela empresa TOTVS.

Referências

Greenwashing. (2020). Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Greenwashing&oldid=60074010. Acesso em 21/1/2023

Noguti, V., & Yogui, R. (2021). ESG and the Circular Economy in Brazil. Master Thesis. Faculteit der Managementwetenschappen. Radbound University. Nederlands.

Sönmez, Melis. (2022). ESG and Circular Economy: a Comparative Analysis. 

UN (2004). Who Cares Wins: Connecting Financial Markets to a Changing World. United Nations.

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