A prática - Caso
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Autoria: Camila Castro ([email protected])
Introdução
Este caso foi relatado no artigo de Sinha et al. (2016) que utilizou a abordagem de dinâmica de sistemas (system dynamics) para modelar o ecossistema de smartphones com o objetivo de identificar formas de fechamento do fluxo de metais neste contexto.
Este caso é um exemplo do conceito de efeitos rebote de iniciativas da economia circular.
Conheça a definição de dinâmica de sistemas. Sobre “fechamento do ciclo de materiais”, você pode consultar: – Estratégias de modelos de negócio circulares para fechamento do ciclo (closing resource loops) do modelo da Bocken et al. (2026) – conhecer as estratégias de sustentabilidade relacionadas com o fechamento de ciclo: Reusar ou reutilizar (reuse), Redirecionar (repurpose), Reparar ou restaurar (repair ou restore), Recondicionar (refurbish), Remanufaturar (remanufacture), Reciclar (recycle), Reintegrar (rot), Recuperar (recover) e Reminerar (re-mine). – no Circular Strategies Scanner essas estratégias são estruturadas dentro das categorias de Recircular produtos e componentes e Recircular materiais. |
Características do caso
Tipo de caso: modelagem e simulação com dinâmica de sistemas
Objeto de análise: efeito rebote da estratégia de fechamento do ciclo de material
Abordagem: economia circular
Setor: smartphones
Não trata de uma empresa específica
Resumo
O efeito rebote, no contexto do estudo sobre o fechamento do ciclo de fluxo de metais em sistemas de produtos de smartphones pode ser entendido como uma consequência não intencional de políticas ou ações destinadas a melhorar a sustentabilidade e a eficiência dos recursos.
Embora a publicação focasse modelar esses sistemas com dinâmica de sistemas para identificar maneiras de fechar o ciclo de fluxo de metais para criar um sistema mais sustentável, o efeito rebote identificado pelos autores é a possibilidade das melhorias em eficiência ou sustentabilidade levarem a um aumento no consumo ou uso de recursos de maneiras não previstas, potencialmente neutralizando os benefícios ambientais esperados.
Por que conhecer este caso?
Este caso mostra a viabilidade da modelagem por dinâmica de sistemas de um caso complexo. Além disso, apresenta os efeitos rebotes do sistema de smartphone e propõe algumas medidas para mitigar esses efeitos.
Possíveis efeitos rebote
Aumento do consumo de novos telefones causado por dois motivos:
- A melhoria na eficiência da reciclagem e na extensão da vida útil dos telefones pode reduzir o custo dos dispositivos, incentivando um aumento no consumo. Isso pode levar a um ciclo acelerado de substituição de telefones, aumentando a produção de novos aparelhos e, paradoxalmente, o volume de resíduos eletrônicos.
- A percepção de que a reciclagem ou a maior durabilidade dos telefones reduz o impacto ambiental pode levar os consumidores a se sentirem justificados a trocar seus dispositivos com mais frequência, um fenômeno conhecido como “licença moral”. Esse comportamento do consumidor pode aumentar a demanda por novos dispositivos e acelerar o ciclo de vida dos produtos, exacerbando o problema dos resíduos eletrônicos.
Reciclagem informal: O incentivo à reciclagem, especialmente em países em desenvolvimento, pode levar ao aumento da reciclagem informal. Embora isso possa parecer benéfico inicialmente, a reciclagem informal frequentemente resulta em processos menos eficientes e mais prejudiciais ao meio ambiente, liberando substâncias tóxicas e perdendo materiais valiosos, contradizendo os objetivos de sustentabilidade.
Como mitigar os efeitos rebote
Após a criação de modelos utilizando o formalismos da dinâmica de sistemas e a realização de simulações para prever possíveis resultados futuros alterando as variáveis dos modelos, os autores chegaram a sugestões para mitigar os efeitos rebote, que descrevemos a seguir.
Ações para aumentar a vida dos smartphones
Conceito phoneblok: Modelos indicam que prolongar a vida útil dos celulares reduz desperdícios de ciclo (no fundo o descarte do smartphone) e aumenta a eficiência do ciclo no Gerenciamento de Produto Pós-Consumo (GMPPS). Atualmente, pequenas melhorias em um item do smartphone podem tornar o dispositivo inteiro obsoleto devido ao seu design não modular. O conceito de phoneblok sugere um design modular para smartphones, permitindo substituir peças obsoletas, danificadas ou expiradas, aumentando assim sua vida útil.
Leia mais sobre o conceito de phoneblok no site do OneArmy. |
Manufatura conservadora de recursos (ResCoM): Estratégias como a ResCoM podem prolongar a vida útil dos produtos, facilitando a substituição de componentes obsoletos ou danificados, contribuindo para a sustentabilidade. Essas estratégias devem ser aplicadas desde a etapa de design conceitual, focando em todo o ciclo de vida do produto.
ResCoM visa transformar a gestão de resíduos em gestão de valor, enfatizando a adição de valor na fabricação e gestão do produto, integrando a conservação de energia, material e prevenção de resíduos como parte da estratégia de desenvolvimento do produto. Busca uma abordagem holística, integrando tecnologia, cadeia de suprimentos e aspectos de mercado ao design e desenvolvimento do produto, com o objetivo de sustentabilidade. O modelo de negócios ResCoM caracteriza-se pela interdependência e interação entre suas funções, destacando-se por produtos projetados para múltiplos ciclos de vida, a inclusão dos clientes como parte do negócio e a integração das cadeias de suprimentos diretas e reversas. É crucial que cada ciclo de vida do produto seja economicamente viável e ecologicamente eficiente, que o design do produto e a gestão da informação sejam únicos e que os fabricantes originais e clientes sejam partes integrantes do modelo de negócios (Rashid et al., 2013).
Veja a definição de “design for durability” no nosso glossário. |
Papel das empresas socioeconômicas: Entidades como organizações de caridade, organizações voluntárias, empresas sem fins lucrativos e vendedores de telefones usados têm um papel importante na reutilização de celulares, estendendo sua vida útil. Propõe-se uma plataforma de recursos para promover a simbiose de subprodutos industriais, incentivando a reutilização, reciclagem e gerenciamento de fim de vida (EoL).
Leia mais na flexM4i sobre “simbiose industrial”. |
Ações para melhorar a gestão de fim de vida de smartphones
Melhorar o sistema de coleta: Um sistema de coleta aprimorado para celulares usados é crucial para alinhar o crescimento das atividades de produção e gestão de fim de vida (EoL), melhorando a eficiência das estratégias de recircular produtos.
Leia mais na flexM4i sobre “estratégias de recircular produtos“. |
Crescimento organizacional sincronizado: É necessário mais investimento no EoL para sincronizar o crescimento dos setores a montante e a jusante para melhorar a eficiência do fluxo circular de material.
Conheça uma discussão sobre parceiros a montante e a jusante no tópico “Atores complementares” da seção sobre ecossistema de inovação e empreendedorismo. |
Responsabilidade estendida do produtor (EPR): A EPR pode desempenhar um papel importante na internalização dos custos de EoL e promover uma coleta melhorada, incentivando os produtores a projetar celulares com melhores características de reciclagem, aumentando a taxa de recuperação.
Leia mais sobre EPR na Wikipédia e no site da empresa SAP (tradução automática do inglês). |
Sistema de serviço do produto (PSS): Estratégias de leasing podem aumentar a eficiência do ciclo e minimizar a geração de resíduos durante o ciclo de vida do produto, além de minimizar vazamentos do ciclo. Um PSS pode promover um novo crescimento circular (reutilização, recondicionamento, reciclagem) no EoL de celulares, fechando o ciclo e evitando vazamentos e envios ilegais de resíduos eletrônicos.
Conheça a seção da flexM4i sobre PSS e entenda como o PSS promove a estratégia de economia circular de “Repensar e reconfigurar modelos de negócio”. |
Cadeia de suprimentos reversa: Uma cadeia de suprimentos reversa é fundamental para a implementação de outras estratégias listadas, como recondicionamento e remanufatura.
Leia mais sobre a importância da logística reversa em sua cadeia de suprimentos neste artigo na web. |
Mercados secundários para celulares recondicionados: A introdução de logística reversa e a abertura de mercados secundários para celulares recondicionados ou de segunda mão podem aumentar a reutilização de celulares e reduzir a preferência por novos, racionalizando a escolha do consumidor.
Leia mais na flexM4i sobre a estratégia de “Cascatear (cascade)”. |
Políticas de resíduos e legislação: Políticas e legislações relacionadas ao e-waste têm influência significativa na gestão de resíduos eletrônicos. Incentivos políticos para melhorar os sistemas de coleta podem ampliar a logística reversa de celulares usados.
Leia mais sobre “O que é Política Nacional de Resíduos Sólidos?”. |
Incentivos fiscais: Impor um imposto maior sobre materiais e energia embutida e um imposto menor sobre o trabalho pode incentivar os setores de reparo e recondicionamento, estendendo a vida útil dos celulares.
Referências
Rashid, A., Asif, F. M. A., Krajnik, P., & Nicolescu, C. M. (2013). Resource conservative manufacturing: An essential change in business and technology paradigm for sustainable manufacturing. Journal of Cleaner Production, 57, 166–177. https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2013.06.012
Sinha, R., Laurenti, R., Singh, J., Malmström, M. E., & Frostell, B. (2016). Identifying ways of closing the metal flow loop in the global mobile phone product system: A system dynamics modeling approach. Resources, Conservation and Recycling, 113, 65–76. https://doi.org/10.1016/j.resconrec.2016.05.010