Governança da inovação
Convergências e distinções com a gestão da inovaçãoflexM4I > abordagens e práticas > Governança da inovação – Convergências e distinções com a gestão da inovação (versão 1.0)
Autoria: Henrique Rozenfeld ([email protected]) com apoio do chatGPT (leia mais).
Conteúdo desta página
Introdução
Esta seção analisa as relações entre governança e gestão da inovação, destacando tanto suas distinções estruturais quanto as interações dinâmicas entre elas. A partir da definição de gestão da inovação adotada na flexM4i, localizamos o papel da governança como instância organizadora e sustentadora do sistema de inovação. Em seguida discutimos qual o papel que a função inovação possui nesse contexto.
A figura a seguir mostra esses três conceitos que são discutidos nesta seção e ilustra a relação conceitual da função inovação dentro do espaço da governança da inovação e da gestão da inovação. A função inovação é transversal. Ela não está acima dessas esferas, mas se sobrepõe a ambas, articulando mecanismos e práticas que sustentam a inovação como um sistema organizacional integrado.
O lado esquerdo da figura ilustra que a governança da inovação é derivada da governança corporativa, completando a figura apresentada na seção “Governança da Inovação – relação com a governança corporativa, papéis e modelos”.
Figura 1377: ilustração conceitual da governança da inovação como uma entidade identificável, mas internalizada no arcabouço maior da governança corporativa, acima da governança da inovação. A função inovação se sobrepõe à governança da inovação e à gestão da inovação.
A governança da inovação é um desdobramento da governança corporativa, e deve operar sob seus princípios, legitimidade e mecanismos de supervisão. Sua atuação se concentra em decisões relacionadas à inovação, como tolerância ao risco, alinhamento estratégico, definição de metas e avaliação de desempenho. A função inovação, por sua vez, representa uma função organizacional que se sobrepõe a aspectos tanto da gestão quanto da governança da inovação, atuando como articuladora institucional de esforços inovadores em múltiplos níveis. |
Embora governança e gestão sejam frequentemente tratadas como domínios separados — um ligado à formulação e outro à execução —, mostramos que, na prática, seus limites são mais fluidos. A governança da inovação não apenas define os contornos dentro dos quais a gestão opera, como também é influenciada pelos aprendizados e pela evolução das práticas de gestão.
Os limites entre a governança e gestão da inovação são fluidos.
Aliás, como mostramos na seção que discute como implementar a governança da inovação, as empresas começam a praticar a gestão da inovação, e depois de um tempo elas sentem a necessidade de formalizar a governança. Porém, elas, geralmente, já praticam a governança sem usar este termo. |
Com base em autores como Deschamps & Nelson (2014) e Filatotchev et al. (2020), exploramos a ideia de que a governança também pode ser um espaço de experimentação. Essa visão amplia o entendimento tradicional da governança como estrutura de controle, permitindo que ela seja compreendida como uma construção adaptativa e institucional, capaz de evoluir junto com os desafios da inovação.
Esta é a quarta seção de uma série de cinco sobre governança da inovação. A seção principal sobre governança da inovação apresenta os fundamentos e motivos para adoção dessa abordagem, além de relativizar a aplicação da governança para não limitar a criatividade e agilidade. Abrindo o próximo tópico você poderá conhecer as seções da governança da inovação e outras seções relacionadas. |
Seções da flexM4i relacionadas com a governança da inovação
A figura abaixo mostra no centro as cinco seções relacionadas com a governança da inovação e em volta outras seções que podem contribuir para o estabelecimento dessa governança.
Figura 1379: Seções relacionadas com a governança da inovação e seções complementares (clique na figura para abrir em outra aba o mapa de conteúdo em PDF com os links para essas seções. Você pode baixar esse PDF.)
Definição da gestão da inovação
Reproduzimos a seguir a definição estruturada da gestão da inovação, adotada pela flexM4i, com uma figura a seguir que ilustra essa definição. Destacamos o papel da governança da inovação nesta definição.
A gestão da inovação,
– estruturada e administrada pela governança da inovação;
– é orientada pelas estratégias e objetivos da empresa;
– considera o seu contexto;
– visa entregar valor aos stakeholders;
– parte de ideias, oportunidades, desafios e outras entradas de inovação advindas de diversas fontes;
– utiliza as capabilidades da empresa;
– é responsável por orquestrar a criação/mudança, implementação e monitoramento de:
- novas ofertas (produtos e/ou serviços)
- novos negócios
- novas capabilidades da empresa — operacionais, estratégicas incluindo as de inovação
– abrange todo o ciclo de vida; e
– deve considerar a sustentabilidade.
Figura 357: representação da definição da gestão da inovação. Os retângulos com ícones representam os elementos de negócio das perspectivas da visão sistêmica da empresa e seu ecossistema na situação atual e na situação futura, que é a visão do que se quer atingir com a inovação (clique na figura para aumentá-la).
Cada elemento dessa definição é discutido em detalhes na seção “Definição da gestão da inovação”. |
O objetivo de trazer essa definição abrangente da gestão da inovação é para localizar a governança da inovação nesse contexto, tema principal desta seção. Observe que a governança da inovação está acima dos outros elementos da figura que ilustram a dinâmica da gestão da inovação.
Governança da inovação versus gestão da inovação
A distinção entre governança e gestão da inovação é essencial para evitar sobreposições conceituais e operacionais. Embora interdependentes, cada uma exerce papéis distintos no funcionamento do sistema de inovação de uma empresa.
Governança da inovação
A governança da inovação está “acima” da gestão da inovação. Ela atua como instância estruturante e sustentadora da capacidade organizacional de inovar. Seu papel não é executar diretamente, mas sim:
- Definir o arranjo institucional que viabiliza a inovação: quem decide, com que autoridade e sobre quais temas, ou seja, define os papéis e autoridades;
- Alinhar a inovação à estratégia corporativa, garantindo coerência entre objetivos de longo prazo e iniciativas concretas para sustentar a coerência entre decisões;
- Estabelecer os mecanismos de coordenação, supervisão, priorização e legitimação que orientam a gestão da inovação;
- Promover comportamentos e valores compatíveis com a cultura de inovação, assegurando sustentabilidade e evolução.
Por esse motivo, Deschamps & Nelson (2014) comparam a governança da inovação a uma “constituição organizacional”, que rege e sustenta os sistemas de decisão e de ação relacionados à inovação.
Gestão da inovação
A gestão da inovação, por sua vez, é a execução cotidiana e sistêmica das atividades inovadoras, operando dentro dos contornos estabelecidos pela governança. Entre suas responsabilidades estão:
- A gestão de ideias, projetos, portfólio e iniciativas transformadoras;
- A alocação tática de recursos e a condução de processos;
- A articulação de capabilidades e equipes para implementação e monitoramento dos resultados.
Enquanto a governança determina o “como o sistema deve funcionar”, a gestão faz esse sistema operar na prática, ajustando-se continuamente ao contexto da organização. Ou seja, a gestão da inovação executa os mecanismos definidos pela governança.
Filatotchev et al. (2020) argumentam que, em contextos inovadores, a governança deixa de ser apenas uma instância superior da gestão e passa a ser ela própria um campo de inovação.
| Assim, a governança da inovação não apenas habilita a gestão da inovação, mas também é continuamente moldada por ela.
Coerência com a definição da gestão da inovação na flexM4i A definição da gestão da inovação da flexM4i, mostrada acima, explicita que a gestão da inovação é:
Essa formulação reforça o papel da governança como infraestrutura organizacional duradoura, que sustenta o sistema de inovação, enquanto a estratégia pode se renovar periodicamente, influenciando os rumos que a gestão da inovação deve seguir. |
O papel da função inovação
A função inovação é uma função organizacional criada para sistematizar e perenizar o desenvolvimento de inovações radicais dentro da empresa (Salerno & Gomes, 2018). Conforme argumentado por O’Connor et al. (2008, 2012) e outros pesquisadores da gestão da inovação radical, ela emerge quando a empresa deseja tratar a inovação com o mesmo grau de institucionalidade com que trata outras dimensões essenciais, como produção, marketing ou finanças.
Assim como uma empresa define uma função de vendas quando deseja vender, ou uma função de P&D quando deseja desenvolver novas tecnologias, ela define uma função inovação quando deseja inovar de forma perene, coordenada e estratégica.
Apesar da função inovação ter surgido como resposta à necessidade de estruturar a inovação mais radical, a função inovação evoluiu e, hoje, é compreendida como uma função organizacional transversal que orquestra esforços de inovação nos seus diferentes graus de intensidade e natureza – incremental, adjacente ou disruptiva. Seu papel não se limita a um tipo específico de inovação nem se confunde com um departamento ou área funcional: trata-se de uma instância organizacional articuladora, que conecta estratégia, governança e execução.
Mas frequentemente uma função organizacional é de responsabilidade de uma área da empresa. Essa prática pode ser uma limitação em funções multidisciplinares como a inovação. |
Como ilustra a figura 1377, apresentada na introdução desta seção, a função inovação articula elementos tanto da governança da inovação, como diretrizes estratégicas, critérios de priorização e metas organizacionais, quanto da gestão da inovação, como a coordenação de portfólios, o uso de recursos e a execução de processos.
O escopo da função inovação varia conforme o nível de ambição inovadora da empresa e pode incluir fóruns, equipes, rituais, sistemas de medição e práticas culturais. À medida que se consolida, a função inovação não apenas opera dentro das regras definidas pela governança, mas contribui para sua construção e evolução contínua, em linha com a perspectiva das inovações na governança (Filatotchev et al., 2020).
Inovação na governança e interações dinâmicas com a gestão
Além de distinguir os papéis estruturantes da governança e os executivos da gestão, é importante reconhecer que, em contextos de alta incerteza, essas fronteiras se tornam mais permeáveis e sujeitas à experimentação.
Autores como Filatotchev et al. (2020) propõem um deslocamento conceitual importante: em vez de focar apenas na governança da inovação, é necessário considerar também as inovações na governança. Essa perspectiva reforça que os próprios mecanismos de governança podem (e devem) evoluir, incorporando novas formas de colaboração, controle e tomada de decisão.
Nesse sentido:
- A gestão da inovação não apenas opera dentro do sistema definido pela governança, mas também retroalimenta a governança com aprendizados, pressões adaptativas e propostas de reconfiguração.
- A governança, por sua vez, precisa ser reflexiva e aberta à evolução — especialmente diante de práticas emergentes como transformação digital, servitização ou uso de IA.
Essa visão é coerente com a perspectiva da teoria dos sistemas abertos, segundo a qual a governança não é um conjunto fixo de estruturas, mas um sistema institucional que interage com seu ambiente social e tecnológico.
Assim, a governança da inovação não deve ser compreendida apenas como um sistema preexistente que regula a inovação — ela também é um espaço de experimentação organizacional.
Além disso, como mostramos no tópico “A teoria da prática é outra” da seção que trata da implementação da governança, as empresas começam a inovar, depois de um tempo pensam em gestão da inovação, e muito tempo depois observam que decisões tomadas sobre como inovar, na gestão da inovação, na verdade podem ser consideradas atividades da governança da inovação. Nesse momento é que começa a “formalizar” a governança da inovação.
Mesmo assim, como mostramos no tópico “Como evitar o engessamento: a governança como suporte adaptativo à inovação” da seção principal sobre a governança da inovação, nem sempre precisamos “amarrar” a gestão da inovação com regras definidas pela governança.
Essa abordagem evita interpretações normativas ou rígidas, que tratam a governança como se fosse uma instância puramente hierárquica e definitiva. Em vez disso, reconhece o ciclo evolutivo de feedback entre governança e gestão; estrutura e prática; regras e aprendizado.
Procedimentos e apoio do chatGPT
Este tópico é comum para as cinco seções que tratam da governança da inovação.
Foi utilizada a versão mais recente do ChatGPT-4o, com funcionalidades aprimoradas de análise e geração textual.
Preparação antes da interação com o ChatGPT
Antes do início da colaboração com o ChatGPT, o autor realizou uma leitura aprofundada de referências fundamentais sobre governança da inovação e governança corporativa, com destaque para o livro Innovation Governance de Deschamps & Nelson (2014), além de artigos acadêmicos complementares como Shibao et al. (2024), Ribeiro (2009), e documentos técnicos sobre governança da inovação desenvolvidos no âmbito do Ministério da Economia. Também foram considerados conteúdos já existentes na flexM4i, especialmente as seções sobre gestão da inovação, arquitetura organizacional, tese de inovação, papéis da alta direção, e tópicos associados a ESG e sustentabilidade. A obra Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa (IBGC, 2023) também foi revisitada para reforçar a articulação entre a governança da inovação e a governança corporativa. Além disso, foi incorporado o Modelo das Duas Rodas (Faria et al., 2017) como principal referência para o tratamento da governança em pequenas e médias empresas.
Trabalho interativo com o ChatGPT
A construção das seções sobre governança da inovação ocorreu por meio de um processo iterativo distribuído ao longo de 18 horas e 27 interações entre o autor e o modelo ChatGPT, que resultou em 42 páginas com aproximadamente 12 palavras. O desenvolvimento do conteúdo seguiu uma sequência estruturada: definição autoral do sumário e dos tópicos; mapeamento dos trechos relevantes nos artigos originais; elaboração de parágrafos com base nesses trechos; e, por fim, revisão crítica e integração textual com os conteúdos já consolidados na flexM4i.
O ChatGPT atuou como parceiro analítico e redacional, auxiliando na seleção e interpretação de trechos, proposição de estruturas argumentativas, redação de parágrafos e síntese de ideias complexas. Além disso, foi utilizado para localizar citações em arquivos PDF, identificar trechos conceitualmente relevantes e revisar a coerência interna dos argumentos.
Durante o processo, foram produzidas versões preliminares e consolidadas de tópicos como: definições de governança da inovação, condições e motivos para sua adoção, relação com a governança corporativa, papéis da alta direção, indicadores, auditoria, modelos de governança, premissas para implementação, barreiras organizacionais e recomendações para PMEs. Cada tópico foi desenvolvido a partir de uma análise cruzada entre referências acadêmicas e experiências práticas discutidas com o modelo.
O modelo foi instruído a adotar uma postura crítica e analítica, sendo solicitado explicitamente a oferecer contrapontos e sugestões alternativas sempre que pertinente. Em diversas ocasiões, tensionamentos conceituais e propostas de reformulação foram gerados a partir das provocações do autor, que conduziu editorialmente todas as decisões de conteúdo. Nenhuma parte do texto foi gerada de forma automática; todas as formulações passaram por ciclos sucessivos de refinamento, revisão e validação.
Além do texto, algumas figuras conceituais foram propostas ou ajustadas com apoio do ChatGPT, e foram incluídas notas explicativas com base em modelos como o MDR, a ISO 56002 e o framework de Deschamps & Nelson. A convergência e distinção entre governança e gestão da inovação, bem como entre os mecanismos de governança e os modelos de coordenação ou orquestração, também foram exploradas conceitualmente com o apoio analítico do modelo.
A versão final dos textos foi cuidadosamente revisada pelo autor dessas seções com atenção à consistência terminológica, rigor conceitual e compatibilidade com os demais conteúdos da metodologia. Essa abordagem buscou garantir que as seções sobre governança da inovação se integrassem de forma coesa ao corpo teórico-prático da flexM4i, respeitando sua proposta metodológica e seu compromisso com a clareza e aplicabilidade.
Referências
Deschamps, J.-P., & Nelson, H. (2014). Innovation governance: How top management organizes and mobilizes for innovation. John Wiley & Sons.
Filatotchev, I., Aguilera, R. V., & Wright, M. (2020). From governance of innovation to innovations in governance. Academy of Management Perspectives, 34(2), 173–181. https://doi.org/10.5465/amp.2017.0011
O’Connor, G. C. (2008). Major innovation as a dynamic capability: A systems approach. Journal of Product Innovation Management, 25(4), 313–330. https://doi.org/10.1111/j.1540-5885.2008.00304.x
O’Connor, G. C. (2012). Innovation: from process to function. Journal of product innovation management, 29(3), 361-363.
Salerno, Mario Sergio & Gomes, Leonardo Augusto de Vasconcelos. (2018). Gestão da inovação (mais) radical. 1. ed. – Rio de Janeiro : Elsevier, 88p.