Estratégias, Objetivos e Indicadores
Vantagem competitiva e estratégias genéricas

flexM4I > a teoria > estratégias, objetivos e indicadores > Vantagem competitiva e estratégias genéricas (versão 2.0)
Autoria: Henrique Rozenfeld ([email protected])

Apresenta os conceitos básicos da vantagem competitiva ao discutir sobre as 5 forças competitivas de Porter. Em seguida mostra a tipologia de Miles & Snow de estratégias genéricas, que apesar de ser antiga, ainda é apropriada para se relacionar com a gestão da inovação. Remete para a abordagem de planejamento estratégico, que está em outra seção.

Vantagem competitiva e as Cinco forças de Porter

As 5 forças de Porter representam um conceito clássico para se analisar as vantagens competitivas dentro de um setor e que servem para embasar o posicionamento estratégico (Porter, 1997). A empresa deve conhecer essas forças (ilustradas na próxima figura), que se resumem em ameaças ao negócio, que devem ser enfrentadas por ações, ou seja, inovações no seu sentido mais amplo utilizado na flexM4I e não somente inovações em produtos e/ou serviços. Veja os objetos de inovação como determinantes para os tipos de inovação.

Figura 790: 5 forças de Porter para representar as vantagens competitivas
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4f/Cinco_For%C3%A7as_de_Porter.png pt:User:Arnaldo Rabelo at pt.wikipedia, CC BY-SA 2.0 <https://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0>, via Wikimedia Commons 

A descrição desta figura está na seção “planejamento estratégico”.

Esse conceito das “ameaças” mostra a importância de se “rastrear, monitorar e analisar o contexto externo” constantemente. Essa é a primeira categoria de processos, apresentada na lógica da inovação da flexM4I. 

Com base nesse mapeamento das “ameaças” e possíveis barreiras são definidas estratégias competitivas, após o posicionamento estratégico.

Estratégias genéricas

Na forma tradicional, é das estratégias de negócio que tudo se desdobra (de cima para baixo). Mas hoje existem caminhos alternativos (de baixo para cima), como mostraremos mais à frente.

Segundo diferentes autores, podem ser definidos tipos distintos de estratégias genéricas, que direcionam as estratégias específicas de uma empresa. Vamos enfatizar as estratégias de Miles & Snow (1978), que até hoje são corroboradas por trabalhos atuais. Veja outros tipos de estratégias genéricas na seção “planejamento estratégico”.

Tipologia de Miles & Snow

Esta tipologia foi inicialmente publicada em um artigo em 1978 (Miles et al., 1978), no mesmo ano dois dos quatro autores do artigo publicaram um livro (Miles & Snow, 1978). Na edição de 2003, eles atualizaram a proposta da tipologia, mas em essência ela permaneceu a mesma.

Neste proposta, os autores relacionam estratégias com a especificação de estruturas e processos. Observem que naquela época não se utilizava termos como ecossistema, agilidade, capabilidades dinâmicas, ambidestria organizacional, mas esses conceitos estão implícitos em algumas das práticas.

Esses tipos são até hoje utilizados como referência em vários trabalhos, que comprovaram sua atualidade  (Sollosy, 2013; Thomas & Ramaswamy, 1996; Zahra & Pearce, 1990) 

Defensiva

  • procura dominar um segmento de mercado para criar um conjunto estável de produtos, serviços e clientes;
  • compete por preço e com níveis de excelência na prestação de serviços;
  • existe uma tendência de ignorar desenvolvimentos fora do domínio estabelecido;
  • crescimento incremental e cuidados para aumentar a penetração de mercado;
  • inovações relacionadas com produtos e serviços existentes;
  • foco em excelência operacional;
  • tendência de se manter estruturas funcionais com muita formalização;
  • desempenho é com base em resultados financeiros dos outros anos;
  • os competidores têm dificuldades para entrar no mercado, mas se ocorrer alguma disrupção, o negócio é ameaçado.

Prospectora

  • procurar explorar novas oportunidades de mercado, produtos e serviços;
  • monitora o contexto interno e externo, assim como eventos que possam influenciar o desempenho;
  • pode mudar o setor em que atua;
  • crescimento baseado em desenvolvimento de produtos, serviços e mercados;
  • tecnologia flexível e experimenta novas tecnologias;
  • baixo nível de formalismo;
  • foco em marketing e P&D;
  • contrata pessoas de fora para alavancar conhecimentos;
  • estruturar pouco formalizadas e horizontais (com poucos níveis hierárquicos);
  • precisa resolver conflitos entre áreas;
  • responde rapidamente a mudanças de mercado e tecnologia, mas não consegue desenvolver soluções muito eficientes;
  • a capacidade de inovação protege a empresa de mudanças de mercado, mas traz os riscos de baixa lucratividade;
  • desempenho e incentivos com base no marketing e P&D;
  • possui flexibilidade e efetividade, mas com baixa utilização de recursos.

Analítica

  • procura explorar novas oportunidades e ao mesmo tempo mantém a base atual das ofertas atuais, assim como o mercado;
  • domínio híbrido que procura manter estabilidade e mudança;
  • foco em marketing e produção com algumas atividades em P&D;
  • trabalha com a estrutura matricial;
  • controle moderadamente centralizado com feedback horizontais e verticais;
  • mecanismos de coordenação extremamente complexo e caro;
  • grande influência da função de engenharia aplicada;
  • baixos investimentos em P&D, combinado com imitação de concorrentes provê novas ofertas e minimiza os riscos, mas exige um balanceamento constante entre estabilidade e flexibilidade;
  • desempenho baseado em indicadores de efetividade e eficácia.

Reativa

Essa categoria é uma forma de “falha” estratégica, na qual existem inconsistências entre estratégia, tecnologia, estrutura organizacional e processos.

A estratégia defensiva continuamente desenvolve mais eficiência nas operações existentes, enquanto a prospectora explora as mudanças no contexto para encontrar novas oportunidades. Com o tempo, essas ações estabilizam-se para formar um padrão de resposta às condições do contexto e se tornam consistentes e estáveis, ou seja, viram um modus operandi da empresa. A estratégia reativa, no entanto, exibe um padrão de comportamento inconsistente e instável, ou seja, empresas que seguem essa estratégia estão em um estado de constante instabilidade. Frequentemente, a estratégia reativa responde a mudanças de contexto de forma não apropriada.

As principais causas de uma estratégia reativa identificadas pelos autores são:

  • a direção da empresa não articulou com clareza as estratégias da organização;
  • os gestores não alinharam completamente a estrutura organizacional e os processos com as estratégias;
  • a tendência da direção da empresa em manter a estrutura organizacional e processos, apesar das mudanças contextuais.

A falta de alinhamento no caso da estratégia analítica exige a prática da ambidestria organizacional (termo adicionado por nós ao interpretar o texto original, pois os autores não citaram este termo), que não é simples de se implementar.

Atualidade da tipologia 

Sollosy (2013) em seu trabalho, examinou a aplicação desta tipologia diante os conceitos de capabilidades dinâmicas e ambidestria, estendendo sua validade.

  • estratégia mais apropriada para a empresa sobreviver em ambientes muito competitivos é a analítica que corresponde a ambidestria organizacional;
  • a analitica procura maximizar os lucros potenciais e ao mesmo tempo minimizar os riscos combinando as vantagens das estratégias defensiva e prospectora, ou seja, realizar as estratégias de exploration e exploitation
  • as estratégias defensivas e prospectoras implicam em criar uma aparentemente rigidez, que não contribui para a sobrevivência a longo prazo

 A última conclusão citada do trabalho do Sollosy é compreensível no caso da estratégia defensiva, mas é contra intuitiva para o caso da estratégia prospectiva, pois essa é uma característica  de empresas que praticam a inovação radical com elevada adaptabilidade. No entanto, se for considerada a curva-S de adoção das inovações e o correspondente estágio de evolução do negócio, consegue-se entender que a empresa precisa adotar diferentes estratégias para cada um dos estágios e, portanto, diferentes práticas de gestão da inovação.

Referências

Essas referências estão relacionadas a todo o conteúdo do capítulo “estratégias, objetivos e indicadores” e não serão divididas por seção ou página na web. Em todas as páginas deste capítulo repetimos a mesma lista de referências.

Ansoff H.I., Kipley D., Lewis A.O., Helm-Stevens R., Ansoff R. (2019) Implanting Strategic Management. Palgrave Macmillan, Cham

Cândido, C. J. F., & Santos, S. P. (2015). Strategy implementation: What is the failure rate? Journal of Management & Organization, 21(2), 237–262. https://doi.org/10.1017/jmo.2014.77

Ceschin, F., & Gaziulusoy, İ. (2020). Design for Sustainability (Open Access): A Multi-level Framework from Products to Socio-technical Systems. Routledge.

Doerr, J. (2018). Measure what matters: How Google, Bono, and the Gates Foundation rock the world with OKRs. Penguin.

Kim, W. C., & Mauborgne, R. (2015). Blue ocean strategy, expanded edition: How to create uncontested market space and make the competition irrelevant. Harvard Business Review Press.

Kim, W. C., & Mauborgne, R. (2017). Blue ocean shift: Beyond competing-proven steps to inspire confidence and seize new growth. Hachette Books.

Kotler, P. & Keller, K.L. (2019) Administração de marketing, 15a edição, Pearson

Lafley, A. G., & Martin, R. L. (2013). Playing to win: How strategy really works. Harvard Business Press.

MICHAELIS online Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/ Acesso em: 22 de novembro de 2021

Mintzberg, H. (1987). The Strategy Concept I: Five Ps For Strategy. California Management Review, 30(1), 11–24. https://doi.org/10.2307/41165263 

Mintzberg, H., McCarthy, D. J., & Markides, C. (2000). View from the top: Henry Mintzberg on strategy and management [and commentary]. The Academy of Management Executive (1993-2005), 31-42.

Mills, J., Platts, K., & Gregory, M. (1995). A framework for the design of manufacturing strategy processes: A contingency approach. International Journal of Operations and Production Management, 15(4), 17–49. https://doi.org/10.1108/01443579510083596 

Nappi, V. (2014). Framework para desenvolver um sistema de medição de desempenho para PLM (Product Lifecycle Management) com indicadores de sustentabilidade. Dissertação de Mestrado, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos. doi:10.11606/D.18.2014.tde-23062014-091227. Recuperado em 2021-11-17, de www.teses.usp.br

Neely, A.; Gregory, M.; Platts, K. (2005).  Performance measurement system design: a literature review and research agenda.  International Journal of Operations and Production Management, v.25, p.1228-1263.

Neely, A., Gregory, M., & Platts, K. (2005). Performance measurement system design: A literature review and research agenda. International journal of operations & production management, 25(12), 1228-1263.

Niven, P. R., & Lamorte, B. (2016). Objectives and key results: Driving focus, alignment, and engagement with OKRs. John Wiley & Sons.

Olsson, R. (2007). In search of opportunity management: Is the risk management process enough? International Journal of Project Management, 25(8), 745–752. https://doi.org/10.1016/j.ijproman.2007.03.005

Pisano, G. P. (2015). You need an innovation strategy. Harvard Business Review. June (44-54).

Porter, M.E. (1997). Competitive strategy: techniques for analyzing industries and competitors. The free press, New York.e: Creating and Sustaining Superior Performance, Free Press, New York.

Porter, M. E. (1998). Competitive Advantage: Creating and Sustaining Superior Performance, Free Press, New York.

Savkín, Aleksey. (2020). "25 Indicadores para o Balanced Scorecard de Inovação", BSC Designer, abril   https://bscdesigner.com/pt/inovacao-kpis.htm Acesso em: 12/10/2022

SHENHAR, A. (2001). One size does not fit all projects: exploring classical contingency domains. Management Science, 47(3), 394–414.

Sollosy, Marc D (2013). "A Contemporary Examination of the Miles and Snow Strategic Typology Through the Lenses of Dynamic Capabilities and Ambidexterity". Dissertations, Theses and Capstone Projects. Paper 552.

Sterman, J. (2012). Sustaining Sustainability: Creating a Systems Science in a Fragmented Academy and Polarized World. In M. P. Weinstein & R. E. Turner (Eds.), Sustainability Science: The Emerging Paradigm and the Urban Environment (Vol. 9781461431, pp. 21–58). Springer New York. https://doi.org/10.1007/978-1-4614-3188-6

Thomas, A. S., & Ramaswamy, K. (1996). Matching Managers to Strategy: Further Tests of the Miles and Snow Typology. British Journal of Management, 7(3), 247–261. https://doi.org/10.1111/J.1467-8551.1996.TB00118.X

UNAIDS, H. D. (2010). An Introduction to Indicators. UNAIDS Monitoring and Evaluation Fundamentals. Geneva: UNAIDS.

Whittington, R., Regnér, P., Angwin, D., Johnson, G., & Scholes, K. (2020). Exploring Strategy: Text and Cases. Pearson UK.

Zahra, S. A., & Pearce, J. A. (1990). Research Evidence On The Miles-Snow Typology. Journal of Management, 16(4), 751–768. https://doi.org/10.1177/014920639001600407

#printfriendly a { color: blue !important; text-decoration: underline !important; } #printfriendly i, #printfriendly em { color: purple !important; } @media print { .break-page-before { page-break-before: always !important; } h1 { page-break-before: always !important; font-size: 32px !important; } div.no-page-break-before h1, div.no-break-page-before h1 { page-break-before: avoid !important; } }