A estratégia desconectada emerge de ações autônomas e não coordenadas realizadas por indivíduos, equipes ou unidades da organização, sem qualquer articulação com intenções estratégicas centralizadas. Quando essas ações geram padrões consistentes ao longo do tempo — mesmo que não tenham sido planejadas — elas acabam se consolidando como estratégia real.
Embora possam resultar em coerência tática ou em respostas eficazes ao contexto local, essas estratégias não são fruto de intenção deliberada, nem de alinhamento com planos corporativos. Em geral, surgem de forma espontânea e desarticulada, refletindo a fragmentação da formulação estratégica na organização.
Esta estratégia está próxima do arquétipo “Estratégia (puramente) emergente” (veja a figura do posicionamento desta estratégia no modelo conceitual das estratégias), com alto grau de descentralização, baixa previsibilidade e ausência de direção centralizada.
Em inglês: unconnected strategy
Liderança e ambiente
Segundo Mintzberg & Waters (1985), a estratégia desconectada surge sem a intervenção da liderança central — ou porque esta está ausente, ou porque não exerce influência direta sobre determinadas partes da organização. Nesses casos, unidades, equipes ou indivíduos formulam e executam estratégias próprias, que podem ou não estar alinhadas com a direção institucional pretendida.
Esse tipo de estratégia não decorre de uma política deliberada de delegação, como na estratégia guarda-chuva, mas sim de um vácuo de coordenação ou supervisão estratégica. A liderança pode nem mesmo estar ciente da formulação estratégica em andamento — e, quando essas ações se replicam ou se mostram eficazes, consolidam-se como estratégia real da organização.
Esse tipo de estratégia é mais comum em estruturas altamente descentralizadas, burocráticas, negligentes ou em situações de crescimento rápido, como durante processos de internacionalização, aquisições ou reorganizações. Nesses casos, a supervisão estratégica não acompanha a expansão operacional. Também é comum em ambientes organizacionais que incentivam a experimentação local, valorizam a autonomia local, mas carecem de mecanismos claros de integração, coordenação e alinhamento estratégico.
Exemplos ilustrativos
- Filiais que desenvolvem práticas próprias (ex.: uma política de atendimento ao cliente local) sem comunicação com a sede, mas que acabam sendo adotadas por outras unidades.
- Equipes técnicas que resolvem problemas críticos com soluções locais, e essas soluções começam a ser replicadas em outras partes da organização.
- Iniciativas isoladas de P&D que resultam em novos produtos não planejados pela gestão, mas que ganham relevância por sua aceitação de mercado.
Posicionamento no modelo conceitual das estratégias
Esta estratégia é uma das 8 estratégias caracterizadas por Mintzberg & Waters (1985). A figura a seguir posiciona esta estratégia dentro de um modelo conceitual proposto por Mintzberg e Waters (1985), no qual estratégias reais se distribuem entre dois arquétipos teóricos extremos: a estratégia (puramente) deliberada, baseada em intenção e controle total, e a estratégia (puramente) emergente, baseada em adaptação e aprendizado contínuo sem intenção prévia.
Este modelo representa um contínuo estratégico, onde cada tipo de estratégia combina, em diferentes graus, intenção e controle interno com emergência e adaptação.
A figura abaixo mostra esse posicionamento, distinguindo os arquétipos conceituais dos tipos de estratégias praticadas pelas organizações.
Figura 1342: Posicionamento dos tipos de estratégia entre os arquétipos de estratégia (puramente) deliberada e (puramente) emergente
Seguem os links dos verbetes das demais estratégias mencionadas na figura acima:
- Estratégia (puramente) deliberada – arquétipo
- Estratégia planejada (tipo real)
- Estratégia empreendedora (tipo real)
- Estratégia ideológica (tipo real)
- Estratégia guarda-chuva (tipo real)
- Estratégia de processo (tipo real)
- Estratégia de consenso (tipo real)
- Estratégia imposta (tipo real)
- Estratégia (puramente) emergente – arquétipo
Mintzberg, H., & Waters, J. A. (1985). Of strategies, deliberate and emergent. Strategic Management Journal, 6(3), 257–272.
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