Instrumento de Avaliação de Cultura de Inovação
Como guiar a cultura da empresa em direção à inovação?
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Este instrumento foi criado por Cristhian Mafalda<cristhianmafalda@gmail.com>, Ricardo Esposto<ricardoesposto@gmail.com> e Mateus Gerolamo <gerolamo@sc.usp.br>
Conteúdo desta página
- 1 Descrição resumida
- 2 Quando você deveria utilizar a avaliação de cultura de inovação?
- 3 Por que você deveria utilizar este instrumento?
- 4 Visão geral
- 5 Etapas de Aplicação
- 6 Premissas, dicas e cuidados
- 7 Material de apoio
- 8 O que está relacionado com este instrumento
- 9 O que fazer a seguir?
- 10 Exemplo de um caso
- 11 Referências
Descrição resumida
O instrumento de avaliação de cultura de inovação é um diagnóstico baseado na literatura sobre cultura organizacional e inovação, com foco em mapear a percepção das pessoas a respeito dos principais elementos da cultura de inovação. O instrumento consiste na seleção do público-alvo, identificação dos principais grupos a serem analisados, desenho do plano de comunicação, aplicação do questionário, análise dos resultados e devolutiva. O questionário e a avaliação têm como base uma estrutura de análise semelhante ao NPS e o resultado quantifica a manifestação das dimensões de cultura da inovação: Valores, Comportamentos, Liderança, Processos, Recursos e Resultados.
Quando você deveria utilizar a avaliação de cultura de inovação?
- Esse instrumento é voltado para avaliação da percepção das pessoas sobre elementos da cultura de inovação no ambiente organizacional;
- Pode ser aplicado em pequenas, médias ou grandes organizações, em diferentes times ou áreas de empresas;
- Independe do estágio de maturidade e setor empresarial;
- Sua aplicação contribui desde o começo de iniciativas de inovação até a revisão e manutenção de suas diversas etapas;
- Este instrumento deve ser aplicado antes de um processo de transformação cultural para inovação;
- Este instrumento deve ser utilizado antes da definição estratégica organizacional e de inovação ou na estruturação da revisão deles;
- O instrumento pode ser usado no momento de avaliação de progresso de implementação de ações de inovação;
- Pode ser aplicado quando mudanças inovadoras não persistem no longo prazo por falta de comprometimento com a inovação, ajudando a entender as causas.
Por que você deveria utilizar este instrumento?
- O instrumento pode ser usado quando uma organização deseja ter um diagnóstico de cultura de inovação;
- O instrumento ajuda a superar barreiras culturais que podem estar impactando negativamente na estratégia de inovação da organização;
- Apoia quando líderes precisam entender como guiar a cultura de inovação;
- Evidencia a falta alinhamento entre áreas da empresa em relação a inovação;
- Permite entender o momento atual e o desejado da empresa relacionado a inovação;
- Melhora a compreensão dos principais gaps em elementos de inovação;
- Ajuda a identificar silos que não estão alinhados com uma cultura de inovação;
- Auxilia na identificação de pontos de desconexão entre as áreas e a estratégia da organização para a inovação;
- No longo prazo, indica caminhos para garantir a sustentabilidade de transformações culturais pró-inovação.
Visão geral
A inovação pode ser vista como uma das possíveis soluções para empresas que desejam crescer de maneira contínua, superar crises ou simplesmente continuarem competitivas no mercado. Diferente da invenção, a presença de geração de valor é essencial para a inovação. A parte essencial da inovação reside sempre nas pessoas. Não é possível inovar sem trabalhar as questões de cultura organizacional.
A cultura de uma organização pode ser simplificada como “a em que fazemos as coisas por aqui” (Gerolamo, 2019), mas também pode ser vista de forma mais técnica como o conjunto de padrões e suposições de um grupo para resolver seus problemas internos e externos e que são repassados como ensinamentos para novos membros (Schein, 1984).
Questões de alinhamento e culturais representam as maiores barreiras à inovação dentro das empresas. Associando com a inovação, tem-se a cultura de inovação: ambiente cultural que possui elementos, ações e ferramentas direcionados pela intenção de inovar. Compreender a cultura de inovação apoia movimentos de gestão da mudança, atacando dimensões que a princípio não são tangíveis em uma organização (Gerolamo, 2019).
Diagnosticar a cultura organizacional permite entender o comportamento da empresa em relação à inovação de forma mais abrangente. Apenas com um diagnóstico específico de cultura de inovação será possível compreender os aspectos limitantes da inovação e potencializadores da organização para a inovação. O método de avaliação de cultura de inovação foi construído com base em uma revisão da literatura seguida de análise de conteúdo. Com isso, foi possível selecionar 36 elementos, agrupados em 6 dimensões (Quadro 1) para avaliar a cultura de inovação de forma sistematizada e compreensiva.
Comportamentos
Liderança
Processos
Recursos
Resultados
Valores” col_column_max_width=”0.3fr” col_column_min_width=”100px” col_icon_type=”R||divi||400″ col_button_text=”link” col_button_width=”block” col_rhead_cell_align_horz=”center” col_rhead_cell_align_vert=”center” col_tcell_text_wrap=”normal” _builder_version=”4.19.4″ _module_preset=”default” custom_button=”on” button_text_size=”14px” button_text_color=”#0C71C3″ button_border_width=”0px” button_use_icon=”on” button_icon=”5||divi||400″ button_icon_color=”#0C71C3″ global_colors_info=”{}”][/dvmd_table_maker_item][dvmd_table_maker_item col_label=”Origem dos fundos” col_content=”Explicação
O ambiente de trabalho manifesta os valores e o estilo de liderança através de comportamentos, ou seja, atitudes que fazem parte do cotidiano e reforçam as crenças culturais.
Alta gestão deve ser comprometida com a cultura de inovação. Mais do que liderar, essas pessoas devem ser agentes de transformação e facilitadores de processos e projetos, patrocinando as ações inovadoras.
Padrões de interação, coordenação, comunicação e tomada de decisão que as pessoas usam para transformar recursos em produtos e serviços de maior valor, ou seja, a forma como a empresa gera novas ideias, como avalia, experimenta e seleciona em quais investir.
Recursos envolvem pessoas, sistemas e projetos. Os recursos de inovação representam a capacidade da empresa de suportar sua inovação através de aspetos tangíveis(dinheiro) e intangíveis(conhecimento).
Sucessos em três esferas: externo, empresarial e pessoal. O sucesso é um feedback que retroalimenta as demais dimensões. Ele representa a percepção que as pessoas têm a respeito do impacto causado pela inovação nas três esferas. Um feedback positivo reforça o valor que as ações inovadoras tiveram nas demais dimensões.
Os valores direcionam prioridades e decisões, refletidas na maneira como uma empresa gasta seu tempo e dinheiro. Os valores de uma empresa não são o que a alta gestão indica em relatórios, mas sim as diretrizes que guiam a tomada de decisões diariamente. Os valores se manifestam na maneira como as pessoas se comportam e gastam, mais do que na maneira como falam.” _builder_version=”4.19.4″ _module_preset=”default” global_colors_info=”{}”][/dvmd_table_maker_item][/dvmd_table_maker]
Observação e lógica conceitual
Uma observação importante é a relação de causa-e-efeito que os autores enxergam entre as seis dimensões (próxima figura). Dimensões como valores, comportamentos e liderança são vistas como elementos fortemente associados com a cultura organizacional, sendo bases para sua definição. Já as dimensões recursos, processos e resultados são consequências e dependem, não somente, dos aspectos culturais como valores e comportamentos. A hipótese aqui é a de que o investimento em dimensões de base levam, no médio e longo prazo, a melhorias nas dimensões impactadas.
Figura 848: Relação entre as Dimensões de Cultura de Inovação
Fonte: Mafalda (2020)
O método permite que empresas reconheçam suas fortalezas e seus pontos limitantes dentro do tema inovação, permitindo avaliar a cultura de inovação e contribuir com a estratégia de transformação cultural da empresa.
Em resumo, a cultura de inovação se relaciona com o ambiente de uma organização (ver Figura 2) da seguinte forma:
Figura 849: Mapa conceitual do diagnóstico de cultura de inovação
Fonte: Adaptado de MAFALDA, 2020(p. 21)
- Empresas possuem uma cultura organizacional existente e desejam alcançar a inovação, mas fatores culturais são uma das maiores barreiras
- Para compreender a cultura organizacional de uma empresa, é necessário realizar uma avaliação de sua cultura, dando visibilidade a percepção e alinhamentos que as pessoas possuem sobre o momento atual e futuro
- Com a cultura organizacional mapeada, é possível avançar a análise entrando na cultura de inovação
- A melhor forma de avaliar uma cultura de inovação é fazendo seu diagnóstico específico para cultura de inovação, usando o instrumento aqui descrito
- Com o diagnóstico, é possível desenhar estratégias e corrigir planos em andamento, de modo a permitir a evolução dos elementos de uma cultura de inovação, que por sua vez, garantem a sustentabilidade da inovação
- A inovação, por sua vez, reforça os aspectos culturais ligados a ela por meio de aplicação de processos, recursos e atingimento de resultados específicos da cultura de inovação
Etapas de Aplicação
1) Verificar se a organização precisa da aplicação do instrumento
O instrumento de análise da cultura de inovação pode ser utilizado quando uma organização de pessoas deseja entender sua cultura de inovação buscando uma transformação cultural, uma mudança de estratégia ou simplesmente visando atuar em gaps de inovação para garantir a sustentabilidade da inovação existente.
O instrumento apoia em decisões estratégicas, indica desalinhamentos internos e ajuda na priorização de planos de ação relacionados com o processo de inovação.
O momento ideal para iniciar as discussões sobre o instrumento é preferencialmente antes de revisões de estratégia ou cultura da empresa, mas também pode atuar para compreender mudanças anteriores que não obtiveram sucesso.
2) Definir unidade de análise e público-alvo para aplicar o método
Unidade de análise pode ser uma planta, uma área, uma organização ou um grupo de pessoas responsável pela gestão da inovação ou qualquer grupo de pessoas que queira um diagnóstico dos elementos de cultura de inovação que compartilham entre si
Público-alvo são todos os colaboradores que possuem percepção sobre a inovação e não somente da área de inovação:
- de diferentes níveis hierárquicos
- de áreas distintas
- com perfis diversificados quanto ao gênero, tempo de casa, escolaridade
3) Comunicar o processo de diagnóstico às partes envolvidas
A comunicação do instrumento deve ser alinhada com todas as partes envolvidas. Garantir a participação do público-alvo é um critério de sucesso para uma análise assertiva dos resultados obtidos.
Existem diversos canais de aplicação como questionários online, impressos ou até mesmo entrevistas individuais. O cronograma de aplicação do questionário pode utilizar ciclos de comunicação via e-mail, cartazes, comunicados dos líderes ou até mesmo mensagens de celular.
A criação de um painel de acompanhamento da quantidade de respondentes por setor ajuda a reforçar a comunicação onde é mais necessário, além de garantir uma amostra bem distribuída dos respondentes em relação ao público-alvo do diagnóstico.
4) Aplicar o questionário
O instrumento apresenta 36 questões que avaliam diferentes dimensões de uma cultura de inovação. O tempo previsto de preenchimento do questionário completo é de cerca de 15 minutos.
Durante o preenchimento do questionário, o respondente fornecerá a sua percepção sobre as características da sua organização em uma escala que varia de zero a dez. Considere que as respostas próximas a zero (0) indicam a ausência de verdade ou frequência na frase da questão; a resposta mais próxima a dez (10) para situações em que se concorda com a ocorrência ou frequência da frase citada.
Exemplo: Em uma questão hipotética com a frase “As pessoas na empresa são autênticas”, uma pessoa deve avaliar com respostas próximas a zero caso ela perceba que poucas (ou nenhuma) pessoa se comporta dessa forma. No caso de notar uma frequência alta de pessoas que se mostram autênticas, deverá responder com uma nota próxima de dez.
Ao final do questionário apresentam-se as perguntas demográficas que apoiam a estratificação dos resultados. Além disso, existem perguntas com campos abertos para que as pessoas possam incluir percepções que consideram que não foram discutidas no instrumento. A análise sobre essas respostas ajuda a compreender pontos importantes sobre a empresa.
5) Analisar os dados globais e estratificados
Para avaliação dos resultados, é necessário aplicar o conceito por trás da metodologia NPS de avaliação, segundo a qual respostas entre 0 e 6 são detratoras, respostas entre 7 e 8 são neutras e, por fim, respostas 9 ou 10 são promotoras.
Após classificar as respostas, o indicador global é formado pela diferença entre respostas promotoras e detratores, dividido pela soma dos três grupos, formando uma escala de -100% a +100%.
Ex: considere os seguintes resultados de uma avaliação:
Quadro 2 – Exemplo de respostas
Fonte: adaptado de Mafalda (2020)
Neste caso, o indicador global é formado pela diferença entre promotores (25) e detratores (20), dividido pela soma dos respondentes válidos (25+5+20). Portanto, o resultado desse caso é +10%. Isso mostra que apesar de existirem mais percepções positivas do que negativas (devido ao resultado ser positivo), a intensidade é baixa (visto que atingiu apenas 10 dos 100 pontos positivos possíveis).
Vale ressaltar que com base nesse indicador é possível analisar dimensões (filtrando apenas questões da dimensão desejada), times, cargos, faixas etárias ou qualquer outra segmentação desejada.
Para estratificações, basta calcular o resultado de cada respondente filtrado e fazer uma média simples entre os valores obtidos.
Para facilitar a compreensão de resultados, são utilizadas algumas faixas que classificam a organização de acordo com a pontuação final obtida.
Quadro 3 – Classificação do indicador de cultura de inovação
Fonte: adaptado de Mafalda (2020)
6) Devolutiva
Iniciando pelo grupo que apoiou diretamente a aplicação do questionário, é importante apresentar os resultados completos e debater junto ao público, inferências e pontos de atenção.
Em seguida, a validação com níveis executivos é o momento em que o diagnóstico começa a servir de base para tomada de decisão estratégica e cultural da empresa.
É recomendado que ocorra uma devolutiva ao público-alvo completo, ainda que filtrada para garantir o anonimato das respostas, mas que ao menos mostre as pessoas foram ouvidas e que a opinião delas servirá de base para futuras estratégias. Isso pode ocorrer com uma palestra, um workshop interativo ou simplesmente um e-mail/vídeo divulgado pela empresa.
Premissas, dicas e cuidados
- O método tem como base a premissa de que a empresa deseja avaliar e evoluir a cultura de inovação;
- Não utiliza-se a questão padrão do NPS de avaliar a recomendação de uma pessoa sobre algum produto ou serviço;
- Porém, é premissa do instrumento utilizar o conceito e a lógica de cálculo da metodologia NPS, com questões sobre elementos de inovação e sua manifestação no cotidiano da organização. A pergunta é se o respondente enxerga ou não a afirmação do questionário sendo aplicada na organização. Isso equivale a indicação do método NPS.
- O conceito de NPS é baseado em aspectos psicológicos para definir suas escalas de promotores e detratores. O instrumento infere que a mesma lógica pode ser atribuída para percepção sobre inovação.
- O objetivo disso é reduzir o “grade inflation”, ou seja, a tendência humana a atribuir notas maiores pelo aspecto psicológico de não desejar ser crítico mesmo em situações em que isso seria o correto.
- Ainda sobre o NPS, o instrumento também assume a premissa de que é possível utilizá-lo como forma de avaliação de percepção múltipla, de modo que ao responder diversas perguntas em sequência, a metodologia de análise ainda seria válida.
- Não existem respostas certas ou erradas para as questões. Se estiver com dúvidas, considere a sua realidade local, sua função, sua área, o comportamento dos colegas próximos, procure lembrar-se de exemplos que tenha vivido e que possam ajudar nas respostas.
- Os resultados se mostram mais realistas quando a empresa apoia a aplicação, e possui um esforço interno da organização para disseminar o questionário e incentivar sua resposta, porém nunca de maneira forçada.
- A participação de cargos de liderança com alto grau de representatividade é um fator de sucesso para localizar gaps e desalinhamentos.
- O método é baseado na percepção qualitativa das pessoas sobre o ambiente organizacional. A busca por um indicador quantificável não retira certo grau de subjetividade das respostas atrelado ao comportamento humano (ex: enviar o questionário logo após o anúncio de grandes conquistas eleva a percepção geral).
Material de apoio
O acesso para o instrumento pode ser feito da seguinte forma:
Versão reduzida em Excel → feita para análise individual e familiarização com o método.
O que está relacionado com este instrumento
Para obter um resultado melhor, é recomendado alinhar essa prática com um diagnóstico de cultura organizacional (Mafalda, 2020). O OCAI (Organizational Culture Assessment Instrument) é um dos possíveis instrumentos que podem ser aplicados (Cameron & Quinn; 2011).
Outros instrumentos de diagnóstico também podem ser utilizados, como o Octógono da Inovação (Scherer & Carlomagno; 2016) ou o Quociente de Inovação (Rao & Weintraub; 2013), além de sua versão validada (Danks; Rao; Allen, 2017a e b).
Os elementos de inovação usam como base o framework de Dionisio (2020).
O que fazer a seguir?
- Comunicar os resultados para os sponsors do projeto
- Comunicar os resultados para a liderança corporativa
- Fazer workshops de alinhamento quando for identificada a necessidade de alinhamento cultural
- Avaliar o impacto do resultado na estratégia de inovação da empresa
- Comunicação ampla do resultado para todos que participaram da pesquisa
- Criação de um roadmap para implementação de abordagens e práticas de gestão da inovação
- Treinamentos nas abordagens e práticas de gestão da inovação
Exemplo de um caso
Atualmente temos um caso-exemplo de aplicação deste instrumento em uma empresa do setor de agronegócio, de acordo com as etapas de aplicação.
Exemplo de uma empresa do setor de agronegócio
1) Verificar se a organização precisa da aplicação do instrumento
A primeira etapa da aplicação do instrumento foi alinhar a aplicação com o grupo de trabalho da empresa, buscando entender quais as segmentações que deveriam ser avaliadas e as melhores formas de comunicação do instrumento. Nesse caso, a organização havia passado por uma troca executiva, com um novo Diretor focado em estimular a inovação e uma nova gerente de RH buscando um diagnóstico da cultura organizacional para conhecer melhor a empresa.
2) Definir unidade de análise e público-alvo para aplicar o método
Em conjunto com a empresa, foi definido um conjunto de segmentação baseado no perfil demográfico dos colaboradores da empresa e em hipóteses que eles gostariam de testar. Vale relembrar que todas garantiram que as respostas pudessem permanecer anônimas ao avaliar cada grupo de forma isolada, com exceção do diretor, que permitiu a análise individual própria. Com isso, as segmentações escolhidas foram:
- gênero: homens, mulheres e prefiro não identificar
- idade (geração): baby boomers, geração X, millennials ou geração Z
- nível de instrução: fundamental, médio, superior e especialização (completos ou não)
- tempo de casa: abaixo de 2 anos, entre 2 e 5, entre 5 e 10, entre 10 e 20 e mais de 20 anos
- departamento: operações, financeiro, logística, produção, RH, Marketing, Administrativo e projetos
- cargo: diretor, gerente, coordenador, engenheiro, supervisor, técnico, analista e operador
- existência ou não de experiência profissional externa a organização
Todas foram escolhidas com base em informações internas da própria empresa a respeito de diferenças percebidas na prática que o grupo gostaria que fossem testadas. O perfil demográfico está na Figura 850 a seguir.
Figura 850: Público-alvo da empresa do exemplo de aplicação do instrumento de avaliação de cultura de inovação (clique na figura para abrir em outra janela para depois aumentá-la)
Fonte: adaptado de Mafalda (2020)
3) Comunicar o processo de diagnóstico às partes envolvidas
Nesse caso, a opção escolhida foi a aplicação online do questionário, usando uma plataforma de pesquisa. Os colaboradores receberam a pesquisa durante o período de trabalho e nela havia o termo de compromisso e ciência, no qual era ressaltada a privacidade das respostas.
4) Aplicar o questionário
O questionário teve três ciclos de envio aos colabores, com um monitoramento periódico das respostas para verificar quais segmentações não estavam corretamente representadas. A média gestão da empresa foi importante para motivar seus times a responderem. Ao todo, foram duas semanas de aplicação, com comunicações institucionais em três ciclos, no primeiro, no oitavo e no décimo segundo dia.
5) Analisar os dados globais e estratificados
Após o encerramento do questionário, os resultados foram avaliados e os indicadores foram calculados. Na média global, a empresa atingiu um nível de 13% (em uma escala de -100% até +100%), portanto apresentou um resultado inovador para cultura de inovação. Esse indicador global é uma média que simplifica os resultados das seis dimensões mas não é recomendado utilizá-lo para análises e construções de planos de ação. O leitor deve lembrar-se de que valores médios podem esconder os resultados individuais diagnosticados em cada dimensão.
Se analisarmos cada uma das seis dimensões de forma isolada, vemos que a empresa teve resultados melhores nas dimensões de Comportamentos e Liderança e piores na dimensão Resultados e Processos. Esse resultado indica percepções diversas sobre diferentes elementos e ajuda a entender o momento da empresa.
Figura 851: Resultados da empresa para dimensões da cultura de inovação
Fonte: adaptado de Mafalda (2020)
Podemos também aprofundar a análise em cada dimensão, buscando qual elemento apresentou a maior intensidade positiva ou negativa. O instrumento torna possível ir no detalhe da análise para cada grupo de respondentes e buscar na lista de elementos, aqueles em que eles podem se apoiar como pontos fortes que a empresa possui em termos de inovação. De forma semelhante, permite que os pontos fracos de cultura de inovação sejam identificados, de modo que planos de ação possam ser traçados.
Figura 852: Distribuição de resultados por elemento das dimensões do diagnóstico de cultura de inovação (clique na figura para aumentá-la)
Fonte: adaptado de Mafalda (2020)
As segmentações nos ajudam a entender diferentes visões entre o público da empresa. Como vemos nesse exemplo, apesar da média da empresa ser positiva, quando observamos apenas o nível executivo (C-level) a percepção é desalinhada com o nível de diretores. Isso é representado na Figura 6, na qual vemos o resultado por dimensão, filtrando para o C-level e por fim o resultado do Diretor. Existe uma avaliação fortemente negativa para as dimensões no primeiro grupo, enquanto o segundo tem a avaliação média mais forte do que a média global. Sendo níveis hierárquicos próximos, esse desalinhamento pode impactar na estratégia e no clima organizacional.
Figura 853: Diferença entre os resultados do C-level e dos diretores (por dimensão) na aplicação do instrumento para avaliação da cultura de inovação
Fonte: adaptado de Mafalda (2020)
6) Devolutiva
Um dos pontos inferidos a partir do instrumento foi que a empresa está passando por uma revisão de cultura, missão, visão e valores. Essa alteração impacta diretamente nas dimensões mais intangíveis do modelo (Valores, Liderança e Comportamentos), mas leva um tempo para gerar impacto nas demais frentes, embora seja o caminho mais sustentável no longo prazo.
No caso da empresa de agronegócio, foi também identificado um gap em relação a conceitos de inovação e falta de alinhamento entre diferentes níveis hierárquicos e departamentos. Portanto, o plano de ação traçado envolvia workshops de alinhamento cultural entre diferentes grupos, criação de indicadores de inovação, dinâmicas de reforço dos pontos positivos e a criação de um roadmap de evolução da dimensão processos. O objetivo traçado era evoluir as dimensões Valores, Comportamentos e Liderança, dando suporte para Processos e Recursos iniciarem um crescimento, para depois buscar evoluir a dimensão Resultados.
Referências
Cameron, K. S.; Quinn, R. E. (2011). Diagnosing and changing organizational culture. 3rd ed. San Francisco: Jossey-Bass.
Danks, S.; Rao, J.; Allen, J. M. (2017a). Measuring culture of innovation: a validation study of the innovation quotient instrument (Part 1). Performance Improvement Quarterly, v. 29, n. 4, p. 427–454.
Danks, S.; Rao, J.; Allen, J. M. (2017b). Measuring culture of innovation: a validation study of the innovation quotient instrument (Part 2). Performance Improvement Quarterly, v. 30, n. 1, p. 29-54.
Dionisio, G. F. Análise dos elementos que compõem a cultura de inovação: um estudo teórico. Tese (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2019.
Gerolamo, M. C. (2019). Gestão da mudança na perspectiva do comportamento organizacional e da liderança: proposta de um framework teórico e avaliação de iniciativas acadêmicas. 2019. Tese (Livre Docência) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2019.
Mafalda, C. (2020). Diagnóstico de cultura de inovação: desenvolvimento e aplicação de um instrumento sistematizado em língua portuguesa. 2020. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos.
Rao, J.; Weintraub, J. How innovative is your company’s culture?. MIT Sloan Management Review, v. 54, n. 3, p. 29–37, 2013.
Reichheld, F. F. (2003). The One Number You Need to Grow. Harvard Business Review, 81(12), 46-54. https://hbr.org/2003/12/the-one-number-you-need-to-grow
Scherer, F. O.; Carlomagno, M. S. Gestão da inovação na prática: como aplicar conceitos e ferramentas de inovação para alavancar a inovação. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2016.
Schein, E. H. Coming to a new awareness of organizational culture. Sloan Management Review, v. 25, n. 2, 1984.