Empreendedorismo corporativo compreende as atividades formais (processos) e informais de um indivíduo ou um grupo de indivíduos, em associação com uma organização existente para:
- criar ou mudar produtos e/ou serviços (ofertas) e/ou
- melhorar as capabilidades da empresa (renovação estratégica) e/ou
- desenvolver e lançar novos negócios de risco internos ou externos à corporação (corporate venturing)
- promover o “espírito empreendedor” em toda organização, que se reflete no comportamento empreendedor dos indivíduos
dentro ou fora do ambiente corporativo, mas que surgem a partir de iniciativas corporativas e que resultem em ganhos de produtividade, qualidade, novos mercados, financeiros etc.
Como mostra a figura a seguir, empreendedorismo corporativo é um dos tipos de empreendedorismo.
Figura 800: hierarquia da terminologia relacionada com empreendedorismo
Fonte: adaptado de Sharma & Chrisman (1999)
| A seção “Empreendedorismo” da flexM4i é baseada nessa figura e explica de forma sucinta cada um de seus elementos, que remetem a seções específicas mais detalhadas.
Na flexM4i consideramos o empreendedorismo corporativo como um sinônimo de inovação corporativa (como explicamos no verbete da inovação corporativa). Por serem sinônimos relacionados com o intraempreendedorismo, criamos uma seção completa sobre “Inovação corporativa / empreendedorismo corporativo & intraempreendedorismo”, que traz uma visão integrada dessas abordagens. Na seção “Articulação entre abordagens de inovação corporativa e empreendedorismo”,mostramos quais são as abordagens relacionadas e como elas estão articuladas entre si. |
A partir deste ponto recomendamos a leitura somente para as pessoas interessadas no nível de detalhamento avançado.
A explicação mais detalhada desta definição é dividida em 4 partes:
- adaptações realizadas a partir de referências bibliográficas
- definições referenciadas (de onde deduzimos a definição síntese do início)
- empreendedorismo corporativo versus intraempreendedorismo
- empreendedorismo corporativo versus inovação corporativa
Adaptações realizadas
- substituímos o termo “inovação” (Guth & Ginsberg, 1990; Sharma & Chrisman, 1999; Bierwerth et al., 2015) das definições existentes por “criar ou mudar produtos, serviços e modelos de negócio (propostas de valor)”: de acordo com a definição de inovação da flexM4I, a inovação é mais ampla e abrange o empreendedorismo corporativo. Esta adaptação está alinhada com a definição de Antoncic et al. (2004)
- substituímos o termo “renovação estratégica” (Guth & Ginsberg, 1990; Sharma & Chrisman, 1999; Bierwerth et al., 2015) das definições por “melhorar as capabilidades da empresa”: As capabilidades envolvem tanto as capabilidades ordinárias (se não estiverem presentes) como as capabilidades dinâmicas. Elas incluem: estratégias, processos, recursos (canais, tecnologias etc.), pessoas (competência, mentalidade etc.), organização (estrutura, relações, cultura), entre outros possíveis objetos de inovação, dentro da visão sistêmica de uma empresa e seu ecossistema. O corporate venturing também é considerado uma capabilidade dinâmica (Weiss & Kanbach, 2021).
Definições referenciadas
As revisões de literatura sobre empreendedorismo corporativo mostram uma grande ambiguidade na terminologia adotada, pois os autores utilizam termos diferentes para expressar conceitos semelhantes (Sharma & Chrisman. 1999; Christensen, 2004).
O empreendedorismo corporativo é um termo utilizado para descrever o comportamento empreendedor dentro de grandes e médias empresas estabelecidas e envolve a geração, desenvolvimento e implementação de novas ideias e comportamentos (Damanpour, 1991).
O empreendedorismo corporativo é o processo pelo qual um indivíduo ou um grupo de indivíduos, em associação com uma organização existente, cria uma nova organização ou impulsiona a renovação ou inovação dentro da organização existente (Sharma & Chrisman. 1999).
Esses autores, na mesma publicação, definiram que o conceito de empreendedorismo corporativo inclui (Sharma & Chrisman. 1999):
- o corporate venturing (novo negócio de risco)
- a renovação estratégica
- a inovação, como a introdução de uma invenção original ou ideia no mercado com potencial de transformar o ambiente competitivo, assim como a própria empresa
O empreendedorismo corporativo abrange os seguintes fenômenos (Guth & Ginsberg, 1990), definição corroborada pelo trabalho de Christensen, 2004:
- corporate venturing, que implica no nascimento de novos negócios dentro de organizações existentes;
- renovação estratégica, que implica na transformação das organizações por meio da renovação das ideias-chave sobre as quais elas são construídas e
- inovação, que implica no desenvolvimento de novos produtos e serviços
As definições de Sharma & Chrisman (1999) e Guth & Ginsberg (1990), Bierwerth et al. (2015) definem que o empreendedorismo corporativo compreende as atividades formais e informais das empresas que focam da descoberta e busca por novas oportunidades de negócio por meio da:
- renovação estratégica do negócio;
- inovação e
- corporate venturing
Bierwerth et al. (2015) ainda detalham: “o empreendedorismo corporativo é a soma das atividades de uma empresa estabelecida em termos de”:
- renovação estratégica, que engloba as atividades empreendedoras que alteram os negócios a estratégia ou a estrutura geral de uma empresa
- inovação, que é composta pela criação e introdução de produtos, processos de produção e sistemas organizacionais (Zahra 1996). Para evitar uma sobreposição com a literatura de gestão da inovação, seguimos Phan et al. (2009) e só consideram a descoberta e busca de oportunidades de mercado quando se referem à inovação no contexto do empreendedorismo corporativo.
- corporate venturing, que compreende as atividades empreendedoras que resultam na “criação de entidades organizacionais semi-autônomas ou autônomas que residem fora do domínio organizacional existente”
“O empreendedorismo corporativo pode ser definido como atividades empreendedoras dentro de uma organização existente. Nessa definição, o empreendedorismo corporativo refere-se não apenas à criação de novos empreendimentos (negócios), mas também a outras atividades e orientações inovadoras, como o desenvolvimento de novos produtos, serviços, tecnologias, técnicas administrativas e/ou estratégias. Elementos importantes no empreendedorismo corporativo, tanto em termos de atividades como de orientações, incluem: novos empreendimentos, novos negócios, inovação de produtos/serviços, inovação de processos, auto-renovação, tomada de risco, proatividade e agressividade competitiva” (Antoncic et al., 2004).
O conceito de empreendedorismo corporativo evoluiu para dois desenvolvimentos paralelos (Corbett et al., 2013):
- corporate venture capital (CVC)
- entrepreneurial orientation (EO) – orientação empreendedora (utilizamos o termo “espírito empreendedor”)
“O empreendedorismo corporativo pode ser definido como sendo a identificação, desenvolvimento, captura e implementação de novas oportunidades de negócio, que:
- requerem mudanças na forma como os recursos são empregados na empresa;
- conduzem para a criação de novas competências empresariais;
- essas competências resultam em novas possibilidades de posicionamento no mercado, buscando um compromisso de longo prazo e criação de valor para os acionistas, funcionários e clientes.” (Dornelas, 2020)
“Empreendedorismo corporativo consiste em empreender dentro da empresa na qual trabalha, mas que não é sua. Em outras palavras, é se posicionar como empreendedor, gerando inovação, vantagens e oportunidades de crescimento para você e para a empresa. O empreendedorismo corporativo, também chamado de intraempreendedorismo, significa empreendedor dentro da empresa na qual você trabalha.” (Torres, 2022)
| Esta definição de Torres (2022) é geral (empreender dentro da empresa) e considera o empreendedorismo corporativo como um sinônimo de intraempreendedorismo.
Nós diferenciamos empreendedorismo corporativo de intraempreendedorismo, como no estudo de Åmo (2020), apesar das duas abordagens possuírem muitos pontos em comum. Porém, apresentamos essas abordagens em uma única seção, pois “são dois lados de uma mesma moeda”. O principal consenso é que deve ser criado um ambiente propício para se empreender dentro da empresa, que depende da cultura empreendedora, que promove o “espírito empreendedor”, que por sua vez resulta no comportamento empreendedor. |
Empreendedorismo corporativo versus intraempreendedorismo
Apesar de muitos considerarem:
- empreendedorismo corporativo como sinônimo de intraempreendedorismo (veja a definição de Torres, 2022, citada no final das definições apresentadas) ou
- intraempreendedorismo como um dos componentes do empreendedorismo corporativo,
o estudo de Amo (2010) destacou as seguintes diferenças:
- O empreendedorismo corporativo é geralmente definido no nível das organizações e refere-se a um processo de cima para baixo ou seja, uma estratégia que a empresa pode utilizar para promover mais iniciativas inovadoras e/ou esforços de melhoria de sua força de trabalho e da organização.
- O intraempreendedorismo é de baixo para cima, relacionado a iniciativas proativas de indivíduos da empresa para melhorar os procedimentos de trabalho ou produtos e/ou para explorar e explorar oportunidades de negócios.
O empreendedorismo corporativo é uma responsabilidade dos gestores e líderes.
O intraempreendedorismo pode ser praticado por todos, ou seja, qualquer um(a) na organização pode se tornar um(a) intraempreendedor(a).
As duas abordagens têm como base comum o comportamento empreendedor / inovador das pessoas. Para fomentar este comportamento, os intraempreendedores devem ter algumas características e deve existir o incentivo da liderança e, portanto, uma cultura de inovação apropriada.
| Conheça as características de um empreendedor e de um intraempreendedor na seção “inovação / empreendedorismo corporativo & intraempreendedorismo”. |
Empreendedorismo corporativo versus inovação corporativa
A definição de inovação corporativa é bem ampla e genérica e, assim, abrange o significado de empreendedorismo corporativo, que é mais preciso e muito discutido na literatura. Esses termos evoluíram de escolas distintas, mas convergem atualmente. Por esses motivos consideramos os dois termos sinônimos.
Como a definição de empreendedorismo corporativo é mais precisa, ela foi adotada para definir inovação corporativa.
| No verbete sobre “inovação corporativa” no glossário explicamos porque consideramos os dois termos sinônimos. Veja a seção específica sobre inovação / empreendedorismo corporativo & intraempreendedorismo, na qual apresentamos esses termos de forma integrada. |
Referências
Åmo, B. W. (2010). Corporate entrepreneurship and intrapreneurship related to innovation behaviour among employees. Int. J. Entrepreneurial Venturing, 2(2), 144–158.
Antoncic, B., Cardon, M. S., & Hisrich, R. D. (2004). Internationalizing corporate entrepreneurship: The impact on global HR management. In: Advances in entrepreneurship, firm emergence and growth. Emerald Group Publishing Limited
Bierwerth, M., Schwens, C., Isidor, R., & Kabst, R. (2015). Corporate entrepreneurship and performance: A meta-analysis. Small Business Economics, 45(2), 255–278. https://doi.org/10.1007/s11187-015-9629-1
Corbett, A., Covin, J. G., O’Connor, G. C., & Tucci, C. L. (2013). Corporate entrepreneurship: State-of-the-Art research and a future research agenda. Journal of Product Innovation Management, 30(5), 812–820. https://doi.org/10.1111/jpim.12031
Christensen, K. S. (2004). A classification of the corporate entrepreneurship umbrella: labels and perspectives. International Journal of Management and Enterprise Development, 1(4), 301–315. https://doi.org/10.1504/IJMED.2004.004635
Damanpour, F. (1991). Organizational innovation: A meta-analysis of effects of determinants and moderators. Academy of Management Journal, 34(3), 555–590. https://doi.org/10.1159/000192893
Dornelas, J. (2020). Empreendedorismo corporativo”como ser um empreendedor, inovar e se diferenciar na sua empresa – 4a. edição. Empreende Editora.
Guth,W. D. & Ginsberg, A. (1990). Guest editor’s introduction: Corporate entrepreneurship. Strategic Management Journal 11 (Summer): 5–15.
Sharma, P., & Chrisman, J. J. (1999). Toward a reconciliation of the definitional issues in the field of corporate entrepreneurship, Entrepreneurship: Theory and Practice, v.23, n.3, p. 11-27.
Torres, Vitor (2022). Empreendedorismo corporativo: o que é? Quais as principais competências …. Contabilizei.blog. Disponível em: https://www.contabilizei.com.br/contabilidade-online/empreendedorismo-corporativo/ Acesso em: 18/11/2022
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