A perspectiva teleológica é a aplicação prática da teleologia (do grego telos = fim, objetivo, propósito + logos = razão, estudo, discurso) no campo das ciências sociais e da inovação, especialmente em abordagens que analisam ações, decisões e estratégias a partir de seus propósitos futuros.
A perspectiva teleológica refere-se a uma forma de compreender fenômenos sociais, decisões e comportamentos a partir dos fins intencionais que os orientam. Essa abordagem contrasta com explicações baseadas apenas em causas antecedentes ou leis gerais. Trata-se de um modo de entendimento especialmente relevante nas ciências sociais, no planejamento estratégico e em práticas de inovação orientadas por visão de futuro.
Elster (1983 apud Dreborg, 1996 ) distingue as explicações intencionais (teleológicas) das explicações causais e defende que, no campo das ciências sociais, o comportamento humano muitas vezes só pode ser entendido a partir de intenções e objetivos conscientes dos atores, e não apenas por leis gerais ou causas anteriores.
Essa distinção está no cerne da justificativa conceitual para abordagens como o backcasting, que invertem a lógica tradicional do planejamento ao partirem de um futuro desejado para identificar os caminhos possíveis para alcançá-lo. Como afirma Dreborg (1996):
“Se alguém estiver inclinado a ver a teleologia como uma forma específica de compreensão, ao lado da causalidade, então o backcasting torna-se interessante.” (Dreborg, 1996, p. 813)
Essa perspectiva coloca as intenções dos agentes no centro da análise, reconhecendo que decisões e ações são fortemente influenciadas pela forma como esses agentes percebem suas opções futuras e compreendem as relações entre meios e fins. Ainda segundo Dreborg:
“O princípio da teleologia torna as intenções o ponto focal, e as intenções são influenciadas pela percepção que o ator tem das opções disponíveis e por seu conhecimento sobre as relações entre meios e fins.”(Dreborg, 1996, p. 821)
Adotar uma perspectiva teleológica, portanto, não implica rejeitar a causalidade, mas sim reconhecer que as finalidades e intenções humanas desempenham um papel explicativo distinto e essencial, especialmente quando se busca compreender mudanças organizacionais deliberadas, formulação de estratégias ou a construção de futuros alternativos.
Exemplo ilustrativo
Imagine uma empresa que decide criar uma nova unidade de negócio voltada para economia circular.
- Perspectiva causal: “A empresa tomou essa decisão em resposta à crescente pressão regulatória e à queda nas margens de lucro de seus produtos atuais, além da influência da crise ambiental e da demanda do consumidor.”
Essa explicação foca nas condições antecedentes e fatores contextuais que “empurraram” a empresa a agir. - Perspectiva teleológica: “A empresa quer se tornar referência em sustentabilidade até 2030 e, para isso, está desenvolvendo capacidades em economia circular como parte de sua visão estratégica de longo prazo.”
Aqui, o foco está no propósito deliberado que “puxa” a ação presente a partir de um futuro desejado.
A perspectiva teleológica e a abordagem de backcasting
A perspectiva teleológica encontra aplicação direta na abordagem de backcasting, uma vez que ambas partem de um futuro desejado para orientar decisões no presente. No backcasting, a análise estratégica não busca prever o que acontecerá, mas sim estruturar os caminhos possíveis para atingir uma visão de futuro construída de forma deliberada.
Essa lógica é essencial em contextos onde as intenções organizacionais e os propósitos de longo prazo orientam as ações — como na formulação de teses de inovação, na construção de roadmaps estratégicos e na delimitação de arenas de crescimento. Assim, o backcasting operacionaliza, de forma estruturada, o raciocínio teleológico dentro do processo de inovação.
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Dreborg, K. H. (1996). Essence of backcasting. Futures, 28(9), 813–828. https://doi.org/10.1016/0016-3287(96)00044-4
Elster, J. (1983). Explaining technical change: A case study in the philosophy of science. Cambridge University Press.
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